A luta para manter vivo o campeonato pernambucano de marcas e pilotos Print
Written by Administrator   
Tuesday, 31 December 2013 17:22

Berço de pilotos consagrados no automobilismo regional e nacional como Rogério dos Santos, Joca Ferraz, Zeca e Beto Monteiro, entre tantos, o automobilismo em Pernambuco sobrevive a duras penas graças a força de vontade, paixão e obstinação de organizadores e pilotos que tem como o campeonato pernambucano de marcas e pilotos o principal (pra não dizer único) evento de competição automobilística em atividade atualmente no estado.

 

Acompanhei a 3ª etapa em setembro e o Festival Norte e Nordeste de Marcas e Pilotos em dezembro de 2013, logo após ter entrevistado o organizador do campeonato, Rogério dos Santos aqui para o site Nobres do Grid e ter sido convidado pelo mesmo para ver de perto o evento.

 

Disputado no autódromo de Caruaru (único autódromo do estado e uma dos poucos na região nordeste), no pernambucano de marcas e pilotos competem carros de 1600cc e tem como formato de disputa duas baterias de 25 minutos cada, ambas realizadas no domingo, logo após a classificação que também é no mesmo dia, restando o sábado apenas para treinos livres.

 

Ao longo dos dois finais de semana que estivemos no autódromo entrevistamos organizadores, comissários, pilotos e outras pessoas que fazem parte da categoria e do automobilismo na região.

 

Braço direito na organização.

 

Pai no neto Rogerinho de 9 anos que trilha os passos do avô piloto e um dos que ajudam na organização do campeonato, Eduardo Pinheiro fala como é trabalhar na organização, do sacrifício para manter o campeonato e de alguns detalhes técnicos e as expectativas para o futuro da categoria:

 

Eduardo Pinheiro junto com o filho “Rogérinho” e o responsável pela cronometragem Pedro Jerônimo.

 

“Junto com o Rogério somos responsáveis por toda essa parte de ambulância, resgate, coordenação de bandeirinhas e cronometragem. Trabalhamos em conjunto com a FPA que vem com os fiscais de pista e os comissários fazer a supervisão”.

 

NdG: O diretor de prova é da FPA?

 

E. P.: É o Renato, que coordena junto com a gente, mas são eles que detém a fiscalização, se tiver que impugnar alguma coisa aí isso é direcionado com a FPA.

 

Para a 3ª e 4ª etapa a gente tinha uma programação pra mais carros, mas devido há alguns problemas a gente não conseguiu fazer o grid que desejávamos, mas o importante é fazer a coisa acontecer, não deixar a bandeira cair, é deixar acontecer pra dar continuidade e esperar um campeonato mais forte no ano que vem.

 

NdG: E se juntar com o pessoal do Ceará e de outros estados isso? Ajustar calendários...

 

E. P.: A gente tem esse intercâmbio com o pessoal do Ceará, eles tem como fazer grid aqui e a gente fazer lá, e tendo esse intercâmbio a coisa tende a melhorar.

 

NdG: E pode sair um campeonato NO/NE?

 

E. P.: Exato. Esse é um dos objetivos nossos. Fazendo uma interação maior do Ceará com Pernambuco”.

 

NdG: E tem um pessoal da PB né? Realizam até curso de pilotagem aqui.

 

E. P.: É o Walter Santos que faz esse curso aqui e é também um cara batalhador que quer capturar pilotos, por que é a partir daí... você faz um curso livre e a tendência é partir para o turismo profissional.

 

NdG: Quanto que sai aproximadamente pra alguém que deseja correr aqui no PE de Marcas?

 

E. P.: Tem o custo da Federação, você paga a carteira, se não me engano é R$ 350,00, hoje tem o pré-requisito de se tirar a carteira através do curso ou então com algum piloto que possa “endossar” se a pessoa já tiver alguma experiência fica mais fácil pra tirar a carteira. Ter o carro e os equipamentos de segurança, basicamente é isso.

 

NdG: É melhor comprar um carro e ir montando ou comprar um já pronto usado?

 

E. P.: Pra quem tá começando o ideal é comprar um carro que já tenha algum acerto, pra quem não conhece pegar um carro ir montando vai penar um pouco a não ser que tenha alguém experiente ao lado, agora se a pra ter só como um hobby compra um carro e monta e vem andar, mas se quiser competir mesmo o carro tem que estar bem acertado.

 

NdG: E a faixa de preço de um carro desses?

 

E. P.: Hoje é muito relativo, depende muito do carro tem carro de 15, 20mil... depende do que o carro tenha de acessórios.

 

NdG: E a parte de apoio, combustível, peças, pneus como que vocês fazem?

 

E. P.: Cada um é responsável pelo seu combustível, e compra também seu pneu, por que não temos um patrocinador “máster” (da categoria) e é uma coisa que estamos batalhando para poder baratear os custos, mas por enquanto cada um toma conta do seu.

 

NdG: São dois jogos de pneus por etapa, isso?

 

E. P.: É só dois jogos.”

 

NdG: E combustível, tem algum limite mínimo ou máximo?

 

E .P.: No treino o piloto coloca a quantidade que quer, mas na corrida 50l é o que a turma usa.

 

NdG: E tempo médio de volta por aqui é quanto?

 

E. P.: Um tempo bom de um carro na categoria A (injetados) é em torno de 1’50”, 1’52” é um tempo bom para um carro injetado, já os carburados (categoria B) é de 1’53”, 1’54”.

 

Cronometragem. Tecnologia e simplicidade.

 

No segundo andar da mal cuidada torre do autódromo fica acomodado o simples, porém moderno sistema de cronometragem. O responsável é Pedro Jerônimo um dos amigos que ajudam Rogério Santos na organização e que nos explica como funciona a marcação dos tempos:

 

 

Pedro Jerônimo é quem comanda a cronometragem - créditos: Marcas e Pilotos PE.

 

NdG: Como que funciona a cronometragem?

 

P. J.: Temos um sensor que fica atravessando a pista na linha de chegada e cada carro tem um transponder que faz a leitura de quando o carro passa, esse transponder fica em uma posição igual para todos os carros, ou seja, é medida da frente do carro até onde ele fica pra que não ocorra nenhum problema de em um carro ficar mais a frente e em outro mais atrás. E aí esse sistema da pista é ligado em um computador que fica fazendo essa leitura e nós temos dois tipos de leitura, uma para treino e qualificação para diferença de volta rápida e uma leitura de corrida só para ver a parte de posicionamento. Então ficamos aqui aguardando, quando é dada a largada a gente dá a “bandeira verde” aqui no sistema. São 25min, terminando é dada a bandeirada.

 

 

Transponders recebendo carga nas baterias.

 

NdG: São só 25min ou 25min mais uma volta?

 

P. J.: Não, só 25min. Terminou 25min, na hora que o líder passar ele recebe a quadriculada. Aí depois é emitido o relatório de posições, tempo de pilotos.

 

 

Na torre, Rogerinho dos Santos já conhece tento do autódromo que dá até explicação.

 

NdG: Sai em quanto tempo o resultado?

 

P. J.: O resultado da corrida sai imediatamente, assim que passa o último carro a gente já imprime o resultado para a federação, aí em no máximo 5 minutos os pilotos recebem os resultados com os tempos, tudo na mais alta tecnologia com o “decoder” que é o mesmo usado na Stock Car. Tanto o sistema quantos os equipamentos são os mesmos, a única diferença aqui é que a pista só da a oportunidade de a gente pegar só na reta.

 

Eduardo Pinheiro (esq.) e Pedro Jerônimo (sentado na cadeira) acompanham os tempos dos pilotos durante os treinos.

 

NdG: Não dá pra fazer por setor?

 

P. J.: Não dá pra fazer por que a pista não está preparada pra isso, o equipamento está, mas a pista infelizmente só tem um ponto de leitura, não tem outro. Quando acontece a F-Truck a própria categoria trás os equipamentos pra fazer os setores, mas como a Federação só tem esse daí a gente infelizmente só pode usar ele.

 

Apoio médico.

 

Essencial em qualquer competição automobilística, o aparato de resgate em caso de acidentes contou nas nossas duas idas ao autódromo com uma modesta ambulância (no dia do Festival NO/NE não foi vista a UTI móvel) e boa vontade de quem fica de prontidão caso aconteça algum acidente grave.

 

“Chará” desde quem vos escreve, Diego Freire nos conta como é realizado o trabalho de socorrista para o Marcas e Pilotos e outras categorias que correm em Caruaru:

 

NdG: Quanto tempo trabalhando aqui como socorrista no autódromo?

 

D. F.: Cinco anos a gente está aqui desenvolvendo esse trabalho, dando suporte tanto a CBA quanto ao pessoal da Federação Pernambucana de automobilismo.

 

Diego Freire e a ambulância usada nos eventos.

 

NdG: Só aqui no Marcas ou em outras categorias?

 

D. F.: Não, em outras categorias. Faço o brasileiro e sulamericano de F-Truck e motovelocidade. Sou filiado a Federação de motovelocidade e faço os eventos da FPA também.

 

NdG: É só você ou tem algum médico?

 

D.F.: Tem o médico, que é o Pablo, que dá o apoio a gente também e tem duas técnicas de enfermagem que trabalham conosco.

 

NdG: Qual o equipamento que vocês usam?

 

D. F.: Tem a ambulância, tem a UTI (móvel) também, que geralmente vem no dia da corrida e os equipamentos necessários pra fazermos os atendimentos aqui.

 

Ambulância usada durante os eventos.

 

NdG: A UTI móvel só no dia da corrida?

 

D. F.: Só no dia da corrida.

 

NdG: Só no PE de Marcas ou em outras categorias?

 

D. F.: Geralmente na motovelocidade ela vem os três dias, que é um evento mais de risco e na Truck também, como no PE de Marcas o treino classificatório é só no domingo optamos por trazer a UTI móvel só no domingo.

 

Médico convidado.

 

O ortopedista e piloto nas horas vagas Pablo Tiago, 38 anos é quem ficou como médico responsável (primeira vez executando a função) durante o festival:

 

NdG: A quanto tempo o sr. trabalha aqui na parte média do evento?

 

P. T.: É a primeira vez, sou piloto, mas como também sou médico ortopedista estou aqui acompanhando o pessoal.

 

Ortopedista por profissão e apaixonado por automobilismo, Pablo Tiago “estreou” na função durante o Festival de Marcas e Pilotos.

 

NdG: E como vai ser o trabalho aqui hoje?

 

P. T.: Espero que seja tranquilo sem nenhuma ocorrência.

 

NdG: E como é o treinamento para executar essa função?

 

P. T.: Fazemos um treinamento de resgate com o Corpo de Bombeiros em Recife e com o pessoal do SAMU e cada evento que vem aqui traz um médico diferente.

 

Comissários, técnico, esportivo e diretor de prova.

 

Roberto Araújo, Mauro Cozzi e Eloi Tavares (apenas Mauro e Eloi durante o Festival NO/NE) foram os comissários da FPA, e contam quais são as atribuições de cada um, como é a preparação para chegar ao cargo e o apoio da Federação do estado a categoria:

 

Roberto Araújo (centro) foi o diretor de prova durante a 3ª e 4ª etapas do campeonato.

 

Eloi Tavares: Nós estamos aqui como comissário esportivo (eu), comissário técnico (Mauro Cozzi) e diretor de prova (Roberto Araújo).

 

NdG: Quanto tempo vocês trabalham com isso?

 

Mauro : Dois anos, três anos Roberto (Araújo) e o Eloi (Tavares) está fazendo o segundo ano.

 

Eloi Tavares (esq.) e Mauro Cozzi (centro) enquanto conversavam com Rogério Santos.

 

NdG: E vocês só fazem o Marcas ou fazem mais eventos da federação?

 

Roberto: Fazemos automobilismo e kart

 

Mauro: A gente faz tudo que envolver a federação em Pernambuco. Arrancada, kart, rally...

 

Eloi: Categoria nacional só a Truck.

 

NdG: Vocês trabalham aqui no autódromo durante a Truck?

 

Roberto: O que tiver no autódromo a gente faz junto com o pessoal da CBA, que são os comissários nacionais e nós ficamos como comissários locais.

 

NdG: Quanto tempo já como diretor de prova Roberto?

 

Roberto: Esse já é o meu terceiro ano como diretor de prova, antes eu era comissário, depois fui ser diretor de prova.

 

NdG: Qual é a preparação pra chegar a comissário e depois a diretor?

 

Roberto: Na verdade nós três viemos da mesma escola que foi o kart, andávamos de kart. Depois paramos e fomos convidados pelo presidente da Federação que é o “Dadai” para sermos comissários, como gostamos de automobilismo fomos para o lado de ser comissário e eu virei diretor de prova. Mas tudo veio do kart.

 

NdG: Tem algum projeto na FPA pra movimentar mais o campeonato?

 

Roberto: Já estamos fazemos o que podemos, na verdade quem promove o campeonato é o “Clube” (Rogério Santos), então a federação está ajudando no que ela pode. A gente deu os troféus; teve desconto nas carteiras dos pilotos, que é cobrado um valor e demos um desconto a todos os pilotos que tiraram; viemos sem nenhum custo para o clube, que teria um custo. Normalmente o clube paga a Federação para mandar os comissários/diretores de prova, viemos por conta da Federação, não foi cobrado nada ao Clube, então é isso aí que hoje a gente está fazendo para tentar levantar novamente o automobilismo pernambucano.

 

NdG: Em termos de inscrição, para um piloto começar, como que seria o procedimento? Curso de pilotagem?

 

Roberto: Não, não é exigido curso de pilotagem. Hoje o piloto só precisa tirar a carteira, se filiar a Federação e vir correr. Ele tem que comprar um carro ou alugar, treinar, tirar a carteira e se inscrever pra correr. Não é exigido nenhum curso de pilotagem pra tirar a carteira.

 

NdG: Como é a relação do pessoal da FPA com a administração do autódromo?

 

Roberto: Quem tem mais contato com a administração do autódromo é “Dadai” que é o presidente, a gente não tem nenhuma ligação com a administração, só temos contato com o pessoal do Clube que é o Rogério (Santos) que é o organizador do evento, então ele acerta com a administração do autódromo e a gente chega aqui e já está tudo acertado por eles, não temos esse contato, só quem tem é “Dadai”.

 

NdG: E na opinião de vocês, o que poderia melhorar aqui em termos de estrutura no autódromo?

 

Roberto: Precisa de algumas coisas, primeiro: o mato está muito alto...

 

Eloi: Precisa de um cuidado...

 

Roberto: Um carinho... a pista está muito ondulada , tem algumas coisas aí que precisam ser feitas; tem alguns buracos aí na área de escape... a Truck vem, dá um trato mas depois que sai meio que esquecem o autódromo, só quando ela volta no outro ano.

 

O “Jegue Ecclestone” de Pernambuco.

 

Incansável, determinado, voluntarioso são alguns dos adjetivos que podem definir o organizador – praticamente carregador de piano – e piloto Rogério Santos, durante as nossas idas ao evento, raríssimos foram os momentos em que o “Jegue Voador” não estava metendo a mão na graxa, literalmente na preparação dos carros, algumas vezes não só os da sua equipe como também de outros participantes ou compartilhando com os pilotos e mecânicos a sua vasta experiência de tantos anos e glórias no automobilismo nacional, durante a 3ª e 4ª etapa do Pernambucano de Marcas ele nos deu uma palavrinha rápida:

 

NdG: Como que foi essa etapa Rogério?

 

R.S.: Pela quantidade que veio de carros foi um pouco fora da expectativa, que eu estava com a expectativa de 15 carros, mas teve um pessoal que viajou, mas os carros que vieram pra pista são muito competitivos foi uma corrida interessante, infelizmente a gente teve um problema em um dos carros da nossa equipe, que remoeu o cubo [da roda dianteira esquerda] e não deu tempo de ajeitar para a outra bateria, a gente tentou colocar uma outra coluna, também não deu porque o pivô era diferente, aí infelizmente tivemos de abortar. E o Corsa o Leonel trocou o Gol no Corsa, bateu no Anderson, pegou no telescópio aí entortou e não teve condições de fazer, em cima da hora não dá. Foram poucos carros mais foi realizado o evento, na próxima a gente vem com mais força.

