E o fogo ardeu na fria Spa... Print
Written by Administrator   
Sunday, 24 August 2014 23:28

Olá leitores!

 

A Fórmula 1 voltou de suas férias de verão justamente naquela que considero a melhor pista da temporada: Spa-Francorchamps, 7 quilômetros de asfalto serpenteando pela Floresta das Ardenas, com um traçado que em pouco mais da metade da extensão era, até não muito tempo atrás, as estradinhas vicinais que ligavam uma cidadezinha até a outra. Por sinal, justamente a parte mais veloz da pista. Uma pista de verdade, sem as criacionices do Tilke, em que pese a atual chicane antes da reta de largada não ter 1/10 do charme da antiga Bus Stop. Enfim, é o mundo moderno. É o tipo de pista onde a qualidade do piloto ainda faz alguma diferença.

 

E a vitória, pela 3ª vez no ano, ficou com Ricciardo. Se classificou atrás do Vettel, mas do seu 5º lugar na largada ele foi ultrapassando seus adversários, contou com o desequilíbrio do carro do Rosberg após perder a ponta da asa dianteira, foi para a frente do pelotão e esteve na ponta na parte da corrida em que realmente isso importa: no final, administrando a vantagem para o Rosberg e conquistando uma vitória “de gente grande” numa pista “de gente grande”. Se ainda restava alguma desconfiança a respeito do talento do jovem (25 anos) australiano, a vitória em Spa acabou com ela. Seu companheiro Vettel (5º) começou a corrida de maneira eletrizante, disputando a primeira posição com Hamilton logo na primeira volta, até emparelhou para passar na longa reta Kemmel, mas aí na freada da Les Combes deixou para frear muito tarde e acabou atravessando a área de escape cheia de lombadas, perdendo a segunda colocação. Depois o carro começou a perder um pouco o ritmo e ele teve que se contentar com o 5º lugar, conquistado após uma luta feroz contra Magnussen, Button e Alonso.

 

Em 2º chegou Nico Rosberg, que não esteve em um dia dos melhores: além de ter perdido a ponta da asa dianteira na disputa contra o companheiro de equipe, ainda foi vaiado pela torcida local no pódio... devem ter achado que ele foi o culpado do incidente. E eu digo incidente pois foi isso mesmo, coisa normal de corrida. Na imagem aérea dá para ver que após emparelhar por fora na primeira perna da curva em esse, ele recolhe o carro para contornar atrás do Hamilton. Aconteceu o toque, e não achei que foi intencional. Por um acaso botei para gravar a corrida e revi essa parte algumas vezes. Enfim, nem os chatos dos comissários da FIA acharam que houve dolo. Após o toque o carro ficou ligeiramente desequilibrado, a parada nos boxes foi mais longa por causa da necessidade de trocar o bico, e ele veio fazendo uma corrida de recuperação até onde deu para recuperar. O 2º lugar ficou de bom tamanho. Seu companheiro Hamilton teve que fazer uns 2/3 da volta com o pneu traseiro esquerdo furado, perdeu muito tempo, o carro perdeu parte da eficiência aerodinâmica e ele acabou abandonando após passar pelo menos metade da corrida pedindo para a equipe que o deixasse abandonar. Depois da corrida acusou o Rosberg de o tocar intencionalmente, esperneou, sapateou, e com certeza conseguiu piorar razoavelmente o clima dentro da equipe. Consta que o Rosberg “teria admitido” que não evitou o toque, o que fez Hamilton afirmar com todas as letras que ele “provocou o acidente”, tendo a corroboração de gente da própria equipe. Reuniões com as pessoas ainda de cabeça quente nunca dão certo. As duas semanas até a corrida de Monza vão ser de muito bate boca...

 

Em 3º chegou Bottas, que fez uma corridaça. Aproveitou a força do motor e a baixa carga aerodinâmica do carro da Williams, que permite velocidades de reta maiores, e sentou a bota (não resisti ao trocadilho...), fazendo belas ultrapassagens (gostei daquela sobre o Alonso, na reta e ainda protegendo a posição na freada da curva) e conquistando um pódio com merecimento. Seu companheiro Massa (13º) não classificou bem, depois ainda ficou com um pedaço de pneu do carro do Hamilton preso no assoalho (fazendo com que o carro ficasse mais instável, portanto mais lento) e levou um bom tempo para esse detrito sair do carro. Mais uma corrida para o muro das lamentações.

 

Em 4º chegou Kimi Räikkönen, provando que realmente se entende bem com a pista. Raríssima oportunidade nesse ano de enfiar tempo no Alonso, e ele a aproveitou. Nem parecia o Kimi apático do período pré férias da categoria. Alonso (7º) na verdade chegou em 8º, mas a força política da Ferrari com certeza contribuiu para a punição pós corrida ao Magnussen, que teve uma disputa dura sim, mas a meu ver sem deslealdade contra o espanhol. Enfim, é mais ou menos aquela coisa que acontece no futebol com time grande enfrentando time pequeno: entre o novato e o bicampeão, decide-se a favor do piloto já campeão.

 

Em 6º chegou Button, que fez uma corrida correta. Sem brilhantismo, mas correta, como é de costume dele quando não existem condições adversas de tempo, onde o inglês brilha. Uma boa prova. Seu companheiro Magnussen terminou em 12º após terminar em 6º e sofrer uma punição de 20s após a corrida por ter empurrado o Alonso para a grama na reta Kemmel. Como a visibilidade desses carros para os lados e para trás é sofrível, acho que ele não viu o Alonso pressionando onde o espanhol achou que tivesse espaço. Enfim...

 

Em 8º chegou Pérez, fazendo dupla com o Hülkemberg (10º) para a Force India na zona de pontuação. Admito que em Spa eu esperava um pouco mais dos carros da equipe, mas admito que todo mundo voltou com tanto “sangue nos olhos” das férias que posso ter superestimado o potencial da equipe

 

Em 9º terminou Kvyat, que correu bem dentro das limitações do carro da Toro Rosso. Fez alguns belos duelos durante a corrida. Seu companheiro Vergne ficou em 11º, também arrancando o que podia do equipamento.

 

Próxima corrida será em Monza, dia 07/09, e até lá os bastidores da categoria devem ferver por conta de Hamilton e Rosberg. Não me espantaria se a Mercedes começar a impor ordens de equipe para os dois.

 

Até a próxima!

 

Alexandre Bianchini