Festa Baiana / O preconceito com Sebastian Vettel Print
Written by Administrator   
Wednesday, 22 May 2013 22:13

Olá pessoal que acompanha o site dos Nobres do Grid,

 

Este último final de semana aqui em Salvador só não foi melhor por causa da chuva. Foi dia de final do campeonato baiano onde meu Vitória (poupando piedosamente os coitados do Bahia de outra goleada) foi campeão e também foi dia de corrida da Stock Car nas ruas da capital. Tomamos muita chuva, mas ficamos todos felizes e melhor: ninguém ficou resfriado!

 

Se essa coluna fosse sobre futebol, eu deixava para o meu marido escrever porque ele gosta mais disso. O meu negócio é corrida de carro e arranquei todo mundo da cama antes das sete da manhã para tomarem café, trocarem de roupa e se prepararem para a maratona que iríamos enfrentar.

 

Chegamos no Centro Administrativo pouco depois das nove horas da manhã, ainda com uma certa tranqüilidade (semana passada foi mais difícil entrar na Fonte Nova para o primeiro jogo da decisão do campeonato baiano), mesmo sendo a nossa arquibancada uma das mais complicadas para acessar, com vista para os boxes. Visitar os boxes, nem pensar. Cinco ingressos ia sair muito caro e ainda tínhamos o Barradão no mesmo dia, fora os deslocamentos, feitos de taxi porque estacionar é complicado e caro nestes eventos.

 

Foi uma pena a quantidade de chuva que caiu naquela manhã... estragou boa parte da corrida, mas com a pista secando, tudo tinha pra ser divertido. Confesso que estava torcendo para o Rubinho. Pela primeira vez ele conseguiu largar numa posição onde dificilmente iria se meter em confusão. Com a largada com o safety car, ficou mais fácil ainda. Era só ficar no trilho que não tinha como passar.

 

Quando os carros começaram a fazer as trocas de pneus e logo veio a entrada do safety car. Com ela, a minha pergunta sem resposta: a pista secando, sem perspectivas de volta da chuva, todos os carros – na verdade quase todos – trocando para os pneus com pista seca, será que alguém pode me explicar porque a equipe do Andreas Mattheis não chamou o então líder do campeonato, Daniel Serra, para os boxes e sim o Cacá Bueno?

 

Os dois estavam juntos, na 10ª e 11ª posições, com Cacá à frente. Caá entrou... Daniel ficou na pista. Parar na volta seguinte seria cair para o fundo do pelotão... o resultado desta decisão – após a bandeirada e depois das punições – foi: Cacá em quarto, Daniel em décimo segundo, perdendo a liderança do campeonato para Ricardo Maurício (que não trocou pneus e teve muita sorte com os acidentes que vieram na parte final da prova) e viu sua vantagem para o ‘companheiro’ de equipe cair para um ponto apenas.

 

Mas se fiquei chateada por ver o Daniel Serra preterido dentro da equipe, tendo o seu dia de Rubinho ou de Felipe Massa, fiquei muito feliz em ver o Rubinho chegar ao pódio... mesmo com aquela ‘coisa’ que ele chama de “sambadinha”. Tirando algumas cenas nos tempos de Ferrari e da perda do Ayrton Senna, não consigo lembrar de uma imagem sequer do Rubinho sem um sorriso no rosto e correr é mesmo a vida dele.

 

Acabou uma corrida e começou outra: para sair, demorou... mais que no estádio. Já temos a corrida da Stock Car aqui na Bahia há alguns anos – todos os anos – é um sucesso. Leva quarenta mil pessoas para ver uma corrida. Agora imaginem se tivesse um autódromo aqui na Bahia e também tivéssemos a Fórmula Truck, o brasileiro de GT, a Porsche Cup, a Moto 1000...

 

O problema é que a federação baiana de automobilismo é uma destas organizações esportivas sem nenhuma, ou quase nenhuma força política ou econômica no estado. Aqui não se consegue manter nem um kartódromo, quanto mais construir um autódromo. Para isso acontecer, seria preciso um político abraçar o projeto e fazer este sonho dos que amam as corridas aqui na Bahia

 

Até a semana que vem,

 

Maria da Graça

  

 

Fala, galera! Hoje, vou abordar um assunto que tem martelado na minha mente há alguns dias, e que, enquanto pensava em algum assunto para a coluna de hoje, veio às claras.