 

NdG: E pilotar? Rogério andando na pista?

 

R. S.: Eu ai andar no Gol que teve problemas, do Gerson Filho, mas o carro deu o problema que eu expliquei agora pouco então agente abortou. Estava atrasando muito a programação então a federação consultou e a gente liberou e deixou pra próxima etapa, dia 13 de outubro. Acredito que essa prova de outubro tenha uns 15, 18 carros.

 

Rogério “metendo a mão na graxa” na tentativa de consertar o carro pra 4ª etapa.

 

NdG: Vai vir alguém do Ceará nessa próxima?

 

R. S.: Acredito que venha o Thiago Barbosa e o pai dele, porque a prova de Fortaleza não vai coincidir, foi transferia de 13 para 20 de outubro. E como eles gostaram muito de Caruaru com o convite que eu fiz, provavelmente eles vão vir.

 

Rogério não é apenas um promotor. Ele cuida de absolutamente todos os detalhes do evento.

 

NdG: Aí passa de 10 carros?

 

E. S.: Passa, eles vindo vai dar uns 15 carros. Porque eu mesmo tenho carro parado que vai estar na próxima, tenho um Gol, que é o que eu falei – que é o Gol Mula – tenho um Uno preto que vai vir também, tem o Moacir Veloso fazendo um levantamento tem uns 13 carros, com mais 2 do Ceará, 15. Acho que vai vingar, essa é a perspectiva.

 

NdG: Valeu Rogério!

 

R. S.: Obrigado!

 

“Bambino”.

 

Uma das promessas do nosso automobilismo na atualidade (que acabou se consagrando campeão na “Categoria A”, principal do certame), Marcelo “Bambino” Henrique e seu pai Edson, falaram sobre a vitória na 3ª e 4ª etapas, da preparação e evolução do carro e dos custos para se manter competitivo. Mais adiante falaremos sobre o incêndio ocorrido durante o festival em dezembro, no qual o carro que melhor se destacava na competição acabou sendo consumido pelo fogo.

 

“Bambino” posa para fotos com os troféus das 3ª e 4ª baterias.

 

NdG: Seu nome é?

 

M.B.: Marcelo Henrique, mas meu nome fantasia é Marcelo “Bambino”.

 

NdG.: Foi você que ganhou agora as duas baterias isso?

M.B.: Isso, larguei em terceiro na primeira bateria e cheguei em primeiro, larguei em primeiro agora e ganhei de ponta a ponta. Esse Gol quem prepara é meu pai [Edson Henrique], esse carro era do Rogério, mas é o meu pai quem prepara ele.

 

Pai do vencedor, Marcelo é o responsável pela preparação do carro do filho.

 

NdG: Qual o custo aproximadamente por etapa?

 

E.H.: Você tendo o carro pronto, tudo direitinho é dois mil Reais. Pra você andar na frente, daí pra mais. Mas com dois mil dá pra você andar com um carro competitivo. Pra quem quer iniciar até mil, mil e duzentos dá pra iniciar.

 

NdG: E o Gol, é melhor que o Corsa? [Tendo o Corsa de Anderson Oliveira como rival nas duas etapas]

 

Marcelo Bambino, vencedor nas duas etapas.

 

M.B.: Rapaz, o Corsa ele desenvolve melhor [nas curvas], ele é um pouco melhor. Só que esse meu carro a gente vem acertando ele há um ano e meio. Ele é um carro muito competitivo, é um carro muito regular, que vira 10, 15 voltas o mesmo tempo. Aí por ele ser muito constante no erro dos outros que ele prevalece. Só que graças a Deus ele estava muito bem desenvolvido que ninguém chegou a ameaçar. Larguei e fui embora!

 

Fechine, experiência voltando às pistas.

 

O paraibano natural de Campina Grande, mas federado em Pernambuco, Fabrício Fechine tem mais de 30 anos ligados ao automobilismo. Já tendo dividido pista com nomes consagrados do automobilismo brasileiro no cenário nacional e disputado várias categorias nacionais e até internacionais ele nos conta um pouco de sua trajetória:

 

NdG: Você já correu de que?

 

F. F.: Corri de kart, de marcas, de Stock... um monte de coisa.

 

NdG: Stock Car? Quanto tempo?

 

F. F.: Eu fiz o pernambucano, no tempo que era Stock (Opalas) e um ano no brasileiro, faz uns 18 anos.

 

NdG: Você disputou com as feras de antigamente? Joca Ferraz, Rogério Santos, Zeca Monteiro?

 

F. F.: Pronto, eu era desse tempo aí! Da época quando começou aqui o autódromo, naquela época era bom demais! Eu, Zeca, Joca, Rogério... era muito legal, muito bom mesmo!

 

NdG: E com quem você andou junto no kart?

 

F. F.: Rapaz, com um bocado de gente. Do tempo que eu corri em SP com (Rubens) Barrichello, Tony Kanaan, Gil De Ferran... um monte de gente. Pessoal que hoje corre na Stock Car tem muita gente que era do meu tempo ainda.

 

NdG: Você já disputou o brasileiro de kart? Qual foi a sua melhor colocação?

 

F. F.: Já, um bocado! No brasileiro 3º.

 

NdG: E quem foi o campeão esse ano?

 

F. F.: Rapaz, aí tá difícil de ver por que a memória... [risos] então não lembro mais. Do pessoal que eu corri muita gente de F1, Christian Fittipaldi, pessoal todinho é do meu tempo, mas na minha opinião quem era praticamente imbatível mas foi muito injustiçado, estava até comentando hoje isso, era o Barrichello. Ele tinha uma coisa a mais, era muito bom mesmo e está provando ainda hoje. Mas o pessoal queria substituir ele por Senna aí começaram a cobrar muito dele e não era por aí, mas pra mim ele foi não. É um dos melhores. Dos que eu corri poderia destacar ele. Lógico, não era uma coisa assim que fosse imbatível, mas ele sabia fazer a diferença.

 

NdG: E esse Voyage que você corre?

 

F. F.: Então, esse aqui é o que eu corri na inauguração do autódromo, ainda em 1992 comecei a correr com ele e até hoje estou com ele aí, mas assim é tipo como um convidado, o pessoal me chama e eu venho me divertir aqui, é muito legal.

 

NdG: Corre a 20 anos com o mesmo carro?

 

F. F.: Mesminho! Carburado, apresentou uns falhamentos, por que passou muito tempo parado, aí quando eu cheguei aqui e funcionei ele o que saiu de formiga de dentro... [risos] mas vou vir nas próximas (etapas) e vou dar uma arrumada nele melhor, sem gastar né! Por que 30 anos gastando dinheiro com corridas não aguento mais não [risos].

 

Fabrício e seu Voyage no Box.

 

NdG: E aqui no marcas, qual foi a sua melhor posição no campeonato?

 

F. F.: Rapaz, aqui eu já fui várias vezes campeão, mas não tenho de cor não. Mas Pernambucano, NO/NE, já venci vários campeonatos já.

 

NdG: E quantos títulos de kart você tem?

 

F. F.: Pernambucano eu tenho onze, aí juntando tudo eu tenho 37 títulos. De kart, carro, etc.

 

NdG: Já correu fora do Brasil?

 

F. F.: Já, fui campeão italiano, categoria superturismo, fui vice campeão europeu.

 

NdG: Correndo com que carro lá?

 

F. F.: Lá era um Renault Mégane, a categoria era monomarca, todos carros iguais, muito bons os carros.

 

Apoio das concessionárias é essencial!

 

A dupla Adalberto Novaes e Guilherme Ferraz que compete na Categoria “B”, correndo com um Fiat Uno e tendo o patrocínio de umas das maiores revendas da marca em Pernambuco eles nos falaram sobre suas carreiras, da necessidade de se ter as concessionárias novamente no campeonato como nos velhos tempos e durante o Festival NO/NE, no final da tarde do sábado convidaram o jovem repórter para uma volta na pista do autódromo a bordo do Fiat Punto cedido pela patrocinadora para levar os convidados a dar uma voltinha junto com um dos pilotos (link para o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=asshGZilbKQ).

