O Despertar da Crise Print
Written by Administrator   
Saturday, 24 January 2015 14:30

Quando você estiver a ler estas linhas, deverá estar a assistir aos primeiros testes do ano, no circuito espanhol de Jerez de la Frontera. E provavelmente não deverá ter todas as equipas de Formula 1 presentes, mesmo que Caterham e Manor-Marussia estejam definitivamente de fora, de portas fechadas para sempre. Nem todas estarão a mostrar ainda os seus carros para 2015, algumas prometendo que estarão ou nos próximos testes ou em Melbourne, palco do primeiro Grande Prémio da temporada.

 

Até ao dia 1 de fevereiro, seis equipas apresentaram os seus carros, e nem todos com os seus novos chassis. A Force India foi a 21 de janeiro (mas o novo chassis só será visto em Barcelona, palco da segunda sessão de testes), seguido da Williams, a 22 (mas que apresentou dois dias antes… na capa de uma revista!), e depois, em catadupa, veio o resto: Ferrari e McLaren (30 de janeiro) Toro Rosso e Red Bull (31 de janeiro) e por fim, a Mercedes (1 de fevereiro). As equipas da frente, mais desafogadas, puderam colocar os seus novos carros mas os do meio do pelotão, mais concretamente, da Force India para baixo, demonstram a crise que vivemos, e do qual nunca acabamos por sair dela. Apenas o inverno permitiu que ela hibernasse.

 

Há muito tempo que se fala dela: da má distribuição dos dinheiros, do mau calendário, da opacidade das discussões, da velhice e incapacidade de mudança da classe dirigente, mais ávida de dinheiro do que outra coisa, e do custo descontrolado dos custos, que fazem com que uma temporada custe em média cerca de 120 milhões de euros.

 

A Williams apresentou seu carro... de forma virtual! 

 

Vamos aos exemplos da crise: a Marussia, que deveria receber à volta de 50 milhões de euros por causa do nono lugar no campeonato e os dois pontos conquistados no Mónaco, está falida devido às dividas que acumulou ao longo da temporada anterior. Mesmo a Caterham, o sonho de um multimilionário malaio Tony Fernandes, acabou quando este viu que gerir um clube de futebol inglês era mais barato do que ter uma equipa no fundo do pelotão, a fazer número.

 

Mesmo as que continuam em 2015 estão com dificuldades. A Sauber gastou 60 milhões de euros (os quarenta milhões dos dinheiros de Felipe Nasr e Marcus Ericsson, mais o dinheiro da FIA) para pagar as dividas, ao ponto de o desenvolvimento do novo chassis ter ficado parado. E conta com a generosidade da Ferrari (pois eles usam o seu túnel de vento) para deixar pagar as suas dividas para mais tarde.

 

A Force Índia apresentou seu carro,seguindo a aparente tendência de reduzir a frente pontiaguda do ano passado.

 

A Force India, apesar de ter um dono multimilionário e de ter arranjado novos patrocinadores em terras mexicanas, deve dinheiro à Mercedes e para isso, atrasa salários aos funcionários. E mesmo na Lotus, correm rumores de que poderão trocar de nome algures no futuro, talvez para escapar de algumas dívidas do passado. E claro, certos patrocinadores – leia-se a venezuelana PDVSA, por exemplo – poderão ter dificuldades em manter os seus compromissos, devido à queda do preço da matéria-prima.

 

As coisas pareciam ter chegado a um lado tragicómico quando se viu que o calendário da Formula 1 meteu provisoriamente uma corrida de propósito (o GP da Coreia do Sul) para que cumprisse uma determinada clausula do regulamento que impedia que as equipas reduzissem o numero de motores a usar ao longo da temporada de cinco para quatro. Aparentemente, a estratégia poderá ter resultado. Mas mesmo que não falemos da história coreana, as polémicas sobre o local da corrida alemã, entre Hockenheim e Nurburgring, demonstram que na realidade, não existe qualquer contrato para acolher a corrida alemã. E isso é grave, pois falamos do país onde acolhe a Mercedes, a atual campeã de Construtores.

 

Monisha Kaltenborn terminou 2014 com dificuldade... e este ano as coisas parecem piores. A construção do carro parou!

 

A sensação que se fica desta temporada que vai começar é que vai ser o regresso dos velhos problemas. E os temores de que este edifício da Formula 1 tem pés de barro aumentam. Não se fala tanto do Grupo de Estratégia - que alegadamente ditará as regras de como e quanto gastar na Formula 1 – mas fala-se da razão porque é que não reagem às ameaças. Há quem possa dizer que esperam que “o grande elefante que está no meio da sala” desapareça fisicamente (uma grande ironia, dada a altura do protagonista), mas se é para esperar que a Natureza siga o seu curso, o grande risco é que quando tal acontecer, a Formula 1 esteja à beira da morte. E provavelmente, tudo por culpa própria.

 

Saudações D’Além Mar!

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

 

 

Last Updated ( Saturday, 24 January 2015 15:47 )