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Assim não pode! Assim não dá! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 08 August 2011 20:23

 

 

 

Quando o sociólogo Fernando Henrique Cardoso foi eleito Presidente da república, uma de suas primeiras declarações me deixou chocado: “Esqueçam tudo que eu escrevi!” Para alguém que ganhou a vida fazendo palestras sobre suas idéias, aquilo beirava o absurdo. Outra foi uma frase que ele repetiu à exaustão, ao ponto da mesma virar clichê do programa humorístico “Casseta & Planeta”. Aquele pândego: “Assim não pode, assim não dá!” pode ser muito bem aplicado ao que anda acontecendo no combalido automobilismo nacional.

 

No mês passado, durante a etapa conjunta do chamado “Brasileiro de Marcas” (nenhuma marca é brasileira e os carros tem motores Berta) e da esvaziada Fórmula 3 sulamericana realizada em Interlagos, nosso querido e perfumado chefinho foi dar uma prestigiada nos eventos, fazer entrevistas, contatos, coletar material para abastecer o site e permitir que os diletantes colaboradores possam escrever seus artigos, etc.

 

Durante os treinos da Copa Petrobras de Marcas, no sábado, armado com sua poderosa câmera, lá foi a chefia fazer umas fotos da “chicane do milhão”, por onde deverão / deveriam (sei lá) passar os carros antes de chegar à famigerada curva do café, acusada e julgada culpada pelas mortes de pilotos que sequer tocaram seu muro ou mesmo eram “pilotos de verdade”.

 

 

Foto do dia 16 de julho, com a chicane recém preparada. Testada pelos pilotos do "Marcas", foi rejeitada solenemente. 

 

As fotos tiradas no local não deixam a menor dúvida de que a “barbeiragem” que fizeram no local seria cômica, se não fosse trágica.

 

A tragédia começa pelo custo da obra: A administração do autódromo – que é da SPTuris, órgão da prefeitura paulistana – informou que o serviço custou 100 mil reais... e olha que o grosso da obra foi um recapeamento, uma vez que já havia uma chicane “mal e porcamente feita” no local, para uma corrida de motocicletas anos atrás e que nunca foi usada por carros.

 

 

O pessoal do Blog "Sport View" conseguiu esta foto acima: está mais que explicado o porque do apelido "murinho"! 

 

Segundo pesquisa junto ao nosso ímpio DNIT, Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte, o custo estimado para projetos de pavimentação e recapeamento é de R$ 36.667,00 por Km (ou R$ 36,67 por metro pavimentado). Como a nossa chicane tem – se muito – 100 metros de comprimento, o custo da obra foi de mil reais por cada metro.

 

Levemos em conta que trata-se de um asfalto especial, capaz de resistir as exigências de carros de corrida passando em alta velocidade, “esmerilhando o asfalto” com suas derrapagens controladas e que isso tenha um custo muito maior que um simples asfalto, mesmo que tal processo custasse 20 vezes mais que um “reles asfaltamento”, nem assim chegaríamos as cifras apresentadas.

 

 

No blog do Victor Martins foram publicadas estas 2 fotos onde se vê o trabalho para se tentar "transformar 'aquilo' em chicane".

 

  

Depois de um “mea culpa” – sem desculpas – e uma série de explicações pra lá de esfarrapadas – de que colocaram o “gabarito” ao contrário, de que fizeram a obra na madrugada, sem ninguém estar vendo, etc – os (ir)responsáveis afirmaram que a obra seria refeita, desta vez com supervisão e com o “gabarito” no lado correto... e tudo isso sem custo!

 

Não sei se o cidadão paulistano é trouxa o suficiente pra engolir uma dessas. Aqui em Minas nós não somos e “custo zero uma ova!” Todos os cidadãos, gostem ou não de automobilismo, de alguma forma, irão pagar esta fatura através dos seus impostos. Isso sem entrar na questão do custo exorbitante!

 

 

Chicane para ser respeitada tem que ser alta, caso contrário, tudo vira pista. Rubinho, em Monza, mostra como a de lá é alta. 

