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GP da Espanha de 1972 - A 1ª vitória rumo ao título PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 31 December 2011 00:14

 

 

Em 1972, quarenta anos atrás, a Fórmula 1 era bem diferente do que nos acostumamos a ver nos – pelo menos – últimos 20 anos. Entre a segunda prova da temporada (Kayalami, África do Sul, dia 4 de março) e a terceira (Jarama, Espanha, 1º de maio) aconteceram três corridas extracampeonato (A corrida dos Campeões, em Brands Hatch, dia 19 de março, o 1º GP do Brasil, no dia 30, e o BRDC International Trophy, dia 23 de abril, em Silverstone). 

 

Jarama era um circuito a cerca de 28 quilômetros ao norte de Madrid, às margens da estrada que segue para a cidade de burgos. Muito curto para os padrões da F1 atual, com seus 3.404 metros, muito sinuoso e estreito, as ultrapassagens eram algo deveras complicado. Antes da prova, o circuito passou por reformas, onde 4 curvas foram alargadas, mesmo assim, todos os pilotos sabiam que teriam dificuldades. 

 

Depois de um abandono devido a uma quebra na suspensão na prova de abertura, na Argentina, Emerson Fittipaldi conquistou seu primeiro pódio na temporada com o segundo lugar em Kayalami. Das três provas extracampeonato, venceu duas... e só não venceu as três porque, novamente, teve um problema de suspensão que frustrou a torcida que superlotava Interlagos.  

 

 

Emerson, em Silverstone, durante a prova extracampeonato do BRDC. Uma vitória com autoridade, mas o carro tinha problemas. 

 

A equipe sabia que a suspensão era o “calcanhar de Aquiles” do Lotus 72-D e que, mesmo tendo vencido as provas na Inglaterra, o carro carecia de confiabilidade. Com perguntas a serem ainda respondidas, a equipe e todo o circo seguiram para a Espanha, onde seria disputada a 3ª etapa do campeonato, o 18º GP disputado naquele país e que naquele ano ocorreria no feriado do dia do trabalho... uma segunda-feira! 

 

Pra quem acha que essas coisas que acontecem em algumas equipes com “predileção explícita” por um dos pilotos do time é coisa de tempos recentes, naquela época isso já existia: A Lotus tinha três carros, mas um acidente em uma das provas extracampeonato sofrido pelo 2º piloto da equipe, David Walker, uma semana antes deixou o australiano a pé na sexta-feira, ficando Emerson com os dois carros para treinar e decidir qual utilizar nos dias seguintes.  

 

No carro que venceu em Brands Hatch Emerson deu 15 voltas, mas achou que o carro saia muito de traseira. Depois de ajustes nas suspensões, primeiro na traseira e depois na dianteira, mas o tempo não vinha. Emerson trocou para o carro mais novo, mas com os ajustes da suspensão testadas no outro carro. Contudo, foi a colocação de um jogo de borrachas na suspensão dianteira para ela não trabalhar no modo progressivo e a regulagem da barra de torção acabaram surtindo um resultado muito melhor que o esperado. A traseira ficou mais “no chão”, tornando as saídas de curva melhores. O carro melhorou como um todo e o resultado disso foi o terceiro tempo, com 1m20,8s, contudo, Dennis Hulme havia virado 1m19,3s. era 1,5 segundos mais rápido. 

 

 

José Carlos Pace faria sua segunda corrida pelo campeonato, mas foi um dos prejudicados, sem poder treinar na sexta-feira. 

 

Se as coisas pareciam complicadas para Emerson, estavam muito pior para Wilson Fittipaldi Jr. e José Carlos Pace, que não foram para pista por conta dos embaraços na alfândega espanhola: eles chegaram na pista, seus carros, não! O sábado seria de trabalho dobrado para os outros dois brasileiros inscritos para a prova. 

 

Emerson e a equipe decidiram correr com o carro que vencera em Silverstone, deixando o de Brands Hatch para David Walker. Contudo, uma inspeção nos discos de freio encontrou trincas nos mesmos. Os técnicos do fabricante recomendaram um aquecimento progressivo nas duas primeiras voltas, mas numa corrida, isso é extremamente complicado. Depois de dada a largada, não dá para ficar “amaciando” freios, eles tem que estar prontos para tudo, especialmente em Jarama, um circuito de muitas curvas e freadas fortes. 

