O "Wikileaks" da Fórmula 1 e a maratona do fim de semana Print
Written by Administrator   
Monday, 15 July 2013 01:04

Olá, pessoal. Quanta coisa tivemos nessa semana que passou, hein? Muita coisa para falar hoje, desde o "Wikileaks" que se sucedeu em relação a documentos antigos da Fórmula 1, até as corridas que tivemos nos certames da Fórmula Indy, da Moto GP e do Deutsche Tourenwagen Masters, o DTM.

 

Primeiro, falemos de Fórmula 1. Vazaram três documentos de suma importância histórica. Os documentos foram obtidos da Legacy Tobacco Documents Library, da biblioteca virtual da Universidade da Califórnia. O jornalista Fábio Seixas, com o auxílio de um de seus leitores, divulgou na grande mídia o contrato do tricampeão mundial Ayrton Senna com a Lotus, que, hipoteticamente, valeria pelos anos de 1987 e 1988 - que acabou valendo apenas para o primeiro ano, pois, no seguinte, Ayrton foi para a McLaren, valendo-se de uma cláusula deste mesmo contrato. O contrato do brasileiro com a equipe inglesa inclui alguns detalhes saborosamente interessantes e intrigantes, que geraram algumas discussões ao longo da semana. Vamos a eles.

 

A negociação do contrato se deu entre uma empresa em paraíso fiscal no Caribe (AYRTON SENNA DA SILVA PROMOTIONS LIMITED, nas Bahamas) e, trivialmente óbvio, a Lotus (TEAM LOTUS INTERNATIONAL LIMITED). Só isso daí gerou uma bela de uma discussão, pelo que pude ver ao longo da semana. Quando se ouve falar em paraíso fiscal, já é até senso comum pensar na ideia de sonegação de impostos. Porém, isso depende muito de quem paga e quem recebe (no caso, as duas partes estão bem claras no contrato), de onde é o endereço domiciliar do piloto (Ayrton, até onde sei, residia em Mônaco) e da origem do dinheiro (no caso, a Lotus e a R.J. Reynolds, que usava a marca Camel). Além do mais, a grana é suficientemente alta para que pilotos como Senna tenham condições de contratar bons advogados que assegurem que essas transações ocorram sem problemas com a lei. 

 

Além disso, Ayrton Senna teve como garantia em seu contrato o status de primeiro número um (number one driver status) em relação ao japonês Satoru Nakajima, seu companheiro e, com isso, o tricampeão teve também a garantia da prioridade no equipamento. Ou seja, qualquer melhoria aplicável ao carro, viria para o brasileiro, inexoravelmente. Pobre japa... Senna recebeu da Lotus o equivalente a US$ 1,5 mi (R$ 10,7 mi atuais), mais US$ 228 mil pelos 57 pontos que conquistou no ano de 1987 (ganhou US$ 4 mil por ponto conquistado). A empresa que representou Senna no contrato ainda enviou uma carta à Lotus e à Camel em 30 de Janeiro de 1987 e, nela, estipulou que a TV Globo teria exclusividade nas entrevistas em que o piloto poderia aparecer sem os patrocinadores principais da equipe, antes e depois das corridas.

 

Para sair da Lotus em 1987 e ir para a McLaren, Ayrton pôde se valer de uma cláusula de seu contrato, que determinava que ambas as partes poderiam rescindir o contrato até uma data-limite. No caso, 8 de agosto de 1987.

 

O curioso nisso tudo é como os fatos constatados nesse contrato podem derrubar, a longo prazo, a imagem de bom moço e "herói" que Senna tem, principalmente entre os brasileiros, em especial os "pachequistas" e as "viúvas". Não é do meu interesse aqui julgar Senna pelo paraíso fiscal no Caribe ou pelo status de primeiro piloto que o brasileiro teve em 1987, mas é como eu disse antes: Utilização de paraíso fiscal, no senso comum, geralmente tem uma conotação erroneamente inexorável de crime, de algo moralmente deturpado, entre outras coisas. Junta-se isso ao fato dessa coisa de "primeiro e segundo piloto" predefinidos por contrato não ser uma coisa do agrado dos fãs. Pelo contrário: Alguns pilotos que provavelmente tinham/tem a prioridade de primeiro piloto são geralmente rechaçados, como Michael Schumacher, Fernando Alonso e outros. Esse tipo de coisas não é abominável e nunca foi, tendo sempre existido na Fórmula 1.

 

Se o contrato de Senna continha isso tudo, o de Nelson Piquet com a mesma Lotus em 1988 não deixou a desejar. Esse contrato foi obtido pelo mesmo acervo da biblioteca da Universidade da Califórnia, dessa vez pelo site. Depois de ter perdido Ayrton, que foi para a McLaren, a equipe britânica teve de recorrer aos serviços do veterano tricampeão, então de saída da Williams, com quem já vinha tendo um péssimo relacionamento (em decorrência da briga pelo título de 1987 entre ele e Nigel Mansell, que tinha a preferência da equipe de Grove). Além de empresa em paraíso fiscal (RACE ACE MANAGEMENT CORPORATION, localizada nas Antilhas Holandesas), também tinha status de primeiro piloto em relação ao seu companheiro, o nipônico Nakajima. Satoru não poderia ultrapassá-lo de forma alguma. Nelson recebeu US$ 1,5 mi da Lotus, mais US$ 3,5 mi da R.J. Reynolds, que patrocinara a equipe no ano anterior (A matéria original, do grande Fabio Seixas trás os números invertidos em relação ao que está no contrato).

