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Pilotos: as 'quengas' do asfalto? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 13 April 2013 16:20

Como todos sabem, o site dos Nobres do Grid é antes de tudo dedicado aos pilotos da geração dos anos 60 que correram no Brasil e que iniciaram a nossa “conquista do mundo”. A minha coluna deste mês vai tratar de uma situação dos dias atuais do automobilismo que teve início justamente nos anos 60.

 

Quando Colin Chapman trocou o tradicional “Verde British” da Lotus pelo vermelho e dourado dos cigarros Gold Leaf no final dos anos 60 o automobilismo europeu tomava um caminho que os norte americanos já haviam começado a percorrer há algum tempo: fazer do carro um outdoor nas transmissões da televisão e com isso conseguir ganhar dinheiro para custear o desenvolvimento de seus projetos futuros e – claro – colocar algum no bolso.

 

O tempo foi passando e todo o mundo – no mundo todo – aderiu a moda. Automobilismo vende coisas! Vende (ou vendia) cigarro, bebidas, petróleo e derivados, produtos de beleza... até camisinha (preservativos). Ou alguém acha que o “Durex” estampado na lateral do carro da Surtees de Alan Jones era relativo à como chamávamos a fita adesiva aqui no Brasil?

 

 

Colin Chapman foi o primeiro a escancarar a comercialização da carenagem dos carros como outdoors ambulantes. 

 

A questão é que, desde este tempo, tinha piloto que pagava pra correr e que levava com ele alguns destes “anunciantes”. A história da Fórmula 1, para citar a mais famosa das categorias, tem nos seus capítulos diversos personagens que chegaram onde chegaram impulsionados pelo dinheiro que levaram nos bolsos do macacão. Hector Rebaque, François Hesnault, Johnny Dunfries, Pedro Paulo Diniz, só para citar alguns.

 

Além destes acima citados, outros vieram com o dinheiro de “investidores”. Esta é uma versão mais moderna do processo e é aí que a porca torce o rabo! O somatório dos custos galopantes das principais categorias do automobilismo com a proliferação de categorias de base e o crescente interesse de jovens em se tornar piloto criou uma situação de certa forma cômoda para as equipes: pra que correr atrás de quem “pague a conta” do nosso investimento se podemos vender nossos lugares para estes garotos que querem pilotar? Eles que tragam o dinheiro que precisamos!

 

 

Pagando bem, que mal tem? Johnny Surtees fez propaganda de preservativos (Durex) nos seus carros em 1976. 

 

Quando vi o carro do Felipe Nasr (quando é que estes narradores de futebol de botão e comentaristas de corrida de autorama vão aprender a falar o nome do garoto?) na prova de estreia da GP2 pensei numa pizza: ‘mezzo pública/mezzo privada’, meio aliche/meio muzzarela, metade bancada pela OGX, do Eike Batista, metade bancada pelo Banco do Brasil, sustentado pelo meu suado dinheirinho que faz girar a ciranda financeira de lucros exorbitantes do banco deste país.

 

Pensei logo: É... o garoto pra estar onde está teve que ter mais do que talento, teve que vender a alma para o ‘Deus dinheiro’ e o corpo para aqueles que vão explorá-lo por todos os meios. Seja submetendo-o a uma extensa rotina de compromissos fora da pista (a maior queixa de Lewis Hamilton em sua tempestuosa relação com a McLaren nos últimos anos), seja sob o risco de ou faz isso ou não vai ter onde e como correr no ano seguinte.

 

 

Felipe Nasr segue na sua caminhada para a Fórmula 1 com o apoio de empresas brasileiras: privadas e estatais. 

 

Aí eu pergunto ao estimado leitor: qual é a diferença entre um piloto de corrida nos dias de hoje e uma ‘Quenga’, como as da novela Gabriela, recém passada na dona dos direitos de imagem da Fórmula 1 no Brasil?

 

Desde cedo o menino que começa no kart tem que, ele mesmo, seja através do pai ou de amigos do pai, arranjar um meio de bancar o custo de uma seriamente questionável carreira como piloto. Digo questionável porque nada garante que ele vai conseguir continuar correndo uma vez que a cada degrau que ele vier a tentar subir, a mala de dinheiro para estar lá vai aumentar de tamanho em uma velocidade maior do que ele vai crescer em centímetros ou virar em segundos na pista.

 

Aí o já indignado leitor vai dizer: “mas sempre foi assim!”

 

 

Pastor Maldonado "pastou" por seis anos na GP2 até que o governo de Hugo Chaves "comprasse" um lugar na Williams. 

 

Claro que foi! Mas a uma determinada altura da vida nas pistas, o piloto passava a ganhar dinheiro ao invés de investir. Se formos ver a história dos Nobres do Grid na Galeria de Heróis, todos os pilotos que seguiram para a Inglaterra no final dos anos 60 (Emerson Fittipaldi, Fritz Jordan, Ricardo Achcar, Luiz Pereira Bueno, José Carlos Pace, Chiquinho Lameirão, enfim, todos) foram levando dinheiro do bolso e dos que acreditaram no sucesso deles. Deles todos, apenas Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace conseguiram se estabelecer na Fórmula 1 e fazer com que seus patrões pagassem a eles salários. Wilsinho Fittipaldi, nos anos em que correu na Brabham de Bernie Ecclestone, foi piloto pagante.

 

Minha conta parte do seguinte princípio: nos anos 70, quantos pilotos pagantes haviam no grid? E nos anos 80? E nos anos 90? Este número foi aumentando geração após geração até chegarmos na absurda condição dos dias de hoje, onde dois terços do grid paga pra correr. São as ‘quengas do Bataclan do Bernie Ecclestone’!

  

É exagero meu? Quanto é que a PDVSA, companhia de petróleo da Venezuela despeja na conta de Frank Williams? Quanto é que o Carlos Slim, bilionário mexicano, presidente (dono, né?) da Telmex, da Claro e da Embratel despeja nas contas de Ron Dennis e Peter Sauber? Agora ele vai depositar na conta de quem receber – de braços e bolsos abertos – Pietro Fittipaldi, além de já estar bancando Felipe Nasr.

 

 

Fernando Alonso tem uma relação de completo envolvimento com o Banco Santander, hoje o maior patrocinador da Ferrari. 

 

Se somarmos quanto os investidores espanhóis já despejaram nas contas das equipes que tiveram Fernando Alonso como piloto, a conta passa fácil do meio bilhão de dólares. Só a Ferrari levou 300 milhões do banco que hoje estampa seu nome nos carros e macacões dos pilotos da equipe... e no motorhome, nos outdoor pelo mundo afora, nos produtos que a equipe comercializa...

 

E a coisa não se restringe apenas à Fórmula 1. Rubens Barrichello precisou levar patrocínio para correr na Fórmula Indy no ano passado. Este ano, não correu porque não juntou dinheiro suficiente para o Chip Ganassi colocar um terceiro carro na pista. Bia Figueiredo precisa fazer com que a Ipiranga aposte nela continue “comprando” seu lugar na Dale Coyne para ela tentar se firmar na categoria (ajudaria muito se ela andasse mais e batesse menos). Tony Kanaan é outro que precisa se virar para continuar por lá. O único que parece ter um emprego e um salário é Helio Castro Neves, na Penske.

 

Será que todo este cenário poderia mudar? A meu ver, só teria uma maneira: as quengas fazerem uma greve, como na novela!

 

 

Queria saber mexer com photoshop para colocar os rostos dos pilotos nas personagens da foto... mas todos entenderam, né? 

 

Se ninguém mais pagasse para correr em nenhuma categoria acima da Fórmula Renault, da F3 inglesa, da F3 europeia ou qualquer categoria abaixo da GP3/GP2 ou World Series (alguém lembra daquela “categoria-piada-de-mau-gosto” criada pelo Max Mosley, a “Fórmula 2”, que era pra ser barata e o ‘degrau natural’ para a F1?) as equipes teriam que sair das suas cômodas condições e correr atrás de patrocinadores como faziam antigamente. O problema é que há uma superpopulação de ‘quengas’ no mercado e a situação é: se você não tem como arranjar um cliente endinheirado para botar ‘dinheiro na casa’, colocamos outro em seu lugar pra fazer isso.

 

Luiz Razia que o diga.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva 

 

 

 

Last Updated ( Sunday, 14 April 2013 17:25 )