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Written by Administrator   
Sunday, 05 June 2011 06:54

 

 

Vou-me embora pra Pasár-gada

Lá sou amigo do Rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei
(….) 

 

Os versos do poeta pernam-bucano Manuel Bandeira podem parecer estranhos ao moderno meio das corridas de automóvel, especialmente no século XXI, com tanta tecnologia embarcada e tão distante dos calmos (aos olhos de hoje) anos do início do século XX. Contudo, se formos analisar bem o que diz o poema, veremos que domingo após domingo, corrida após corrida, o mundo real dos nossos pilotos é bem diferente do que “especulam” nossos narradores e comentaristas. Parecem que eles veem um outra coisa, ou estão em outro lugar. 

 

A situação não limita-se apenas à Fórmula 1 e seu ufanista narrador, mas o seu antecessor e que – por mais que ele negue, deve ter sido uma referência e inspiração – e que, atualmente, anda tropeçando nas narrações da Fórmula Indy, também padece do mesmo mal. 

 

É fato – infelizmente – que há algum tempo os nossos pilotos nas principais categorias de monopostos do planeta tem sido apenas coadjuvantes. Alguns ainda alcançam um ou outro momento de brilho, numa corrida isolada, ou numa disputa pessoal contra algum adversário, mas as vitórias, o hino nacional, o favoritismo à conquista de títulos... estas andam cada vez mais distantes, em um outro plano, talvez em um lugar como descreveu o poeta. 

 

 

Tony e Helio: O campeão de 2004 e o tricampeão das 500 milhas vivem hoje uma difícil condição, com poucas chances de vencer. 

 

Durante as primeiras corridas do ano, o tricampeão de Indianápolis, Helio Castro Neves, andou tão envolvido em acidentes que acabou sendo advertido pela direção da categoria e “sofrendo uma brincadeira” por parte de um dos concorrentes, que ostentou em seu carro, durante a etapa brasileira da Indy, um cartaz com os carros das “vítimas” do brasileiro nas três primeiras corridas de 2011. Entre estas vítimas, o seu companheiro de equipe e então líder do campeonato, Will Power. 

 

Na prova do Anhembi, mais uma vez, Helinho esteve envolvido em um acidente logo no início, dando adeus a qualquer chance sequer de pódio na prova... e nem em Indianápolis, que é quase uma casa para ele, as coisas vem dando certo ultimamente. Tanto em 2010 quanto em 2011, o piloto e sua Penske não tiveram condições de lutar pela vitória. 

 

 

Os comissários da Indy colocaram Helio Castro Neves sob observação pelos acidentes nas primeiras etapas... e os pilotos idem! 

 

Coadjuvância – se é que existe esta palavra – que tem sido a tônica dos anos de Vitor Meira. Em momento algum destes anos nos Estados Unidos o brasileiro conseguiu “sentar” em um carro que viesse a proporcionar-lhe uma chance real de vencer sequer uma corrida. Atualmente correndo para A.J. Foyt, não seria surpresa, caso os Andretti “descolassem” mais meio milhão, se o lugar de Vitor Meira fosse “rifado” como foi o do segundo carro da equipe, classificado para as 500 Milhas por Bruno Junqueira... e que foi ocupado na prova – de forma apagada, bom salientar – por Ryan Hunter-Reay (o famoso Hi Hunter). A “rifa”, diga-se de passagem, não foi a primeira: Bruno já passou pela mesma situação em Indianápolis anteriormente. 

 

E depois de penar para conseguir um patrocínio que financiasse toda uma temporada na categoria máxima dos EUA, a brasileira Bia Figueiredo – que meu chefe chama de prodígio – contemporânea do grande perdedor das 500 milhas, o “Hildebrando”, na Indy Lights, vem tomando... ops (antes que eu enfie as rodas na grama ou vá parar numa caixa de brita gramatical, melhor refazer a frase) andando atrás das suas colegas – Danica Patrick e Simona Di Silvestro (também conhecida como Simone ou Silvana de Silvestre) – de lápis e batom... mas ainda assim ela “vem que vem”, nas narrações entusiastas. 

