1º de Maio / Segurança no trabalho Print
Written by Administrator   
Wednesday, 01 May 2013 21:29

E chegamos a mais uma coluna minha para o Nobres do Grid. E não poderia haver data mais oportuna, no âmbito da história do automobilismo, do que um primeiro de Maio para tal. Afinal, já faz quase duas décadas daquele que convencionou-se chamar o final de semana mais negro da história da Fórmula 1, o do Grande Prêmio de Imola de 1994. Primeiro de Maio no qual, entra ano e sai ano, as pessoas continuam a lamentar a morte do Ayrton Senna. Lamentavelmente, hoje, dia 30 de Abril, dia em que estou a escrever esta coluna, faz 19 anos desde a morte de outro cara, um austríaco. Seu nome? Roland Ratzemberger.

 

Ratzemberger havia corrido algumas vezes no endurance, tendo como melhor resultado um quinto lugar nas 24 Horas de Le Mans de 1993. Assinou um contrato de cinco corridas com a Simtek, com uma verba de meio milhão de dinheiros estadunidenses, para poder correr em 1994. Não conseguiu se classificar para a primeira prova, no GP de Interlagos. Mas no GP do Pacífico, largando da última colocação, se valeu de 15 abandonos para chegar numa razoável 11ª colocação. Se a pontuação atual valesse 19 anos atrás, ele teria batido na trave com relação a marcar pontos.

 

Aí, veio Imola.

 

E com Imola, o acidente. Às 14h18 do Sábado - hora de San Marino - Roland bateu violentamente ali pela curva Villeneuve e destruiu seu carro. Perdeu os sentidos e recebeu tratamento cardíaco ainda na pista, pela equipe do Professor Sid Watkins, à época, o médico da Fórmula 1. Mas não resistiu. Era o primeiro a morrer na pista desde Riccardo Paletti, que veio a óbito 12 anos antes, em Julho de 1982, no GP do Canadá. 24 horas depois, outro golpe fatal para milhões de fãs: A morte de Senna, que, a exemplo de Ratzemberger, sofreu um acidente grave, desta vez, na curva Tamburello. Mas essa história aí vocês já estão carecas de ouvir, não é?

 

Sim, às vezes me parece catecismo. Mas 1 ano atrás, talvez, não parecesse. Incomoda-me hoje como nunca, essa importância desmedida dada a morte do Ayrton em detrimento do óbito do Roland. Só para fazer um exercício de reflexão, quem de vocês, que agora está lendo este que vos escreve, lembrou dele? Sejam sinceros. Poucos de vocês lembraram, permito-me afirmar. E sabem porque? Porque Senna também morreu. Assim como semanas antes do óbito de Paletti, houve o de Gilles Villeneuve. O velho barbudo (leia Karl Marx) tinha razão, no frigir dos ovos. A história se repete: A primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.

 

Mas Senna era tricampeão e já era um ícone da história do esporte mundial, irão dizer. Por iconoclasta provavelmente meus leitores me tomarão, em especial, as “infames viúvas”. Roland Ratzemberger era um novato. Ayrton Senna era um tricampeão consagrado. Um tinha 33 anos, e o outro 34. Um guiava pela equipe bicampeã dos anos anteriores, o outro estava numa equipe estreante. Um era humano, e o outro também. Acho que uma vida humana, mesmo sob essas circunstâncias, não vale mais que a outra. Lamentemos com os mesmos pesos e as mesmas medidas, pois, as mortes de Roland e Ayrton.

 

Mais uma coisa: Sei que demorará muito ainda para surgir um novo piloto brasileiro com cacife de campeão, mas mesmo assim, acho que deveríamos parar com coisas como complexo de vira-lata e saudosismo desmedido. O torcedor médio brasileiro é carente de ícones campeões no automobilismo, muito influenciado pela rede Globo, que infla a bola dos pilotos brasileiros (Rubens Barrichello foi vítima disso e, posteriormente, Felipe Massa também), fazendo parecer que eles são mais capazes do que realmente são. Por que não fico surpreso quando Galvão Bueno "endeusa" o espanhol Fernando Alonso? A intenção é clara: Se o Alonso é um gênio, o Felipe Massa é um piloto muito bom por superá-lo ocasionalmente. Mas sabem de uma coisa? Ele não é isso tudo.