 

Geralmente, quando converso com as pessoas sobre Sebastian Vettel, escuto picuinhas como "ele só ganha por ter o melhor carro", ou "aprendeu com o Schumacher", no caso de referências à polêmica envolvendo o tedesco com seu companheiro de equipe, o australiano Mark Webber, no GP da Malásia. E creio que muito dessa imagem de Vettel advenha da conjectura que as pessoas costumam assumir quando veem um piloto com ares de dominante na F1, como o próprio Michael, heptacampeão do mundo, o foi. E isso ainda é auxiliado pelo fato de Vettel ser alemão (Schumi também sofreu preconceitos em sua passagem pela F1, mais no início de sua carreira).

 

Sebastian Vettel, natural de Heppenheim, passou por algumas categorias de base - notadamente a Fórmula BMW, onde foi campeão com vitórias em praticamente todas as corridas em 2004 (18 de 20, batendo o brasileiro Átila Abreu, que venceu as duas restantes) e a Fórmula 3 Inglesa (em 2006), onde foi vice-campeão, atrás do escocês Paul Di Resta (do qual já irei falar). Ainda no mesmo ano, foi piloto de testes da BMW e andou nos treinos livres de alguns GPs no final da temporada. Em 2007, devido ao acidente de Robert Kubica no GP do Canadá, onde quebrou uma perna, Vettel ganhou a chance de andar no BMW 07 para o GP seguinte, dos Estados Unidos. Em terras estadunidenses, o tedesco largou em sétimo (curiosamente a mesma sétima colocação em que largara Schumacher em Spa-Francorchamps/1991) e terminou em oitavo, marcando um ponto logo na estreia. Mais para o final do ano, conseguiu uma vaga na Toro Rosso, onde fez uma belíssima quarta colocação sob chuva no GP da China, em Xangai. Em 2008, venceu pela primeira vez, em Monza, com a equipe italiana co-irmã da Red Bull, e alcançou o oitavo posto do campeonato, com 35 tentos. Contratado pela Red Bull no ano seguinte, ganhou 4 provas e ficou atrás apenas de Jenson Button, campeão do ano, com a Brawn GP. Em 2010, 2011 e 2012, conseguiu os títulos mundiais que fariam com que as dúvidas de alguns sobre o talento do alemão fossem sanadas. Mas... Por que, ainda para uma boa parte da comunidade automobilística, Vettel ainda não é um dos grandes do circo?

 

Ainda não pilotou carro ruim para por seu talento à prova, alguns poderão alegar. E o que era o STR3, o modelo da Toro Rosso de 2008, com o qual ele conseguiu seu primeiro triunfo, senão um carro ruim? Dirão que o carro era baseado no RB4, modelo da Red Bull daquele ano, desenhado por Adrian Newey, e que Vettel tinha Giorgio Ascanelli como diretor técnico (um cara que trabalhou com Ayrton Senna e Michael Schumacher). Mas o carro era um ex-Minardi. E não era um grande carro durante o ano todo, de modo que Vettel teve que trabalhar com o time para desenvolvê-lo ao longo da temporada. E depois de 2009, não surgiu um único piloto que fosse, capaz de fazer mais pela Toro Rosso do que Vettel fizera durante praticamente dois anos. Nenhum. Podem pesquisar. Talvez algum desses outros caras (Algersuari, Buemi, Verme e Ricardão) tenha feito mais pontos pela mudança no sistema de pontuação, mas é um detalhe irrisório e não vou perder meu tempo indo atrás disso.

 

Pode-se também encontrar outro motivo para esse preconceito no contracenar de Vettel com seu maior rival desde 2010, o espanhol Fernando Alonso. Desde que chegou à Ferrari, naquele ano, o asturiano tenta buscar o título mundial para Maranello. Foram três anos, desde então. Alonso disputou pelo título diretamente em 2010 e 2012. Chegou a trocar posições de maneira escancarada com Felipe Massa no GP da Alemanha de 2010, "pensando no campeonato". Perdeu os dois para o tedesco da Red Bull. E Alonso simplesmente não consegue fazer a Ferrari sair do zero em títulos mundiais e empacou no bicampeonato, jejum que já amarga desde 2006, quando foi campeão pela Renault. Alonso se tornou um dos maiores detratores do atual tricampeão mundial. O auge do desespero e do jogo psicológico entre o espanhol e o alemão aconteceu no final do ano passado, quando a Red Bull deu o salto definitivo de qualidade para buscar o título, dado como perdido até antes do GP de Cingapura, vencido por Vettel. Alonso começou a dar declarações atropeladas (e até risíveis) contra a Red Bull e seu pupilo, culminando na frase "estamos lutando contra o Adrian Newey". E não é só isso: O espanhol fatura muito com a imagem de "guerreiro", um cara que faz um carro ruim andar bem e etc e tal. Em detrimento disso, a imagem de Vettel, que, a meu ver, é um piloto tão bom ou até melhor que o espanhol, é abalada. 

