Como este campeonato acabou Print
Written by Administrator   
Sunday, 24 September 2017 22:35

Na segunda-feira que antecedeu o GP de Singapura, uma amiga minha, a Serena Navarrete, escreveu na sua página de Facebook que já sabia de antemão o que iria acontecer na partida daquela corrida, logo naquele sábado à tarde, depois da pole-positon. Sendo ela psicóloga de formação, ela contou a um amigo dela num site latino-americano que Vettel e Verstappen estavam nervosos. O alemão, porque tinha o título na mente, e não queria deixá-lo escapar, porque sabe que as chances existentes servem para agarrar. Quando ao filho de Jos, queria mostrar-se porque é jovem e a sua temporada tem sido um desastre, devido aos incidentes que teve com o motor e outros dos quais ele foi mais vitima do que réu.

 

No final, acabou por se ver que ela tinha razão.

 

Peguei neste exemplo para tentar explicar a razão pelo qual as coisas acabaram como acabaram. A Ferrari pode ter mais vantagens em 2017 em relação à Mercedes, mas os locais continuam a ser menos do que aqueles que marca alemã têm. Logo, qualquer boa chance deve ser agarrada com as duas mãos.

 

 

É claro que muitos de vocês poderão dizer agora que ainda faltam seis corridas para o final do campeonato, e que Hamilton poderá escorregar numa corrida mais à frente, mas para mim, sabendo como são os motores e a sua resistência, estou cético. Não creio que haja quebras até lá. E colocando um pouco esse pessimismo em ação, eu digo que no passado domingo, dia 17 de setembro, nos primeiros metros do GP de Singapura de 2017, as ambições da Ferrari de bater Lewis Hamilton e ser campeã do mundo no final da temporada esfumaram-se. Por culpa própria, diga-se.

 

O tal nervosismo? Talvez, mas numa altura em que todos querem ganhar, poucos são os que têm nervos de aço. E mesmo os que tem essa fama podem falhar. Olhem para o que fez Kimi Raikkonen, por exemplo.

 

 

Quanto à manobra da partida, digamos que não é nada que não tenha visto nos mais de 30 anos que vejo de Formula 1. Senna fez isso vezes sem conta, Prost e Mansell também, Schumacher fazia isso. Aliás, Vettel faz isso desde os seus tempos de kart, só que raras são as vezes que acabam em carambolas. É muito chato assistir às declarações nas redes sociais de pessoas que congelaram nas suas mentes uma Formula 1 romantizada que só existe nas suas cabeças, quase como se fosse um mito. E em muitos aspectos, é um mito. Daí achar que pedir ao alemão uma penalização que nunca existiu na história do automobilismo... não direi que roça a estupidez, mas fico com ideia de que ele deve ser penalizado não só pelos seus erros, mas também pelos erros de gerações anteriores. Já teve o que merecia, não é preciso uma manobra de secretaria.

 

Vou reforçar aquilo que digo, afirmando diretamente: Vettel perdeu 25 pontos e o título. Tirá-lo por uma corrida seria bater no ceguinho, sentenciar o campeonato a favor de Hamilton, sem garantias de que ele ou a Ferrari iriam aprender com isso. A FIA é politica, a Formula 1 é politica, e a Ferrari ainda pesa, mesmo depois de Bernie Ecclestone ter saído do edifício. A ideia da "Formula 1 pura" que muitos gostariam de “voltar a ver” só existe nas suas imaginações e é um pouco como os gambuzinos: não existe, e quem anda à procura deles só faz figura de barata tonta.

 

 

Aliás, é politica da competição que as decisões do campeonato aconteçam o mais próximo da última corrida do ano, a bem das audiências televisivas. E também têm outra coisa, do qual muitos esquecem: a atitude da FIA nas últimas duas temporadas agora é um “deixa andar” em relação a suspensões, não haver penalizações em corrida por tudo e por nada. E há movimentos recentes de que pretendem abolir as penalizações na grelha de partida por causa das mudanças que fazem nas caixas de velocidades e nos motores. Portanto, com a interpretação dos regulamentos a serem usados de qualquer maneira ao longo dos tempos, pedir una forte penalização e fazer de Vettel “um exemplo” não é a melhor politica. Até podem ser ridicularizados em praça pública.

 

Dito isto, vamos falar sobre o que aconteceu. Por culpa própria, como aconteceu nove anos antes no mesmo lugar, quando a mangueira do carro de Felipe Massa ficou no chassis depois deste partir das boxes, a Ferrari deve ter deitado fora dois títulos mundiais. Apesar de ter um bom carro e ser muito bom em circuitos de baixa velocidade, como demonstrou no Mónaco, e poderia ter demonstrado em Baku, se não fosse aquela polémica com Lewis Hamilton, e do qual os anti-vettelistas pediram para que ele fosse fortemente penalizado. Aí, poderemos dizer que eles fizeram um controlo dos prejuízos, porque ele ficou na frente de Hamilton. Mas aqui, não houve chances algumas.

 

 

E com os carros a serem resistentes, uma quebra de motor ou de caixa de velocidades é altamente improvável. Hoje em dia, as equipas só podem usar até cinco motores por temporada, sob pena de penalização. E a FIA quer diminuir isso para três por temporada, algo do qual Niki Lauda já disse que está abertamente contra. Ora, sabendo das intenções da FIA, e sabendo como andam a tecnologia, esse “whishful thinking” de que os Mercedes poderão ter problemas, como Hamilton teve na Malásia, no ano passado, só demonstra o desconhecimento dos avanços no campo da engenharia, e também dos regulamentos da FIA. De uma certa maneira, viajam na maionese e desconhecem a realidade dos laboratórios em Brackley, casa da Mercedes.

 

Claro, posso estar enganado, mas recuperar 28 pontos até ao final da temporada e uma quase impossibilidade. Se fizermos um calculo matemático, nesta altura, Hamilton será coroado campeão em Interlagos. E mesmo com Vettel a vencer todas as corridas, ele apanharia o inglês da Mercedes na corrida brasileira. Logo, desde domingo, Maranello está a rezar para que aconteça um milagre até ao final do ano. E pior: eles não podem cometer mais erros, porque a margem de manobra que agora ficaram é de zero.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira