Pizzaiolos parisienses; Genialidades e lamentações dinamarquesas Print
Written by Administrator   
Monday, 24 June 2013 04:46

Olá! A coluna desse final de semana é bem especial, pelos mais variados motivos. Falar-se-á sobre o famoso caso "Pirelligate", em que se envolveram a fabricante atual dos pneus para a F-1 cujo nome integra o apelido do escândalo, um pouco sobre F-Indy e, é claro, as famosas 24 horas de Le Mans, ocorridas no Circuit de La Sarthe neste final de semana, entre os dias 22 e 23 de Junho. A tradicional corrida francesa, uma das mais importantes do planeta (rivalizando nesse aspecto com a Indy 500), teve mais uma vitória da alemã Audi. Mas falaremos mais sobre essa prova e suas ocorrências depois.

 

A prioridade no começo é: Pizza. Poderia ser de quatro queijos (minha favorita), mas como fiquei meio contrariado (ou contrariado e meio, como gosto de dizer), é melhor dizer que essa foi de brócolis com berinjela. Mas primeiro, entendamos o que houve. A Mercedes, em meados de Abril, testou no circuito da Catalunya (Barcelona) com os pneus atuais da Pirelli. Até aí, nenhum problema. O problema é que a equipe alemã testou com os carros de 2013 e utilizou no teste os seus pilotos titulares, Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Isso feriu o regulamento. Red Bull e Ferrari entraram com protesto formal junto à FIA. Alegações por parte da Pirelli constavam que ela havia requisitado o teste a todas as equipes e que apenas a Mercedes havia aceitado. Depois, a Mercedes quis colocar a Ferrari como culpada, dizendo que ela também estava fora do regulamento quando testou os pneus atuais em seus carros. Só que quando a Ferrari testou, usou o 150º Itália, modelo de 2011. E não usou titulares, pelo menos até onde sei. Em nada resultou.

 

Pessoalmente, eu esperava uma dura punição à equipe. Mas depois que a punição saiu, me caiu a ficha, principalmente após eu ler algumas opiniões de outrem a respeito. A punição foi: Reprimenda à Mercedes e à Pirelli, e a equipe tedesca foi retirada do teste de jovens pilotos - imagino que seja para compensar as outras equipes pela quilometragem rodada pela "Merça" nos testes ilegais. Punição branda, mole, molenga, mole da silva, coisa de "João-sem-braço". Afinal de contas, era a Mercedes, claro. Marca de carro de velho rico, uma das mais importantes do automobilismo em vários aspectos. E a equipe já havia ameaçado sair da categoria, caso uma punição chegasse a manchar sua imagem.

 

Com isso, a decisão da FIA e de seu Tribunal Internacional perdeu esportivamente, mas ganhou muito no aspecto político. A Mercedes, em que pese a performance rasa dos últimos anos, é uma equipe grande, importante, nome bravo. Fornece motores a três equipes atualmente (a si mesma, McLaren e Force India) e, se nada mudar no ano que vem, fornecerá a quatro, com a garantia da Williams como cliente. Well, a ver o que acontecerá daqui para o final do ano na dança das cadeiras do fornecimento dos motores. Perder a Mercedes, na conjuntura atual, seria trágico. Mas eu acho, e acredito que talvez esteja sendo ingênuo, que a FIA tem que mostrar um pouco mais de pulso firme em eventuais novas quebras de regulamento, pois abriu-se uma prerrogativa perigosa com essa rasa punição.

 

OK, Fórmula 1 (x) check. Próximo!

 

As 24 horas de Le Mans viram de tudo. De recuperações fantásticas a genialidades. E óbito, lamentavelmente. Para ser mais claro, o do dinamarquês Allan Simonsen. O piloto da Aston Martin Racing conduziria o bólido #95 durante seu primeiro stint. Mas na terceira volta, ele acabou perdendo o controle do carro, rodando e batendo fortemente na curva Tertre Rouge, causando danos extensos nas barreiras de segurança na saída da curva. O dinamarquês foi o 22º piloto a morrer na história da categoria. Lamentável. Uma fatalidade que acabou por semear contenção nos ânimos das comemorações após a corrida - não para menos, claro.

 

Outra panca bastante forte foi a do #99, carro de Bruno Senna/Fred Makowiecki/Bob Bell. Fortíssima. Destruiu a parte frontal do carro de forma arrasadora. Foi na 19ª hora da prova. Makowiecki perdeu o controle do carro na reta Mulsanne e bye, bye. Felizmente não houve consequências graves para o francês. 