 

Fiat Punto utilizado pela dupla para levar convidados para uma volta na pista – Créditos: Marcas e Pilotos PE.

 

Adalberto Novaes.

 

NdG: A quanto tempo você corre?

 

A. N.: Olha, eu corri há 25 anos atrás, passei 25 anos parado e voltei na etapa passada (), então tenho muito o que voltar a aprender, desenferrujar! Então estou começando de novo. A concessionária Fiat Italiana está nos apoiando na participação do evento e está nos ajudando bastante

 

NdG: E é uma coisa boa, as concessionárias voltando pro campeonato de marcas, como antigamente haviam várias envolvidas né?

 

A. N.: É verdade, você colocou bem, é muito importante pra resgatar o automobilismo. Pernambuco é um dos poucos estados, fora o Ceará que tem autódromo e não é aproveitado, isso não é divulgado não é utilizado. Não só como esporte, mas como turismo e várias outras formas.

 

Guilherme Ferraz (esq.) e Adalberto Novaes (dir.) ao lado do Fiat Uno da equipe.

 

NdG: Você na primeira fase da sua carreira correu de que?

 

A. N.: Eu corria de Fiat também, numa categoria chamada “Fórmula F” que era Fiats 147 e Fuscas, corri dois anos nessa categoria, cheguei a ser vice campeão nessa época.

 

NdG: Você disputava corrida com quem na época?

 

A. N.: Cheguei a disputar com Joca e Ferraz e o irmão dele na época e essa turma da velha guarda.

 

NdG: E nessa volta correndo de Fiat novamente?

 

A. N.: Por coincidência, eu gosto muito da marca, não é “puxando saco” do patrocinador, mas a minha escola foi o Fiat, sempre gostei da marca, surgiu essa oportunidade. Compramos o carro antes de surgir o patrocínio da Italiana, uma feliz coincidência.

 

NdG: Na sua opinião o que pode melhorar aqui no autódromo?

 

A. N.: Acho que precisa de uma manutenção, o traçado é muito bom, ele tem várias áreas de escape, é um autódromo seguro, mas que precisa de uma manutenção. Não só a pista mas toda parte de infra estrutura realmente está precisando de uma reforma.

 

NdG: Fazendo um comparativo entre hoje e a época que você correu o campeonato era mais forte naquela época ou hoje?

 

A. N.: Em termos de carros era naquela época, naquela época a gente tinha mais apoio, o pessoal tinha uma melhor condição de corrida em termos financeiros pra participar, eu acho que esse é um dos principais pontos. E aqui também está faltando um pouco de divulgação das mídias para incentivar. O automobilismo precisa de patrocínio e sem público mídia não vai existir patrocínio, então isso é uma coisa que está precisando, um apoio da mídia nesse aspecto.

 

NdG:  Valeu!

 

A. N.: Obrigado, eu é que agradeço!

 

Guilherme Ferraz.

 

G.F.: Corri a primeira bateria (3ª etapa), larguei em segundo e cheguei em segundo e estamos ainda em fase de acerto do carro, fizemos um motor novo; uma caixa (de câmbio) nova; uma suspensão também toda nova e infelizmente não deu tempo de treinar o suficiente.

 

NdG: Ainda está acertando o carro?

 

G. F.: Exatamente. Na primeira etapa a gente veio com o carro do jeito que a gente comprou, com alguns ajustes na suspenção, fizemos a pole, melhor volta e primeiro lugar [Categoria B - carburados] e agora infelizmente com o desenvolvimento a gente não conseguiu acertar bem o carro nessa prova, mas na próxima a gente melhora.

 

NdG: Você corre a quanto tempo?

 

G.F.: Eu já corri aqui de “Speed 1600”, na época que tinha Adésio (Santos), Nelson Donato, muitos nomes aí andavam e votei a andar de uno, junto com o Adalberto Novaes pra a gente ver o que é que faz. A última vez que eu corri aqui foi em 1998, tinha 18 anos de idade, agora estou com 33, voltei a agora, meu pai, Aziel é o preparador e a gente está tentando buscar melhores colocações.

 

Adalberto Novaes (esq.) e Guilherme Ferraz (dir.)

 

NdG: Você já começou com carros ou no kart?

 

G.F.: Comecei de Fusca, minha primeira corrida foi com Fusca 1600, aí depois eu fui pra Uno e agora voltei novamente Uno, tivemos a oportunidade de comprar esse carro e eu e Adalberto estamos juntos pra desenvolvê-lo agora.

 

NdG.: Valeu!

 

G.F.: Valeu cara, obrigado!

 

Classificação da 3ª e 4ª etapa, condições do autódromo e andamento do campeonato

 

Disputadas com um grid relativamente pequeno (sete carros), as 3ª e 4ª etapas disputadas no dia 01/09 terminaram com a vitória de Marcelo "Bambino" nas duas baterias na “Classe A” e com a vitória de Fabricio Fechine (3ª etapa) e Adalberto Novaes/Guilherme Ferraz (4ª etapa) na “Classe B”.

 

Pódio da 3ª etapa com: Marcelo “Bambino” 1º, Anderson Oliveira 2º e Adésio Santos 3º.

 

Entre as etapas que o site foi houveram as 5ª e 6ª etapas no mês de outubro e 7ª e 8ª etapas no mês de novembro, dia 3 com a presença de nove carros nas etapas de outubro, que foram vencidas pelo piloto Edson Viana (5ª etapa) e Fabrício Fechine (6ª etapa) enquanto que a 7ª e 8ª etapas foram vencidas pelo piloto Anderson Oliveira.

 

Pesagem dos carros e participação cearense no Festival.

 

Um dos pontos principais para o equilíbrio em qualquer categoria no automobilismo o peso dos carros foi aferido por uma moderna balança trazida pelo pessoal que veio do Ceará para o Festival e na pessoa do sr. Célio Freire, 62 anos, vice-presidente do CCA, Clube de Competição automobilística do Ceará nos falou sobre sua história como piloto, administrador do autódromo, dirigente e seu ponto de vista sobre o que falta para que o automobilismo nordestino e sobretudo as categorias de marcas e pilotos vislumbrem dias melhores:

 

C. S.: Eu sou presidente do CCA, estou aqui representando o Clube e a Federação Cearense de Automobilismo .

 

NdG: Há quanto tempo o sr. está ligado ao automobilismo?

 

C. S.: Eu já estou no automobilismo desde 1971. Fui ex-piloto de kart, Copa Fiat, Turismo Passat e 3 vezes vice-presidente da associação de pilotos, fundamos o CCA, clube de competição em 1983 e continuo até hoje...

 

NdG: E o sr. começou a correr com que carro?

 

C. S.: Corri de kart primeiro, no kartódromo Cesar Kali em Fortaleza, depois em um Fiat 147 que era o #34 – meu filho continuou com um Uno, Caio Freire que corre de Palio em Fortaleza – e depois corri de Passat. Administrei o autódromo do Euzébio durante 25 anos, continuo ainda na presidência do clube, esse ano houve eleição, eu coloquei um dos nossos diretores para ser presidente e fiquei como vice.

 

Sr. Célio e a balança, pertencente a Federação Cearense que veio para o Festival.

 

NdG: E como é o automobilismo no Ceará, como que ele anda?

 

C. S.: O automobilismo no CE tá vingando, já teve muita glória, mas o que falta no automobilismo brasileiro e aqui em PE é uma ajuda da CBA, principalmente o Cleyton Pinteiro, im presidente que é do NE deveria olhar com bons olhos para o autódromo de Fortaleza, o autódromo de Caruaru e ajudar o esporte, principalmente a categoria Marcas que é uma categoria que já vem de 40 anos segurando o automobilismo. Hoje no autódromo de Fortaleza só Marcas a Speed e a Superturismo, nós temos lá as três categorias. A “Speed” com motor 1.8, a Superturismo que são os carros como motor 1.4 da GM Montana e a categoria Marcas que são os carros de rua e que tem 28 carros em Fortaleza nós viemos com a presença de 10 carros aqui em Caruaru nesse festival de velocidade que para o ano será em Fortaleza.

 

NdG: E atualmente, comparando a estrutura daqui com a de lá do CE?

