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Entrevista: Antônio Hermann PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 10 June 2012 17:16

 

 

Este paulistano de 58 anos, filho de um sociólogo com uma pedagoga teria, teoricamente, toda uma influência para enveredar por um projeto de vida acadêmico. Contudo, apenas de bem sucedido nos negócios e na vida, foi a paixão e um talento nato que trouxe Antônio Hermann para as pistas. Primeiro em duas rodas, posteriormente no kart (ele não confessou se levou ou não umas vassouradas da mãe como foi o caso de Emerson Fittipaldi), interrompeu a potencial carreira de piloto para dedicar-se aos estudos e fazer uma faculdade.

 

Formado em administração de empresas, casado (casou ainda estudante), acabou voltando às pistas em meados dos anos 80 com a categoria Superkart. A partir de então, sem ter mais o objetivo de tornar-se um piloto profissional, começou a construir uma sólida carreira como piloto nas categorias de turismo e gran turismo, dividindo seu tempo entre os cockpits e as mesas dos bancos onde trabalhou (foram 30 anos dedicados à esta área, tendo sido diretor e presidente de algumas importantes instituições financeiras do país).

 

Correu de Stock Car, mas foi nas categorias de gran turismo, em especial nas provas de lona duração. Antônio Hermann disputou – e venceu – corridas em alguns dos mais importantes circuitos do mundo (Spa-Francorchamps, Nurburgring, Sebring, Daytona, Le Mans, entre outros) e aqui no Brasil também.

 

Durante a etapa do GT Brasil em Curitiba, Antônio Hermann nos concedeu esta entrevista exclusiva e reveladora.

 

NdG: Como surgiu seu interesse e seu consequente envolvimento com o automobilismo?

 

 

Quando terminei o segundo grau, entre tentar continuar uma carreira de piloto e fazer uma faculdade, optei pela faculdade. 

 

Antônio Hermann: Eu comecei correndo de motos, depois fui para o kart, mas quando terminei o segundo grau eu precisava optar entre tentar a carreira como piloto ou fazer uma faculdade. Fui pra faculdade! Formei-me em administração de empresas, mas a paixão por corridas e velocidade nunca morreu. É uma coisa que quando nasce dentro da gente a gente pensa nisso o tempo todo. Eu acabei voltando a correr quando criaram a categoria Superkart e dali retomei minha vida nas pistas, de forma paralela ao meu trabalho como executivo de banco. Nesta época eu consegui um equilíbrio entre minhas atividades profissionais e minha paixão pela velocidade.

 

NdG: Não ficou uma “coisinha” dentro do senhor, aquela voz no subconsciente dizendo “poderia ter dado certo”... “você devia ter investido e se tornado um piloto profissional”?

 

Antônio Hermann: Eu posso dizer que isso aconteceu. Em 1997, quando vendemos o banco e eu assinei contrato com a Ferrari para correr o campeonato mundial de protótipos pela equipe oficial de fábrica. Meu companheiro de carro era o Andrea Montermini, que era piloto de testes dos carros de Fórmula 1. O carro era um carro espetacular, a Ferrari 333 SP era um carro muito bem projetado, muito “no chão” e naquele ano nós corremos 14 provas, com 11 colocações entre os 6 primeiros, tendo 5 vitórias. Foi sensacional. Mas assim como teve o lado bom, teve o lado ruim. Eu sofri um acidente grave no final da temporada e aquilo me fez repensar várias coisas. Ao final do ano eu desisti de manter uma carreira profissional e voltei a fazer corridas eventualmente, apenas como amador e como parte de um time em provas de longa duração. Corri um pouco de Porsche Cup... mas assim, só pra “matar a vontade”.

 

NdG: A SRO é uma empresa internacional, que promove eventos de automobilismo. Como se deu esta relação que o senhor estabeleceu com o Stephan Ratel?

 

Antônio Hermann: Nestas minhas andanças pela Europa fiz algumas boas amizades e uma delas foi o Stephan Ratel, o dono da SRO. Foi ele quem criou o conceito da categoria de gran turismo no formato que ela é hoje. Nós já havíamos trazido a categoria para o Brasil em meados dos anos 90, aqui mesmo para Curitiba e uma outra em Brasília, que contou com a participação do Nelson Piquet, correndo com uma McLaren. Eu também corri, como uma Ferrari F40. Inicialmente o conceito era conhecido co DPR e foi se aprimorando até chegar no formato atual que é o FIA GT. Conversamos muito sobre a possibilidade de expandir a proposta aqui para o Brasil e junto com o Walter Derani nós montamos a empresa aqui para estruturar o campeonato de gran turismo por aqui, algo que há 6 anos temos realizado com muito sucesso. Dentre as categorias deste seguimento, o nosso modelo de gran turismo foi, certamente, o mais bem sucedido.

