A Retrospectiva de 2017 Print
Written by Administrator   
Sunday, 24 December 2017 20:55

Olá leitores!

 

Espero que Papai Noel tenha visitado todos vocês com o saco cheio (de presentes, claro), e chegou a hora de relembrar os momentos de 2017, bons e maus.

 

Na Fórmula 1, o título de Lewis Hamilton marcou o momento em que o inglês conseguiu mesclar o seu enorme talento com a maturidade, e foi campeão com méritos por ter cometido menos erros que seu principal adversário, Sebastian Vettel. Nem vou citar a bizarra e estapafúrdia largada de Cingapura, que com certeza entra no rol de momentos mais infames da Ferrari juntamente com a rodada de Prost na chuva em plena volta de apresentação em Imola... mas no conjunto a equipe Mercedes errou menos do que a Ferrari, e isso certamente contribuiu para o título do Hamilton. Bottas pareceu conformado com seu papel de Gerhard Berger, e a Ferrari tem que lidar com a dificuldade de manter Kimi motivado. Kimi Räikkönen motivado é um piloto de ponta, certamente, mas desmotivado pelo menos metade do atual grid pilota melhor do que ele. Resolvido esse problema, a disputa pelo título pode ser intensa ano que vem. A Red Bull incomodou bastante nas pistas em que a cavalaria do motor era menos importante que um excelente chassis, e Max Verstappen contou com seu “amuleto” Kvyat para conquistar mais duas vitórias, afinal a cada vez que a Red Bull demite o russo o holandês ganha. Agora que o russo foi demitido do programa de pilotos da Red Bull não sei como o Max fará... e o ótimo Daniel Ricciardo fez questão de, a cada uma das suas subidas ao pódio, repetir o ritual de beber champanhe na sapatilha de piloto... na boa, por melhor que seja a bebida, se colocada em um recipiente quente e com os odores de no mínimo uma hora e meia de transpiração ela deve ficar intragável. Me erra... A Force India nos fez imaginar o que seria a equipe com um orçamento comparável ao da Red Bull, pois mesmo com seus pilotos se enroscando entre si ela apresentou resultados consistentes e até certo ponto surpreendentes. Torço para que ano que vem ela continue na curva ascendente, a categoria merece. Williams foi mais do mesmo: começa o ano com um desempenho X e termina com X/3, parece que o carro não apenas fica estagnado ao invés de evoluir, mas involui... Massa fez aquilo para que foi contratado: acertar o carro no começo do ano e servir de tutor para o rico herdeiro, pelo que podemos dizer que seu (dessa vez realmente) último ano na categoria atingiu seus objetivos. A McLaren penou mais um ano com os motores Honda, que curiosamente pararam de quebrar incessantemente após a equipe anunciar que deixaria de usar a marca japonesa para se tornar cliente da Renault, que apresentou uma série de falhas de confiabilidade durante o ano com a Red Bull... o ponto alto da equipe foi Fernando Alonso, claro, e o jovem Stoffel Vandoorne não decepcionou. Por falar em Renault, ela brindou a categoria em 2017 com um dos mais inexpressivos pilotos a passar pela categoria, Jolyon Palmer... acho que contrataram ele achando que seria o caso do Max Verstappen (filho de um piloto mediano que se mostrou muito, mas muito melhor que o pai), mas ele conseguiu se mostrar (utilizando a expressão do grande mestre Claudio Carsughi, um dos meus grandes ídolos no jornalismo) um clamoroso fracasso. Tanto que conseguiu ser demitido no final da temporada, ainda bem. A Haas perdeu muito tempo (e possibilidades de pontuar) brigando com os freios traseiros do carro, e só não conseguiu ser pior que a Sauber, que será usada em 2018 pelo Grupo Fiat para reavivar a marca Alfa Romeo. Espero que o carro não enferruje só de correr na chuva, ou que não precise de uma chave especial, diferente das demais, para a troca dos pneus... brincadeira, adoro os carros de rua da Alfa Romeo e espero que a equipe dê um grande salto de qualidade. Salto para frente, claro, já que se der salto para trás será ultrapassada por carros da F-3.

