A chegada das apostas desportivas à Formula 1 Print
Written by Administrator   
Tuesday, 25 September 2018 11:27

No início de 1968 - já fez meio século - a então CSI, Comission Sportive International, a antecessora da FIA decidiu abolir a obrigatoriedade das equipas de Formula 1 terem pintadas as cores nacionais nos seus carros. Colin Chapman viu nisso uma oportunidade e telefonou à Imperial Tobacco, onde rapidamente conseguiu um acordo que valeu cem mil libras na altura, para pintar os seus carros de vermelho, branco e dourado, as cores da Gold Leaf. Só que não tinha sido o primeiro, pois os sul-africanos da Gunston tiveram a ideia e pintaram os seus carros de castanho e laranja, as cores da marca.

 

Conto esta pequena história porque, no meio das notícias que pareceram durante o fim-de-semana do GP de Singapura, a meio deste mês, surgiu uma onde a Liberty Media assinou um acordo com Interregional Sports Group para expandir a oferta de apostas da categoria, aproximando-a do futebol e do ténis. Basicamente, é abrir a Formula 1 aos sites de apostas online, desde a Ladbrokes até à Betclic, passando por outras como a William Hill, espalhadas um pouco por todo o mundo, desde a Grã-Bretanha até ao Extremo Oriente. 

 

O valor do acordo? Aproximadamente cem milhões de libras. 

 

Em 1968 Colin Chapman aproveitou a mudança nas regras e apresentou o primeiro carro patrocinado da F1.

 

Apostar na Formula 1 até tinha sido possível, mas de forma muito limitada. Mais para saber quem venceria ou faria a pole-position, mas com isto, pode-se apostar coisas do género, em que volta piloto x iria às boxes ou quando entraria o Safety Car, ou se haveria uma carambola na primeira curva. Coisas desse género. E a Formula 1 abrir-se-ia às casas de apostas, garantindo uma parte do bolo. 

 

E isto tudo acontece numa altura onde eles perdem receitas. Dependendo bastante das receitas televisivas e dos pagamentos feitos pelos países onde vai a Formula 1, no ano e meio que detêm a FOM, tem dado prejuízo, e a parte que dão às equipas têm vindo a diminuir. Aliando a isso, as equipas tem cada vez mais dificuldade de arranjar patrocínios. Os tempos das tabaqueiras, das bebidas e das firmas de telecomunicações lá vão, e os espaços vazios nos carros de Formula 1 são cada vez mais frequentes.

 

 As casas de apostas são populares há décadas na Inglaterra e algumas oferecem locais para socialização.

 

Quem conhece a história da Formula 1 sabe que de 1968 até ao início do século, as tabaqueiras dominavam os patrocínios. A Imperial Tobacco, com a Gold Leaf e depois da John Player Special; a Philip Morris, com a Marlboro; a R.J Reynolds, com a Camel e a Seita francesa, com a Gitanes e depois com a Gauloises. As leis restritivas, primeiro na Alemanha, depois na Grã-Bretanha e mais tarde, noutros mercados, fizeram com que todos saíssem de cena, exceto a Marlboro, que apoia a Ferrari.

 

Na década passada, as equipas viraram-se para as tecnológicas e as bebidas, especialmente as energéticas, como a Red Bull. A HP esteve muitos anos na Williams, e a Vodafone esteve na Ferrari e McLaren, antes de sair em 2014. E a Williams tem desde esse ano o patrocínio da Martini, que lhes dá 25 milhões de libras por temporada. Mas isso era apenas... metade que dava o venezuelano Pastor Maldonado, graças à petrolífera estatal PDVSA. E isso é um pouco o sinal dos tempos: os patrocínios chorudos não existem mais. 

 

E mesmo diversificando, os valores combinados não chegam aos ideais, e dependem cada vez mais daquilo que dá a FOM. E claro, mostram cada vez mais a sua face de "Piraña Club", quando vimos as circunstâncias da aceitação da Racing Point, como sucessora da Force India: exclusão do campeonato de Construtores até ao GP da Bélgica, para que a sua parte fosse dividida pelas outras equipas.

 

Depois da proibição das "tabaqueiras", abriu-se espaço para novos patrocinadores, como as empresas de tecnologia.

 

Agora, este acordo com a  Interregional Sports Group vai fazer com que sub-licencie os direitos a parceiros regionais seus, e vai contar com a Sportradar Integrity Services, que é a empresa líder em soluções de integridade para federações, clubes, autoridades de estado, e vai fazer com que isto corra sobre rodas, combatendo jogos combinados relacionados com apostas, por exemplo.

 

Mas quem conhece bem este mundo, sabe que mais cedo ou mais tarde, as equipas vão querer patrocínios dessa área. Basta ver no futebol: quase todas as equipas da liga inglesa são patrocinadas por sites de apostas. E a mesma coisa se vê um pouco por toda a Europa. Com maior ou menor regulamentação, as casa de apostas desportivas e chegaram e vieram para ficar. Logo, ter na Formula 1 iria ter de acontecer. 

 

Mas há quem não seja muito fã disso. Bernie Ecclestone já disse que ir para esse campo seria manchar a imagem da categoria. Ouvir isso vindo de alguém que não era conhecido pela sua ética de negócio é algo extraordinário. E Nigel Currie, fundador da NC Partnership, uma empresa de consultoria desportiva, declarou ao Financial Times que as empresas de apostas vão ter a mesma coisa que tiveram as tabaqueiras nos anos 90: pelo seu caráter internacional, é difícil para os legisladores atuarem sob a Fórmula 1 e por este motivo, a exposição garante grande retorno sobre o investimento.

 

Atualmente é possível fazer apostas sem sair de casa. Estas empresas pode ser um novo patrocinador porencial da F1.

 

De uma certa forma, ter essas empresas de apostas desportivas poderá fazer com que a Formula 1 viva uma nova fase de patrocínios. Caso as casas de apostas desportivas dêem aquilo que eles querem, poderão entrar centenas de milhões de dólares de uma forma ou de outra, fazendo com que quase todos ganhem com isso. Mas ainda não se faz ideia do impacto ou dos defeitos conhecidos das apostas desportivas - especialmente a "batota", podem causar por aqui.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira