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A receita de uma tragédia PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 03 November 2011 08:57

 

 

A receita de uma tragédia. A história conta – e já contou esta história várias vezes – que um acidente não é fruto de uma infelicidade ou mesmo um fator isolado. É preciso haver uma combinação de fatos e/ou circunstâncias. Este é o "Princípio de Gruyere", também conhecido como “a teoria das fatias de queijo”: caso os buracos das fatias se alinhem, está feita a condição propícia para que o desastre aconteça.

 

Na segunda metade dos anos 90, Tony George e os diretores da Cart (empresa que decidia os destinos da Fórmula Indy) chegaram ao cume de uma discussão que já durava algum tempo: George, tinha sob seu controle o templo maior da categoria, o Indianápolis Motor Speedway e queria estabelecer um controle maior sobre o evento que sediava – as 500 milhas – e que fazia parte do campeonato da Cart.

 

Naquela altura, a categoria contava com alguns grandes pilotos não americanos, já tinha tido nos seus cockpits ases como Emerson Fittipaldi e até mesmo o folclórico – e rapidíssimo – Nigel Mansell além das lendas locais como os Unsers e Andrettis. A Fórmula Indy era um sucesso. Corria fora dos EUA, indo para o Japão, para a Austrália e vindo para o Brasil. Seu sucesso incomodava até mesmo a poderosa NASCAR. 

 

A intransigência de Tony George e a falta de paciência dos que conduziam a Cart levou a um rompimento que foi péssimo para todos. Até hoje a categoria não recuperou o ‘status quo’ que possuía antes da cisão. Todos saíram perdendo e nenhuma das categorias conseguiu manter o sucesso que tinham juntas e, mesmo depois de voltarem a correr juntas, ainda não conseguiram reaver o espaço perdido.

 

A Indy sempre foi palco de alguns grandes acidentes no passado, especialmente em ovais. De todos, os “super speedways” sempre foram os mais arriscados. Impossível não lembrar das primeiras corrida no oval de Fontana, na Califórnia, com os carros andando em bloco e em filas triplas. Foi lá, em 1999 que o canadense Greg Moore, um jovem e promissor piloto, faleceu depois de um toque que o fez sair da pista, deslizar na grama e chocar-se contra um muro interno a mais de 320 km/h.

 

 

Os multiplos acidentes nos super ovais, envolvendo diversos carros e quase sempre com vítimas fatais faz parte do histórico da Indy.

 

Indianápolis – o único superspeedway remanescente no calendário da Indy – foi palco de alguns acidentes, no passado, semelhantes ao que ocorreu em Las Vegas, no encerramento da temporada de 2011. Um destes acidentes, inclusive, foi o pivô para que fossem feitas mudanças no regulamento da categoria em que até o combustível foi alterado.

 

Quem viu pela televisão a transmissão da corrida (apenas limitada aos canais por assinatura) deve ter ficado apavorado com o que viu. Diante de tanta centelha, de tanto fogo, de tando carro despedaçado, ter “apenas” uma vítima fatal pode ser considerado uma grande sorte para pilotos, equipes e organizadores.

 

Na NASCAR, acidentes deste tipo são relativamente comuns... tem até o nome de “big one”, alusão a teoria da explosão que criou o universo. O problema de um acidente no “estilo NASCAR” para os monopostos de fabricação da Dallara (ou fosse de quem fosse na categoria que fosse) é um enorme risco potencial de morte. Afinal, mesmo com toda a estrutura dos cockpits e a existência do ‘Santo Antônio’, a cabeça do piloto continua exposta.

 

 

A categoria criou regras, mudou combustível, procurou encontrar caminhos... mas se as tragédias se repetem, o erro continua lá! 

 

A pista escolhida para o final da temporada foi o oval de 1,5 milhas de Las Vegas. Um pista onde as curvas extremamente inclinadas eram mais afeitas às provas dos carros da NASCAR do que as dos monopostos da Indy.

 

Não bastasse o “departamento de mídia” da categoria ter escolhido a pista de Las Vegas, a cidade mais ‘festeira’ dos Estados Unidos, decidiram criar um “atrativo extra” para o fechamento do campeonato: querendo mostrar que os ‘melhores pilotos do mundo’ (sic) eram os pilotos da categoria, a Indy ofereceu um prêmio de 5 milhões de dólares caso um piloto de outra categoria vencesse a prova.

 

Pra começar a conversa, nenhum piloto de Fórmula 1 iria disputar uma prova num oval. Se eles fizessem esta “prova do tira a prova” em Watkins Gleen e deixasse um piloto da categoria treinar duas semanas num carro da Ganassi ou da Penske, eles teriam que ‘abrir a carteira’ depois da bandeirada. Fazendo a corrida num oval, quem eles iriam atrair? Aposentados e pilotos da NASCAR.

 

 

O oval de Fontana, na Califórnia, protagonizava corridas perigosíssimas... em 1999, o canadense Greg Moore perdeu a vida ali.  

 

Até o Mario Andretti, com seus 71 anos de idade, apareceu como candidato. Da NASCAR, quem mais falou no assunto foi Kasey Kahne... mas o seu chefe de equipe, Rick Hendrick,  tratou de brecar os planos do piloto da Red Bull em se expor aos riscos de uma prova como aquela.

 

Em 2006 o Las Vegas Motor Speedway sofreu uma reforma onde as curvas tiveram sua inclinação aumentada para 20º, aumentando significativamente a velocidade dos carros. Os pesados carros da NASCAR passaram a atingir mais de 300 Km/h de média por volta. Em 2007 houve uma tentativa da Indy em se correr neste oval, mas os pilotos reclamaram de vertigens durante os treinos e a prova foi cancelada.