 

Os mecânicos prederam boa parte da manhã substituindo três dos quatro sistemas de freio e com os cuidados do fabricante, Emerson foi para a pista. No final da manhã, até que não estava tão ruim assim: a pista havia piorado um pouco e o segundo tempo, com 1m21,2s, meio segundo atrás de Jackie Stewart não era um mal resultado. Entre todos os pneus testados, Emerson e a equipe decidiu usar os mesmo tipo usado em Silverstone, apesar das características das duas pistas serem completamente diferentes. No treino da tarde, Emerson ficou com o melhor tempo, com 1m20,0s. 

 

 

Ronnie Peterson, o vicecampeão do ano anterior, não vinha conseguindo repetir os bons resultados de 71, mesmo de carro novo. 

 

No domingo o tempo virou. Céu nublado e com cara de chuva. No início dos treinos, com o carro pesado, Emerson virou na casa de 1m22s, mas com o passar do dia, a pista mais emborrachada e as condições de treino para valer, o brasileiro virou 1m19,26s. Um belo tempo, mas Jack Ickx, usando pneus especiais desenvolvidos pela Firestone (fornecedora da Ferrari. A Lotus usava Goodyear) conseguiu andar abaixo de 1m19, marcando 1m18,43s. Denny Hulme conseguiu a segunda posição, com 1m19,18s, deixando para Emerson a última posição da primeira fila, pelo lado direito (a largada era no sistema 3-2-3-2), com Stewart e Andretti na 2ª fila. Wilsinho Fittipaldi largaria em 14º, na 6ª fila, com 1m20,83s e José Carlos Pace em 16º, uma fila atrás, com 1m21 cravados. 

 

Emerson bem que tentou usar os “pneus especiais” da Goodyear para tentar baixar seu tempo, mas um estranho problema de motor o fez abortar a tentativa. No meio da volta, um dos cilindros parou de funcionar e, ao chegar nos boxes, os mecânicos viram que a vela estava coberta de alumínio derretido! Até eles descobrirem o que tinha ocasionado aquilo ia levar tempo e neste caso, era melhor encontrar o problema para que nada assim acontecesse durante a corrida.  

 

 

David Walker ficou apenas assistindo no primeiro dia de treino, mas isso não foi motivo para ele ser 3,5s mais lento que Emerson.

 

Junto com o feriado – segunda-feira, 1º de maio – veio a chuva! Choveu praticamente a manhã inteira na região do circuito. Não era uma chuva forte, hora parecia mais uma garoa, mas o suficiente para deixar todos preocupados. Pouco depois das 10 horas (a largada estava marcada para o meio-dia) a água parou de cair. O sol, timidamente, ameaçou sair em alguns momentos, mas muitos pontos da pista permaneciam molhados e todos os pilotos foram para o Warm Up para fazer experimentos com os pneus intermediários e os de pista seca, para decidir com qual tipo de composto largariam. 

 

Havia três tipos de pneus (o de chuva, o slick e um intermediário). Como a pista começou a secar, o grid parecia dividido entre os que escolheram os pneus para pista seca e os que escolheram os intermediários, que nada se parecem com os intermediários de hoje, que não agüentam andar com pista seca. Emerson e a Lotus optaram pelo pneu de pista seca depois que parara de chover após às 11 horas.  

 

A largada vista por dois ângulos diferentes:de frente, antes da bandeirada, e em seguida, com os carros já em movimento.

 

 

Quando os boxes foram abertos, 30 minutos antes da largada, os pilotos poderiam dar até três voltas antes de tomar suas posições no grid. Emerson foi um dos primeiros a sair... e a voltar para os boxes! Durante a 1ª volta, o brasileiro sentiu seu macacão ficando molhado... e depois as costas começaram a arder. Emerson entrou nos boxes e nem esperou o carro parar para soltar os cintos e levantar.

 

Foi constatado um vazamento de combustível no tanque extra de combustível. Este tanque, coma capacidade de 10 litros, ficava entre os dois tanques maiores. Peter Warr fez as contas: dá pra chegar, mas vai ser no limite! Com outro macacão e com o cockpit seco, Emerson se instalava enquanto Colin Chapman o instruía a economizar combustível nas 10 últimas voltas, não antes.  