 

O ponto é: Ele (o torcedor) deveria tentar deixar o passado no passado. Senna está morto. Nesta quarta-feira mais uma vez surgirão as menções de saudade do brasileiro tricampeão. Sonho com o dia em que verei um Brasil onde as pessoas não vivem só de saudade. Um Brasil onde pessoas apreciam mais o esporte do que o ídolo. Um Brasil onde as pessoas gostem mais do automobilismo em si do que de remoer as lembranças daquilo que jamais voltará a ser o que foi.

 

Abraços a todos,

 

Antônio de Pádua 

 

 

Olá pessoal que acompanha o site dos Nobres do Grid,

 

Após ter dois textos publicados na ‘Coluna dos Focas’ aqui no site, fiquei conhecida na fábrica até em setores que olham para a divisão de engenharia como se fôssemos (pessoas e equipamentos) todos máquinas. As mulheres são minoria por aqui, mas algumas chegaram a me perguntar coisas sobre automobilismo. Achei fantástico!

 

Confesso que estava um pouco perdida sobre qual assunto abordaria esta semana de inatividade da Fórmula 1. Listei três tópicos, cheguei a abrir textos para eles, mas foi apenas hoje, numa confraternização de colaboradores aqui da montadora que veio a inspiração, gerada pela repetição de uma pergunta: “você vai escrever sobre o Senna”?

 

Confesso que ele não me passou pela cabeça. Na verdade, passou, mas da seguinte forma: esta semana todo mundo vai escrever, mais uma vez, sobre a enorme perda que foi a morte do Ayrton Senna.

 

Mas o pior foi a reação das pessoas quando eu falei que não pretendia escrever sobre ele... “como assim”? “Porque não”? “Ele merece ser lembrado para sempre”! e outras coisas me foram ditas até com um certo ar de indignação.

 

Eu concordo totalmente que é preciso se preservar e divulgar a história, a trajetória, não só de Ayrton Senna, mas de todos os nossos pilotos. Melhor que lembrar o dia de sua morte, lembremos os feitos de sua carreira.

 

Mas eu vou usar o fato da morte de dois pilotos (porque do Roland Ratzemberger, que morreu nos treinos no sábado, ninguém lembra) naquele fatídico final de semana em Ímola para abordar outro aspecto: segurança!

 

A indústria, como um todo investe ano a ano milhões em treinamento, estudos e implementação de medidas preventivas de segurança no trabalho, sempre visando a segurança de todos que trabalham em suas instalações, com seus equipamentos ou mesmo que apenas estejam transitando, prestando um serviço terceirizado, naquela instalação.

 

Contudo, por mais que estudos sejam feitos, refeitos, procedimentos implantados e aperfeiçoados, é quando ocorre um acidente que coisas tidas como “verdades absolutas” são revistas e modificadas.

 

Antes das mortes de Ratzemberger e Senna, o último óbito ligado à Fórmula 1 havia sido a morte de Elio Di Angelis, durante treinos da Brabham no circuito de Paul Ricard, em 1986. Em corridas, a data era a de 1982, com Ricardo Paletti, no GP do Canadá. Era muito tempo. Parecia que todos no meio da Fórmula 1 achavam que os carros e suas estruturas haviam chegado num nível de segurança tal que os pilotos estariam a salvo de fatalidades. Estavam todos errados!

 

Agora estamos há quase 20 anos sem acidentes fatais... alguém acredita que os carros de Fórmula 1 estão livres do risco de vitimar alguém de forma definitiva? Espero que não.

 

Até semana que vem,

 

Maria da Graça