Como um Dakar africano virou arábico Print
Written by Administrator   
Monday, 18 February 2019 20:59

Ou como um assunto pode ficar desatualizado assim que chega às suas mãos… contudo, vale a pena contar a história, que é para ver como são as coisas quando escrevemos sobre um assunto da atualidade.

 

Este mês queria falar onde vos deixei da última vez: o Dakar. E como abordei da última vez o facto de termos tido uma prova cuja partida e chegada acontecera num só país, e sobre as chances de um regresso a África. Quem se lembra, no mês passado falei da reunião que a ASO (Amaury Sport Organization) teve com representantes do governo argelino no sentido de voltar a receber o Dakar, quase 30 anos depois da última vez que lá passou.

 

Contudo, durante o mês de fevereiro, surgiram notícias de que havia outro local de África que se tinha candidatado para receber, e é a parte sul. Desde essa altura que a imprensa angolana falava de conversações entre o Ministério da Juventude e Desportos local e a ASO na ideia de receber em breve – ou seja, em 2020 - o Rali Dakar. E uns dias depois, um "post" da Federação Angolana de Desportos Motorizados (FADM) sugeria um traçado para o Dakar, com partida e chegada a Benguela, com passagens pela Namíbia, África do Sul, Botswana e Lesotho. Uma variante colocava o rali a começar na Cidade do Cabo e terminar em Luanda, com passagens pelos países acima referidos.

 

 A ideia pareceu bastante interessante e as tratativas chegaram a ser iniciadas, mas quando tudo parecia certo...

 

Isto é algo do qual Etiénne Lavigne já tinha falado há alguns meses, mais concretamente em maio passado, ainda antes de sabermos que o Dakar deste ano aconteceria apenas no Peru.

 

Você pode imaginar que, com o contexto deste ano, é uma necessidade para nós pensar em outros locais, porque não podemos continuar sofrendo com decisões que não podemos controlar”, começou por dizer. 

 

 @019 foi um ano onde o Dakar precisou se virar para ver seu evento realizado e não dá pra levar um susto a cada ano.

 

Não podemos permitir essa situação, porque o Dakar é o maior rali do mundo e o mais importante em todos os níveis. Por isso, precisamos planejar um futuro. Começamos a trabalhar há vários meses para construir contatos em outros países, como Argélia, Angola e Namíbia. Fizemos várias viagens à Argélia para nos reunirmos com os líderes políticos e sabemos que há uma disposição para organizar um evento desse tipo. Todas as equipes e pilotos esperam todos os anos para ter um Dakar atraente e interessante. É por isso que você precisa pensar em outros países para as próximas edições”, concluiu.

  

A situação em Angola até seria interessante, e a acontecer, não seria inédito: o Dakar passou por ali em 1992, quando decidiu ligar Paris à Cidade do Cabo, numa aventura épica, atravessando África e passando por Angola, Namíbia e África do Sul. E partir de uma paisagem épica como a Table Mountain seria tão bom como passar pelo Salar de Uyuni e as dunas da Costa do Esqueleto não ficam atrás das dunas peruanas...

 

 

 

Mas também havia outras alternativas. Quando escrevi inicialmente este artigo, a chance da Arábia Saudita receber o Dakar também está em cima da mesa. Numa altura em que se está a abrir ao mundo - em dezembro recebeu uma corrida de Formula E - ter uma prova deste tipo num país muito fechado aos estrangeiros seria um ótimo cartão-de-visita. Contudo, a península arábica até seria algo interessante, e passar por outros países como os Emirados Árabes Unidos e Oman seriam boas alternativas, mas a pouca experiência nessas áreas e a instabilidade politica na região, com as tensões com o Qatar e a guerra no Yemen, poderão afugentar a ASO de organizar algo para aqueles lados, apesar da paisagem ser tão boa quanto a América do Sul e África, seja ele norte ou sul.

 

Assim sendo, acabei este artigo na quinta-feira, dia 14, e começava a preparar-me para enviar por mail para o pessoal que toma conta e controla o site, para publicar no início do mês, como sempre. Mas atrasei-me, e bastou um fim-de-semana para alterar tudo.

 

 

 

É que… para terem uma ideia, um amigo meu, o João Carlos Costa, da Eurosport, colocou na sua conta pessoal a notícia de que o governo saudita iria acolher o Dakar a partir de 2020 e para as próximas cinco edições. Isto quando tudo isto estava pronto e vos iria dizer sobre uma direção totalmente contrária ao que acabou por ser acordado. Imaginam o embaraço? Meu e vosso? Logo eu, que faço 25 anos da minha presença no meio…

 

Mas a história desta saga do Dakar mostra que por vezes, quando queremos cobrir um assunto da atualidade, as coisas podem tomar um rumo completamente diferente entre o dia em que entregas a matéria e o dia da sua publicação… acontece, mas é real. E claro, a ideia de um regresso a África passou de uma possibilidade perto de acontecer para uma fantasia que poderá ser atrasada em mais meia década, pelo menos...

 

 E assim o Dakar vai deixando para trás o continente sulamericano e parte em busca de outras dunas de areia.

 

E esse é o risco que um colunista como eu tem quando aborda este tipo de assuntos. E como a partir do ano que vêm, o Dakar irá para um local totalmente inédito, de um país que pretende abrir ao mundo, em paisagens totalmente inéditas para máquinas e pilotos. Veremos como irá ser.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira 

 

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Last Updated ( Monday, 18 February 2019 21:18 )