 

Senna provavelmente já negociava com a McLaren antes da data-limite para rescisão de seu contrato com a Lotus. Já a Lotus já tinha assinado com Piquet desde a metade do campeonato de 1987, quando o brasileiro ainda estava na Williams. Já de contrato pronto com a Lotus e tendo garantido não só a presença da Honda por mais duas temporadas na equipe (1988 e 1989), mas também a presença de Gerard Ducarouge como engenheiro-chefe do time, Nelson ainda venceu o campeonato de 1987, sagrando-se incontestavelmente tricampeão. No final das contas, Piquet ganhou muito mais do que Senna, financeiramente falando, nos dois anos em que esteve na equipe. O curioso, a meu ver, é que os dois tenham exigido status de piloto número um em seus contratos. Principalmente Piquet, já tricampeão. E essa coisa de empresas de pilotos em paraísos fiscais deve ser algo mais comum do que se pensa no automobilismo.

 

Outros dois documentos relacionados à indústria do tabaco, guardados na mesma Universidade, vieram à tona. Documentos esses que não só provam que a McLaren quase trouxe Rubens Barrichello direto da Jordan aos seus feudos, em meados de 1994, como também cogitou criar uma equipe B na Fórmula 1, para a formação de jovens talentos da Marlboro no Brasil. A parceria não vingou, pois Rubens não teve garantias de que não seria relegado ao status de piloto B, ou mesmo de reserva da equipe. Há outro documento que também mostra que a Ferrari realmente tinha interesse de contratar Barrichello em 1996, provavelmente para segundo piloto de Michael Schumacher, já acertado com a equipe italiana. Neste, há também os nomes de Johnny Herbert, Nicola Larini e David Coulthard, além do próprio Rubens.

 

Pois é... Muita agitação por conta disso tudo nessa semana, inúmeras discussões que, acho, nunca acabarão... Enfim.

 

No final de semana, tivemos DTM em Norisring, onde Robert Wickens cravou sua primeira pole-position e vitória no certame. Numa corrida absolutamente confusa, o vencedor tinha sido Mattias Ekstrom, mas o sueco acabou excluído do resultado por receber uma garrafinha de água de um mecânico antes da pesagem e a guardou no bolso do macacão, o que é proibido pelo regulamento (receber quaisquer objetos de outrem antes da pesagem). A vitória caiu nas mãos do canadense da Mercedes AMG. A Audi vai recorrer. Na minha opinião, essa conclusão deveria ser revogada. Não poderia haver motivo mais fraco para tirar assim a vitória de um piloto.

 

Tivemos também Moto GP, com o GP da Alemanha, disputado em Sachsenring. Essa também foi, no mínimo, inusitada: O alemão Stefan Bradl pulou da quarta posição para a ponta na largada e passou algumas voltas segurando Valentino Rossi, Marc Márquez e Cal Crutchlow, que vinham atrás. Nisso, os quatro ficaram se revezando nas primeiras posições durante aproximadamente 15-20 voltas, até as coisas se estabilizarem. Marc Márquez passou Rossi e depois Stefan Bradl, que perdeu também para o italiano da Yamaha e para Crutchlow, satélite da montadora japonesa. Bradl, da LCR, satélite da Honda, acabou apenas em quarto, e Crutchlow passou Rossi, abrindo sempre boa vantagem para o italiano nas últimas 10 voltas. Márquez venceu tranquilamente e agora é líder do mundial, com 2 pontos de vantagem para Dani Pedrosa. Tanto Pedrosa quanto Jorge Lorenzo, com 11 pontos de atraso para Márquez, se acidentaram durante o fim de semana e não participaram da corrida. Acabaram sem pontuar. Álvaro Bautista completou o top-5 com a Gresini. Lorenzo também não participará do GP de Laguna Seca na próxima semana.

 

E, para finalizar, Fórmula Indy: A categoria norte-americana de monopostos correu no Canadá, nas belíssimas ruas de Toronto. Rodada dupla. E muita confusão. A começar pela primeira prova, onde a largada parada deu problema: Josef Newgarden não conseguiu alinhar. Abandonaram a ideia e largaram em movimento. Poucos acidentes marcaram esta prova, porém, mas muitas disputas de posição. Scott Dixon venceu a primeira prova com a Ganassi, à frente de Sebastien Bourdais e Dario Franchitti. Na segunda prova, muitos e muitos acidentes, principalmente um na última relargada, em que se envolveram os pilotos Takuma Sato e Ryan Hunter-Reay. O japonês, que já estava em observação desde Pocono, quando também bateu no norte-americano, talvez seja reprimido com mais força. Scott Dixon também venceu a prova de número 2 de Toronto, e isso o deixa em ótima situação no campeonato, apenas 29 pontos atrás de Helio Castroneves, o líder. Hunter-Reay deve estar mordido com Sato...  Helinho chegou em segundo, Bourdais, tetracampeão da ChampCar, foi o terceiro.

 

É isso aí, galera. Uma ótima semana a todos!

 

Antônio de Pádua

 

 

 

 

 

 

Last Updated ( Tuesday, 16 July 2013 13:41 )