 

C. S.: A realidade é que a prefeitura daqui não dá um apoio maior no autódromo, lá o autódromo é do estado, a Federação tem um clube que administra, mantém o autódromo sempre pras competições, com área de escape, pista boa... tá faltando uma arquibancada que o governo tem que fazer uma arquibancada.

 

NdG: E o sr. trouxe a balança de lá pra fazer a pesagem aqui né?

 

C.S.: Rogério pediu a balança a Federação e o Clube veio com a responsabilidade junto com os pilotos pra fazer a pesagem, aí eu trouxe na minha caminhoneta, e estou voltando depois da corrida pra Fortaleza.

 

O equipamento montado no Box #1 é similar ao que é usado em todas as categorias nacionais.

 

NdG: Como que ela funciona?

 

C.S.: São quatro balanças, o carro sobe e tem o monitor. O peso da categoria é 900Kg carro injetado e carro carburado é 880Kg e demais carros são 920Kg, os 16 válvulas, já com o piloto incluso, abaixo disso tem que lastrear o carro e se o piloto largar e depois da corrida for feita a pesagem e ele não tiver 900Kg ele está fora do regulamento e é punido e a classificação muda nesse sentido.

 


Em detalhe, a leitura da balança para cada uma das rodas do carro.

 

NdG: Como que ela funciona?

 

C.S.: São quatro balanças, o carro sobe e tem o monitor. O peso da categoria é 900Kg carro injetado e carro carburado é 880Kg e demais carros são 920Kg, os 16 válvulas, já com o piloto incluso, abaixo disso tem que lastrear o carro e se o piloto largar e depois da corrida for feita a pesagem e ele não tiver 900Kg ele está fora do regulamento e é punido e a classificação muda nesse sentido.

 


 

NdG: Quanto custa um equipamento desse?

 

C.S.: O custo de um equipamento desse hoje é uns doze mil Reais. É caríssimo, você tem que tratar isso com segurança. O monitor é mais caro do que as balanças. A Federação do Ceará, o Haroldo Ciprião tem os equipamentos de cronometragem, tem os rádios, tem balança... a Federação hoje está bem, equipada. O que não tem aqui em Pernambuco por que a Federação daqui, volto a dizer: O Cleyton Pinteiro com o “Dadai”, com outros presidentes de federações tem que procurar ver com o Cleyton um apoio maior pra os clubes, pras federações pra poder ter apoio pro piloto com carreta, hospedagem, premiação... isso ajuda a criar mais pilotos para a categoria. Carro tem, piloto tem, o problema é financeiro e patrocinadores. Já que tem verba da F1, tem verba de outras coisas aí a Confederação, o próprio Cleyton deveria dar um poio maior junto a mim, ao Rogério, a outros dirigentes, certo? Da Bahia, do Maranhão e fazer um congraçamento, certo? Iam criar um festival [de marcas] em Goiânia, foram correr no Rio Grande do Sul. São Paulo, Minas Gerais, Rio foram pro Rio Grande do Sul e a gente está tentando fazer aqui esse Festival de Marcas que é importantíssimo.

 

NdG: E o que o sr. acha que falta para haver essa integram maior entre os clubes dos estados e as federações?

 

C. S.: A gente que um projeto da CBA que ajude as federações e aos clubes e os patrocinadores unidos, certo? E os clubes de vários estados nessa união. Da Bahia tá vindo um pessoal que estava correndo no barro pra esse festival, isso é muito importante. Por que lá não tem um “barródromo”, não tem uma pista. Maranhão, tem kart, vai fazer uma de barro também, lá tem piloto que corre em Fortaleza de Superturismo que é do Maranhão e quer vir pra cá. Aí vem pra cá, da Bahia, Ceará, Alagoas, Maranhão, Sergipe... aí seria muito bom um apoio de um presidente que é nosso, nordestino.

 

É preciso o apoio dos governos e dos empresários!

 

O cearense Heloísio Filho, 51 anos, 32 deles dedicados ao automobilismo. É um dos pilotos com mais vivência dentre os que participaram o Festival NO/NE de Marcas e Pilotos, ele fala sobre a carreira, o automobilismo no sue estado de origem e dá sua opinião sobre o evento e o que falta para uma maior integração entre o automobilismo do Ceará e de Pernambuco:

 

NdG: Você já participou de quantas categorias lá no Ceará?

 

H. F.: De três categorias, Fórmula Ford, Marcas – que até hoje participo – e Copa Corsa.

 

NdG: Você começou como?

 

H. F.: Comecei no kart, do kart eu comecei a correr no autódromo de “Dojão” na época, que era Dodge, Galaxie, Maverick e depois entrei pra Fiat inclusive eu comprei aqui em Pernambuco um Fiat Oggi na época, em 1984, depois em 1985 eu passei pra um VW Voyage corri até o ano passado de Voyage, quando passei agora pra o Gol.

 


Piloto cearense Heloísio Filho, um dos mais experientes no Festival.

 

NdG: E a diferença que você tá notando do Ceará daqui pra Pernambuco?

 

H. F.: A estrutura realmente Fortaleza está bem mais avançada, certo? Até por que nós temos o apoio do governo do estado, então o automobilismo lá está bem desenvolvido, aqui ainda tem muita coisa pra crescer mas eu acredito que com a união e os pilotos daqui são muito unidos, principalmente tendo o Rogério a frente eu acho que dá pra reerguer o automobilismo daqui como a gente reergueu em Fortaleza. Lá teve uma época em que praticamente tinha acabado o automobilismo e com a união dos pilotos, com o apoio do governo, da Federação, dos clubes a gente conseguiu reerguer o automobilismo no Ceará.

 

NdG: O que é que você acha que falta para que haja uma maior integração, não só entre Pernambuco e Ceará, mas entre todos os estados no No/Ne?

 

H. F.: Hoje já tem um avanço aqui com o pessoal da Bahia, infelizmente eles não tem autódromo mais, e eles estão estudando, tentando fazer um autódromo lá, mas eu acho o seguinte, se a gente pegar o Maranhão que já tem carro também, Ceará, Bahia, Pernambuco, Paraíba também, tem piloto da Paraíba também eu acho que dá pra a gente fazer um automobilismo muito bonito, parecido ou até melhor que o do Sul. No Sul eles tem os incentivos, as empresas acreditam nos pilotos, no automobilismo. Aqui infelizmente no Nordeste é meio arcaico, as empresas não dão valor ao automobilismo, por que o automobilismo é uma fonte de divulgação, mas infelizmente aqui e um pouco em todo Brasil também é só mais pro futebol e tão esquecendo do automobilismo que também agrega público, empresários, enfim. Infelizmente a cultura do empresariado nordestino a mente é meia fechada e alguns governos também. Graças a Deus no Ceará a gente tem o governador que está dando o apoio, principalmente com o secretário Arialdo Pinho que é o chefe de governo e inclusive corre de vez em quando e dá um apoio. O Luís Pontes, Senador pelo Ceará corre também então eu acredito que o automobilismo cearense está hoje no estágio e que está por causa da ajuda que teve do governo, embora que a gente não tenha a ajuda dos empresários que é o caso do Nordeste todo, mas lá a gente tem o apoio do governo, se Pernambuco tivesse um apoio do governo eu acredito que o automobilismo daqui iria deslanchar.

 

NdG: E as provas de longa duração lá no Ceará, como que são?

 

H. F.: Quem organiza é o Alexandre Ronsi, inclusive era pra ser hoje (8 de dezembro), mas como tinha esse festival aqui e vinha carro pra cá, que nós trouxemos 7 carros e foi adiado, aí eu não sei a data ainda, se vai ser em janeiro ou fevereiro. Que o nosso campeonato lá só vai começar em maio.

 

NdG: E ele tem a duração até quando?

 

H. F.: Ele vai de maio até aproximadamente final de novembro, começo de dezembro, ainda vai sair o calendário oficial, não saiu ainda. Geralmente na primeira semana de janeiro é que sai o calendário oficial por que a gente depende também de outras categorias, inclusive nacionais, de rally, de kart para se fazer o calendário.

 

NdG: E o custo, quanto que sai pra correr tanto lá, quanto vir pra cá?

 

H. F.: Pra gente vir pra cá o custo aumenta um pouco, por causa de transporte, de hotel, deslocamento. Mas hoje em Fortaleza nós estamos gastando na faixa de dois mil Reais, se não tiver uma quebra de motor, uma caixa (de câmbio) é dois mil, se tiver aí é um pouco a mais, pra cá a gente já aumenta mais um pouco, aí bota uns quatro mil Reais pra vir pra cá. Não é alto o custo, comparando com outros esportes não é.

 

NdG: E pra alguém que deseja começar, como é que seria?

 

H. F.: Bom, pode procurar o CCA, Clube de Competição Automobilística do Ceará, que promove a categoria Marcas e nós temos o maior prazer de ajudar, o Célio que é o vice-presidente do CCA que pode ser procurado e a gente tem o maior interesse em ajudar, em dar dicas, inclusive tem carros no Ceará que estão à venda e podemos dar todo o apoio necessário.

 

NdG: E tem algum curso de pilotagem por lá?

 

H. F.: Não, hoje a gente não tem nenhum curso, mas é coisa pra se pensar também, dependendo do número de alunos interessados.

 

Pitada baiana no Festival NO/NE.

 

Um dos pilotos da “Boa Terra” que vieram a Caruaru competir no Festival, Lizandro Nunes, 38 anos falou das diferenças entre a pilotagem e a preparação de um carro para andar na terra (que era o lugar onde havia corridas na Bahia, já que o estado não possui autódromo) e correr no asfalto e o seu ponto de vista sobre as dificuldades de se fazer automobilismo na região.

 

L. N.: Eu andei oito anos e parei quatro, estou voltando esse ano agora. O pessoal me incentivou a correr, pegamos um carro que estava parado lá, montamos o equipamento, testamos a mecânica pra quando estiver pronto pegar uma carroceria nova, bem mais leve pra poder fazer o campeonato de 2014 aqui.

 

NdG: Na Bahia como é que acontecem corridas por lá

 

L. N.: Lá o automobilismo da gente só tem velocidade na terra. A gente não tem autódromo então as corridas da gente só de velocidade na terra, tem de kart também, mas o que cabe a gente só na terra mesmo.

 


O piloto Baiano Lizando Nunes era só confiança antes da prova.

 

NdG: E a diferença de estrutura de lá pra cá, o que você nota de principal da BA para PE?

 

L. N.: Sem dúvida pelo fato daqui ser uma área pronta com certeza é melhor, por que velocidade na terra você tem que “trabalhar” a pista toda vez, tem que ter carro-pipa, então tem que ter uma logística muito mais forte, aqui está bom, pra gente é novidade, pela carência de não termos (autódromo) em Salvador aqui é um oásis. Mas também dá pra perceber que podia estar melhor em função até do campeonato ter um incentivo maior, você nota que os pilotos daqui correm por amor, não tem nenhum incentivo maior do estado ou até de patrocínios, que é a grande dor de cabeça de quem gosta de automobilismo, ter o patrocínio.

 

NdG: E a diferença de correr na terra e correr em um autódromo?

 

L. N.: É muito grande. A nível de acerto de suspenção é completamente diferente. Mola, amortecedor, altura do carro e sem sombra de dúvidas a forma de pilotar. Por que no asfalto você tem que contornar as curvas fazendo no mínimo detalhe, sem acelerar muito. E na terra não, você faz as curvas com o “pé cravado” entendeu? Por que com tração dianteira se você no meio de uma curva você “folga o pé” pra você contornar a tendência do carro é sair de frente, então é um estilo de pilotagem bastante diferente.

 

NdG: Pilotar na terra se assemelharia a um rally?

 

L. N.: Um rally de velocidade. É exatamente igual você assistir a um rally desses da Europa que passam na TV e pilotar exatamente igual, se o carro for tração dianteira, por que aqueles carros ali são 4x4 né? Mas o princípio é o mesmo, você pode ver que aqueles carros passam tracionando em curva, de qualquer jeito é tracionando porque senão se perde tempo.

 

NdG: E lá na BA, tem algum projeto para um autódromo?

 

 

O piloto Baiano Lizandro Nunes retirando o carro da pesagem.

 

 

L. N.: Olhe, eu vou ser sincero viu Diego, o motivo de eu ter parado de correr foi justamente isso. Em 2008 eu ganhei meu quarto campeonato lá e a gente tinha uma pista que tinha uma estrutura muito boa, era uma área privada e de repente desapropriaram para fazer casas, prometeram um circuito novo e isso nunca aconteceu. Então eu vi que não adianta, a gente que vai, chega na hora e “dá pra trás”, então eu não vejo nenhum projeto. Veio de boca, e de vontade tem muita gente que trabalha pra isso, mas quem poderia realmente fazer a coisa acontecer eu não vejo nenhum projeto, eu vejo o pessoal querendo botar o dinheiro no bolso com a história do projeto, mas não acredito. Sinceramente, eu tenho 38 anos, acho que vou completar uns 50 e não vou ver sair autódromo em Salvador. 

 

Paranaense vivendo em Pernambuco, ajudando na organização e pilotando.

 

O paranaense Alex Potrich, 33 anos competia a exemplo dos que vieram da Bahia em provas na terra até, por compromissos profissionais, aportar em Pernambuco e conhecer Rogério Santos. “Fotógrafo” do evento junto com sua esposa, ele é um dos que auxilia na organização das etapas ele pilotou no Festival NO/NE e cedeu ao Nobres do Grid uma entrevista:

 

NdG: Quanto tempo no automobilismo?

 

A. P.: Eu tenho 7, vai fazer 8 anos.

 


Paranaense Alex Potrich, ajuda Rogério Santos no campeonato – Créditos: Marcas e Pilotos PE.

 

NdG: Como é que você começou a correr?

 

A. P.: Eu sempre gostei muito de velocidade, gostava muito de moto, participava de motoclube e tal, aí quando eu conheci a minha esposa, que na época era minha namorada o pai dela me convidou pra ver um corrida de terra, lá no Paraná é muito forte velocidade na terra, me levou lá pra conhecer como que e tal, aí fomos lá entramos nos boxes, conhecemos os carros... saímos de lá já com um carro comprado. Um “Golzinho quadrado” compramos de uma das equipes lá que já estava com um carro sobrando. E aí eu comecei andando, na minha primeira prova eu consegui a façanha de dar quatro piruetas com o carrinho, deu perda total na carroceria e aí junto com os pilotos lá falaram: “Você na pode chegar com muita sede ao pote, você vai ter que treinar por que a terra não é igual ao asfalto”. E aí junto com a galera e tal, que o pessoal (de velocidade na terra) é muito unido lá no Paraná, peguei as dicas e aí fiquei durante 5 anos andando lá no Paraná. Fiquei duas vezes entre os seis no campeonato, sempre brigando e aí fui transferido para São Paulo. Aí lá infelizmente eu não pude andar por que não consegui levar o carro, ande só uma etapa lá Piracicaba junto com uma equipe lá, tem uma prova que são as 100 Milhas de Piracicaba, andei junto com a equipe lá, a “I. R.” aí fui transferido pra cá (Pernambuco) e aí conheci o Rogério, que eu sou apaixonado por automobilismo, quando cheguei em Recife comecei a procurar na Internet, falar aqui, falar com lá e era bem na época que o campeonato tinha ficado parado aqui, tinha ficado uns cinco, quarto anos parado e aí me indicaram a falar com o Rogério, aí foi quando conheci ele e ele me disse. “Entra comigo aí, vamos começar a andar!” começamos a andar, aí trouxe o meu carro, começamos a ajustar ele pra andar no asfalto, estava tudo preparado pra terra.

 

NdG: Lá no Paraná, você só correu na terra?

