Safety Car, Safety Light, Pit Stop… O que pode e o que não pode? Print
Written by Administrator   
Tuesday, 11 September 2018 23:21

Após a etapa da Stock Car em Campo Grande, no último dia 18 de agosto de 2018, muitas dúvidas surgiram sobre o procedimento de Pit Stop durante o Safety Car.

 

Vou tentar explicar alguns fatos aqui, mas de antemão digo que o assunto é muito abrangente, e tem muitas variáveis. Estas variáveis podem ser interpretativas ou técnicas, o que torna a situação muito mais complexa. Quase todas as variáveis estão relacionadas nos regulamentos da categoria, que podem ser o CDA (Código Desportivo do Automobilismo), o RD (Regulamento Desportivo da categoria) ou RPP (Regulamento Particular da Prova), já falamos em edição anterior sobre estes regulamentos.

 

Para que todos possam tentar entender o que houve em Campo Grande em relação às desclassificações ou ainda a falta delas, tentarei colocar abaixo alguns itens dos regulamentos, os quais os Comissários se baseiam antes de darem os seus vereditos:

 

Mas antes, vamos tentar expor quais foram as dúvidas e os motivos pelo qual algumas equipes entraram com recurso no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva)...

 

As equipes que ajuizaram ações no STJD tinham como principal alegação o fato de que alguns Pilotos entraram nos boxes após a entrada do Safety Car na pista, o que só é permitido para reparos diversos e não para os “pit stops obrigatórios”. Lembrando que o Regulamento Desportivo da Stock Car obriga aos Pilotos realizarem pit stops para troca de pneus durante a corrida, vejam abaixo:

 

Artigo 19 - Etapas com 2 provas1ª Prova e 2ª Prova A primeira e segunda prova de cada etapa serão iguais com duração de 40 minutos mais uma (1) volta. Para cada prova será definida, em um comunicado, emitido pelos Comissários Desportivos, uma volta para início e fim de uma janela de 6 voltas para a realização do procedimento obrigatório de troca de dois (2) pneus............. A volta do Líder irá definir o início e o fim da janela........

 

Caso haja procedimento de Safety Car durante a janela, o box será fechado, sendo proibida a realização do procedimento de troca dos pneus obrigatório e abastecimento, exceto quando o carro/piloto já tiver passado pela linha transversal pintada na pista no início da linha de entrada de box.

 

 imagem de um pit stop obrigatório. (foto P1 Filmes – Glauco Guerin)

 

Outra reclamação, foi relativa ao local. Qual o ponto da pista que é considerado como entrada de box?

 

 Entrada do box em destaque no AIC

 

...na ampliação temos a linha longitudinal de entrada de box que deve ser considerada um “muro virtual” e a linha “transversal” que é o início da entrada de box. (foto extraída do Blog do Jorge Fleck).

 

Então vamos lá, devemos considerar alguns fatos inerentes ao automobilismo para depois entendermos o que cada grupo avaliou para buscar seus interesses, entendam como grupo as várias equipes e também os Comissários Desportivos....

 

Todos devemos considerar que existe definido em CDA (Código Desportivo do Automobilismo), um procedimento padrão de SC (safety car), ou seja o SC deve “neutralizar” uma prova em caso de  perigo e durante esta neutralização a entrada de box se manterá aberta para qualquer necessidade do Piloto/equipe, porém a saída de box se fechará, com apresentação de bandeira amarela, toda vez que o pelotão de veículos  junto com o SC passar pelo traçado no local onde está determinado (por pinturas na pista –faixa perpendicular) o início da entrada de box e a saída será aberta imediatamente quando último do pelotão passar pelo local considerado “linha” de saída de box.

 

 Saída de box fechada, pode ser por Safety Car na pista...

 

Outra consideração: para as provas cujo regulamento determine  algum pit stop obrigatório, será definido no RPP qual a janela para este procedimento e ainda o formato do procedimento, normalmente as janelas são estabelecidas entre a volta x e volta y e os procedimentos determinam quantas pessoas podem trabalhar no carro durante o pit stop, por exemplo.

 

Portanto, no caso da Stock Car em Campo Grande, o julgamento deve ser a partir da junção das 3 regulamentações, o CDA, o RD e o RPP.

 

Ainda temos que considerar a sinalização de Safety Car, que além de dar a informação do acidente na pista, no caso de Campo Grande deverá ser considerado o momento exato que esta informação chegou aos pilotos. A informação oficial é através de bandeiras e placas apresentadas na pista, porém a Stock Car também usa como oficial as luzes do Safety Light, que é um equipamento instalado no painel do carro e avisa ao piloto quando o procedimento de SC se iniciou na pista...outras categorias também usam o safety light, mas não de forma oficial, apenas como complemento de informação, como é o caso da Porsche GT3 Cup.