 

 

Curvas inclinadas, carros andando juntos, 34 carros numa pista de 1,5 milhas... os pilotos estavam temerosos... e com razão. 

 

Para a super etapa final, além colocar os carros numa pista em que eles virariam com uma média de velocidade semelhante àquela alcançada em Indianápolis, mesmo com 1 milha a menos de comprimento... mas com o mesmo número de carros! Na verdade, um carro a mais. Seriam 34 carros largando, andando em bloco.

 

Após a tragédia, começaram a pipocar “reveladoras conversas” que os pilotos teriam tido com amigos que estão fora da categoria ou mesmo com colegas de outras equipes. Desconforto, preocupação, receio... estas foram palavras comuns para diversos pilotos que alinharam para a largada daquela corrida.

 

 

Dan Wheldon decola para a morte a mais de 300 Km/h. Por mais forte que possa ser o carro da Indy, o piloto foi atingido na cabeça. 

 

Com todos estes ingreidientes, a chance de nada de mais grave acontecer era mínima. Tudo apontava no sentido oposto. Não foi preciso esperar muito... na 12ª volta, no contorno da curva 2, James Hinchcliffe (Newman/Haas), ocupava a 8ª posição quando recebeu um toque em sua roda traseira esquerda de Wade Cunningham (AFS/Sam Schmidt). O encontro fez Cunningham perder o controle e comprometer as trajetórias de quem vinha em seu encalço: JR Hildebrand, número 4, da Panther, Jay Howard (carro 15) e Danica Patrick, Andretti.

 

O primeiro choque se dá, entre Cunningham e Hildebrand. Os carros ‘descem na curva e atingem a lateral dianteira do carro de Howard. Danica Patrick conseguiu escapar do enrosco ‘por baixo’, enquanto ‘por cima’ Townsend Bell, da Dreyer & Reinbold, tentava desviar do bolo... sem sucesso. Bell acaba abalroado e levado ao muro externo. Mais sorte – ou competência – tiveram os pilotos da Ganassi: tanto Scott Dixon como o campeão Dario Franchitti, conseguiram passam sem nenhuma avaria do primeiro enrosco. Contudo, vinha mais... e quem vinha depois deles era o brasileiro Vitor Meira, da Foyt. 

 

 

Após os impactos, a prova cabal de que "faltou alguma coisa". O 'Santo Antônio' foi arrancado com o impacto que o carro sofreu.

 

Na tentativa de evitar o choque, Vitor freia forte, e dá início a segunda sequência de batidas. Desgovernado, o carro 14 é acertado por Charlie Kimball, da Ganassi ‘B’, número 83. A colisão ainda envolve Ernesto Viso, número 58 da KV e Tomas Scheckter (carro 57 da Sarah Fisher). Paul Tracy, correndo pela Dragon também bate.  

 

A imagem seguinte mostrou mais uma sequência de choques importantes. Na parte de baixo da curva, o início da decolagem de Wheldon, e – na parte de cima – Pippa Mann atinge em cheio os carros de Thomas Scheckter e Paul Tracy (e também levanta voo). Mais atrás, dois carros se aproximam, na ordem Alex Lloyd (claro) e Will Power.  O piloto da Penske colide com o inglês da Dale Coyne número 19 e também decola. Na faixa central, Vitor Meira é acertado por Budd Rice, que vinha nas últimas posições. 

 

 

Campeão na Fórmula Indy e na Fórmula 1, Mario Andretti afirmou que o acidente que vitimou Dan Wheldon foi "azar"... só ele viu isso! 

 

Will Power, Pipa Mann e Thownsend Bell poderiam ter facilmente encontrado a morte, assim como JR Hildebrand. Ter uma perda  - Dan Wheldon – mascarou em muito as reais circunstâncias daquele acidente. Além disso, por mais forte que sejam os carros da categoria, ficou claro que para as velocidades em que aconteceram as colisões, a mesma tem sua eficiência seriamente questionada. O carro do inglês teve o ‘Santo Antônio’ arrancado. A lesão na cabeça foi grave o suficiente para ceifar-lhe a vida.

 

Assim como sempre, não faltou gente para dar palpite: Max ‘chicotinho’ Mosley veio com a defesa do uso de cockpits fechados para os monopostos. Foram, inclusive, feitos alguns testes com coberturas recentemente. O que pouca gente lembra é que os “F1 carenados”, o mundial de protótipos foram boicotados pelo mesmo mosley no início de sua gestão à frente da FIA.

 

 

Até o ex presidente da FIA, relegado ao ostracismo, Max Mosley, aproveitou para dar o seu 'pitaco' sobre o ocorrido.  

 

O todo empolado Randy Bernard, que costuma punir e “por em observação” defendeu o circuito de Vegas, dizendo que o mesmo era seguro (deviam amarrar esse cara num carro e rodar com ele a 350 por hora, cercado por destroços e chamas). Contudo, pior foi um piloto com a história de Mario Andretti dizer que “foi azar”.

 

Agora que fizeram diversas homenagens, batizaram o carro que o próprio Dan Wheldon veio testando no segundo semestre deste ano com seu nome e todos deram seus sentidos depoimentos, é chegada a hora dos donos da categoria tomarem as devidas providências para que fatos como o ocorrido em Las Vegas não voltem a acontecer. Nem as tragédias de pista, nem a inconsequência dos donos da categoria em fazer corridas onde as vidas dos pilotos estão num nível de risco muito acima do aceitável.

 

 

O arrogante 'Diretor Manda Chuva' da categoria não sabia o que dizer após o ocorrido. sua cara de assustado diz tudo: a Indy errou! 

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

Last Updated ( Tuesday, 15 November 2011 16:24 )