 

Passadas as coisas lamentáveis, hora de falar do contexto da prova.

 

12 vitórias nas últimas 15 edições. É também a 9ª vitória nas últimas 10. Sim, da Audi. A poderosa Audi, de Ingolstadt. Alemães geniais. Como genial é Tom Kristensen. O dinamarquês emplacou seu nono triunfo em Sarthe. Fantástico. Não quero aqui desprezar Allan McNish ou Loic Duval, que também fizeram um grandioso trabalho. Mas, via de regra, temos que saudar principalmente quem alcança feitos históricos. O eneacampeonato de Kristensen nas 24 horas de Le Mans é um desses feitos históricos. Saiu do carro emocionado. Foi ovacionado no podium com a bandeira da Dinamarca antes da cerimônia principal. A mesma bandeira da Dinamarca que ele utilizou para homenagear Allan Simonsen, a quem dedicou a vitória. Os dois maiores momentos de emoção da prova, o bom e o ruim, respectivamente, ficaram por conta de dinamarqueses.

 

Outro destaque, dessa vez com aspectos positivos e negativos, foi a batida do Toyota #7 de Alex Wurz/Kazuki Nakajima/Nicolas Lapierre. Durante o final da prova, choveu pacas e Lapierre acabou rodando em consequência disso. Voltou à prova após a equipe de resgate tirar seu carro dali e ele ir aos boxes para reparar a frente, destruída. O francês voltou aos boxes e a equipe conseguiu reconstruir a frente do carro antes de perder a posição para o Audi R18 e-tron quattro #1, de Benoit Treluyer/Marcel Fassler/Andre Lotterer, que teve problemas de sensor no câmbio e ficou várias voltas paradas nos boxes, perdendo portanto a liderança e várias posições. O trio campeão do ano anterior, porém, se aproveitou do fantástico bólido que teve nas mãos para conseguir uma ótima recuperação e chegar na quinta colocação geral, atrás apenas dos outros dois bólidos da Audi e dos dois da Toyota.

 

E olhem só: Lucas Di Grassi trouxe o Brasil para o podium das 24 horas de Le Mans! Junto com Oliver Jarvis e o piloto de testes da Ferrari, Marc Gené, o brasileiro foi um dos grandes nomes da prova. Guiou pacas. A Audi provavelmente percebeu. Um grande podium que, acredito, estica os horizontes do Brasil para uma eventual vitória no WEC, num futuro não tão distante. Entre os LMP1 privados, a vitória ficou com a Strakka Racing, dos ingleses Nick Leventis/Danny Watts/Jonny Kane, por falta de concorrência: Os dois bólidos Lola (!) da Rebellion deram problema a 73 voltas do fim.

 

A LMP2 foi agradabilíssima para a OAK Racing, que emplacou seus dois Morgan nas duas primeiras colocações, respectivamente, com Bertrand Baguette/Martin Plowman/Ricardo González e Olivier Pla/Alex Brundle e David Heinemeier Hansson. A ADR Delta levou seu Oreca 03 Nissan à terceira colocação da prova e nona geral, com Roman Rusinov/John Martin/Mike Conway. Na LMGTE-Pro, dobradinha da Porsche, que deu sorte com a panca de Makowiecki. Marc Lieb/Richard Lietz/Romain Dumas cruzaram em primeiro (16º na geral) e Jörg Bergmeister/Patrick Pilet/Timo Bernhard na segunda colocação, deixando os inconsoláveis aston-martinos Stefan Mucke/Darren Turner/Peter Dumbreck apenas com uma terceira colocação no podium. A LMGTE-Am também teve vitória da Porsche, com a equipe IMSA Performance Matmut, acompanhada no podium por dois 458 Italia GT2 da AF Corse.

 

É isso, galera. Muito legal, o final de semana, que ainda teve F-Indy - vitória dominante de James Hinchcliffe (primeira vitória em ovais do canadense) e da Andretti, que ainda teve Ryan Hunter-Reay em segundo e Tony Kanaan, da KV, em terceiro. Resultado esse que deixa o estadunidense muito bem no campeonato, apenas 9 pontos atrás do brasileiro Helio Castroneves, o líder, que foi apenas o oitavo nessa prova e que está meio que empurrando a situação com a barriga.

 

Boa semana para vocês todos. E final de semana que vem, volta a F-1, com o GP da Inglaterra.

 

Antônio de Pádua