 

Na Indy, a grande sensação não foi o título (merecidíssimo, por sinal) do Josef Newgarden, mas a participação do Fernando Alonso nas 500 Milhas de Indianapolis com um carro da equipe Andretti rebatizado de McLaren e na tradicional cor laranja dos tempos de Bruce McLaren... quando o motor Honda quebrou (para ele não se esquecer que é da F-1...) estava em 4º lugar, tendo liderado algumas voltas e eu diria que com chances razoáveis de vitória. Vitória que ficou com Takuma Sato, algo para mim tão surpreendente quanto ir ao supermercado e encontrar um saquê fabricado nos Estados Unidos... A Penske demonstrou que é hoje em dia a equipe mais forte da categoria, com 4 pilotos entre os que mais pontuaram durante o ano: o campeão, o vice (Simon Pagenaud), o 4º colocado (Hélio Castroneves) e o 5º (Will Power), apenas com o neozelandês Scott Dixon, da Ganassi, para quebrar a hegemonia terminando o campeonato em 3º lugar. Ganassi, aliás, que teve em Dixon seu único destaque no ano, já que Tony Kanaan, Max Chilton e Charlie Kimball pouco ou quase nada fizeram durante o ano. Tanto que Tony saiu da poderosa equipe e correrá em 2018 na equipe de A.J.Foyt, junto ao estreante Matheus Leist, que entra na categoria após uma grande temporada na Indy Lights para fazer a dupla verde amarela nas pistas, já que após (mais uma) temporada com resultados abaixo do seu talento Helinho vai para o programa de Endurance da Penske ano que vem.

 

No WEC, mais um título da Porsche (carro #2, de Bamber/Bernhardt/Hartley), que anunciou (em consoância com a Audi) o abandono da categoria para se dedicar ao futuro elétrico (queria que os tais ecochatos me dissessem o quanto que o sistema de produção de energia elétrica gera menos CO, CO2 e NOx que os motores a combustão atuais, mas deixa pra lá... que eu saiba, a fonte de energia mais constante e limpa é a nuclear, mas eles também são contra as usinas nucleares, e como energia solar e eólica depende das condições climáticas, e eles não veem as hidroelétricas com bons olhos por conta dos necessários lagos para reservatórios de água, não vejo muita fonte de energia sobrando em relação às poluentes usinas térmicas, seja a carvão ou petróleo), fazendo a Toyota ser a única fábrica a competir próxima temporada... vamos ver como será o azar dos japoneses em Le Mans... mas se a LMP1 passa por uma crise, as outras categorias estão agitadíssimas, a LMP2 teve uma das temporadas mais interessantes desde o seu surgimento, inclusive com título brasileiro. Sim, Bruno Senna foi campeão em dupla com Julien Canal (Nicolas Prost faz parte do trio, mas perdeu uma das etapas por compromisso com a F-E e não pontuou junto aos colegas de carro) pela equipe Rebellion, e a categoria ainda viu belas apresentações de Nelsinho Piquet e André Negrão. A conferir a temporada 2018/2019, que começará e terminará com as 24 Horas de Le Mans...

 

Na última temporada do WTCC, já que ano que vem a categoria une seu regulamento ao do TCR europeu e vira WTCR (motores até 2000cm³ com turbo, entregando cerca de 350 CV de potência), o último campeão foi o sueco Thed Björk, superando o talentoso húngaro Norbert Michelisz. Desejo toda a sorte do mundo à categoria em seu novo formato, já que uma corrida com carros muito semelhantes aos que se usa na rua sempre é atrativa para o público, ainda mais uma cheia de contato físico. Lembremos, esse negócio de pilotar muito tecnicamente é interessante apenas para o piloto, o público quer ver o circo pegar fogo mesmo, e para isso nada melhor que essas categorias com “carros de rua”...

 

E o WRC voltou a ter um piloto campeão com carro da Ford, Sébastien Ogier, que muitos pensavam que tinha encerrado seu domínio com a saída da VW do campeonato, mas se mudou para a equipe de Malcolm Wilson e levantou seu 5º caneco na categoria, o que o coloca em posição de atacar os números do ET Sébastien Loeb. Difícil? Muito, certamente. Impossível? Não acredito... o vice campeonato ficou nas boas mãos de Thierry Neuville, que trouxe novamente a bandeira belga para os pódios de rali e deu o esperado retorno para todo o investimento que a Hyundai está fazendo no esporte. Não me surpreenderia de ver a marca fazendo o piloto campeão daqui a no máximo 3 anos...