 

 Uma bandeira e placa de safety car e uma bandeira vermelha, o safety light instalado no painel de um carro, está informando “bandeira vermelha”.

 

Resumidamente é o seguinte: o procedimento de safety car existe em todas as corridas, porém na Stock Car, por conta do pit stop obrigatório, deve-se pensar em todas as possibilidades durante a intervenção do SC, pode ser antes da janela de pit, pode ser no meio da janela de pit, neste caso deve-se considerar que alguns carros já estejam dentro do pit e também pode acontecer do SC ocorrer após a janela de pit, neste caso não há o que se preocupar.

 

Na prova de Campo Grande em questão, o acidente aconteceu exatamente na volta da “janela de pit stop”, então deve ser observado se no momento em que a bandeira SC e o safety light foi acionado:

 

# Já havia algum carro dentro dos boxes? Neste caso o pit stop deve ser considerado válido para estes carros;

# Algum carro estava entrando nos boxes e já havia passado pela FAIXA PERPENDICULAR de “entrada de box” no momento da apresentação da bandeira? Neste caso também deve ser considerado válido o pit stop;

# O carro estava entrando, porém ainda não tinha passado pela faixa transversal da entrada de box, então neste caso seu pit não deverá ser considerado válido, o piloto poderá optar por abortar o seu pit e sair imediatamente dos box ou fazer o pit, porém sabendo que este não será válido e ele terá que fazer outro;

# Caso o piloto só tenha notado a bandeira de SC após ter  passado pela  FAIXA PERPENDICULAR, estando trafegando pela pista e mesmo assim decida entrar, passando sobre a FAIXA LONGITUDINAL (muro virtual), neste caso seu pit não será válido e o piloto ainda deverá ser penalizado por “queima de faixa (longitudinal) de entrada de box”;

# Se estava entrando nos boxes, já tinha passado pela FAIXA PERPENDICULAR e decidiu abortar a entrada e sair novamente passando sobre a faixa longitudinal de entrada de box. Neste caso, não é proibido e o piloto só será penalizado se a manobra gerar risco à algum outro participante (aconteceu com o Hamilton na prova GP de Hockenheim na Alemanha.

 

Estas são apenas algumas possibilidades de ocorrências durante uma intervenção de safety car, então imaginem quantas situações podem acontecer em uma única ocorrência durante uma corrida. Ainda devemos considerar a possibilidade de falha humana, pois as bandeiras de safety car. Assim como a bandeira vermelha e o safety light, são apresentadas ou acionados por pessoas, os Bandeirinhas e o operador de safety light e apesar dos procedimentos serem treinados pelo Diretor de Provas, isso não impede de alguém errar e se atrasar na apresentação, já que o procedimento correto é que sejam apresentados todos ao mesmo tempo em todos os postos de sinalização, para que todos na pista vejam no mesmo instante esta informação e procedam da forma que lhes convier desde que respeitem os procedimentos de segurança. Mas se houve algum atraso e o piloto conseguir provar, através de sua câmera on-board que este ou aquele Bandeirinha se atrasou, então com certeza os Comissários retirarão a penalização que por ventura foi atribuída a este piloto.

 

Bom, após tudo isso, os Comissários Desportivos, tentam resgatar todas as informações e imagens possíveis para tentar entender tudo que estava acontecendo na pista, para cada um dos pilotos no momento exato da entrada do safety car e mesmo assim, muitas vezes não se consegue observar tudo o que acontece, portanto, nessas situações, os pilotos e equipes que se sentirem prejudicados poderão entrar com recurso e apresentarem seus argumentos e imagens, afim de que os Comissários façam uma nova pesquisa de fatos sobre estes argumentos. Caso os Comissários entendam que as contestações não mudam o que já foi apresentado e mesmo assim os pilotos e equipes ainda se sintam prejudicados, então poderão entrar com solicitação no STJD.

 

É por isso que muitas vezes o resultado de uma prova fica sub júdice e só é resolvido semanas ou meses depois, logo após o julgamento no STJD.

 

O que eu posso garantir é que os Comissários Desportivos, não tem preguiça de trabalhar, pois muitas vezes a prova termina e os Comissários permanecem no autódromo avaliando imagens pelo tempo que for necessário e a disposição de todos os pilotos que quiserem fazer suas reclamações ou trazer suas imagens para observação, não são raras as vezes que perdem os voos de volta, pois só saem do autódromo após avaliarem tudo que for solicitado e ainda aguardarem mais 30 minutos após a divulgação do resultado da prova (tempo para que os pilotos que não concordarem com o resultado possam manifestar interesse de recurso), com todas as penalizações que foram decididas em forma de colegiado.

 

É isso!!!

 

Sergio Berti    

Last Updated ( Wednesday, 12 September 2018 14:52 )