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Barrichello, Massa e a exigência olímpica PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 27 August 2012 22:38

 

Dezessete medalhas: três de ouro, cinco de prata e nove de bronze. Esse foi o desempenho do Brasil na recém-encerrada 30ª edição dos Jogos Olímpicos, em Londres. Marca acima das 15 medalhas esperadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), porém abaixo da estimativa da Sports Illustrated. A revista norte-americana, que possui elevado número de acertos em suas previsões olímpicas, havia cravado 23 pódios para brasileiros na competição realizada na capital inglesa.

 

Satisfatório? Ruim? Bem, creio que há algo mais importante que qualquer estatística. Trata-se da necessidade de maiores investimentos a grande parte dos esportes olímpicos no Brasil. Urgente. E não apenas para aumentar as possibilidades nacionais de triunfos em Jogos vindouros; é necessário conceder uma estrutura que ajude na descoberta e desenvolvimento de jovens talentos. Sem esquecer, claro, de conceder maior reconhecimento àqueles atletas que já representam nosso país em grandes eventos. Reconhecimento financeiro, inclusive.

 

Mas o que isso tem a ver com automobilismo, tema de nossas colunas? Simples. Ao longo dos 16 dias de competições em Londres, cada vez que alguém falava sobre as debilidades estruturais do esporte brasileiro – fosse internauta em mídia social ou comentarista em qualquer veículo de comunicação, lembrava-me de uma situação que envolve a Felipe Massa e Rubens Barrichello. Não foram poucas as ocasiões em que me deparei com afirmações de internautas, inclusive comentários aos meus artigos, de que a Ferrari deveria dar mais apoio para a dupla nacional.

 

O típico “Ah, se eles tivessem mais chances...”.

 

Claro que não irei traçar comparativos entre nossos representantes das pistas e os atletas olímpicos. São cenários completamente distintos. Mas não vejo Rubinho e Felipe como injustiçados pela Ferrari. Ambos tiveram o espaço que mereceram.

 

 

Há quem possa queixar-se pelo fato da Ferrari geralmente concentrar boa parte de suas atenções a apenas um de seus pilotos. Diferente do histórico de McLaren ou Williams. No entanto, ninguém colocou um revólver na cabeça de Barrichello ou Massa e obrigou-os a assinar contrato com a equipe italiana. Ambos sabiam que não teriam muito espaço caso não mostrassem, no mínimo, capacidade de ser tão velozes quanto seus parceiros de time. E, para tristeza da nação, encararam pilotos extraordinários: Rubinho a Michael Schumacher; Felipe a Fernando Alonso.

 

Felipe, ao menos, teve um período em que pode equilibrar esse “jogo” contra companheiro de equipe: durante a passagem de Kimi Räikkönen pela Ferrari, entre 2007 e 2009. Nos últimos dois anos dessa parceria, aliás, era constantemente mais veloz que o finlandês. Contudo, não é absurdo algum afirmar que a grande chance não aproveitada pelo brasileiro foi em 2007.

 

À época, Kimi era apenas um estreante pela Ferrari, enquanto Felipe estava em sua terceira temporada pelo time italiano – uma foi como piloto de testes, em 2003. Já a McLaren, embora tivesse carros até mais competitivos que a Ferrari em algumas provas, vivia um momento conturbado. Fernando Alonso e Lewis Hamilton digladiavam-se dentro e fora das pistas. O time inglês não definiu seu número um e pagou caro por isso. Nas últimas sete corridas do ano, Räikkönen conquistou grandes resultados e ficou com o caneco.

 

 

Embora atrair grande parte das atenções de uma equipe seja algo importante em um esporte como a Fórmula-1, tal atitude nem sempre é sinônimo de vitória. É preciso que o piloto corresponda às expectativas. E que o time também faça sua parte. Vide o próprio Felipe Massa. Não fossem estratégias e deslizes inexplicáveis da equipe, o brasileiro poderia ter faturado o campeonato de 2008 até com dada tranquilidade.

 

O erro ferrarista mais marcante, sem dúvidas, ocorreu na etapa de Singapura. Durante um pit stop, um mecânico da Ferrari autorizou Massa, então líder da corrida, a sair dos boxes enquanto o reabastecimento ainda era efetuado. A mangueira injetora de combustível ficou presa ao carro do brasileiro, que precisou de nova parada para retirá-la. Felipe perdeu muito tempo e recebeu a quadriculada na 13ª posição. Detalhe é que um simples sétimo lugar naquele domingo seria suficiente para que Felipe, três corridas mais tarde, garantisse o título daquele campeonato.

 

Assim como Massa em 2008, Rubens Barrichello também foi vítima de asneiras da Ferrari. Asneiras colossais!

 

 

Duas das principais besteiras da equipe italiana com Rubens aconteceram nos Grandes Prêmios da Hungria de 2003 e da França de 2002. Aliás, ele sequer participou do segundo GP. Isso porque um mecânico ferrarista, instantes antes da largada, conseguiu a proeza de esquecer um cavalete preso ao carro do brasileiro.

 

Um ano depois, na Hungria, Rubinho abandonou após a suspensão traseira esquerda literalmente soltar-se de seu Ferrari. Em plena reta principal, a mais de 300 km/h. Simples assim! Como se o susto não fosse suficiente, um comunicado da Ferrari, emitido no dia seguinte à corrida, alegava que a quebra da peça fora causada pela condução agressiva do piloto. A “tese” foi tão mal recebida, sobretudo pela imprensa segmentada em automobilismo, que logo o time italiano soltou um mea culpa.

 

 

Alheio a qualquer constatação, é preciso reconhecer algo: se alcançar a Fórmula-1 já é algo para poucos, vencer 11 Grandes Prêmios não é para qualquer um. Definitivamente. Apenas 25 dos mais de 800 pilotos que passaram pela categoria venceram mais que Barrichello e Massa. Ou seja, a dupla brasileira acumula mais primeiros lugares que 97% de seus companheiros de labuta em 63 temporadas da Fórmula-1! Algo que evidencia a competência de ambos. E também suas dificuldades, pois correram pela Ferrari justamente ao lado de pilotos que faziam parte justamente dos três por cento mais vitoriosos.

 

Mesmo sem uma medalha de ouro – ou melhor, um título mundial, Rubens Barrichello e Felipe Massa sempre serão dois grandes nomes do automobilismo brasileiro.

 

Abraços,

 

Rafael Ligeiro