Muitas vezes ao dizer que sou Diretor de Provas em competições, as pessoas me questionam: “Ah, então é você que fica na torre penalizando os pilotos?” 

- Não é bem assim!!!

Por conta desta dúvida que é recorrente entre os que curtem automobilismo, vou tentar relatar como é o trabalho em uma corrida a partir do “Race Control”, Torre do Diretor de Provas.

- O trabalho do Diretor começa bem antes da primeira atividade de pista, geralmente um dia antes, quando ele deve chegar ao autódromo para fazer a vistoria da pista. Asfalto, zebrinhas, áreas de escape, alambrados, entre outras coisas. No dia dos treinos e provas, ele se preocupa com a “montagem da pista”, ou seja distribui pelo circuito os bandeirinhas, equipe e carros de resgate, ambulâncias, equipe médica, extração e bombeiros, todos em pontos estratégicos e previamente informados  no “Plano Operacional da Prova”.  Além disso certifica-se que os Pilotos do Safety Car e Medical Car estejam preparados e instruídos para as intervenções caso sejam necessárias.

Feito tudo isso, o trabalho passa a ser coordenado efetivamente da Torre.

Os comissários são os responsáveis pela análise, na torre, do que acontecer na pista. Eles decidem, o Diretor comunica.

Prova iniciada. Momento tenso, a largada, a curva 1... passou todo mundo! Agora sim todos na Torre em suas funções tentando observar e entender cada fato que venha a acontecer na pista. Para isso, existem os Bandeirinhas (ou Sinalizadores, ou Fiscais de Pista) que a cada ocorrência em seu setor, além de sinalizarem para os outros pilotos, relatam via rádio ao Diretor de Provas os fatos desta ocorrência. Inicialmente sem detalhes, apenas os fatos.

De acordo com a forma que esta ocorrência é relatada, o Diretor já percebe a gravidade ou não para a necessidade de uma interferência com o Safety Car ou Medical Car. Sendo um acidente simples, individual, onde o piloto tenha errado sozinho, o relato também é simples, mas se houver alguma relevância na ocorrência, onde algum piloto tenha sido prejudicado pelo erro de um outro, o Diretor de Prova solicitará ao Bandeirinha mais informações deste acidente e passará este relato aos Comissários Desportivos (número mínimo de 03 em cada prova), que tem como função avaliar, interpretar e julgar a ocorrência e se for necessário penalizar o responsável pelo acidente.

Um incidente de prova pode ser revisto em câmera lenta e quadro a quadro para se tomar uma decisão.

Obviamente é muito difícil penalizar alguém com base nas informações dos Sinalizadores, pois apesar do relato do Bandeirinha ser uma comunicação oficial, todos estão sujeitos a erros de interpretação. Então, os Comissários com base nestes relatos, começam a buscar subsídios dos fatos, principalmente através de imagens para julgar o acidente. Após tudo isso, se a decisão dos Comissários for pela penalização, é função do Diretor de Provas executar esta penalização, através de seu adjunto de Competição, que fica no PSDP, (posto de sinalização da direção de prova), aquele posto de sinalização geralmente instalado sobre a linha de largada/chegada, é apresentada ao piloto a bandeira respectiva a penalização que deverá ser cumprida imediatamente.

Fim de prova, bandeira quadriculada. A corrida termina, mas a prova ainda não. Caso os Comissários não tenham chegado a conclusões em alguma ocorrência, nós permaneceremos no autódromo o tempo que for necessário, entrevistando Pilotos, ou tentando buscar imagens para que possam ser julgadas as ocorrências pendentes.

Fechamento da pasta da prova. Após a corrida todos os aspectos, protestos (se houver) são analisados e concluídos.

Só após todas as avaliações terem sido completadas é que a poderemos dar como encerrada a corrida, chamamos isso de “fechar a pasta da prova”, (tudo que acontece na pista é documentado minuto a minuto por um relator que também fica na Torre e é colocado na pasta da prova. A prova é considerada encerrada quando a pasta é fechada), isso se nenhum piloto entrar com alguma reclamação desportiva ou recurso sobre uma penalização recebida. Neste caso a “pasta” não será fechada, e permanecerá aberta ate que sejam julgados todos os recursos no Tribunal Desportivo. É por isso que algumas vezes o campeonato termina, mas resultado final fica “sub judice”.

Bom, é mais ou menos assim o trabalho na torre da direção de prova.

É isso!!! Abraços,

Sergio Berti