 

A F-E é meio que um caso à parte, já que suas temporadas seguem o calendário do futebol, começando em um ano e terminando no outro. A 2016/2017 terminou com o título de Lucas di Grassi, coroando o trabalho da equipe Abt antes de se tornar equipe oficial da Audi para a temporada 2017/2018 e superando seu maior rival, o campeão vigente Sébastien Buemi. Em 3º na temporada uma grata surpresa, o jovem talentoso Felix Rosenqvist, da Mahindra. A temporada 2017/2018 começou em Hong Kong, com uma pista absolutamente horrível, espero que para a próxima temporada alterem o traçado, pavoroso, e com o campeonato sendo liderado por Sam Bird. Ótima estréia de Edoardo Mortara, e grande evolução do equipamento de Nelsinho Piquet, agora na equipe Jaguar/Panasonic. Ainda bem que equipe Jaguar não usa equipamentos elétricos Lucas... (piada de antigomobilista, desculpem) curiosamente, as duas maiores equipes da categoria, a Audi e a Renault, não começaram bem a temporada, mas acredito que devam dar a volta por cima. A prometida etapa brasileira em São Paulo acabou sendo desmarcada por conta do “brilhante gestor”, e Punta del Este, uma cidade mais bonita e mais civilizada, voltou ao calendário.

 

E na NASCAR o caneco ficou com o piloto que melhor se adaptou ao novo regulamento, com pontuação por segmentos, e que teve uma atuação brilhante o ano todo, Martin Truex Jr., da Furniture Row, a única equipe cuja sede não fica em torno de Charlotte. Foi o grande vencedor de segmentos durante o ano, principalmente na primeira metade da temporada, até que os outros pilotos e equipes se acostumassem ao novo formato, que prometia ser muito complicado para o público entender antes do começo da temporada mas que acabou se revelando um grande sucesso, principalmente nas provas de 500 milhas, onde os pilotos costumavam ficar “cozinhando o galo” por pelo menos as primeiras 400 milhas e partindo para a competição de verdade apenas no final, o que propiciava uma corrida muito desinteressante em seus primeiros ¾ de prova. Agora não, os pilotos têm que acelerar ainda na primeira metade da prova, pois os dois primeiros segmentos dão pontos importantes para o campeonato e para os playoffs. Uma grande temporada, que não apenas marcou o título do Truex Jr. e o vice campeonato de Kyle Busch mas também a retirada de Danica Patrick como piloto “full time” na categoria e principalmente a aposentadoria de Dale Earnhardt Jr., que percebeu que seu corpo (mais especificamente, seu cérebro) estava sofrendo com as pancadas nos muros da categoria, deixando órfãos uma legião de fãs. Presumo que uma parte deva migrar para o ótimo Chase Elliot, filho do grande Bill Elliot, e outra parte para o também ótimo Kyle Larson.

 

O DTM também passou por crise, com os seus carros caros e propiciando espetáculos abaixo do aceitável para o público, mesmo com o artificialismo do DRS para “ajudar” as ultrapassagens, e a Mercedes percebeu que não valia mais a pena investir seu dinheiro na categoria, pulando fora do barco. O título foi para as mãos de René Rast (Audi), após renhida luta na pontuação com Mathias Ekström (2º) e Jaime Green (3º), e talvez o ponto alto da categoria tenha sido a notícia da possibilidade de unificação de regulamento com os japoneses da Super GT 500, com motores turbo 4 cilindros de 2 litros e menor dependência de apêndices aerodinâmicos. Demonstração dos carros japoneses foi feita com sucesso em Hockenheim, e os tempos de volta impressionaram.

 

Aqui no Brasil a surpresa ficou por conta do desmonte/insurreição ocorrida na Fórmula Truck, cujos principais pilotos e equipes resolveram montar a própria categoria, chamada Copa Truck, com 6 rodadas duplas no formato de copas regionais. Com um grid magérrimo, após poucas etapas a Fórmula Truck encerrou sua temporada (com a promessa de voltar em 2018, a conferir) e gente que estreou na Fórmula foi mostrar bom serviço na Copa, caso de Witold Ramasauskas, um dos nomes mais difíceis que já precisei digitar e um talentoso piloto. Na soma das 3 copas regionais o título final ficou com Felipe Giaffone, seguido por Roberval Andrade e Renato Martins. Para o próximo ano, além do reconhecimento como campeonato nacional, a categoria fará duas provas no Cone Sul (uma em Buenos Aires e outra em Rivera, no Uruguai) e terá o apoio na programação do Mercedes Benz Challenge, que cansou de ficar escondido na programação da Vicar e foi ter um papel de maior destaque na Truck. Categoria a ser conferida, uma boa iniciação no mundo dos carros de turismo, por ter custos relativamente comedidos e carros bem resistentes.