 

A. P.: Só na terra. Em São José, Ponta Grossa, Araucária, Telemaco Borba. Aí quando eu vim pra cá comecei junto com o Rogério e esses dois anos estou andando aí com ele. Acertando o carro e aproveitando a galera. Só que aqui ainda tá precisando fortalecer o automobilismo daqui, falam muito pro Rogério e ele comenta a gente precisa unir mais os pilotos, conseguir agregar, por que tem muita gente que gosta de automobilismo aqui só que como ficou parado a galera tá enferrujada, com carro guardado na garagem todo empoeirado. Então eu acho que com esses dois anos de campeonato que o Rogério propiciou com a gente aí já deu uma animada, acho que esse ano foi um ano melhor que o ano passado em carros, grids, organização. Então a gente acredita que no ano que vem a gente vai conseguir trazer muitos mais pilotos. Esse ano veio o pessoal da Bahia, do Ceará e a gente está com quase gente tá com quase vinte carros hoje e a preocupação do Rogério é tentar fazer um campeonato de três estados em um só. Alagoas, Bahia e aqui pra agregar piloto mesmo e é isso que a gente espera.

 


Momento da entrevista para o site dos Nobres do Grid.

 

NdG: No Paraná, quais os campeonatos que você participou e quais as colocações?

 

A. P.: Eu andei duas etapas no brasileiro, não foi legal, o carro quebrou e no paranaense eu fiquei entre os cinco primeiros nos dois últimos anos. Os dois primeiros foram só de treino, só aperfeiçoando, preparando o carro se organizando aí nos dois últimos anos dos cinco que eu corri na terra no Paraná eu fiquei entre os cinco primeiros.

 

NdG: E aqui no pernambucano?

 

A. P.: Aqui eu tô “lascado”, ano passado eu andei, mas também até ajustar carro, ajustar chão... então aqui eu estou no aprendizado novamente pra andar o asfalto, então nesse ano foi mais um treino mesmo, eu andei as primeiras duas etapas aí consegui preparar motor, mas o carro não tinha “chão” , entrava nas curvas não conseguia transferir a potência do carro pras rodas e aí o Rogério me deu uns toques e a gente foi lá e demos um toque na suspensão, agora acho que pro ano que vem meu carro deve estar mais competitivo para andar entre os primeiros.

 

NdG: E a diferença de um carro preparado pra terra e parar ele para o asfalto, como que é?

 


Alex e seu carro, que ainda em busca de um melhor acerto.

 

A. P.: É outro carro. Desde a preparação do piloto até o carro. O carro você mexe suspenção, alinhamento, motor e câmbio tem que mudar regime. O carro era quatro marchas, porque na terra o circuito é menor, é um circuito que você tem que manter mais giro, mas você não usa muita marcha final por que as retas são curtas, então pro asfalto eu tive que trocar caixa [de câmbio], tive que trocar motor, pra dar mais final, tive que mexer em cambagem e suspenção então o carro muda completamente. E a tocada é outra, completamente outra. A tocada do asfalto ela é menos agressiva, na terra é muito comum o carro sair, você andar com ele sempre saindo de traseira, aqui se sair muito você perde tempo, se não sair também você não consegue fazer a curva direito, você ataca muito a zebra, na terra não tem zebra, então é diferente.

 

NdG: E custo, é mais barato correr na terra ou no asfalto?

 

A. P.: Olha, na terra como ela é uma categoria de entrada dos pilotos ela tem um custo menor, inevitavelmente você não gasta tanto pneu, teu equipamento não se consome tanto. Mas hoje em dia o automobilismo tanto terra quanto asfalto pra você andar na frente, você tem que ter um carro bom, você tem que ter uma equipe, então você gasta. Em matéria de custos pra você andar na frente vai ter que desembolsar, ainda mais que o automobilismo é feito só de paixão. Não se tem patrocínio, o governo mesmo não investe no esporte. Então o investimento é só dos pilotos e dos poucos patrocinadores que acreditam no automobilismo.

 

NdG: E como você trabalha ajudando o Rogério?

 

A. P.: Quando eu conheci o Rogério eu gostei muito das histórias dele, eu acho ele um cara figura, ele ama automobilismo. Eu falo nele e chego a me emocionar porque é um cara que tá no sangue, dá a vida dele, vem aqui e dorme no autódromo. Então quando eu escutei as histórias dele eu não pude deixar de entrar de cabeça, eu falei: “Vamos entrar! O que eu puder te ajudar! Vamos botar um site no ar pra divulgar um pouco mais, vamos cobrir um pouco o evento, vamos tentar contatar mais pilotos”. Pra gente conseguir fazer aquilo que o automobilismo daqui já foi que foi um seleiro de grandes pilotos: Beto Monteiro, Bruno Santos o próprio neto do Rogério, o Bambino e aqui precisa renascer novamente com o automobilismo. E a gente que ajudar ainda mais o ano que vem pra gente fazer o campeonato ficar com mais peso.

 

NdG: E a expectativa pro ano que vem?

 

A.P.: Ah! São das melhores! A gente está conseguindo contatar bastante patrocinadores, tem algumas empresas grandes, tem a Suzuki que está entrando com a gente aí, então eu acho que via dá pra fazer um evento maior já. Já estamos pensando em maiores investimentos. Esse ano foi muito mais dos pilotos, a vontade, o gosto pelo automobilismo e ano que vem quando as empresas começarem a olhar mais pra cá a gente já conseguiu mais contatos, então a ideia é conseguir agregar com mais empresas, com certeza.

 

NdG: E a integração com os outros estados?

 

A. P.: Show de bola! Isso é um sonho do Rogério. Ele é um cara que briga muito pra isso, ele não deixa de fazer pelo menos uma etapa no ano. Ano passado teve a Copa Norte e Nordeste, esse ano mudamos o nome para “Festival” [Norte e Nordeste]. Falei pro Rogério: “Vamos mudar isso aí! Porque a galera fala muito em turismo, turismo 1600... está na época de tudo o que é marcas, marcas do Rio Grande do Sul, marcas de São Paulo... então vamos botar Marcas e Pilotos de Pernambuco!” então a ideia do nome foi minha, ele comprou a ideia, aí no ano passado era Copa NO/NE, então ele falou: “Por aí tem um negócio de festival... festival... então! Festival de Marcas e Pilotos!” E que é uma etapa de integração, e a gente contou até com pilotos da Bahia que não tinham vindo no ano passado. Então esse é um evento o Rogério gosta muito que valoriza o automobilismo.

 

NdG: Obrigado e boa corrida!

 

A. P.: De nada!

 

“Neguinha” grande figura pelos boxes de Caruaru.

 

O automobilismo é uma caixinha de surpresas, e uma delas estava passeando por entre os boxes do autódromo, era um senhor moreno, de baixa estatura e aparência franzia que esconde uma figura com habilidade bem peculiar para contar suas aventuras e desventuras sendo querido por todos. Ele foi já piloto nos tempos do autódromo na Ilha da Joana Bezerra em Recife e atualmente trabalha como preparador.

 

NdG: Seu nome é?

 

N.: Riernan.

 

NdG: Idade?

 

N.: 55.

 

NdG: Quanto tempo de automobilismo?

 

N.: Uns 30 anos, comecei como piloto depois fui ser preparador.

 

NdG: O sr. corria de que?

 

N.: Corri de 147, de Uno, de Corcel, de Passat, corri de Opala, fui campeão várias vezes. Foi assim que eu levei minha vida.

 


Riernan “Neguinha”, ex-piloto e preparador.

 

NdG: Como que era o automobilismo em Pernambuco naquela época?

 

N.: Dava mais gente do que aqui, por que lá o prefeito dava o incentivo e o daqui não dá. O prefeito quer fazer daqui do autódromo um depósito, tá errado [próximo de onde fica o ambulatório estão amontoados e expostos ao relento vários carros e motocicletas apreendidos]. Autódromo é uma coisa, depósito é outra, é o que ele tá fazendo o erro dele aqui é só esse. E fica muito longe de Recife aí o patrocinador daqui não quer patrocinar e o patrocinador de Recife também não quer patrocinar por que é aqui, aí torna-se uma pequena confusão e a Federação não tem culpa disso por que não tem divulgação, a Federação não divulga corrida, se ela divulgasse era fácil, só que ela não divulga. Por que o ovo da pata é mais forte que o da galinha? E a turma gosta mais do da galinha do que o da pata? Porque a pata quando põe não faz publicidade e a galinha faz publicidade entendeu? Aí torna-se a confusão.

 

NdG: E o sr. pilotou até quando?