 

Analisando as fotos que o chefe tirou, e mais algumas que consegui na internet (Blogs Sportview e Victal, obrigado) dá pra ver o “tamanho do trem” que quiseram empurrar para cima dos pilotos. Um toque mal calculado numa “guia de meio de rua” destas e o carro sairá desgovernado no sentido oposto... isso se não quebrar a roda e/ou a suspensão.

 

Em circuitos onde os organizadores de corrida e seus proprietários quiseram reduzir a velocidade com o uso de chicanes, muitos deles com chicanes bem altas com as de Monza. Contudo, nenhuma com o “design” das construídas em São Paulo, quiçá sugestão do EX (e já foi tarde) coordenador técnico do autódromo, Sr. Artemis de Oliveira, que parece não saber bem a diferença entre uma praça de esportes para velocidade e uma rodovia.

 

 

Com reclamações ou não, com "censura" ou não, a chicane está lá e foi usada. Será que só eu achei estranho o "discurso dos pilotos?"  

 

Os pilotos, por sua vez, certamente vão reclamar do que quer que seja feito para acertar, remediar, remendar ou o que seja na tal “chicane no milhão”. Mesmo que fique com o tal do “murinho” mais arredondado como as novas partes em cimento estão mostrando. Como todo piloto tem um “Q de primadona”, nada mais normal do que achar defeito em alguma coisa. Duro foi o absurdo que aconteceu naquele sábado dos treinos ninguém falou nada pelos rádios.

 

Do que eu estou falando? Olhem atentamente a foto: quando foi fazer as fotos da polêmica chicane o chefe flagrou uma cena simplesmente inacreditável: o treino da Copa Petrobras de Marcas foi reiniciado e no posto nº17 – onde começa o trecho da “bandeira amarela obrigatória”, que vai (ou ia) até o posto nº19 – o bombeiro (não podemos afirmar se profissional da corporação militar ou não) estava tranquilamente SENTADO NO MURO DE CONCRETO, balançando as pernas, enquanto os carros subiam a junção com os pilotos de pé cravado.

 

 

Essa é para ser eleita "o absurdo do ano". Se isso acontece em Interlagos, o que será que acontece nas outras pistas do país?  

 

Imaginemos, apenas imaginemos, uma falha mecânica. Uma quebra de caixa de direção, por exemplo ou um pneu furado. Desgovernado, o carro guina para a direita e atinge o tal bombeiro... olha o tamanho da encrenca para a VICAR, para a CBA, para a FASP, para o piloto (e isso para não falar do bombeiro, que seria a maior de todas as vítimas, apesar de não poder estar ali como estava).

 

Como não fazemos parte da “turma dos incendiários”, o chefe tratou de procurar a direção de prova na torre de controle para mostrar o ocorrido, prevenir contra uma repetição do fato (o bombeiro saiu da mureta depois de passar o 4º carro subindo a junção), mas ali havia um fiscal de pista, um bandeirinha, com comunicação por rádio com a torre de controle e que estava ciente que o treino havia começado, que viu de sua posição os carros na parte do miolo e que “não viu” o bombeiro ali, sentadinho no muro? Não somos fofoqueiros, contudo, não podemos deixar de mostrar o ocorrido e nem de, lamentavelmente, expor mais esta mazela.

 

 

Octávio Guazzelli: Há pouco mais de um ano como administrador de Interlagos, vem recebendo críticas cada vez mais constantes. 

 

Aliás, mazelas não faltaram. Vimos um Interlagos com ares de abandono. Durante a prova do campeonato paulista, flagramos a barreira de pneus na descida do “S” do Senna com a proteção – o borrachão – da mesma semidestruído e largado na grama. Estavam em andamento uma etapa do regional, uma do de uma competição nacional e uma de uma competição continental. No dia seguinte ia ter televisão transmitindo...