 

Na Stock Car merecidíssimo título de Daniel Serra, que acelerou mais, errou menos e sobrepujou com méritos o principal rival na luta pelo título, Thiago Camilo. A estratégia de pilotos convidados para algumas etapas foi um grande atrativo para o público, que teve a oportunidade de ver grandes nomes como António Félix da Costa e Augusto Farfus pilotando em frente aos seus próprios olhos, e mostrando que piloto bom anda bem com qualquer carro, mesmo que não esteja acostumado a ele. Vi a temporada como muito positiva, e torço para que 2018 seja ainda melhor, mantendo a curva de ascenção.

 

No Brasileiro de Marcas bem que Nonô Figueiredo tentou após liderar a pontuação praticamente toda a temporada, mas o título acabou indo para as mãos de Vicente Orige, que soube aproveitar a quebra do Nonô na penúltima etapa do ano para conquistar uma vantagem na pontuação que foi decisiva na prova final para levar o caneco para casa. O 3º lugar no campeonato ficou com Thiago Marques.

 

A Fórmula 3 continua com grids magérrimos, e na categoria principal o título foi com facilidade para as mãos de Guilherme Samaia, a quem desejo um ótimo encaminhamento na carreira fora do Brasil (se quiser correr de monopostos, não adianta esmurrar ponta de faca aqui no Brasil),e na categoria Academy o título de Igor Fraga foi coroado com uma linda disputa pelo vice campeonato vencida por Léo Barbosa, um talentoso jovem filho de um professor de Educação Física que lutou muito para realizar o sonho do garoto e que agora merece um encaminhamento (e por que não dizer, patrocínio) de carreira à altura de seu talento e sua paixão.

 

O que pudemos perceber de bom no cenário brasileiro foi que mesmo com a crise econômico-institucional do Brasil ainda existem sonhadores que querem fazer o futuro. As poucas categorias de base continuam com força, com destaque para o crescimento do grid das “irmãs brigadas” do Paulista de Automobilismo, F-Vee e F-1600, e a consolidação do passo seguinte, a F-Inter, que tem um belo sistema de preparação do jovem piloto para as responsabilidades que ele terá com o crescimento na carreira (ensinando o jovem a se relacionar com público, imprensa, como dar entrevistas, etc.), cada vez mais importantes no mundo atual.

 

O gigantesco destaque negativo vai para a população eleitora de São Paulo, que comprovou mais uma vez a sua total e completa incapacidade de escolher alguém para conduzir os destinos da cidade (não estou inventando nenhuma calúnia, basta pegar a lista dos prefeitos eleitos nos últimos 30 e poucos anos) e elegeu um elemento que desde a campanha disse que parte de sua plataforma de governo era se livrar do Autódromo de Interlagos. O mais revoltante para minha pessoa foi que muitas pessoas que DIZEM que defendem o automobilismo apoiaram, chegaram a fazer campanha nas redes sociais para a eleição do atual alcaide, e agora estão “preocupadas” com o “fim de Interlagos”, dizendo que “é um absurdo” o prefeito pensar em querer cumprir uma sua PROMESSA DE CAMPANHA... sim, o surrealismo abstrato do cenário eleitoral brasileiro é tão grande que as pessoas se espantam quando um candidato eleito quer cumprir o que ele disse que faria... enfim, volto a insistir que para pelo menos 90% da população da cidade o automobilismo é um esporte intelectual demais para seu limitado e restrito quociente de inteligência, acostumado apenas às pelejas do futebol, e que esses “defensores do automobilismo” que elegeram o atual prefeito no mínimo possuem gigantescas limitações cognitivas, pois votar em alguém que disse que venderia o autódromo e agora ficar escandalizado por ele pretender levar à frente esse projeto não me parece coisa de pessoas com QI superior a 60, mas enfim... é o que temos por aqui.

 

Um excelente Natal para todos vocês, obrigado por mais um ano prestigiando essa coluna, e a minha batalha para conseguir um horário de atendimento com Pai Alex para as previsões do ano que vem para a próxima coluna continua, acho que vamos ter que arrumar um “encaixe” na agenda dele...

 

Até a próxima!

 

Alexandre Bianchini