O motorista com a cara do Emerson Fittipaldi Print
Written by Administrator   
Tuesday, 23 April 2019 09:11

Esta história é de um dos momentos mais divertidos da minha carreira de jornalista e não vale deixar somente para duas ou três pessoas. Portanto, aqui vai mais um dos meus `causos`. Estávamos no final do século passado, ou seja, 1995, 1996, algo assim e eu trabalhava no Jornal O Globo onde escrevia sobre vários assuntos, mais especificamente Esportes e depois de algum tempo, passei também a fazer para o Caderno de Veículos, ideia do então chefe da redação de São Paulo, Arnaldo Bloch.

 

E um dos meus primeiros atos foi tentar mesclar as duas editorias, o que acabou sendo fácil, pois tinha contatos com muitos pilotos e os usei para avaliar carros de várias marcas. Maurício Gugelmin (Porsche), Rubens Barrichello (Peugeot), Raul Boesel (Jaguar), Gil de Ferran (Ford), Alexandre Barros (moto Honda) e por aí vai. No caso do Emerson Fittipaldi, assim como em todos os outros pilotos, escolhi a marca pela qual eles corriam na época, e caiu um Mercedes-Benz.

 

Marcamos, de forma incrível o Emerson estava livre no escritório dele, e saímos dali para fazer as fotos. Eu, ele e a Maria Inês Fernandes Hotte, que era sua assessora, no Mercedes, eu já anotando todas as observações que ele fazia sobre o carro, que já conhecia muito bem, pois a fábrica sempre lhe reservava um seja aqui no Brasil ou em Miami, onde morava na época. Fomos para o campus da Universidade de São Paulo (USP) e ali o Sérgio Andrade (ou seria o Sérgio Tomisaki?), que era o fotógrafo do jornal, fez várias fotos dele. Todas parado, claro.

 

Uma ao lado do carro, outra na traseira, enfim, vários ângulos. Depois, pediu para fazer uma foto do Emerson guiando o Mercedes. Eu e a Maria Inês fomos para o banco de trás, o vidro do lado do passageiro foi aberto, o motorista do carro do jornal ficou ao lado direito e, com o fotógrafo no banco traseiro do carro do Globo, saímos para ele tentar fazer a tal da foto. Eu e a Maria Inês não apareceríamos, pois além de o vidro ser escuro, o corte da foto se limitaria ao bicampeão mundial de Fórmula 1.

 

 

 

Andando pela cidade paramos ao lado de outro motorista que teve de retomar o foco de sua visão ao ver o Emerson Fittipaldi guiando um Mercedes-Benz com duas pessoas no banco traseiro. Aquela imagem não me sai da cabeça. O camarada olhou, viu o Emerson, até ameaçou dar um aceno e tal, mas quando viu duas pessoas desconhecidas no banco traseiro deve ter pensado: onde foram arrumar um motorista particular que tem a cara do Emerson Fittipaldi? E não acenou. Apenas sorriu.



Nós três vimos a situação e começamos a rir muito. O Emerson, claro, levou numa boa e eu e a Maria Inês nos sentimos pra lá de privilegiados por termos um motorista particular com a cara, jeito e tudo o mais do piloto ganhador de dois mundiais de F1 e duas 500 Milhas de Indianápolis. Uma lenda de motorista particular. Até agora mesmo, quando conto esta história, dou risada sozinho da cara daquele desconhecido, que pensou ter tomado alguma coisa estragada... 

 

Milton Alves