 

NdG: Sim, mas no ano passado, foi anunciada a sua saída da organização da GT Brasil, que nem usava este nome. Muito se falou em muitos veículos de mídia, mas nenhum explicou o que realmente aconteceu. Ficamos sabendo da venda dos carros de sua equipe por nosso correspondente na Europa. O senhor se importaria de esclarecer o que ocorreu?

 

 

No ano passado estavam acontecendo coisas na gestão da categoria com as quais não concordava. Quando 'eles' saíram, eu voltei. 

 

Antônio Hermann: O que aconteceu foi o seguinte: nós estávamos nos dedicando muito à equipe, tudo estava correndo como desejávamos lá dentro, mas nós tínhamos uns parceiros no evento com os quais eu não concordava com o modelo de gestão proposto e desejado por eles e eu preferi me afastar. Na medida que esta parceria foi desfeita, para benefício da SRO e além de tudo do automobilismo, porque eu acho que o automobilismo tem que ser tratado com seriedade e por gente séria e isso não era características destas pessoas. Como eles se afastaram, o Walter [Derani] e o [Stephan] Ratel me pediram para voltar. Na verdade, eu nunca saí formalmente. Eu só tinha me afastado um pouco para cuidar de outros assuntos. Assim, retomamos o projeto como deve ser: com seriedade, com profissionalismo e com transparência, com o foco voltado para o que deve ser que é o automobilismo. Acredito que esta retomada, com a prova em Santa Cruz do Sul e agora em Curitiba mostram bem o que é a nossa filosofia de trabalho e a força da categoria.

 

NdG: Este processo provocou uma divisão na categoria, o que quase sempre é ruim, vide exemplos que temos como foi o caso da CART e da IRL nos Estados Unidos. Será que todos não sairão perdendo, de alguma forma, com esta divisão?

 

Antônio Hermann: Não há dúvidas que, para o automobilismo, uma cisão não é uma coisa boa. Infelizmente, quem deveria ter levado em consideração todo o desenrolar deste processo e não tomou nenhuma atitude, que seria a CBA, deixou tudo “ao Deus dará”, sem assumir uma posição, omitindo-se como costuma fazer em questões importantes e assim deixando certas pessoas livres para fazer o que bem querem. Mas o nosso evento está consolidado. Nós já tivemos aqui um aumento do grid e eu aposto com vocês que na próxima etapa teremos mais carros ainda. Tem gente que está voltando porque é tão óbvio a qualidade do evento que nós fazemos que não tem como comparar com a falta de seriedade de quem está tentando fazer outras coisas que é algo incontestável. Quem gosta e faz automobilismo a sério, vai correr conosco. O tempo vai mostrar quem faz a coisa do jeito certo.

 

NdG: Neste seu retorno ao comando da SRO no Brasil apareceu, em algumas fotos, a presença do Carlos Col, da VICAR em alguns momentos. Qual a ligação que estaria havendo entre a SRO e a VICAR em relação ao automobilismo no Brasil?

 

Antônio Hermann: O [Carlos] Col é meu amigo há muitos anos. Nós corremos juntos na Stock Car e ele é o principal promotor do automobilismo brasileiro há alguns anos. É uma pessoa séria, competente, extremamente profissional no que faz e que não faz automobilismo apenas por fazer para ganhar dinheiro. Ele foi piloto, ele ama automobilismo como eu. Pessoalmente eu tenho uma relação muito boa com ele, mas nós não temos nenhum projeto em conjunto. No ano passado nós chegamos a discutir a possibilidade de fazermos o GT Brasil juntamente com a Copa Petrobrás de Marcas, mas acabou não sendo possível. Nós temos o nosso caminho e ele e a VICAR tem o deles e torcemos pelo sucesso um do outro.

 

NdG: O senhor foi duro chamando a CBA de omissa com relação à organização do automobilismo no Brasil. Estaria o futuro do automobilismo brasileiro na dependência de uma “revolução empresarial” para que seja dado um salto de qualidade em termos de profissionalismo e organização?

 

 

Tem muito dirigente no automobilismo brasileiro que estão lá há anos, décadas, e pouco ou nada fazem para desenvolver o esporte. 

 

Antônio Hermann: Eu não tenho a menor dúvida quanto a isso. Para fazermos o automobilismo crescer aqui no Brasil temos que mudar o perfil daqueles que estão à frente, não apenas da CBA, mas também das federações estaduais para que o automobilismo se desenvolva. Nós estamos muito mal assistidos, muito mal dirigidos e o pior é não ver uma perspectiva de mudanças nesta gente que comanda o automobilismo no país. Os dirigentes que ocupam a grande maioria das federações e que elegem o presidente da CBA estão se perpetuando no cargo há anos e anos. Não tem como não questionar a capacidade de gerenciar, de planejar destas pessoas. Hoje existe automobilismo no Brasil por causa do [Carlos] Col, da Neusa [Felix], da nossa ação que vocês estão vendo. Esta gente que está lá, nas federações, não faz nada!

 

NdG: Agora não estaríamos nos colocamos diante de dicotomia? Como contrabalançar o pragmatismo da gestão empresarial com a paixão? É possível?

 

Antônio Hermann: Eu acho que o nós fazemos aqui na GT Brasil é um bom exemplo de que é possível conciliar, que é possível equilibrar essa “paixão” com a gestão séria e profissional. Para se fazer um evento caro e complexo como é um final de semana de automobilismo, um campeonato que dure toda uma temporada e que tenha continuidade nos anos seguintes, que atraia patrocinadores, que atraia pilotos, que atraia público, requer vontade, requer paixão, mas também requer planejamento e o automobilismo brasileiro vive hoje do nosso esforço, do nosso trabalho. De gente abnegada que viaja o país praticamente inteiro para fazer o automobilismo. Se fosse pra depender das federações estaduais e da CBA, a gente estava morto! 

 

NdG: A CBA terá eleições em 2013. Diante do atual empreendedorismo dos que hoje “fazem acontecer” o nosso automobilismo, não seria o caso de termos uma gestão mais profissional por parte dos dirigentes de federações e da CBA?

 

 

É claro que toda divisão é ruim, mas muitos dos que optaram "pelo lado de lá" já estão voltando. O grid vai aumentar a cada prova. 

 

Antônio Hermann: Isso seria uma revolução para o bem do esporte no país, mas com as pessoas que lá estão, que vivem para seus próprios interesses, que se perpetuam à frente dos cargos que ocupam há anos, ou mesmo há décadas, isso é algo praticamente impossível.

 

NdG: Não seria o caso de se dar vez e voto aos que realmente fazem o automobilismo acontecer, como os pilotos, chefes de equipe e promotores para que estes possam votar, diretamente, e escolher os dirigentes das federações e da CBA?

 

Antônio Hermann: Esta seria uma forma de se realmente mudar, mas o esquema que perpetuou esta mediocridade que vemos aí nunca vai permitir que algo do gênero aconteça. Quem elege o presidente da CBA são os presidentes de federações, que por sua vez são eleitos pelos clubes nos estados, dos quais eles fazem parte e votar por uma mudança de forma que eles corram o risco de deixar de deter o poder é algo que eles jamais farão. A única forma seria uma intervenção federal, mas alguns também tem ligações políticas e mudar isso, mesmo através de uma intervenção do governo, não seria algo simples.

 

NdG: Mas, no resto do mundo, não é assim? Federação nacional, presidente, eleito por presidentes estaduais...

 

Antônio Hermann: Não, não é assim.

 

NdG: E como é na Alemanha, na França, na Inglaterra?

 

 

Quando eu anunciei que sairia candidato à CBA, no lugar do Scaglione, na primeira prova, fui desclassificado. Perdi o campeonato. 

