 O Gaúcho Julio Andreatta nasceu em Porto Alegre, em 21 de julho de 1917. Seus pais, Vitório Andreatta, de origem italiana, e Celanira Andreatta, de origem paraguaia estavam estabelecidos há anos no bairro São João dos Navegantes, tradicional bairro de capital do estado onde havia uma forte concentração industrial e comercial.
O Comerciante Vitório tratava de prover aos filhos (Julio tinha três irmãos: Catharino - o mais velho - que como ele viria a tornar-se um famoso piloto, Doro e Gessi) tudo o que podia com seus afazeres de comerciante, deixando à cargo de D. Celanira os cuidados domésticos. Assim funcionava a estrutura da família Andreatta, que proveu aos filhos uma boa educação. Julio estudou Colégio Nossa Senhora dos Navegantes, perto de casa e, posteriormente, no IPA – uma das instituições de ensino mais antigas e tradicionais da capital Riograndense. Entre os negócios do seu pai, o carro chefe era a transportadora e foi ali, entre motores, que Julio começou a trabalhar aos 18 anos, onde Catharino já estava envolvido. Com o pai e o irmão, começou a aprender sobre técnicas de transporte e mecânica de motores, chassi e suspensões, tendo os caminhões como laboratórios. 
Naqueles tempos – corria a década de 30 – as corridas eram uma tradição gaúcha que cruzara a fronteira dos países vizinhos (Uruguai e principalmente Argentina) e, na completa ausência de circuitos – Interlagos, o primeiro, só foi inaugurado em 1940 e era em São Paulo – as corridas com as chamadas Carreteras, carros de passeio que recebiam uma estrutura reforçada para resistir às exigências das provas eram disputadas em estradas, havendo também provas em circuitos urbanos e semi urbanos improvisados, como era o caso do circuito do Cristal. O interesse de Julio em seguir os passos do irmão mais velho teve todo o apoio dos pais e do próprio Catharino e ingressou na Scuderia Galgos Brancos, fundada pelo também gaúcho Norberto Jung e que foi a primeira equipe brasileira de competições da nossa história. 
Foto de 1951, Julio Andreatta ao lador de Heron de Lorenzi. Durante anos, a Carretera Nº 6 pintadas nas cores da bandira nacional, mas a diagonal em verde e amarelo expunha o traço da bandeira do estado. Além disso estampavam nas laterais o indelével símbolo da Scuderia, sua marca registrada e sinônimo de glória para a equipe, para a família e para os gaúchos. Entre os anos de 1939 e 1963, foram inúmeras as provas, não apenas no Brasil, mas pelos países vizinhos. Entre as conquistas mais relevantes, sem dúvida está o título de Campeão Brasileiro de Estradas, ganho no ano de 1951. Antes disso, em 1950, Julio Andreatta havia ganho as 2 provas, mais importantes do automobilismo gaúcho: A Copa Festa da Uva (755km de percurso) e o Circuito da Zona Sul (937km de percurso), onde derrotou ninguém menos que Chico Landi. Sua Carretera Ford 1940, verde e amarela, nº6 estava “na ponta dos cascos”! Foi campeão gaúcho em 1950. 
Outra foto do início dos anos 50: Julio Andreatta ao lado de Francisco Sacco Landi, o 'seo' Chico. Pode parecer estranho o hiato entre o início da carreira de Julio Andreatta e os relatos acima, mas o problema foi a segunda guerra mundial. O Brasil sofreu com a escassez de combustível (naquela época não existia a Petrobras e até dizia-se que não havia petróleo no Brasil), mas ainda assim, ocorreram provas nos anos 40 com uma inventiva solução – apesar de ser horrorosa esteticamente falando: o gasogênio! Voltando aos feitos de Julio, a consagração nacional veio em 1951, na disputa do II Grande Prêmio Getulio Vargas, uma prova de estrada que percorreria os estados De São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, dividida em quatro etapas e que aconteceria no mês de novembro, durante a celebração da proclamação da república. 