 

 

Denny Hulme, que liderava o campeonato, pulou na ponta, mas não conseguiu manter a liderança por muito tempo. 

 

Emerson foi para a pista e alinhou seu carro na primeira fila. A largada seria dada por um Conde Espanhol (quase igual aos dias de hoje, né?), que passava de carro em carro avisando como seria o “procedimento de largada”. A mesma, segundo o nobre, seria dada a qualquer momento após a sinalização de 30 segundos!?!?  

 

Antes de erguer a bandeira por completo o tal do Conde baixou-a, dando a largada. Os carros deviam estar com os motores acima dos 8.000 giros, com a 1ª marcha engrenada. Denny Hulme, que largava “no meio”, largou bem. Jack Ickx patinou e abriu um espaço onde passaram Stewart e Regazzoni – aproveitando a má largada de Mario Andretti – avançaram. Emerson, com uma parte da pista mais úmida, precisou aliviar quando engrenou a segunda e o carro ameaçou rodar. O brasileiro contornou a primeira curva em 5º lugar, atrás de Hulme, Stewart, Regazzoni e Ickx. 

 

 

Jack Ickx e a Ferrari apostaram na chuva que caiu durante toda a manhã e largaram com pneus intermediários... erraram! 

 

Ao contrário da “pseudofama” de paciente e cerebral, aquele piloto que induzia seus adversários a erros e quebras, em Jarama o que o público viu foi um Emerson feroz, partindo pra cima de seus adversários. Talvez furioso por conta da ultrapassagem de Regazzoni na primeira curva, quando o suíço da Ferrari meteu duas rodas na grama e quase jogou a Lotus para fora da pista. 

 

Na segunda volta, Ickx ultrapassa Regazzoni e Stewart começa a pressionar Hulme. Emerson se aproxima de Regazzoni e prepara o “bote”. O melhor ponto de ultrapassagem é na freada da curva que antecede a reta dos boxes. Depois de duas voltas, com os carros passando no asfalto a pista vai ficando mais aderente e na segunda volta, Emerson dá o troco em Regazzoni, assumindo a 4ª posição, apesar do susto por conta do disparo do extintor de CO2 para combate a incêndio. 

 

 

Jackie Stewart tomou a ponta na 5ª volta. O vencedor da etapa de abertura do campeonato tinha um carro muito acertado. 

 

Na 5ª volta a corrida passou a ter um novo líder, com o campeão do ano anterior, Jackie Stewart, superando outro campeão, Denny Hulme, enquanto Emerson encurtava a distância para Jack Ickx para protagonizar, na volta seguinte, um daqueles momentos mágicos que o nosso gênio era capaz de conquistar. 

 

Com a traseira “no chão”, Emerson conseguia sair forte da curva que antecedia à reta antes da reta do boxes e com Ickx usando pneus intermediários, a Ferrari 312 B2 perdia muito naquele trecho, mesmo assim, o belga era rápido... rápido o suficiente para forçar Hulme e induzir este a um pequeno erro, mas o suficiente para que ele tomasse a 2ª posição. O que Ickx não contava era com o ataque de Emerson, que praticamente de um golpe só saiu da 4ª para 2ª posição. 

 

O duelo pela liderança entre Stewart e Emerson: bastaram três voltas para que o brasileiro desferisse o ataque e tomasse a ponta.

 

 

O líder não estava longe, e Emerson Fittipaldi não demorou para conseguir encostar no escocês que logo procurava a Lotus preta em seu retrovisor. Bastaram três voltas para que Emerson conseguisse fazer a reta no vácuo da Tyrrel de Stewart e tomasse a liderança, fazendo as várias bandeiras brasileiras serem agitadas pelo público que compareceu ao autódromo. 

 

A partir daí Emerson tratou de procurar abrir distância para os demais pilotos. Quando Ickx conseguiu superar Stewart na 15ª volta, a distância para o segundo colocado já estava na casa dos 5 segundos. Emerson continuava abrindo, chegando aos 7 segundos na trigésima volta... mas ainda faltavam 2/3 da corrida, e a garoa voltava a cair no circuito. 

