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Vai pagar quanto? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 09 September 2011 19:45

 

Quando eu era criança e sonhava em ser piloto de fórmula 1, nem podia imaginar que, caso eu chegasse lá (o que não aconteceu), ouviria uma pergunta qualquer, mas que, no fundo, estaria dizendo exatamente isso: vai pagar quanto? 

 

Por mais irritante, degradan-te, odiosa ou outro adjetivo, seja esta pergunta, o mundo das corridas funciona assim faz tempo... muito tempo. Nos anos 70, Wilsinho Fittipaldi era um piloto pagante na equipe Brabham. O piloto tinha que correr atrás, com o pires na mão, de patrocinadores e dinheiro para manter-se no carro. Havia até uma equipe, a BRM, que alinhava quatro, cinco, seis carros por prova. Era só pagar, sentar e guiar! 

 

A diferença entre o que acontecia naquela época para o que acontece hoje está no “número de zeros”. Com os estratosféricos custos de uma equipe para poder participar da elite do esporte a motor, mesmo com todos os planos mirabolantes para reduzir os custos que vez por outra aparecem.  

 

Diante da necessidade das equipes se capitalizarem para pagar os custos da automação, da informatização, dos materiais caríssimos, da tecnologia de ponta, todas necessárias para se fazer um trabalho de constante desenvolvimento, a busca por pilotos “bons de bolso” tornou-se mais importante do que a busca pelos “bons de braço”. 

 

 

Bruno Senna. Depois de um ano torturante na Hispania e uma "reserva" na Renault, a chance veio, com sorte e dinheiro! 

 

É claro que ninguém chega à elite do automobilismo apenas com o poder financeiro, por mais que falem mal de pilotos como Pedro Paulo Diniz, Hector Rebaque, Johnny Dunfries e outros, nenhum piloto consegue sair do kart para uma categoria “top” sendo chamado “braço duro” ou “pé de breque” por onde quer que passe.  

 

Tudo que falei até agora foi apenas para entrar no assunto que aflige muitos dos amantes do automobilismo aqui no Brasil: o futuro sem pilotos brasileiros nas categorias máximas do automobilismo. 

 

Evidentemente que o mundo não vai acabar por isso, nem as corridas de automóvel.  Como tudo na vida, coisas vem e vão... e no automobilismo não é e nem vai ser diferente. No final dos anos 60 a pequena Nova Zelândia tinha três grandes pilotos no grid da Fórmula 1, e um deles – Denny Hulme – campeão do mundo. Chris Amon e Bruce McLaren, o criador da equipe McLaren eram alguns dos pilotos de primeira linha que formavam no grid e além outros que disputaram algumas provas. 

 

 

Na antiga equipe de Senna, os indianos continuam colocando dinheiro, mas acabam sendo preteridos por quem paga mais. 

 

Durante os anos 70 e 80, o grid era repleto de pilotos franceses e italianos eram a maioria dos inscritos para o campeonato. Em 1979, por exemplo, haviam oito franceses e seis italianos. Neste tempo os neozelandeses já eram uma memória, hoje ainda mais distantes. No grid atual, os franceses estão ausentes e apenas um representante italiano alinha para largar. Quem está “em alta” hoje é a Alemanha, com seis pilotos (em 79 eram apenas dois). 

 

A nossa vizinha, Argentina, berço de um dos maiores de todos os tempos – para muitos o maior – Juan Manuel Fangio, assim como a pequena Nova Zelândia, há muito não tem um piloto sequer lutando com chances de chegar à Fórmula 1... e o automobilismo de lá sobrevive. Na verdade, vive com os autódromos cheios, com grandes disputas e “dando de ombros” para Europa e Estados Unidos, principalmente. 

 

Aqui no Brasil vivemos um momento que, desde a chegada de Emerson Fittipaldi em 1970 ao “círculo dos grandes”, muitos jamais imaginavam que iria acontecer: existe o risco, o sério risco, de que, em um curto prazo, não tenhamos mais pilotos brasileiros alinhando no grid da Fórmula 1. 

 

 

Depois de vencer a Fórmula 3 italiana, correndo na Renault World Series, vem sofrendo com resultados e falta de recursos. 

 

Depois de quase 20 anos, mais de 300 corridas, dois vice campeonatos, diversas frustrações e um sem-número de sapos enfiados por sua goela abaixo, Rubens Barrichello pode estar fazendo sua última temporada na categoria este ano. A Williams não tem dado sinais no sentido de uma renovação do contrato do brasileiro, que recebe salário.  

 

O companheiro de equipe – o Venezuelano Pastor Maldonado – levou 20 milhões de libras para a equipe apenas este ano. O contrato é de 5 anos com um incremento de 5% ao ano no montante investido pela PDVSA, a estatal do petróleo de seu país. Foi tanto dinheiro que ele tirou o emprego um alemão! E não era qualquer um, Nico Hulkenberg derrotou Maldonado na GP2 com extrema categoria e até facilidade. Ganhou no braço, mas perdeu no bolso. 