No II Grande Prêmio Getúlio Vargas, durante a passagem por Ribeirão Preto. Julio Andreatta rasga a avenida na liderança. Dez anos antes, no I Grande Prêmio Getúlio Vargas, que foi corrido em uma distância menor e apenas no estado de São Paulo, o vencedor foi o argentino Juan Manuel Fangio, que viria a sagrar-se pentacampeão mundial de Fórmula 1. Em 1949, em outra prova em São Paulo – a Prova Washington Luiz – o vencedor foi seu irmão, Catharino Andreatta. Getúlio Vargas retornara ao poder no início daquele ano. Para mostrar força e organização em sua volta ao comando do país, Getúlio realiza ações e projetos em setores diversos de nossa sociedade, sendo que no esporte, através do automobilismo, aproveitando a paixão que atraía multidões para estradas e autódromos, para acompanhar “os pegas” entre pilotos gaúchos e paulistas. O Automóvel Clube do Brasil organizou a competição e esta teve a presença dos melhores pilotos do Brasil, de diversos estados. 
A chegada em Uberaba: Apesar do segundo lugar, Julio ampliou a vantagem para o segundo colocado geral. O trajeto também fora definido: a largada e chegada seriam na Av. Presidente Dutra, em São Paulo (Capital). Passaria por Minas Gerais, Rio de Janeiro, até finalizar na capital paulista. A prova seria dividida em 4 etapas, totalizando 2.136 Km a serem percorridos. A disputa do II Grande Prêmio Getulio Vargas para Julio Andreatta teve ares de drama. O Volante só confirmou sua presença e fez a inscrição na data limite... o motivo: faltava-lhe o dinheiro para inscrever-se na contenda. Próximo à data limite, estava conformado com a idéia de não participar do evento, pois a grana estava curta. Mas por insistência de seu mecânico e ajudante, Homero Zani, endividou-se e viajou para São Paulo com sua “carretera” Ford 1940 - nº6, para a carreira. Só mais um detalhe: Julio, só tinha dinheiro para disputar a primeira e mais longa das etapas. Para continuar, precisava vencê-la e usar o prêmio para custear o restante da participação. 
A foto autografada por Juan Manuel Fangio abrilhanta o registro do grande feito de Julio no II Grande Prêmio Getulio Vargas. Julio não apenas venceu a etapa, mas também ao chegar em segundo, colado em Chico Landi, na segunda e abriu uma grande vantagem frente à seus adversários, entre eles seu irmão, Catharino, além dos gaúchos Aristides Bertuol, Argemiro Pretto e mais Chico Landi, Paulo Buso, Rosvaldo Mansur, Francisco Marques, entre outros. A partir daí, com maestria, Julio administrou a vantagem e conquistou a consagradora vitória, chegando sob aplausos em São Paulo ao final dos mais de dois mil quilômetros de prova. Julio desfilou na av. Paulista tomada pela multidão, com o Presidente Getúlio Vargas no banco do acompanhante de sua carretera. Era a realização do piloto. Pela conquista, o piloto da Scuderia, levou um Ford 1951 (zero km), 142.000 cruzeiros (na época, um grande valor) e um motor Ford V-8 (0 km). Em sua volta a Porto Alegre, Julio foi recebido por uma grande multidão, para homenagear seu feito inédito. 
A dúcada de 50 foi uma década onde, ao lado do irmão, as carreteras da Scuderia Galgos Brancos eram o terror das estradas. Alem desta prova, um outra que marcou a memória da família foram as conquistas da prova Porto Alegre – Capão da Canoa, organizada pela ARVO (Associação Riograndense de Volantes), o Grande Prêmio Águas do Atlântico. A prova tinha este nome não apenas por terminar no litoral, mas por haver a tradição de se saudar os vencedores com um banho de mar. Julio venceu esta prova algumas vezes, bem como as Carreteras da equipe galgos brancos fizeram diversas dobradinhas. Julio participou de diversas provas e dos campeonatos gaúchos de automobilismo. Ele também disputou as Mil Milhas Brasileiras, mas ali, em Interlagos, o grande destaque dos primeiros anos foi o outro piloto da família, Catharino. 
Julio Andreatta, sendo conduzido ao mar após mais uma vitória da prova "Grande Prêmio Águas do Atlântico". No total, foram 31 vitórias ao longo de 23 anos de competições (isto incluindo os anos em que as corridas minguaram por conta da guerra). Em 1963, com 45 para 46 anos, Julio retirou-se das competições para dedicar-se a outras paixões: o Clube Gondoleiros e a criação de cavalos puro-sangue em seu haras na região de Miraguaia, em Santo Antônio da Patrulha. Julio Andreatta faleceu de problemas cardíacos em 19 de agosto de 1981, aos 64 anos, deixando seu nome marcado para sempre na história do automobilismo brasileiro.
Texto e fotos: Arquivo pessoal da família do piloto e seu filho, Luiz Fernando. Edição final dos NdG. |