 

 

Muitos brasileiro se fizeram presentes no autódromo espanhol. Boa parte deles, vindo de Portugal. Lisboa está a 650 km dali. 

 

Não demorou muito mais que uma volta e meia para que os 7 segundos de vantagem desaparecer. Agora era Ickx, com os pneus intermediários que levava vantagem sobre os slicks que equipavam o Lotus 72D. Emerson precisou de muito sangue frio e de sua habilidade e precisão para não errar e não dar chances ao belga da Ferrari, que chegou a tentar até mesmo uma ultrapassagem por fora em uma das curvas, sem sucesso. 

 

Nestas horas é que campeão que se preza, tem que ter sorte... a garoa parou, a pista voltou a secar e Emerson voltou a virar mais rápido que Jack Ickx, que por sua vez, abria dos demais concorrentes, com Stewart ainda em terceiro, Denny Hulme em 4º e Clay Regazzoni em 5º. 

 

 

Wilsinho Fittipaldi Jr. fez uma boa corrida, ganhando diversas posições, andando na frente de carros mais modernos que o seu. 

 

Nos que vinham atrás, destaque para o jovem François Cevert, que largou em 12º com a outra Tyrrel e chegava ao “top 5” quando Denny Hulme encostou a McLaren devido a um problema de câmbio. Dos outros Brasileiros, Wilsinho Fittipaldi também avançava, já ocupando a 8ª posição, seguido de José Carlos Pace, que deu um show na pista úmida, superara seu companheiro – Henry Pescarolo – e se aproximava da Brabham do amigo. Pouco depois da metade da prova. A distância entre Emerson e Ickx voltava aos 7 segundos e aumentava devagar a cada volta. 

 

Na 69ª volta, Stewart passa reto na curva Bugatti, bate no guard rail e fura o radiador. O escocês ainda conseguiu voltar aos boxes, mas o abandono era inevitável. A prova entrava em sua parte final e Pace, que superara Wilsinho na volta 56, entrava na zona de pontos com um March 711 recalchutado e pintado pela equipe de Frank Williams. 

 

 

José Carlos Pace fez uma excelente corrida, especialmente quando a chuva caiu durante a prova. No final, terminou em 6º. 

 

Faltando 15 voltas para o final da prova, a diferença entre Emerson Fittipaldi e Jack Ickx estava na casa dos 22 segundos quando a placa foi mostrada para o líder, dando o claro recado que era hora de começar a economizar gasolina... afinal, não dava para esquecer que o Lotus tinha 10 litros a menos. 

 

As voltas finais foram um jogo de xadrez, com Emerson economizando como podia e sem também dar margens a um ataque final por conta da diminuição do ‘train’ de corrida. A Ferrari ia se aproximando, mas muito devagar enquanto guiava “com um olho na pista e o outro na pressão da bomba de combustível. Passando as marchas no tempo certo e sempre observando o ponteiro. 

 

 Após 90 voltas e pouco mais de duas horas de corrida, Emerson Fittipaldi conquistava sua 2ª vitória no mundial de F1, a 1ª em 72.

 

 

No final, tudo deu certo, o combustível foi o suficiente, e Emerson Fittipaldi voltava a vencer GP de Fórmula 1 válido para o campeonato mundial da categoria. Com o resultado, o brasileiro alcançava Denny Hulme na pontuação do campeonato, com ambos empatados na liderança com 15 pontos. Jackie Stewart era o terceiro no campeonato com 9 pontos e dali a Fórmula 1 seguiria para Mônaco.

 

Um "detalhe" que poderia passar desapercebido: o companheiro de Emerson Fittipaldi, David Walker, que largou na 24ª posição com um tempo 3,5 segundos pior que o do brasileiro fez uma boa corrida de recuperação, chegando a ocupar 7ª posição nas voltas finais da prova abandonou faltando três voltas para o final... com falta de gasolina! Alguma dúvida de que Emerson realmente fazia a diferença?

 

 

Fontes: Revista Quatro Rodas; Revista Autoesporte; Revista Manchete; Jornal Folha de São Paulo; Agência Estado. 

 

Last Updated ( Saturday, 31 December 2011 01:37 )