As consequências reais do mundo virtual Print
Written by Administrator   
Monday, 20 April 2020 07:33

Olá leitores!

 

Espero que estejam, na medida das possibilidades, reclusos e protegidos dentro de vossas residências para diminuir o máximo possível a proliferação do COVID-19, independentemente se o vosso governante – que com certeza tem o respirador mecânico garantido se for contaminado – pretender que todos voltem às ruas... quando a saúde está envolvida, é o momento de praticar a boa e velha desobediência civil.

 

E mais um piloto se viu em apuros após “esquecer” que não é porquê ele está “jogando videogame” dentro de casa que ele não está sendo observado por milhões... dessa vez foi Kyle Larson, que cometeu a burrice de soltar aquela palavra em inglês começada por N que é o maior símbolo do racismo nos Estados Unidos. Tanto que quando se precisa fazer menção a ela, sempre é como “the N word”. Pois é, em uma categoria que luta para se mostrar inclusiva e antirracista (em que pese em alguns lugares ainda fazerem vista grossa para as bandeiras confederadas nas arquibancadas), em um treino livre para um evento on line transmitido pelo site da própria categoria, o menino Larson me solta uma dessas...

 

Claro que a cascata de acontecimentos foi rápida: começou com ele sendo suspenso tanto pela plataforma de jogos iRacing como pela própria NASCAR por tempo indeterminado, depois os patrocinadores romperam com ele e a equipe Chip Ganassi o demitiu por conta do comentário de cunho racista e “contrário aos valores da equipe”. O mais curioso é que o próprio Larson não é um “americano puro”: ele tem ascendência nipônica (seu nome completo é Kyle Miyata Larson), sendo que seus avós estiveram entre os nipo-americanos retirados de seus lares e confinados em campos de concentração durante a Segunda Grande Guerra.

 

Entretanto, nesses momentos é que se conhecem os grandes gestos. Que Kyle Larson estava arrasado pela – digamos assim – burrada que fez, isso ficou claro no vídeo que ele postou no meio da semana... mas ele recebeu um apoio aparentemente inesperado. Willy T. Ribbs, primeiro piloto afrodescendente a correr as 500 Milhas de Indianapolis, ligou para Kyle Larson no meio da semana, mesmo sem nunca ter conhecido pessoalmente o ex piloto da Ganassi, de acordo com a matéria publicada dia 16/04 pelo Racer.com, e conversaram sobre o ocorrido. Ribbs teria procurado tranquilizar o jovem piloto afirmando que “ele não é O. J. Simpson, não matou ninguém, e isso não foi o fim da carreira dele, apenas um atraso”.

 

Pessoalmente acho que foi um gesto muito nobre do Willy, afinal ele melhor que ninguém conhece o efeito da palavra racista usada pelo Kyle, tendo passado por isso em tempos onde as ofensas raciais eram mais aceitas do que hoje. Principalmente, com sua experiência acabou aconselhando o Kyle como agir nesses momentos de dificuldade. De acordo com Kyle, os pais dele colocaram ele para assistir sem interrupções o documentário Uppity, que trata justamente da carreira do Willy T. Ribbs... espero que, ao contrário de uma parcela razoável dos brasileiros, o Kyle Larson consiga assimilar o erro que cometeu e aprender com ele para que não mais volte a repetir.

 

Por falar em NASCAR, tivemos mais uma etapa do eNASCAR iRacing Pro Invitational Series, dessa vez na pista virtual de Richmond, e a segunda vitória seguida de William Byron, que ficou pouco mais de 2 décimos de segundo à frente de Timmy Hill, 2º colocado. Completando o Top-5 tivemos Parker Kliegerman em 3º, Landon Cassill em 4º lugar e o atual campeão Kyle Busch no 5º lugar. Assisti alguns pedaços da corrida... OK, é uma maneira de manter o nome dos pilotos e patrocinadores em voga, acaba atraindo para a categoria a atenção dos jovens que praticam e-sports... mas preciso confessar: para uma pessoa ortodoxa como eu, essas corridas virtuais são como o vôlei: legal de jogar, mas chato de assistir.

 

E a categoria tinha planejado voltar à ativa no começo de maio, na pista de Martinsville... pois bem, foi anunciado o adiamento da etapa de Martinsville ainda sem data definida, e agora em tese a categoria volta com os portões fechados... ainda em maio, para as etapas de Charlotte. Veremos... eu estou achando muito otimismo.

 

A MotoGP sofreu um duro golpe nas suas pretensões de uma temporada de tamanho razoável esse ano: além de aparentemente a quarentena na Espanha ter chances de ser prorrogada até o verão europeu, a Alemanha também acena com a possibilidade de extensão das datas de confinamento, o que afetaria diretamente a corrida em Sachsenring. Vejamos o que vai ser possível fazer...

 

Mais notícias das duas rodas: a MotoGP decidiu congelar o desenvolvimento de motores e parte aerodinâmica das motos para as temporadas de 2020 e 2021, uma decisão lúcida em tempos de recessão global, e o contrato do Alex Rins com a Suzuki, que terminaria no final desse ano, foi renovado por mais dois anos. Agora ele será piloto Suzuki até o final de 2022.

 

Esse domingo rolou a etapa chinesa do F1 Esports, e mais uma vez o vencedor no mundo virtual foi Charles Leclerc, que teve no pódio (virtual, claro) a companhia de Alexander Albon em 2º lugar e do chinês Guanyu Zhou em 3º, ultrapassando nos metros finais Stoffel Vandoorne. Deu até vontade de comprar o jogo...

 

Tivemos mais uma perda no mundo do automobilismo: Bob Lazier, Novato do Ano na edição 1981 das 500 Milhas de Indianapolis e pai dos pilotos Buddy e Jacques Lazier, faleceu aos 81 anos de idade vitima das complicações causadas pelo COVID-19. Resquiat in pace...

 

E infelizmente Ricardo Divilla (projetista da equipe Fittipaldi nos primeiros anos), em pleno período de recuperação de um AVC ocorrido mês passado, retornou à UTI lá perto de onde mora na França... esperamos que a recuperação seja total!!

 

Até a próxima!

 

Alexandre Bianchini