 

 

Vitor Meria... se alguém arranjasse 500 mil, teria ele corrido? Bia Figueiredo... até o momento andando atrás das adversárias. 

 

Na Indy, quem ainda tem conseguido algum “spotlight” sobre si este ano é o bom baiano Tony Kanaan. Dispensado da equipe Andretti, pelo menos para este, o brasileiro tem dado o troco – na pista – da desfeita sofrida e depois de quase ficar de fora da temporada de 2011, vem fazendo corridas consistentes, até andando perto da ponta como foi em Indianápolis... Mas para quem viu a corrida, mesmo quando estava em segundo lugar na corrida, era evidente que o carro que liderava era mais rápido... abrindo distância volta após volta, curva após curva e que só “uma daquelas coisas que só acontecem em Indianápolis” permitiria Tony Kanaan tomar a ponta.  

 

Se na Fórmula Indy, onde temos mantido uma certa constância de vitórias nos últimos 20 anos (sim... este ano completaremos 20 anos do último título conquistado na F1), na categoria mais destacada e cobiçada do mundo, estamos na “seca” desde o tricampeonato de Ayrton Senna. Pior que isso, depois de sua trágica morte, os nossos pilotos sempre passaram por uma condição de coadjuvantes... quando não de subalternos! 

 

 

O inferno na vida de Rubens Barrichello: No GP da Austria de 2002, obrigado a ceder a vitória para o "dono" da equipe, Schumacher. 

 

Ao longo destas duas décadas, apenas dois pilotos conseguiram alguma perenidade e desenvolver uma carreira na magna categoria: Rubens Barrichello e Felipe Massa. Em comum, ambos foram grandes vencedores nas categorias de acesso. Observados e cobiçados pelos observadores chefes de equipe na Fórmula 1, logo conseguiram um carro para correr... ou quase isso.   

 

“Quase” porque um carro de uma equipe média – como a Jordan ou a Sauber – pode ser pior do que correr numa Hispania ou Marrusia. Nestas, todos sabem que o piloto nada pode fazer diante da defasagem técnica que teve, talvez, seu ápice no último GP de Mônaco, quando os carros da equipe espanhola foram mais lentos que os líderes da categoria de acesso, a GP2.

 

 

Após melhorar o carro do ano passado e trabalhar duro todo o inverno, Barrichello não anda nada satisfeito com o carro de 2011. 

 

 

Numa equipe média, o piloto tem que mostrar que pode fazer o carro andar perto ou entre os mais rápidos, tem um “companheiro” de equipe com a mesma missão e todos os olhos voltados para si.   

 

Barrichello teve sobre si a fatalidade da morte de Ayrton Senna e o país inteiro apontando para ele dizendo: você é o sucessor. Você é o cara. Acelera Rubinho! E Rubinho acelerou... acelerou tudo que pode... até chegar à mais forte equipe da categoria: a Ferrari. Ali viveu seu calvário. Uma agonizante subserviência sob o cetro do Kaiser (ou Fürher) Michael Schumacher. Mas se estar ali era um purgatório, onde mais estar? Barrichello tinha o 2º melhor carro do grid. Os adversários não tinham equipamento para derrotar as “Macchinas di Maranello”. A verdade, contudo, é que Rubens nunca teve uma chance real de ser campeão na Ferrari.  

 

A chance veio na Brawn, com o surpreendente carro que dominou a primeira parte da temporada de 2009... mas com Jenson Button consolidando a vantagem sobre Rubens e sobre os demais que, ao final do ano, garantiu-lhe o título. Barrichello nem vice (que seria o terceiro vice) conseguiu ser, diante do avanço da Red Bull no segundo semestre e perdeu a maior chance que teve na vida de ser campeão do mundo na F1. 

 

 

Na Austrália, em 2011: Muito do que foi estudado nos testes da pretemporada estava fora do regulamento. Foi como partir do zero. 

 

Hoje o decano, com 19 temporadas nas costas – mas uma aparente motivação de estreante – tenta fazer andar uma Williams que sofre com a falta de verba, com problemas internos e com um malfadado projeto. Será que Barrichello terá mais um ano de paciência e perseverança para continuar nas pistas em 2011? Por dinheiro ele não precisa, por vontade, se há pouco tempo ninguém duvidaria, hoje ninguém – talvez nem mesmo ele – é tão convicto.   

 

Felipe Massa também trilhou um caminho de glórias até chegar à F1... e passou apertos mesmo antes da cobrança total de uma grande equipe, tendo sido dispensado da Sauber e passando um ano como piloto de testes da Ferrari, equipe que apostou no brasileiro desde seus tempos de F3000 européia. Massa voltou – pelas mãos da Ferrari, que fornecia os motores – à Sauber e lá ficou até assumir o lugar de Barrichello na Ferrari. 

 

 

Felipe Massa: Se a vida nunca foi fácil na F1 e nem na ferrari, ficou muito pior com a chegada do espanhol Fernando Alonso. 

 

Diferente de seu antecessor, Felipe fez de Schumacher seu professor, sua referência, assumindo-se como um discípulo e não um adversário. Conquistou seu lugar ao lado do “dono” da equipe e no coração da “massa rossa”. Depois da retirada do ídolo, Felipe viu seu novo companheiro de equipe sagrar-se campeão logo no ano em que chegou. Sem deixar-se abater, reagiu no ano seguinte e quase conquistou o título. Contudo, o pior estaria por vir. 

 

Com um enorme suporte financeiro, chegava à equipe Fernando Alonso, depois de turbulenta passagem pela McLaren e com sua fama de “nada companheiro de seus companheiros de equipe”. E não demorou muito para que o espanhol mostrasse do que era capaz dentro da equipe... colocando o carro de lado e atacando Felipe Massa no caminho dos pits no GP da China. Mas o pior ainda estaria por vir, quando de forma descarada a equipe assumiu o favorecimento à Fernando Alonso e deu – indiretamente – a ordem para que Felipe Massa o deixasse passar e seguisse para a vitória. 

 

 

Déjà vu 1? Em 2010, duas Ferraris, um piloto brasileiro e uma ordem de equipe... uma cena que esperavamos não ver jamais. 

 

Apontados como culpados diretos, os pneus eram o problema: Felipe não conseguia aquecê-los. Para este ano, segundo os “amigos da imprensa”, tudo iria mudar. Os testes pré-temporada mostravam um Felipe competitivo, “capaz de bater Alonso”... e nas primeiras provas até que o torcedor brasileiro pode alimentar alguma esperança, com Felipe Massa fazendo grandes largadas e contornando a primeira volta à frente da Ferrari do “dono” da equipe. Contudo, o passado voltou a “assombrar” os brasileiros do time vermelho.  

 

Inexplicavelmente os pit stops do brasileiro passaram a ser mais lentos, algumas vezes desastrosos, como se fossem feitos pelos borracheiros de posto de gasolina qualquer da cidade de Maranello. O pior de tudo que é praticamente uma repetição do que vimos durante anos de panes secas, problemas hidráulicos, pits desastrosos com Rubens Barrichello. O balanço disso tudo é: passados cerca de um terço do campeonato (até o GP de Mônaco), Fernando Alonso tem praticamente o triplo dos pontos de Felipe Massa... que continua sem conseguir aquecer os pneus! 

 

 

Déjà vu 2? Ferrari de Felipe Massa nos boxes... e a equipe sempre se atrapalha, fazendo o brasileiro perder mais tempo que os outros. 

 

A grande diferença entre as duas realidades que nossos pilotos viveram e – no caso de Massa – está vivendo é que os carros de Maranello não são mais os melhores carros do grid. Isso dá ao brasileiro a chance de tentar um caminho diferente e ter ainda chances melhores do que as que teve até hoje, ainda mais agora, que o espanhol teve o contrato renovado até o ano de 2016 e seja quem for o ocupante do outro carro da equipe, terá que se contentar em ser seu escudeiro. É claro que Passárgada também é uma opção. Afinal, lá somos todos amigos do Rei!

 

Abraços, 

 

Mauricio Paiva

 

Last Updated ( Wednesday, 15 June 2011 05:10 )