 

Como se não bastasse, os pilotos da F3 Sudam trataram de avisar sobre o “grand canyon”. E lá estava: no contorno da primeira perna do “S” do Senna uma verdadeira “fenda” que, segundo os garotos, dava pra encaixar o pé dentro dela! A gente não está falando de nenhuma pistinha pra carrinhos de rolimã... estamos falando de Interlagos, a “casa da F1”. Em 11 matérias da série “O Raio X dos Nossos Autódromos”, nenhuma das pistas visitadas, por mais precário que estivesse, apresentou um problema no asfalto do tamanho do que se viu na pista de Interlagos.

 

 

Sendo Interlagos a mais importante praça do país, cenas como esta, da barreira de pneus, jamais poderiam acontecer. 

 

Não foi apenas o autódromo que recebeu um evento de grande monta naquele final de semana. No kartódromo, acontecia a disputa do Campeonato Brasileiro de Kart... e os problemas também apareceram por lá. Felizmente – para todos – nada de grave aconteceu, mas todos os ingredientes para uma tragédia estiveram presentes, ou melhor, ausentes!

 

Não havia policiamento, não haviam bombeiros, os extintores portáteis de combate a incêndio foram apontados como insuficientes e a equipe privada de seguranças no local, tida como insuficiente.

 

 

A enorme fenda no "S" do Senna mostra que algo vai mal na gestão do autódromo. Nem as pistas menores tem uma dessas! 

 

Em primeiro lugar, se haviam todas estas deficiências na parte de segurança, como é que a Federação de Automobilismo do Estado de São Paulo, o Conselho Nacional de Kart e a própria Confederação Brasileira de Automobilismo permitiram a realização do campeonato? Não precisamos ir muito longe para recordar do campeonato disputado em Goiânia, em 2009, quando a confusão se instaurou e o presidente da FAUGO chamou a polícia (que entrou no paddock com “toda a delicadeza do mundo”).

 

Não bastasse isso, a reforma do kartódromo, exigida pela CBA para a realização do campeonato, que custou a bagatela de oitocentos e quarenta mil reais, derrubou a torre de controle existente... e não fez outra (por incrível que pareça, não puderam: Uma liminar na justiça impediu a obra!). Mas o pior mesmo é o caso do asfalto. Orçado em 500 mil reais, também não pode ser feito devido a tal de liminar.

 

 

Se alguém for capaz de encontrar ONDE foram gastos mais de 800 mil reais na reforma do kartódromo de Interlagos, agradeço. 

 

Expliquemos (se possível for): como o kartódromo é arrendado para uma empresa que explora o bom filão do “kart indoor”, ali, no caso, “outdoor”, estaria criando problemas para que sejam feitas as obras na parte que mais interessa – ao menos para o pilotos – que é a pista. Se os kartistas por diversão não se incomodam com um asfalto ruim, com lavadeiras desgastadas e quebradas, com buracos, para eles não é problema. Mas para quem investe mais de 20 mil por mês para ser competitivo no “kart made in Brazil” e tem que treinar numa pista de “karting cross” é outra estória.

 

E no melhor estilo “o mundo perfeito de Poliana”, antes que eu me esqueça, o “homem-que-ri”, estava lá, distribuindo sorrisos como quase sempre o faz e enaltecendo os números alcançados pelo certame, com mais de 200 inscritos, criação de novos certames... e organizando uma festa cujo o custo entre local da mesma, hospedagem de convidados e estrutura para a mesma certamente vai ultrapassar 1 milhão de reais! Mas, afinal, “se eu acho que tudo está bem, então tudo está bem”, Diria Poliana.

 

 

Um jubileu de ouro - claro - é uma a data a ser muito comemorada. Mas a que custo? e outra: Será que temos o que comemorar? 

 

Um final de semana na maior praça de esportes a motor do país e um sem número de coisas simplesmente inacreditáveis e/ou inaceitáveis aconteceram diante dos que realmente fazem o automobilismo deste país: os pilotos, preparadores, mecânicos, chefes de equipe... Numa hora como esta, é impossível não repetir as palavras do nosso expresidente: “Assim não pode! Assim não dá!”

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva  

 

 

Last Updated ( Tuesday, 16 August 2011 19:55 )