 

Antônio Hermann: Não vamos tão longe... tomemos o exemplo do automobilismo na Argentina, que é muito mais organizado que o nosso. Eles não tem os recursos que nós temos, estão passando por uma baita crise e o que nós vemos é um automobilismo comprometido. O Automóvel Clube da Argentina é atuante, existe a Associação Argentina de Volante, que tem uma gestão empresarial, eles tem muito mais autódromos do que nós aqui no Brasil, Lá eles tem eleições com os sócios como é na Alemanha e em outros países. Aqui no Brasil, você vai levar um evento para um estado o presidente da federação ao invés de te ligar para dizer que vai dar todo o apoio, para agradecer que levamos o evento pra lá, liga pra saber quanto é que nós vamos pagar de taxa pra eles... é um absurdo! Alguns anos atrás eu falei que iria me candidatar à sucessão do [Paulo] Scaglionne. Eu corria na Porsche Cup. Na primeira prova eu fui punido sob a alegação de ter queimado a largada. Eu não ganhei uma posição sequer, já viu disso, se queimar a largada e não obter vantagem? Eu perdi o campeonato por 1 ponto para o Lico [Kasemodel] daquele ano por conta dos pontos que me foram tirados naquela etapa. Eu espero que esta entrevista repercuta bastante e se sair do jeito que estou falando, pode ter certeza que vai ter gente nos caçando, me caçando, depois de ler. Só que eles não conseguem. São tão incompetentes que não sabem o que fazer... e eu não vou me calar enquanto estiver vendo as coisas erradas.

 

NdG: A GT Brasil é uma categoria fantástica. Vários dos melhores pilotos do país estão no grid. Alguns dos melhores carros produzidos no planeta acelerando, disputando freadas no final das retas... e as arquibancadas com tão pouco público! Isso não é um tanto quanto frustrante? O que pode ser feito para mudar isso, para atrair mais público?

 

Antônio Hermann: Olha, não tem sido nosso caso. Em Santa Cruz do Sul tivemos uma excelente presença de público, com cerca de 11 mil expectadores, e a expectativa para amanhã é muito boa também, apesar de que, Curitiba não é um lugar fácil de se trazer público (Nota NdG: o público no domingo foi de pouco mais de 7 mil pagantes, nas arquibancadas). No ano passado nós tivemos um público médio bem satisfatório. Agora, cabe ao promotor, ou seja, a nós mesmos, de buscar meios mais efetivos de divulgar o evento e tentar trazer cada vez mais público para o autódromo. O investimento para divulgação, jornais, rádios e principalmente televisão não é barato, mas o que temos aqui é um espetáculo de primeiro nível. É o mesmo espetáculo que é oferecido ao público na Europa. A nossa parte eu garanto que estamos fazendo.

 

NdG: O senhor ainda detém os direitos para realizar as Mil Milhas Brasileiras?

 

 

Eu tenho a intenção de voltar a organizar as Mil Milhas Brasileiras, mas existem pendências jurídicas que impedem a realização. 

 

Antônio Hermann: Sim, tenho. Na verdade as Mil Milhas estava nas mãos de uma quadrilha, de estelionatários de vários padrões, de advogados de estelionatários e eu enfrentei essa quadrilha, estou enfrentando ainda, judicialmente, e é por isso que a prova não pode ser realizada. Nossa justiça não é fácil, é lente, permite inúmeros recursos sem fim e nossa luta continua. Infelizmente tem muitos destes indivíduos que estão há algum tempo infiltrado no automobilismo é é muito difícil combater este tipo de pessoas, legalmente. São pessoas que não tem escrúpulos, que não tem o que perder... são bandidos mesmo! Este é o motivo pelo qual não podemos realizar esta prova que tem uma história à parte dentro da história do automobilismo brasileiro. Tem uma série de ações que estão em andamento, mas que ainda não permitem nem uma batalha judicial direta, com liminares e cassação das mesmas para realizar a prova que não venha a comprometer o planejamento da prova e das equipes.

 

NdG: Planos futuros para categoria: o que pensa o empresário Antônio Hermann para a GT Brasil para os próximos anos?

 

Antônio Hermann: Eu acho que a categoria está bem. Este ano demos um passo muito importante com a vinda da BMW como equipe oficial de fábrica e quero aproveitar para dar em primeira mão que, em 2013 nós deveremos ter mais duas equipes oficiais de fábrica, o que só vai elevar o nível de disputa da categoria. É coisa séria, é gente grande e que vai chegar aqui no Brasil com o pensamento de vitória. Além disso, estamos com um projeto de trazer o Augusto [Farfus] para correr na equipe BMW aqui no Brasil e viabilizarmos a ida do Cacá [Bueno] para disputar o DTM. Este ano não teve como viabilizar isso por conta das datas, mas para o ano que vem temos como tentar viabilizar isso. Vai ser bom para a categoria, vai ser bom para os pilotos e com a chegada de mais gente forte a coisa vai pegar fogo no ano que vem!

 

 

 

Last Updated ( Wednesday, 27 June 2012 18:33 )