 

N.: Eu pilotei até 1995, de lá pra cá sou apenas preparador. Eu agora mesmo acabei de dizer que o carro de um cara estava bom, virou 1’54, depois virou em 1’57. Então não é o carro é entre o banco e a direção. Você pode cansar, todos nós cansamos, tudo que você cansa você não vai buscar aquilo, só vai buscar se você tiver esforço, se não tiver esforço não vai. Aí torna-se um grande problema, por que quando eu conserto um carro e sei que o carro é campeão, que eu também “toco” eu vou lá vejo, derrubo o tempo e vejo que o carro está bom, é entre o banco e a direção, se corrija que você vai virar tempo entendeu? Porque não é só o cara dizer: “Meu carro não está andando”. O piloto também influi muito, por onde ele andava e por onde ele anda, aí quando você está com aquela “secura” você vai anda certinho e vem ligeiro, vem um tempo “da porra”! Mas de vez em quando vem... procurando gente pelo retrovisor e esquece a pista. Você sentou em um carro de competição você tem que esquecer tudo. Só se lembrar do autódromo, aí faz uma senhora corrida, entendeu? É a mesma coisa de você estar preocupado com uma coisa e for correr, você não corre (bem) porque seu pensamento está só naquilo, você tem que esquecer tudo e se lembrar só daquilo, depois que terminar  aquilo é que você vai refletir os “aquilo” lá atrás pra poder pilotar.

 

Porque todos os carros que eu pego é campeão, e inclusive meu filho corria, não está correndo agora porque está dirigindo caminhão, mas já estou com outro filho meu, irmão dele que já vai andar – pega o celular para mostrar as fotos do carro de corrida usado pelo filho –. Eu emprestei muito também, mas a turma faz sacanagem, você faz amizade aí então torna-se... tá vendo aqui o carro do meu filho? E eu emprestei um reboque, aí estou fazendo outro, vou gastando já sete mil “conto”, emprestei na amizade o cara foi e vendeu meu reboque, ele não vendeu meu reboque, ele devia à um cara aí o cara foi e tomou meu reboque, isso faz quatro anos já e eu não sei onde o cara anda. Quer dizer, é sacanagem o cara confiar e o outro estragar, entendeu? Mas é assim mesmo. Mas todos aqui são a favor de mim, eu sou do tipo de cara que se alguém chegar com um carro quebrado no box e me chamar, porque a aqui a turma me chama mais de “Neguinha”...

 

NdG: Neguinho ou Neguinha?

 

N.: “Neguinha” [risos!], podia ser Neguinho, mas não. É Neguinha. Aí eu ajeito do mesmo jeito o cara diz: “Porra, é uma diferença do caralho Neguinha!” [risos!] Aí eu digo logo: “Agora é entre o banco e a direção, tem uma grande diferença”.

 

 

Marca japonesa marcando presença no Festival NO/NE.

 

A concessionária Suzuki Nagai participou do evento cedendo três carros a organização, um para ser o Pace Car (SX4) e outros dois de apoio (Gran Vitara e Jimny), bela iniciativa!

 


Representantes da concessionária posam pra foto junto com os organizadores do campeonato – Créditos Marcas e Pilotos PE.



 

Um grid como há muito tempo não se via em Caruaru.

 


Foto oficial com os pilotos – Créditos: Marcas e Pilotos PE.


Carros alinhados recebendo os últimos ajustes pouco antes da largada.


 

Era esse o comentário geral nos boxes pouco antes da largada para o Festival NO/NE de Marcas e Pilotos, 21 carros alinharam no grid e a expectativa era que teríamos duas baterias de arrepiar, tudo corria dentro da normalidade com belas disputas por posições na pista até que na sétima volta o então líder do campeonato pernambucano, Marcelo Bambino que havia largado na vigésima e penúltima posição e vinha em recuperação fantástica já entre os dez primeiros em uma disputa por posição sofre um toque, vai para fora da pista e sofre com um princípio de incêndio no seu carro. O contato das partes quentes do carro com a vegetação, que estava seco, na área de escape começa a pegar fogo que logo vai tomando o carro. Após um bom tempo o pessoal da organização chega ao local em duas caminhonetes (o bandeirinha que estava próximo não estava com extintor), mas todos os quatro extintores levados falham e demoram a funcionar enquanto o incêndio vai se alastrando com rapidez e tomando conta do carro até ser consumido totalmente pelas chamas.

 

O Nobres do Grid foi até o local do incêndio e acompanhou o procedimento do Corpo de Bombeiros no combate ao fogo, antes da volta aos boxes encontrei o que tinha sobrado da câmera “Go Pro” que havia sido colocada no carro instantes antes da largada, repassei ao piloto e foi constatado que o cartão de memória não havia sofrido danos e o vídeo da corrida e do acidente que terminou com o incêndio foi postado no You Tube pelo próprio piloto, você pode ver o vídeo nesse link: http://www.youtube.com/watch?v=p23HXvSU8iA

 


Incêndio logo se alastrou tomando conta do carro e da vegetação em volta.

 

Bambino teve queimaduras de segundo grau nas mãos e visivelmente abalado foi amparado por familiares e amigos no box de sua equipe.

 


Piloto emocionado após o acidente que destruiu seu carro sendo consolado pela mãe e pela namorada.

 

- “Não deu tempo nem de respirar, quando eu respirei já estava pegando fogo na soleira..., se eu tivesse desmaiado com o impacto, porque eu bati muito a cabeça eu poderia ter morrido dentro do carro. Tinha um bandeirinha mas ele estava longe e não tinha extintor.”

 


Bombeiros no combate ao incêndio do carro.

 

- “Eu fiquei preso dentro do carro, não soltou o cinto...”

 

- “Eu vinha disputando com o Palio aí não sei o que aconteceu, que minha roda direita caiu aí quando o carro parou dentro de um buraco, a área de escape horrível, a temperatura muito alta, começou a pegar fogo no mato, não chegou bombeiro infelizmente. Fique lá preso mas consegui sair. Pegou fogo o carro, só que Deus me ajudou e eu saí do carro.”

 


Câmera que localizamos em meio as cinzas do incêndio.


O que sobrou do carro enquanto os bombeiros lavravam a ocorrência do fato.


“Bambino” fazendo o curativo na mão direita.

 

A corrida foi interrompida com bandeira vermelha e encerrada logo depois. O corpo de bombeiros demorou mais de meia hora para chegar ao local e aproximadamente 20 minutos para debelar as chamas no carro não tendo conseguido, contudo apagar o fogo que havia se espalhado pela vegetação seca, pois a água do caminhão tinha acabado. Os bombeiros tiveram que ir reabastecer o caminhão e partir para outra ocorrência, o que resultou no cancelamento da segunda bateria do Festival. Episódio triste e que mostra a dificuldade que é se fazer corridas no país e principalmente na região nordeste, onde mesmo com um trabalho incansável por parte dos organizadores (só como exemplo, Rogério Santos depois de ficar até aproximadamente 01:00 da madrugada do sábado para o domingo no autódromo foi a Recife buscar peças para carros que iam participar da prova) não há nenhuma disposição por parte do poder público em fomentar o automobilismo local, bastando apenas as poses para foto junto com “celebridades” durante a etapa da Fórmula Truck (que depois do São João, é o maior evento realizado anualmente na cidade), pois o resto do ano não há nenhuma manutenção no autódromo, a não ser a que é realizada pela categoria do caminhões e não é dada a MÍNIMA estrutura necessária ao que organizam eventos no local, pois tudo tem que ser por conta dos abnegados que se esforçam para manter vivo o esporte a motor em Pernambuco.

 

Foi declarado vencedor do Festival o piloto do Ceará Thiago Barbosa. O título Pernambucano ficou com Marcelo “Bambino” a Categoria A e com Fabrício Fechine na Categoria B. Que todo esse episódio sirva de lição a todos que são ligados ao automobilismo e que abra os olhos dos governantes para o estado precário em que se encontra o autódromo e o que a partir desse fato o poder público dê ao menos condições básicas para a prática esportiva no local.

 

Vencedores do Festival NO/NE de Marcas e pilotos.

 

Até a próxima,

 

Diego Freitas

 

Crédito das Fotos: Diego Freitas e site Marcas e Pilotos PE.

 

 

Last Updated ( Tuesday, 25 February 2014 02:07 )