 

A avidez das equipes em busca de pilotos com patrocinadores endinheirados não atinge apenas as equipes “nanicas” como a Hispania e a Marussia. Nestas duas tivemos dois brasileiros recentemente sendo preteridos por outros pilotos que apresentaram um budget maior. Narain Karthikeyan, indiano, tomou o lugar de Senna e Jerome D’Ambrosio o de Lucas di Grassi.  

 

 

Com um "pacote" mais interessante para a equipe, o belga Jerome D'ambrosio acabou tomando o lugar de Di Grassi na Marussia. 

 

No caso de Di Grassi, sabe-se as cifras: por 5 milhões de dólares o suíço levou a vaga. Na Hispania sabe-se que houve dinheiro, mas não se sabe o quanto. Bruno Senna e sua assessoria afirmaram diversas vezes que “ele não estava na equipe como piloto pagante”. Caso seja verdade, “perdeu a vaga por 10 centavos”! A empresa que o patrocina, a Embratel, tem como grande acionista o mexicano Carlos Slim, dono da Telmex, da Claro e de diversas outras empresas. Com um garoto propaganda com o sobrenome “Senna”, seria uma “insennidade” não usar todo o potencial do piloto e histórico familiar. 

 

Por falar em família, para quem o falecido tio e piloto alavancou da condição de muito ricos para multimilionários, será que não dava para “fazer um empréstimo” para o garoto? Sentado no carro certo, a carreira poderia decolar e o retorno de um Senna andando na ponta seria imenso para ele, como piloto e para os negócios familiares. Será que só eu pensei isso até hoje? 

 

 

Com um orçamento restrito e sem equipe, Lucas Di Grassi ainda conseguiu ficar como piloto da Pirelli para testar os pneus da F1.

 

Bruno Senna começou 2011 como um dos diversos “figurantes”, também chamados de pilotos de testes (que são proibidos ao longo da temporada) ou de pilotos reservas. Na Renault são quatro... e quando Robert Kubica sofreu o grave acidente no Rally de Andorra, nenhum deles foi promovido: foram buscar um piloto experiente: Nick Heidfield. 

 

Só que o alemão deixou a desejar e uma oportunidade apareceu. Apareceu uma oportunidade para Bruno Senna e uma oportunidade para um empresário associar seu nome ao dele – se der certo, os frutos serão fartos – e em termos de “olhar adiante”, ninguém melhor que o “senhor X”, o megaempresário Eike Batista, que vai associar as marcas de suas empresas ao nome do piloto brasileiro. Finalmente apareceu um! Mas será que só tem ele? Onde estão os outros? 

 

 

Com apoio do governo e uma montanha de dinheiro, Pastor Maldonado conseguiu um lugar na equipe de Frank Williams. 

 

Para ajudar, ainda temos a figura de Bernie Ecclestone, sempre buscando abrir novos mercados para o seu lucrativo negócio. Porque não um piloto indiano, um russo, um malaio, um mexicano, um coreano... Levar a Fórmula 1 a um país que nunca teve um piloto sem que haja um “ídolo local” para torcer pode ser um mal negócio. A Turquia está aí para provar. O circuito é muito bom... mas é o caos para chegar nele. Além disso, sem um representante local, torcer pra quem? Porque? O resultado são as arquibancadas vazias e foi a  Turquia quem perdeu o GP no calendário de 2012! 

 

A GP2, categoria criada para ser a “divisão de acesso” de pilotos à F1 produziu ótimos pilotos, já tem até campeão do mundo (Lewis Hamilton), mas de uns tempos para cá, ganhar não é tão importante quanto o que possa vir por trás. A maior prova disso é o mexicano Sergio Perez. Bom piloto, rápido, vice do Maldonado... e quem com 12 milhões de dólares da Telmex “comprou” uma vaga na equipe de Peter Sauber, que correu 2010 com o carro todo branco! 

 

 

Abrindo uma nova fronteira - e com uma mala de dinheiro com influências governamentais - Vitaly Petrov tem um lugar na Renault. 

 

Antes dele, Vitaly Petrov, com 15 milhões, conseguiu a vaga de segundo piloto da Renault para ser companheiro de Robert Kubica, uma situação bem menos complicada do que a vivida por Nelsinho Piquet e Romain Grosjean, este último, com possibilidades caso se confirme a impossibilidade de Kubica voltar em 2012. 

