O sol pôe-se perante as lendas Print
Written by Administrator   
Thursday, 25 January 2018 16:24

Por estes dias, um amigo meu que esta Internet me fez encontrar, contou as vezes em que esteve com Dan Gurney, na Califórnia. Um deles aconteceu há cerca de cinco anos, segundo ele, no Peterson Auto Museum, em Los Angeles. Foi um encontro entre ele e alguns “pertrolheads” num almoço onde ele contavas as muitas histórias de uma longa carreira no automobilismo, que passou por muita coisa ao longo das décadas de 50 e 70, pelo menos como piloto.

 

Esse me8u amigo levou o seu filho, que na altura tinha cinco anos. O rapaz depressa virou a mascote daquele encontro e inveitávelmente acabou ao colo de Gurney. Este perguntou ao rapaz se ele queria ser piloto de automóveis quando fosse crescido. Ele disse que não, afirmando que os automóveis faziam imenso barulho, para riso de todos os que estavam ali.

 

No final, quando esse meu amigo foi despedir-se de Gurney, ele disse: “Agora somos dinossáurios, mas fomos felizes dinossáurios”.

 

 

Esse meu amigo escreveu as suas impressões pessoas sobre a lenda do automobilismo americano que teve a oportunidade de encontrar, enquanto ele foi vivo e tinha saúde. Como é sabido, Daniel Sexton gurney morreu no passado dia 14 de janeiro, aos 86 anos de díade, em Newport Beach, vítima de pneumonia. Foi uma lenda viva muito antes de passar à História. O criador da All American Racers, os chassis Eagle, vencedor de quatro Grandes Prémios de Formula 1, um deles como construtor do seu próprio carro, vencedor nas 24 horas de Le Mans, a bordo de um Ford GT40, vencedor na Can-Am, Trans-Am, NASCAR, o inventor da cerimónia de champanhe, o primeiro piloto a usar um capacete integral, o inventor da “Gurney flap”, o único invento aerodinâmico que passou do automobilismo para a aviação… tudo isto solidifica a sua lenda.

 

Enquanto lamentávamos o desaparecimento de Gurney e enchiamos as nossas páginas a homenagear os seus feitos, na quinta-feira, dia 18 de janeiro, a família de Stirling Moss anunciava que ele, aos 88 anos de idade, iria abandonar de vez as suas presenças em 3encontros de automóveis antigos. Segundo eles contam, os seus problemas de saúde no final de 2016 e a sua lenta recuperação fizeram com que tomassem tal decisão. Tudo isto acontecia percisamente no dia em que, há precisamente 60 anos, na Argentina, ele vencia a bordo de um Cooper de motor traseiro, a primeira vitória desse tipo na Formula 1.

 

 

E chegamos a 2018 a pensar nisto: um passado distante está a chegar ao fim. Aquele tempo heróico do qual falava os nossos pais e do qual liamos nos livros e jornais da especialidade. O tal passado onde o perigo estava mesmo à espreita, e um erro normalmente custava a vida. Onde um piloto corria o risco de um acidente mortal a cada sete anos da sua carreira, e de onde muito poucos sobreviviam incólumes.

 

Aliás, foi por causa de acidentes que ambos se retiraram. Gurney decidiu pendurar o capacete pouco depois de a McLaren lhe ter pedido para substituir seu amigo e fundador da marca, Bruce McLaren, depois do seu acidente fatal, a 2 de junho de 1970. Gurney fez três corridas na Formula 1 e mais algumas na Can-Am, e ele, aos 39 anos, e bem-sucedido nos Estados Unidos com a sua Eagle, começou certo dia, no fim de semana do GP da Holanda de 1970, a contar todos os amigos que tinham morrido em acidentes. A conversa, contada anos depois por Tyler Alexander, mostrava a todos que ele pretendia ir embora assim que pudesse. No dia seguinte. Piers Courage teve o seu acidenta fatal, e um mês mais tarde, após o GP britânico, Guerney pendurava o capacete de vez.

 

 

Oito anos antes, em 1962, no circuito de Goodwood, no Lavant Trophy, realizado no dia a seguir à Páscoa, Moss sofreu um acidente grave no seu Lotus 24, que o obrigou a ficar de fora do inicio do campeonato daquele ano. Não era a primeira vez que Mossa tinha sofrido acidentes desses – um deles, em 1960, em Spa-Francochamps, também colocou fora de combate por algumas semanas – mas aos 33 anos, achou, depois da recuperação e uma série de testes, que tinha perdido a vontade de correr. E foi por isso que pendurou o capacete nesse mesmo ano de 1962, assim que surgiu pilotos como Jim Clark e Graham Hill. E o próprio Dan Gurney, que nessa temporada iria dar à Porsche a sua única vitória na Formula 1.

 

 

Agora, com o desaparecimento de Gurney, e no ano passado, de John Surtees, não há muitos mais sobreviventes dos primórdios da Formula 1. Moss é o mais antigo vencedor vivo, com a sua primeira vítória a ter acontecido no GP da Grã-Bretanha de 1955. Dos anos 50, apenas Moss e o seu compatriota Tony Brooks, agora com 85 anos, estão vivos. E dos anos 60, agora com o desaparecimento de Gurney, a dupla viva mais antiga em Le Mans, por exemplo, tornou-se a que venceu em 1969, com Jacky Ickx e Gerard Larrousse.

 

E dos campeões do mundo ainda vivos, o mais antigo é Jackie Stewart, atualmente com 78 anos.

 

 

Em suma, esta geração “romântica” vive os seus últimos dias. Os que conviveram com o perigo e viram muitos dos seus amigos morrer. Os que tiveram o previlégio de chegar à velhice, para contar a nós as histórias desse tempo… estão a desaparecer. Já não faltará muito até que todos passem à história, para nossa tristeza. Como disse Dan Gurney, foram dinossáurios felizes naquilo que faziam.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira