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Nick DeVries: mais uma vítima dos touros moedores de pilotos PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 13 July 2023 21:41

Olá fãs do esporte a motor,

 

Escrevo para o Nobres do Grid há mais de 10 anos e quando fiz a proposta para escrever sobre as minhas relações com meus pacientes, uma das coisas que estabeleci (com o site e com os meus pacientes) foi que nada profundo seria exposto e que as sessões com eles só seriam temas das minhas colunas com a autorização deles.

 

Muitos acharam uma coisa interessante, mesmo antes de saber que minhas colunas iriam tomar o alcance que tomaram ao longo desses anos. Outros não concordaram e como tenho um compromisso de confidencialidade para com meus pacientes, sempre preservei aqueles que pediram o cumprimento deste principio profissional.

 

É claro que, com o passar dos anos alguns dos meus pacientes que se tornaram leitores mudaram de ideia e me autorizaram a escrever sobre as sessões que eles tinham comigo. As vezes eles até falam sobre coisas que gostariam de lerem publicadas nas minhas colunas. Como não sou jornalista, seus agentes, patrocinadores, assessores de mídia, etc. não podem dar entrevistas para os meios convencionais de mídia, mas a relação comigo é diferente.

 

Em 2022 Toto Wolff me pediu para fazer um trabalho de acompanhamento terapêutico com alguns pilotos sob contrato da Mercedes. Eu já trabalhava com Lewis e vieram trabalhar comigo George Russell e Nick DeVries. Dois jovens pilotos maravilhosos e duas pessoas incríveis. Nick é uma pessoa muito reservada e não autorizou que eu partilhasse suas sessões no ano passado, nem mesmo depois de ver seu sonho de infância se tornar realidade e ele disputar seu primeiro GP de Fórmula 1, no ano passado, por “empréstimo” à Williams, que corre com os motores alemães.

 

 

Ao longo de sua carreira, desde o kart, Nick sempre foi um vencedor. Bicampeão mundial de kart na adolescência, ainda adolescente foi para os monopostos, foi cameão nacional e europeu da F. Renault, seguindo para a antiga GB3 (hoje Fórmula 3 e depois fazendo três temporadas de Fórmula 2, sagrando-se campeão em 2019. Com talento de sobra, mas dinheiro de menos, não conseguiu um lugar na Fórmula 1 e foi para a Fórmula E, onde sagrou-se campeão em 2021 e tornar-se piloto de teste da equipe Mercedes. Sua performance na categoria foi tamanha que Toto Wolff foi acompanhar algumas etapas pessoalmente.

 

 

Na semana que antecedeu o GP da Áustria, em sua penúltima sessão comigo (a última aconteceu na terça-feira após o GP da Inglaterra), Nick – que gosta de ser chamado assim e nem em família o chamam de Hendrik, seu primeiro nome – abriu totalmente seu coração (e autorizou colunas com ele) sobre a situação que ele estava vivendo. Resignado, ele admitiu que o desejo de, finalmente, tornar-se titular em uma equipe de Fórmula 1.

 

 

No ano anterior, Pierre Gasly conseguiu bons resultados e destacou-se a ponto de ser contratado por uma equipe mais forte como foi a Alpine. Com Lewis Hamilton em contrato para 2022 e 2023, com George Russell com um contrato de 3 anos, a vaga aberta na Alpha Tauri parecia ser uma boa chance, apesar de sua mudança implicasse em estar entrando no sistema de gerenciamento de carreiras mais desumano que vi em minha vida como psicóloga, como terapeuta e como ser humano.

 

 

Sob a supervisão de um ser execrável ao qual recuso-me a pronunciar o nome, vi alguns dias atrás um artigo de um jornalista pelo qual tenho grande respeito com 20 pilotos que foram triturados, detratados, humilhados por esta pessoa. Alguns deles foram meus pacientes. Alguns ainda são, mesmo estando distante das competições. Na época que surgiu a proposta, trabalhamos isso – eu e meu paciente – sobre se aceitar a proposta era a melhor opção de carreira. Mas quem é capaz de impedir um piloto de assumir riscos? Nick assumiu o risco.

 

 

Sua dispensa da Alpha Tauri é aquela desculpa de quem não tem desculpas. O projeto do carro não foi bom. O carro não sai das últimas posições do grid. Por melhor que seja o piloto, com o grau de precisão que existe na Fórmula 1, não é possível “tirar a diferença no braço”. A trajetória de Nick mostra que não lhe falta capacidade, habilidade e velocidade para estar em um carro competitivo em qualquer categoria. Infelizmente ele tomou uma decisão que acabou não sendo a melhor para sua carreira, mas tenho certeza que, apesar deste abalo, ele vai retomar a sua trajetória nas pistas ainda mais forte.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares