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Tolerância Zero (e hipocrisia máxima)! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 10 February 2013 21:11

 

 

O nosso país deu há poucas semanas um exemplo de civilidade para todo o mundo ao estabelecer o mais rígido regime de combate ao uso de álcool no trânsito adotado por qualquer país em qualquer momento da história, à exceção da ‘lei seca’ estabelecida durante os anos 30 nos Estados Unidos. Coincidência ou não, inicialmente a lei que começou a controlar o uso de álcool para os motoristas no país recebeu o apelido de ‘lei seca’.

 

A lei, na forma como estava escrita, estabelecia que, caso um motorista fosse flagrado ao volante com uma quantidade medida de 0,2 miligramas por litro (mg/l) de álcool na corrente sanguínea, seria enquadrado como direção perigosa, passível de detenção, apreensão e suspensão da carteira, podendo a mesma vir a ser cassada em caso de reincidência.

 

Em países civilizados – coisa que o Brasil ainda está longe de ser – existem leis similares e os motoristas são punidos exemplarmente. Contudo, ao contrário da lei brasileira, há uma certa tolerância com relação à quantidade de álcool que um motorista pode ingerir. Na maioria dos países europeus é de 0,5 mg/l, o que permite, por exemplo, um casal sair para jantar, tomar uma garrafa de vinho (duas taças para cada um) e voltar para casa tranquilamente. A lei brasileira não dava esta liberdade uma vez que o índice era bem mais baixo.

 

Mas, para se detectar quanto de álcool um motorista possa ter ingerido, é preciso que ele seja examinado e para isso foram criadas as “blitz da lei seca”, uma ótima forma de verificar se a lei está sendo cumprida (e de reforçar os caixas municipais com a receita das multas aplicadas), onde os carros parados tinham seus motoristas ‘convidados’ a submeter-se a um exame, soprando uma ‘piteira’ conectada ao aparelho com sensor de gramatura alcoólica, popularmente conhecido como “bafômetro”.

 

Operação de fiscalização nas ruas de Belo Horizonte. Será que um dia veremos tanta eficiência bucando, por exemplo, drogas ilícitas?

 

Acontece que a legislação brasileira diz que nenhuma pessoa é obrigada a produzir prova contra si mesma de modo a incriminá-la. Com isso, os motoristas que se recusassem a fazer o teste nas ruas não poderiam – legalmente falando – ser acusados de estar descumprindo a lei e, mesmo com a apreensão do veículo e a detenção do motorista, estava havendo uma verdadeira enxurrada de ações contra o governo por parte dos ‘coagidos cidadãos’ que foram detidos sem prova.

 

Se o problema era a prova material, a mesma poderia ser substituída pela prova testemunhal e assim, o odor, a capacidade psicomotora da fala e do caminhar além mesmo de vídeos produzidos por telefones celulares passaram a ser aceitos como provas para incriminar estes perigosos motoristas que a televisão brasileira tratou de expor em seus telejornais com cenas dantescas de indivíduos que mal se aguentavam sobre as pernas, que mal conseguiam falar (Depois de terem bebido duas taças de vinho? Duas latas de cerveja? Duas tequilas?). Indivíduos que visivelmente excederam qualquer limite e que colocaram em risco suas vidas e a dos outros. Contudo, não posso deixar de perguntar: serão todos assim?

 

Um bom contra-argumento pode ser o que quem rouba é ladrão, não importa se roubou um real ou um milhão! Perfeito. Pergunto novamente: quantos ladrões que roubaram milhões estão presos no Brasil? Tem algum “mensaleiro” preso? O Paulo Maluf está preso? Os banqueiros que ‘quebraram’ e sumiram com as economias de milhares de brasileiros estão presos? Os políticos com processos julgados e condenados por corrupção ativa e/ou passiva estão presos?

 

As pessoas que decidem que a lei deve ser intolerante contra o cidadão comum são as mesmas que as burlam, corrompem e riem de você!