 

E o pior é que houve quem fosse nessa onda. Três títulos mundiais com 26 anos de idade incompletos, e Sebastian Vettel ainda não é unanimidade entre pilotos, especialistas, enfim, a comunidade automobilística em geral. Para mim, um fã declarado do tedesco, já é um gênio. E não é porque é meu piloto favorito da safra atual, mas sim porque os números falam por si e pelo que vejo ele fazer na pista. Um piloto de 20 e poucos anos que já tem isso tudo no currículo, mais alguns outros recordes de precocidade inéditos e de proporcionalidade (por exemplo, em quase metade dos GPs disputados, Vettel largou na primeira fila).

 

Recentemente, também vimos um dos pares de profissão de Vettel colocando ainda mais lenha na fogueira. Paul di Resta, hoje na Force India, chegou a ser campeão sobre o alemão em 2006 na Fórmula 3 inglesa. Claramente está infeliz com sua atual situação - já é sua terceira temporada pela equipe indiana; a essa altura de sua carreira, Vettel já havia ganho corridas. E hoje está a alardear pelo paddock que deveria ter chegado antes do tedesco na Fórmula 1. O escocês disse: "“Olhando para ele, foi muito mais sortudo. Vettel não deveria ter chegado à F1 antes do que eu”. Sorte faz parte. Sempre fez e sempre fará. Competência também. Na estreia de ambos na categoria, um ano antes, Vettel terminou o campeonato em quinto e di Resta, em décimo. E em 2006, Vettel se desdobrou entre três ocupações: F3 inglesa, World Series by Renault  (F-Renault 3.5) e piloto de testes da BMW. Portanto, nada do que se queixar di Resta tem; na conjuntura geral dos fatos que envolvem ele e Vettel, o tedesco é melhor e ponto final.

 

Além disso, a imagem da Red Bull ajuda nesse problema. Com uma história um pouco similar à da Benetton. A equipe anglo-italiana fez sua equipe em 1985, e a partir daí, passou algumas temporadas de forma espalhafatosa tentando aparecer melhor nos bastidores e nas pinturas exóticas de seus carros do que propriamente na pista, a equipe só foi começar a disputar o campeonato seriamente em 1989, agora com a filosofia de vencer no asfalto. Em 1989, contrataram Flavio Briatore e venceram uma prova, com Alessandro Nannini (sim, Suzuka, onde Senna e Prost bateram e tal). Em 90, Nelson Piquet venceu duas corridas e em 91, mais uma. Michael Schumacher chegou em 1992 e venceu duas corridas até 1993, até ser coroado bicampeão mundial em 1994 e 95. A Red Bull, sabe-se, é a mais descolada das equipes e chama muito à atenção pelas ótimas jogadas de marketing e relações com os fãs (o twitter da equipe me segue e eu ganhei cartões autografados mandados pela sede da equipe, sitiada em Milton Keynes).

 

A Benetton, porém, não era uma Ferrari, McLaren ou Williams. Não era uma equipe tradicional, das que tinham relações viscerais com os cartolas da F1. A Red Bull também não o é. Pelo menos, não tanto quanto as tradicionais. E essas equipes (das quais a Ferrari foi levada ao topo por Schumacher e a McLaren fez Senna campeão, como exemplos) costumam fazer com que seus pilotos ganhem mais fácil e rapidamente a complacência da comunidade automobilística. A Ferrari, então, nem se fala. Não lembro de quando foi a última vez que Alonso foi efetivamente punido por alguma coisa, por exemplo.

 

Talvez se Vettel arriscar a vida, a pele e a carreira numa aventura em Maranello (o que só seria bom com uma eventual aposentadoria de Alonso, que, sabemos, não o fará tão cedo) ganhe a complacência e a admiração dos que estão à sua volta. Ou podemos ser até um pouco mais drásticos: Se ele voltar a pilotar algum carro que não seja vencedor e fazê-lo desencantar, poderá fazer-se unanimidade entre seus pares e espectadores.

 

Mas isso é coisa para um futuro que ainda se mostra um pouco distante. Vettel está feliz com a Red Bull. E não está nem aí para as besteiras que Alonso e os outros falam. E é o que tem que fazer: focar na sua carreira, fazer seu trabalho direito e não dar ouvidos a críticas como essas, oriundas do mais puro estado de recalque.

 

Abraços, e que venha o GP de Mônaco.

 

Antônio de Pádua

 

 

  

 

 

Last Updated ( Thursday, 23 May 2013 07:40 )