A CBA, os Comissários e os Diretores de Provas Print
Written by Administrator   
Tuesday, 12 March 2019 22:45

Dentro do esporte que tanto amamos, poucos sabem que no Brasil existe apenas uma entidade “completa” e capacitada para atender a todos os requisitos de competição de automóveis. Esta entidade é a CBA. É fato que existem algumas Ligas e alguns Clubes que tem autorização para realizar provas automobilísticas, porém nenhuma delas tem a estrutura que a CBA tem. Inclusive já houve situação em que a prova realizada por uma Liga teve que recorrer a CBA para ter respaldo jurídico sobre uma demanda desportiva, já que as Ligas e Clubes não tem uma estrutura tão completa e cara como esta.

 

Para entendermos um pouquinho melhor, vamos conhecer a estrutura da CBA  e seus objetivos estatutário (resumidamente):

 

- CBA, é a associação máxima federal de administração do desporto do automobilismo e foi fundada em 7 de setembro de 1961.

 

- A CBA é filiada à Federation Internacionale de l'Automobile, FIA (Federação Internacional do Automóvel), e é uma associação civil de caráter social, técnico desportivo, com sede e foro à rua da Glória, 290, 8º andar, na cidade do Rio de Janeiro.

 

- A estrutura da CBA tem diversos departamentos aptos a atender todos os pré-requisitos e as demandas de uma prova automobilística. Existem Diretorias, Conselhos e Comissões.

 

As Diretorias:

De Competições,

De Planejamento e Marketing,

Jurídica,

Financeira.

 

Os Conselhos:

Técnico e Desportivo Nacional –CTDN,

Conselho Fiscal,

Conselho do Desporto.

 

As Comissões:

Comissão Nacional de Velocidade – CNV,

Comissão Nacional de Arrancada, Drift e Track Day,

Comissão Nacional de Kart,

Comissão Nacional de Medicina Desportiva,

Comissão Nacional de Rally,

Comissão Nacional de Velocidade na Terra,

Comissão Nacional de Circuitos.

 

Acreditem ou não, mas toda esta estrutura é utilizada. O Automobilismo no Brasil é coisa séria, nós temos mais de 9 mil Pilotos filiados à CBA e estes, merecem todo o respeito e dedicação da entidade!

 

Mas se é tudo isso, por que só escutamos críticas a CBA? A maior parte das publicações enfatizam erros e despreparo da CBA.

 

Isso talvez eu não consiga explicar, mas vou tentar passar a minha percepção sobre o fato, mas não como um Oficial de Competição da CBA e sim como um brasileiro comum que gosta de esporte, pois noto que fatos semelhantes ocorrem também em outras Confederações Esportivas.

 

Acredito que o que ocorre é a expressão natural de um torcedor ou competidor que, logo após a ocorrência de um fato, uma disputa ou um  acidente, no impulso ou na empolgação da competição, se expressa com toda a emoção do momento, muitas vezes sem perceber a realidade dos fatos ou o rigor do regulamento da competição e faz suas críticas. Críticas que podem ser contra a entidade, contra o promotor ou até contra algum outro competidor do evento.

 

Sendo assim, a imprensa que é atuante e está presente nos autódromos, faz o seu papel e divulga os fatos observados naquela situação, então temos aí o motivo pelo qual as entidades normalmente são tão criticadas. O que ocorre é que muitas vezes, estas ocorrências são levadas aos foros específicos, que inicialmente são os oficiais de competição (lembrem-se da estrutura da CBA) e os resultados finais, que demonstrariam a competência da CBA  e de suas Comissões, acontecem apenas após o término da prova, onde já não temos mais o calor e a emoção da competição e muitas vezes a imprensa já fechou e publicou sua matéria (o fato da luz de freio do carro do Cacá Bueno é a mais pura realidade do que estou falando, enquanto o narrador falava tudo aquilo que ele via, porém sem conhecimento exato das regras, os Comissários estavam agindo corretamente, mas só foi explicado e comprovado de noite, quando as vistorias encerraram e neste momento não havia mais imprensa presente acompanhando o desfecho). É fato que toda imprensa séria, também publica os resultados das demandas assim que eles são decididos, porém, como já não está ao vivo e já passou o “calor” da competição, bem menos leitores veem estas publicações, o que explica um pouco desta imagem negativa creditada à CBA.

 

Foto do carro do Cacá Bueno com a luz de freio acesa: O narrador, vendo a luz acesa, insinuava um erro dos Comissários. Apenas no dia seguinte que saíram as matérias esclarecendo os fatos e a correta ação dos Comissários.

 

Bem. Tudo isso explicado, voltarei a vestir a “camisa da CBA” e tentarei explicar todo o esforço que ela faz para que tenhamos a maior justiça possível dentro de qualquer competição de automobilismo no território nacional.

Falarei apenas do setor que conheço bem, que é a Comissão Nacional de Velocidade, responsável pelos protocolos, procedimentos e treinamentos dos Comissários Desportivos, Comissários Técnicos e Diretores de Provas, além de todos os Técnicos e Adjuntos necessários para realização de uma corrida.

Todos os anos, na pré-temporada das corridas a CBA promove treinamentos e simpósios para Comissários Desportivos, Técnicos e Diretores de Provas.