 

Mas como o Brasil é um país sério, um exemplo de moral e retidão a ser seguido, seu congresso nacional (deputados e senadores) votarão – e aprovarão – a medida provisória do governo Dilma Roussef que restringiu ainda mais o uso de álcool ao volante. Agora, quem acusar mais de 0,05 miligrama por litro (que é praticamente a margem de erro do aparelho de medição) será preso, será multado em quase dois mil reais e terá a habilitação suspensa. Em caso de reincidência, a multa dobra e a habilitação de motorista será cassada. O álcool, por menor que seja a quantidade tomou o lugar de grande vilão dos acidentes de trânsito do Brasil, que matou em 2012 mais de 40 mil pessoas. Agora, segundo as autoridades, é “tolerância zero”!

 

Para que o leitor tenha uma ideia do tamanho deste número, se somarmos todas as mortes no mesmo período (12 meses) de revolução na Síria, revolução e derrubada de Muamar Kadafi na Líbia, primavera árabe no Egito e conflito entre palestinos e judeus em Israel e na Cisjordânia não chegamos a este total absurdo de fatalidades nas ruas e estradas brasileiras. Aí eu pergunto novamente: estavam todos bêbados?

 

A malha viária brasileira está sucateada. Ande pelas estradas mineiras, em especial àquela que leva para o litoral capixaba que se terá uma dura mostra dos riscos que os motoristas brasileiros correm quando resolvem enfrentar uma viagem. Há um ano, voltando do carnaval, minha família viveu um drama – que ainda dura – por conta das más condições de nossas rodovias, apesar de pagarmos pesados impostos (metade do preço do litro de combustível no Brasil é imposto. Todos os anos pagamos o tal do IPVA – o do meu carro saiu por mais de mil reais este ano e eu não tenho nenhum carrão importado) que deveriam ser direcionados para a conservação e melhoria da malha viária do país... e onde será que este dinheiro vai parar? Mas é conveniente para as autoridades “encontrar outro culpado”.

 

Pagamos IPVA. Pagamos impostos imbutidos nos combustíveis e tudo o que deveria ser usado para cuidar de nossas estradas vai pra onde?

 

Em paralelo ao problema das nossas estradas temos os nossos veículos, desprovidos de freios ABS e a disco nas quatro rodas, além da ausência de air bags, itens estes considerados como ‘opcionais’, e cobrados – caros – à parte, além do extorsivo preço de um modelo ‘nacional’ (ou seja, produzido – montado – aqui no Brasil) em relação ao seu similar em outros países do mundo. A diferença, como não poderia deixar de ser, está majoritariamente na carga tributária. Pagamos caro por um produto inferior ao similar oferecido em outros países.

 

Como se não bastasse tudo isso, a formação dos motoristas brasileiros é simplesmente ridícula! Quantos dos leitores aqui tiveram teoria e prática de direção defensiva antes de receber suas habilitações? Eu não tive! Fiz um curso este ano depois do susto que tomei quando um carro que vinha na direção contrária na rodovia cruzou a pista e atingiu o meu e outros três veículos. Detalhe: o motorista não estava alcoolizado!

 

Mas eu sou a favor da “tolerância zero”... que ela seja ZERO contra os pilantras que habitam as casas legislativas deste país – em todas as esferas – que políticos corruptos, provadamente, condenados ou que renunciaram mandatos para ‘escapar’ de processos de cassação nunca mais possam militar na política nacional. Que a corrupção seja crime hediondo e inafiançável, que político e empresário ou banqueiro (corruptor e corrompido) vá para a prisão e tenha seus direitos políticos cassados.

 

A FIA está com uma campanha de segurança no trânsito em todo o mundo. Jean Todt veio aqui no Brasil... alguém mostrou a real pra ele?

 

Será que o Jean Todt quando veio ao Brasil para a festa de 50 anos da CBA e que mostrou o projeto da FIA sobre segurança no trânsito foi informado sobre como são nossos carros são desaparelhados, como nossos motoristas são formados e como o dinheiro que deveria custear a segurança em nossas estradas não é investido? Duvido!

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

 

Last Updated ( Sunday, 10 February 2013 22:08 )