Bottas, guardachuvas e Brasil em Petit Le Mans Print
Written by Administrator   
Monday, 14 October 2019 03:48

Olá leitores!

 

Em primeiro lugar, desculpem a ausência de coluna semana passada... fiquei quase 24 horas sem internet entre domingo passado e segunda feira. Coisas de país terceiro-mundista despencando para o quarto mundo... enfim, vamos adiante.

 

Aparentemente tudo que podia ter acontecido de interessante em Suzuka aconteceu durante os treinos, pois exceção feita às 3 ou 4 primeiras voltas o GP do Japão foi um excelente soporífero. Parece que os maus fluidos de Paul Ricard se transferiram para as terras nipônicas levados pelo tufão que adiou a programação de treinos do sábado para a manhã do domingo. Corridinha chata... sem contar que a Ferrari gastou tudo que tinha nos treinos: largaram mal, Leclerc teve um dia de Maldonado, e os cocômissários voltaram a enfiar os pés pelas mãos. Quando Vettel não merecia punição (Canadá), puniram... essa vez, que ele pela letra fria do regulamento merecia, não puniram. Fosse esse o único erro, vá lá, acontece... mas o vai e volta na análise do incidente do Leclerc, e deixarem a análise e punição (justa) para depois da corrida, no mínimo pegou mal. Sem contar a várzea da direção de prova errar na contagem do número de voltas... se minha memória não falha, faz mais de 30 anos que não acontecia uma barbaridade dessas.

 

Na corrida em que a Mercedes garantiu por antecipação o título de Construtores de 2019, vitória do fiel escudeiro Valtteri Bottas, com a providencial ajuda da equipe, que fez o possível para garantir que o virtual campeão de 2019 Lewis Hamilton (3º) não alcançasse o finlandês. Claro que o egocêntrico inglês chiou horrores pelo rádio, mas enfim, não é toda equipe que tem um Günther para mandar o piloto calar a boca... Agora só falta sacramentar o título de pilotos, o que não deve demorar para acontecer.

 

Em 2º chegou Sebastian Vettel, magistral na classificação, horrível na largada, e mediano na corrida. No final da prova foi competente em segurar as investidas de Hamilton, pelo que na média ficou com uma nota  por volta de 5,65 numa escala de 0 a 10. Seu companheiro Charles Leclerc (7º) não teve um dia iluminado: logo na segunda curva do circuito superestimou a aderência dos pneus e entrou muito rápido na curva, sofrendo subesterço e atingindo o carro de Max Verstappen, que largou bem e tentava passar por fora. Eu entendi como incidente de corrida, mas a FIA (mais de 2 horas após o final da prova, não custa ressaltar) não. Depois, recebeu avisos pelo rádio para ir aos boxes para reparar o carro, que tinha ficado avariado com o choque, e continuou correndo e espalhando pedaços de carro pela pista, entrando apenas na 3ª volta. A câmera onboard do carro ainda registrou ele fazendo a outrora desafiadora curva 130R segurando o volante com a mão esquerda e o retrovisor balouçante com a outra... bela porcaria, o Kubica faz isso em todas as corridas, todas as voltas. E com um carro menos estável que o da Ferrari. Enfim, ele tentou dar uma de Gilles Villeneuve andando com o carro danificado e se deu mal, até pelo fato dos tempos serem diferentes. Terminou a corrida em 6º, com os 15 segundos recebidos de punição caiu para 7º, e ficou de ótimo tamanho.

 

Em 4º lugar chegou Alexander Albon, mais uma vez mostrando o acerto da decisão da Red Bull em o promover à equipe principal ainda esse ano. Classificou-se com exatamente o mesmo tempo feito pelo reconhecidamente veloz Max Verstappen, e acredito que poderia ter disputado o 3º lugar se não largasse mal e perdesse muito tempo brigando com os carros da McLaren. Foi brilhante nesse domingo. Seu companheiro Max Verstappen (20º) acabou abandonando com o carro avariado não respondendo a contento na pista... e muito bravo com o Leclerc e com a direção de prova. Meio chiliquento com o Charles, admito, mas com todos os motivos em relação à FIA.

 

Em 5º terminou Carlos Sainz Jr., mais uma vez o “melhor do resto” na corrida, que fez uma corrida muito consistente e manteve ótimo ritmo de corrida durante a prova toda. Excelente. Seu companheiro Lando Norris (13º) foi um dos prejudicados pelos detritos no começo da corrida, tendo de ir cedo para os boxes para os retirar do carro, e depois passou a corrida brigando com o carro, que não respondia do jeito que ele gostaria. Não foi uma etapa para se lembrar depois...

 

Em 6º chegou Daniel Ricciardo, que finalmente teve uma corrida sem incidentes com o carro e conseguiu extrair tudo o que era possível da máquina, voltando aos pontos. Seu companheiro Nico Hülkemberg (10º) fez uma boa corrida e poderia ter terminado mais próximo do Daniel se tivesse se classificado melhor, já que também mostrou um bom ritmo de corrida.

 

Em 8º terminou Pierre Gasly, mostrando que o carro da Toro Rosso tem um estilo de pilotagem ao qual ele se adapta muito melhor que ao da Red Bull... corrida consistente, sem erros graves, pontos merecidos. Seu companheiro Daniil Kvyat (12º) fez o que pôde, mas largando em 14º lugar não tinha muito o que fazer...

 

Em 9º, graças ao erro de cálculo da direção de prova, chegou Sérgio Pérez, que se enroscou com Gasly na 53ª e última volta... mas que terminou de fato na 52ª, então na prática o acidente aconteceu após o final da prova. Mostrou bom ritmo de corrida. Seu companheiro e filho do dono da equipe Lance Stroll (11º) até fez uma boa prova, mas os pneus acabaram nas voltas finais o deixando sem condições de brigar pelos pontos.

 

Era assunto da coluna da semana passada, mas não posso deixar passar em branco: Robert Kubica anunciou que deixará a Williams ao final da temporada. Temos o dever de tirar o chapéu para esse piloto... que no fundo voltou a correr apenas para provar a ele mesmo que ele conseguia. Objetivamente falando, ele não tem condições plenas de pilotar um monopostos de corrida da principal categoria da FIA. O braço direito dele causa calafrios ao se olhar mais atentamente, tamanha foi a perda muscular causada pelo terrível acidente que ele sofreu no rali. As poucas vezes que aparece a câmera onboard do carro dele percebe-se nitidamente que ele pilota apenas com a mão esquerda, a direita servindo apenas de apoio no volante. Foi publicada a foto do volante do carro dele... sabem aquelas dezenas de comandos que se espalham pelo volante dos pilotos “normais”? Então, no dele estão concentrados do lado esquerdo. Existem 3 botões para serem acionados com o polegar direito, TODOS os outros comandos estão do lado esquerdo. Ele avança e recua as marchas com a mão esquerda, ele faz quase tudo com a mão esquerda, ele faz a força de esterçamento do volante com a mão esquerda... e ainda assim, o único ponto conquistado pela Williams esse ano foi com ele, não com seu companheiro George Russell, rápido, competente, com um grande futuro, mas sem ponto. Que Russell tenha sido inteligente para absorver os ensinamentos que o Kubica pôde transmitir para ele. Em tempo, Kubica está sendo cotado por algumas equipes como piloto de simulador, para desenvolver aperfeiçoamentos antes que cheguem à pista...

 

Deveríamos ter tido a prova da NASCAR em Talladega, mas deu tempo apenas de fazer o primeiro segmento da corrida, vencido por William Byron, e logo depois a chuva veio, primeiro de maneira leve, parou um pouco, e quando os trabalhos de secagem da pista estavam em andamento chegou com força, adiando a corrida pra essa segunda feira.

 

No sábado tivemos a prova de encerramento do campeonato IMSA, com uma Petit Le Mans que pode ser definida como épica. Haviam poucas chances de Dane Cameron/Juan Pablo Montoya perderem o campeonato, mas ainda assim a corrida foi disputada do começo ao final. E quase tivemos trifeta brasileira em Road Atlanta, já que na geral / DPi a vitória ficou com Eric Curran/Pipo Derani/Felipe Nasr (por sinal, presentão de aniversário para Pipo Derani...), além de que o trio levou ainda o troféu de campeão das corridas mais longas da IMSA, que formam o IMSA Michelin Endurance Cup. Na GTLM, onde correm os mesmos carros da LMGTE-Pro da FIA, vitória do trio formado por James Calado/Alex Pier Guidi/Daniel Serra, com o Serrinha pilotando muito bem no seu turno e conquistando a vitória na sua categoria na Petit Le Mans pela 2ª vez. E quase tivemos brasileiro vencendo também na GTD, mas o Mercedes #33 que estava sendo brilhantemente pilotado por Felipe Fraga quebrou – literalmente – na última volta da corrida... o carro resistiu por 9h58m, poderia ter aguentado mais uns 3 ou 4 minutos... uma pena. O trio feminino do qual fez parte a Bia Figueiredo poderia ter terminado em posição melhor que o 7º lugar na classe, não fosse a falta de ritmo de corrida da Christina Nielsen, que chegou ao cúmulo de pedir pra não ser escalada para o trecho noturno da prova... sem mais comentários.

 

Semana passada aconteceu o previsto, e Marc Márquez garantiu na Tailândia mais um título na MotoGP. Um autêntico ET: levou um tombo na sexta feira que teve que sair da pista de ambulância... e no domingo vence a corrida e o campeonato. Simplesmente inacreditável o desempenho do pequeno espanhol. Foi acompanhado no pódio por Fabio Quartararo em 2º e Maverick Viñalez em 3º, com Quartararo mais uma vez colocando sua Yamaha privada à frente das da equipe de fábrica. A temporada do Márquez está tão incrível que, dos 364 pontos marcados pela Honda no Mundial de Construtores, 325 são dele... simplesmente fora de série. Parabéns, Márquez!!!

 

Continuando nas duas rodas, esse final de semana a Superbike foi até a Argentina correr em San Juan. A pista não estava do jeito que os pilotos esperavam, e 6 deles resolveram boicotar a corrida do sábado... os outros 12 não aderiram ao movimento e a corrida foi considerada válida, com vitória do Alvaro Bautista (Ducati) à frente do já campeão Jonathan Rea (Kawasaki) em 2º e Toprak Razgatlioglu (Kawasaki) fechando o pódio em 3º. No domingo, já sem protesto, vitória de Jonathan Rea (Kawasaki), com Chaz Davies (Ducati) em 2º e novamente Toprak Razgatlioglu (Kawasaki) em 3º.

 

Para completar, a triste nota do falecimento de Nanni Galli, que pode não ter brilhado na Fórmula 1 mas foi um competente piloto de Endurance, e passou ao outro plano aos 79 anos. Resquiat in pace...

 

Até a próxima!

 

Alexandre Bianchini