 

 Simpósio CBA para Comissários Desportivos e Técnicos – fev.2019

 

Neste ano, tivemos algumas inovações muito interessantes. Foram convidados vários pilotos da Stock Car para participarem de algumas ações e em uma das atividades, eram apresentadas imagens de fotos e vídeos para que os Pilotos e os Comissários avaliassem, interpretassem e julgassem. Depois os resultados foram compilados, inicialmente apenas entre os pilotos e a seguir também com os comissários. O resultado foi impressionante pelas divergências, mas não surpreendente, pois muitas das imagens apresentadas necessitavam de “interpretações” e então, neste quesito, as experiências e conhecimento de cada um faz total diferença na interpretação. Não foi diferente quando compilados junto com os comissários.

 

Simpósio CBA para Diretores de Provas – mar.2019

 

Todo este treinamento tinha 2 objetivos principais, um deles era acabar com aquela expressão tão comum entre os pilotos que reclamam dos comissários dizendo que eles trabalham com 2 pesos e 2 medidas e também estabelecer padrões e procedimentos para diminuir ao máximo possíveis erros de interpretação.

 

Esta expressão “2 pesos e 2 duas medidas” sempre foi muito utilizada por pilotos que não entendiam porque as penalizações muitas vezes são diferentes para infrações do mesmo artigo do regulamento. Eu sempre tentei explicar fazendo uma analogia:  “o crime de assassinato é previsto no código penal, porém as penas para este crime são diferenciadas de acordo com a forma que é cometido”, podem variar desde penas sociais até 30 anos de prisão. Nas corridas, também as infrações podem ser as mesmas, porém as penalizações são impostas pelos Comissários Desportivos, logo após a verificação e interpretação dos fatos, não seria justo dar a mesma pena para um piloto que “queima” a velocidade nos boxes passando 65 km/h, ou seja, a 5km/h acima do que é permito e aquele piloto que comete a mesma infração, porém passando a 120km/h. É neste momento que a atuação dos Comissários se faz necessária, interpretando, avaliando os riscos e possíveis vantagens que este piloto obteve quando passou em velocidade tão alta no pit lane, tudo feito sempre por um colegiado de Comissários que, se não concordarem plenamente estabelecem o voto para decidirem de forma colegiada a penalização de cada piloto.

 

Talvez seja importante entender melhor as funções e responsabilidades dos Comissários Desportivos. Para isso, vamos relembrar o que escrevi há tempos nesta mesma coluna. Vejam abaixo coluna publicada em janeiro de 2018.

 

“Entre todos os Oficiais de Competição com certeza os mais criticados são os Comissários Desportivos. São criticados pelos Pilotos, pelos Jornalistas, pelos Chefes de Equipes, pelos torcedores, entre outros. (às vezes criticam o Diretor de Provas, por fatos relativos aos Comissários Desportivos, mas isso ocorre por pessoas que ainda não sabem as funções exatas de cada oficial de competição).

 

Primeiro vamos entender claramente o que determina o CDA (Código Desportivo do Automobilismo) e qual a real função dos Comissários Desportivos, lembrando sempre que a autoridade máxima de uma prova, não é o Diretor de Provas e sim os Comissários:

 

Sala dos Comissários F1 – Felipe Giaffone (1º a direta) um dos Comissários FIA

 

Art. 83 – Os comissários desportivos são os encarregados de julgar os atos e fatos desportivos e técnicos durante um evento. Para o julgamento, os comissários desportivos se valerão de:

 

I – Provas;

II – Depoimentos dos oficiais de competição;

III – Depoimentos dos envolvidos;

IV – Perícias (relatórios dos comissários técnicos e pilotos consultores);

 

Comissários brasileiros da CBA na Torre no autódromo de Curitiba.

 

É mais ou menos assim: qualquer ocorrência de pista, que tenha chegado ao conhecimento dos Comissários Desportivos, seja através de relatos dos Bandeirinhas, ou através das imagens de TV, os Comissários julgam, baseados nas regras, para impor sanções com um único objetivo: que nenhum piloto ou equipe tenha vantagens ou seja prejudicado através de algum ato que desrespeite os códigos e regulamentos do automobilismo.

 

Os julgamentos são a parte mais intensa do trabalho deles. Por conta desses julgamentos é que são criticados e raramente elogiados.

 

Eu já fui comissário desportivo algumas vezes e por ser profissional, o serei toda vez que a CBA me incumbir, porém sou muito explicito na minha posição, evito ser porque é o cargo mais difícil e “ingrato” do automobilismo.

 

Nos meus briefings como Diretor de Provas,  sempre digo que apesar dos pilotos não acreditarem, os Comissários parecem mais “advogados de defesa” dos pilotos do que juízes, pois não tomam nenhuma decisão contra qualquer piloto sem antes tentarem de todas as formas verificar se realmente aquela ocorrência aconteceu e se o piloto envolvido não tinha outra alternativa de evitar. Para a avaliação, eles contam com imagens, relatos dos fiscais de pista e oitivas dos Pilotos envolvidos. Depois de todas as verificações possíveis reúnem-se em colegiado, discutem o fato, buscam subsídios com Pilotos Consultores (quando disponível) e julgam, lembrando que é obrigatório um número de pelo menos 3 Comissários por prova para que em caso de votação nunca ocorra um empate.

 

É isso!

 

Abraços,

 

Sergio Berti