Senna vs Vettel: Essa comparação procede? Print
Written by Administrator   
Monday, 17 June 2013 08:43

Recentemente, me peguei discutindo com algumas pessoas, especialmente no grupo "F1 - Fórmula 1 Brasil", do Facebook, sobre algumas questões da F1. E muitas dessas envolviam comparativos entre pilotos. As pessoas de lá estavam nessa onda de publicar postagens de comparações entre pilotos geniais, como "Piquet vs Senna". Sempre provoca umas discussões ferrenhas, mas muitas dessas são extremamente desgastadas e quase nunca se chega a um fator comum, o que é ruim pelo fato de essas discussões persistirem por um longo tempo, mas é bom, pois evita a padronização do pensamento.

 

Porém, acabei inventando de entrar na brincadeira, bem ao meu estilo. Comparei Ayrton Senna e Sebastian Vettel. Aí a revolta foi geral. Os mais contidos apenas chegavam e colocavam sua preferência pelo brasileiro. Os mais radicais, porém, atacaram a comparação em si, dizendo que é "esdrúxula", sem sentido, improcedente e por aí vai. Um em particular, cujo nome, logicamente, não será divulgado por aqui, chegou a se dirigir a mim, dizendo que sou um "fanboy" do alemão e que eu o considero o melhor de todos os tempos só por ser fã dele. OK, a primeira conclusão do jovem rapaz está certa, mas a segunda parte da premissa assumida na primeira. E é improcedente. Para mim, o melhor de todos os tempos é Michael Schumacher, e provavelmente isso não mudará por um bom tempo, até que algum piloto chegue a acabar com todos os seus recordes e se torne um piloto mais completo do que ele. Vettel parece ser o mais apto a isso no momento, mas é bem improvável que consiga, pelo menos a curto prazo.

 

Pois bem, vamos à questão principal: Por que a comparação é "sem sentido" e "esdrúxula"?

 

Vettel e Senna são dois tricampeões. Há alguns fatores além dos números que pesam a favor do brasileiro e outros que pesam favoravelmente para o tedesco. Seb detém praticamente todos os recordes de precocidade da F1 atualmente. E a sua pouca idade prova mais do que simplesmente que ele teve chances muito mais cedo que Senna: Prova também que ele atingiu, precocemente (aos 25 anos), uma maturidade que Senna ou Schumacher jamais teriam sonhado. Aos 25-26 anos, Senna estava na Lotus, vetando Derek Warwick. Aos 25-26 anos, Schumi estava alcançando seus primeiros títulos pela Benetton. Aos 25-26 anos, Vettel é um tricampeão com caminho aberto para o tetra. Senna só foi alcançar o terceiro título mundial aos 31.

 

Há quem argumente que Senna teve mais dificuldade nos títulos do que o alemão e que Vettel só conquistou seus três títulos porque tinha o melhor carro. OK, vejamos. Senna encarou Alain Prost na conquista de seus dois primeiros títulos. No de 1988, em particular, ele tinha o MP4/4 e era entrosado no desenvolvimento do motor com a Honda. Por outro lado, tinha Prost a seu lado. O francês era um genuíno acertador de carros, qualidade que Senna desconhecia. Dá para dizer que o título de Ayrton foi fácil? Não. Foram 8 vitórias contra 7 de Prost, mas se não fosse pelo sistema de descartes, o francês levaria o caneco. No de 90, ele encarou o mesmo Alain, só que na rival Ferrari, com câmbio semi-automático. Prost colecionou vitórias naquele ano, mas perdeu na penúltima corrida, quando Senna lhe jogou o carro em cima no GP do Japão de 1990. Apesar de ter sido um título suado, foi controverso. Em 91, Senna encarou Nigel Mansell e sua Williams FW14B, que sofria de problemas de confiabilidade em relação ao MP4/6 da McLaren e que, por isso, abriu a Senna a possibilidade de vencer as quatro provas iniciais da temporada e não permitiu que a equipe de Grove brigasse pelo título desde o início. No meio da temporada, a Williams resolveu esses problemas e passou a vencer desenfreadamente. Com uma melhoria da McLaren para tentar frear a hegemonia que a Williams estava tentando estabelecer, porém, Senna voltou a vencer e, no final, Mansell acabou se afobando na volta 10 do GP do Japão e passando reto ao final da reta dos boxes, ficando preso na brita, dando de bandeja o tricampeonato mundial a Ayrton. A seu favor, Senna também tem momentos fantásticos, como o do carro com a primeira e a sexta marcha no GP do Brasil 1991. Curiosamente, no GP do Brasil de 2011, 20 anos depois, Vettel protagonizou momento similar: Correu com problemas no câmbio de seu RB9 e chegou na segunda posição.

 

Já os títulos de Vettel... Não, não podemos dizer que foram menos difíceis. Em 2010, ano em que a Red Bull começava como franca favorita ao título, o carro sofria com problemas de confiabilidade. E o próprio Vettel era um menino irresponsável, tendo sido responsável por acidentes bizarros, como o que tirou a si próprio da corrida da Turquia e eliminou as chances de vitória de Mark Webber, que ficou em terceiro (fato que estremeceu a relação entre os dois desde então) e uma batida por trás na McLaren de Jenson Button no GP da Bélgica do mesmo ano. Depois desse GP, Vettel pôs a cabeça no lugar e começou a figurar mais no alto do podium. No final da temporada, conseguiu o título após uma pilotagem fantástica e uma catimba de Alonso e da Ferrari. No 2011, Vettel teve à disposição um grande carro. Porém, engana-se quem pensa que o carro era tão superior aos outros. Se assim o fosse, o australiano Webber teria conseguido um vice-campeonato, no mínimo. Ou teria disputado com Vettel num ringue particular e caseiro. Se Mark tinha competência para bater Sebastian, essa jaz no túmulo do campeonato de 2010. E em 2012, creio que todos lembramos o que aconteceu, por exemplo, em Abu Dhabi e em Interlagos. Duas ocasiões que dispensam retrospectivas. Fora as figuras que ele teve de enfrentar em sua escalada ao tricampeonato, não é? Aí podemos incluir, no mínimo, 4 campeões mundiais: Fernando Alonso, Jenson Button, Lewis Hamilton e, mais recentemente, Kimi Raikkonen. Portanto, no quesito "meritocracia", Vettel não se sai prejudicado em relação a Senna.

 

Dito isso tudo, creio que a comparação procede.

 

Até a próxima, minha gente.

 

Antônio de Pádua