 

Vamos fazer um resumo: Para correr numa carroça de uma “equipe nanica”, custa a bagatela de 5 milhões de dólares, como pagou o Jerome D’Ambrosio na Marussia e como devem ter levado algo em torno disso os pilotos da Hispania, um deles, inclusive, já perdeu o lugar. O Indiano Narain Karthikeyan, que “substituiu” o compatriota Chandhok, já teve sua vaga “rifada” para a Red Bull ir “dando ritmo de corrida” para seu novo prodígio: Daniel Ricciardo. No ano passado, os espanhóis também “negociaram” algumas corridas para outros pilotos, hora tirando Bruno Senna, hora, Karun Chandhok. 

 

 

Luiz Razia é piloto de testes da Lotus de Tony Fernandes e titular na GP2. Para dar o passo seguinte, vai ter que investir. 

 

Para andar numa equipe média, o “cachê” é maior... Para uma Sauber, 12 milhões, como pagou o Carlos Slim para seu apadrinhado Sergio Perez. Se a equipe consegue marcar mais pontos, mais caro fica. Uma Renault custa 15 milhões como vem custando para Vitaly Petrov. Também tem aqueles que não entendem do negócio e vão colocando o dinheiro – que não sai do seu bolso – em qualquer lugar, só por conta do nome. Foi nessa barca furada que o Hugo Chavez embarcou o “orgulho bolivariano”, Pastor Maldonado, ao custo de 20 milhões de libras por mês na decadente Williams. 

 

Se para andar numa equipe menor custa isso tudo, quanto custaria numa equipe grande? O amigo leitor não vai acreditar, mas entre os pilotos pagantes da F1, o maior pagante é o primeiro piloto da Ferrari: Fernando Alonso! 

 

 

Desde o início da sua carreira, Fernando Alonso foi um piloto com muito suporte financeiro. Este suporte só aumenta. 

 

O espanhol tem, por trás de si, o incondicional apoio do Banco Santander. Para que se tenha uma idéia, nos dois primeiros anos de contrato do Banco com a Ferrari, o valor do “pacote” foi de nada menos que 120 milhões de Euros. Ou seja, 40 milhões por ano, até 2012. Só que os interesses em jogo são tão grandes que, ainda em 2011, a Ferrari já renovou o contrato... por mais quatro anos, até 2016. Nos anos entre 2013 e 2016 o montante que sairá do banco espanhol para a “Casa di Maranello” será de 240 milhões de Euros, ou seja, 60 milhões por ano. Perguntinha hipócrita: eles iriam enterrar essa fortuna se o Alonso não estivesse lá? Ou na equipe do Alguersuari? 

 

Isso nos leva de volta ao ponto levantado no início do texto: vamos ter pilotos na F1 daqui há alguns anos? A resposta passa pelos bolsos dos donos das empresas no Brasil, pelas empresas estatais, para os grandes investidores.  

 

Bruno Senna e Lucas Di Grassi estão prontos, só precisam de um carro decente para mostrar do que são capazes. Bruno parece ter conseguido, falta o Lucas. O baiano Luiz Razia tem oscilado na GP2, mas tem a mesma condição de piloto reserva que os dois primeiros. Nas outras categorias de acesso, depois de vencer na F3 Italiana, o gaucho Cesar Ramos vem sofrendo com a primeira temporada na World Series by Renault... que pode nem terminar, visto que o dinheiro para continuar na pista praticamente acabou, deixando-o numa “pane seca financeira”.  

 

 

O mais jovem postulante ao "olimpo" do automobilismo - Felipe Nasr - tem um caminho mais longo... e cada vez mais dispendioso. 

 

Um degrau abaixo, na Inglaterra, Felipe Nasr vem sendo o nome da temporada da F3 e conquistou título com seis corridas de antecedência. A disputa para 2012 entre os dois pilotos não será no cronômetro, mas no tamanho do pacote de dinheiro que cada um deles poderá entregar para o time. 

  

São cinco nomes, cinco pilotos, todos tecnicamente capazes de poder sentar em qualquer carro de qualquer equipe. Legítimos sucessores de Rubens Barrichello e posteriormente Felipe Massa, que ainda tem idade e capacidade para manter-se na categoria mesmo depois que for “trocado por um piloto de futuro” ao final de 2012 como a diretoria da Ferrari já acenou. Vai ter até “vestibular”... só que um dos “candidatos” já corre com motor Ferrari, tem numa das marcas de seu patrocinador a cor vermelha (como o Santander)... acho que já ficou bem “claro” o que deve acontecer, não? 

 

Ou nossos bravos volantes conseguem tocar a alma – e os bolsos – nos donos do dinheiro aqui no Brasil, ou quando o circo vier (enquanto vier) para Interlagos, vamos torcer para os outros e ficar apenas na lembrança e nas homenagens antes das largadas. 

 

Abracos, 

 

Mauricio Paiva

 

 

 

Last Updated ( Friday, 09 September 2011 22:52 )