Seis meses depois de escrever sobre este (ridículo) assunto, sou obrigado a voltar ao tema uma vez que o piloto aposentado em atividade, Felipe Massa, resolveu incorporar o personagem de Miguel de Cervantes – D. Quixote de La Mancha – e partiu em luta contra o moinho de vento.

O comparativo não é meu, mas do meu primo, Fernando Paiva, gerente do nosso site e que está se recuperando – devagar, mas positiva e progressivamente – de um período bastante difícil nestes últimos meses. Em sua enorme sabedoria, ele descreveu bem o que deveremos assistir nos próximos meses (talvez anos) em que ele – e um batalhão de advogados – vão processar a FIA, a Fórmula 1 (e quem aparecer pela frente), buscando um reconhecimento tardio do título perdido em 2008 e também uma reparação financeira.

Gozando de um incômodo ostracismo desde que foi chutado da Fórmula 1 pelo americano bigodudo Chase Carey e hoje pendurado na saia da esposa que ele deu um jeito de fazê-la ter um cargo importante na FIA (Advogada, trabalhou, durante 25 anos, na organização dos GP brasileiros, tendo chegado à direção do departamento de marketing. Na FIA, ela fez parte das comissões de recordes, desde 2008, e de mulheres, desde 2011, tendo sido eleita no último pleito à Vice-presidente para o Esporte na América do Sul), em março desse ano, na sua desesperada busca por holofotes, o bom velhinho declarou que não considera o título de 2008 de Lewis Hamilton, que ficou sabendo do revelou em entrevista à f1-insider.com que ele e o então presidente da FIA, Max ‘chicotinho’ Mosley (já falecido pra desmenti-lo) ficaram sabendo do plano da batida intencional de Nelson Piquet Jr. no GP de Singapura ainda em 2008, mas não quiseram expor a informação “proteger o esporte e salvá-lo de um grande escândalo. Por isso usei línguas angelicais para persuadir meu ex-piloto Nelson Piquet a manter a calma”. Em recente entrevista à Reuters por telefone, o bom velhinho, no melhor estilo velho gagá, disse que não conseguia se lembrar de ter dito as principais declarações atribuídas a ele. Algumas semanas depois, em outras entrevistas buscando holofotes, disse que era mais fácil a Mercedes ter sucesso questionando o que houve em Yas Marina dois anos atrás do que Felipe Massa conseguir reverter o título de 2008 a seu favor e que o piloto brasileiro estava atrás de dinheiro.

Stefano Domenicali, atualmente CEO da Fórmula 1 para o Grupo Liberty Media e na época pediu desculpas para Felipe Massa pelos erros cometidos pela equipe ao longo da temporada, com a má estratégia no GP de Mônaco, o erro na classificação para o GP da Inglaterra e o motor quebrado nas voltas finais no GP da Hungria e na etapa de abertura do ano na Austrália (esqueceu de pedir pela liberação do carro no GP de Singapura com a mangueira de combustível ainda conectada no carro) e o próprio Felipe Massa reconheceu, à época e em algumas outras vezes nos anos seguintes, que um título não se perde em uma corrida. No GP da Itália, diante do delirante processo que o brasileiro está movendo, ele foi “gentilmente convidado a não comparecer”.

Como perder um campeonato em 5 capítulos.

Ao contrário do “chororô mimizento do pobre brasileirinho coitadinho”, como disse meu amigo Paulo Shrek Alencar, colunista aqui do site, ele não perdeu o campeonato por conta do acidente arranjado da Renault e seu bando de crápulas. Na Austrália, depois de errar muito, já na primeira curva, depois tirar David Couthard da corrida, abandonou com problemas no motor. Na corrida seguinte, o GP da Malásia, liderou as primeiras voltas, mas foi superado por Kimi Raikkonen. Depois da primeira parada, tentando alcançar o companheiro de equipe, rodou sozinho, atolou na brita e abandonou a corrida.

Nem vou considerar o erro na estratégia em Mônaco com a “loteria na chuva”, mas conseguir rodar cinco (isso mesmo CINCO) vezes no GP da Inglaterra não pode ser jogado na conta do erro na estratégia que definiu o grid de largada. Chovia e a pista estava molhada para todos. O Macarroni assumiu a culpa da sua pilotagem patética? Evidente que não.

No GP da Hungria o Macarroni estava absoluto. Liderou a maior parte das voltas, só perdendo a liderança no momento das paradas nos boxes. Lewis Hamilton estava longe de ser uma ameaça e corria pra marcar o maior número de pontos possível. Faltando 3 voltas para o final, o motor “abriu o bico”. Mas o pior momento da Ferrari ainda estava por vir.

Independente da armação com o acidente forjado de Nelson Piquet Jr. e toda a vergonhosa armação de Flavio Briatore, a Ferrari errou na parada nos boxes do Macarroni. Eles usavam um sistema de luz para liberar os pilotos ao invés de placa na frente do carro. A luz piscou verde e voltou para o vermelho em uma fração de segundo. O piloto, condicionado, quando piscou o verde, ele pisou no acelerador. Kimi Raikkonen estava parado logo atrás e isso pode ter pressionado o “apertador do botão”. Independente disso, o erro foi da equipe. A equipe errou nos boxes, o piloto errou na pista, com uma saída, uma rodada e uma batida (leve) numa barreira absorvente.

Mesmo com tudo isso contra seu “suposto título”, Os advogados do piloto Felipe Massa iniciaram uma ação legal contra os chefes da Fórmula 1 e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), buscando reparação de danos substanciais resultantes de uma suposta “conspiração” que tirou o título mundial do então piloto da Ferrari na temporada de 2008. Uma carta formal de 8 páginas, vista pela Reuters, foi endereçada ao presidente-executivo da Fórmula 1, Stefano Domenicali, e ao presidente da FIA, que tem sede em Paris, Mohammed Ben Sulayem. Uma carta antes da ação é um aviso legal formal obrigatório antes que o processo judicial possa ser iniciado.

Segundo o escritório da Enyos Law, escritório de advocacia com sede em Londres, “Felipe Massa é o legítimo campeão de pilotos de 2008, e a F1 e a FIA deliberadamente ignoraram a má conduta que tirou dele aquele título. O Sr. Massa é incapaz de quantificar totalmente suas perdas neste estágio, mas estima que elas provavelmente ultrapassarão dezenas de milhões de euros, mas este valor não cobre as graves perdas morais e de reputação sofridas pelo senhor Massa”.

A Federação Internacional de Automobilismo comunicou ter recebido a carta e nas próximas semanas podermos ver as consequências desta ação – na minha opinião – sem sentido onde o único perdedor, espero, seja o próprio piloto e que isso não gere consequências para o automobilismo brasileiro, com a perda da influência crescente do Brasil na FIA ou coisa pior. Já o ex-piloto em atividade, que – na pista – é um coadjuvante no grid da Stock Car, de um embaixador do FIA e da Fórmula 1, pode acabar reduzido a uma nota de rodapé na história do esporte.

Abraços,

Mauricio Paiva