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Lance Stroll e a busca da identidade própria PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 12 June 2023 22:22

Olá fãs do Esporte a Motor,

 

Na segunda-feira após o Grande Prêmio de Mônaco, minha secretária recebeu um telefonema: do outro lado do telefone (e do oceano atlântico) estava Lawrence Stroll, sócio da equipe Aston Martin na Fórmula 1 e pai do piloto Lance Stroll.

 

Como todos sabem, Fernando é meu paciente há 11 anos e companheiro de equipe de Lance Stroll este ano na equipe, digamos, anglo-canadense. Mr. Stroll foi muito objetivo em suas palavras, dizendo que gostaria que eu fizesse um acompanhamento regular com o seu filho.

 

Expliquei para o Mr. Stroll que um acompanhamento psicoterapêutico parte, primordialmente, da parte do paciente sentir a necessidade de buscar neste método as respostas para as questões que ele possui e precisa ser motivado espontaneamente, do contrário, é provável que as expectativas não sejam atingidas, especialmente se estas expectativas vierem de terceiros e não do paciente.

 

 

Talvez essa não fosse a resposta que Mr. Stroll gostaria de ter ouvido, mas também disse a ele que gostaria de conversar com Lance sobre esta conversa que estávamos tendo e saber se ele gostaria de fazer este acompanhamento e a conversa foi muito positiva. Ele disse que foi uma sugestão do Fernando, que ele falou muito bem do nosso trabalho e de como ele evoluiu como pessoa ao longo destes anos (esta é a melhor recompensa que um terapeuta pode receber). Assim, Lance entrou para a minha carteira de clientes.

 

A nossa primeira consulta (presencial) aconteceu no último dia 9 de junho. Foi meu último horário da sexta-feira e Lance estava muito tranquilo quando o recebi, apesar de toda a pressão que ele vem recebendo este ano – mais do que nos anos anteriores – uma vez que seu companheiro de equipe (e meu paciente) Fernando Alonso e mesmo com a sua evidente mudança de temperamento e forma de tratamento com os companheiros de equipe, a situação de Lance é algo não exclusivo dos últimos tempos.

 

 

Recentemente tivemos Nikita Mazepin e Nicholas Latifi chegando à Fórmula 1 financiados pelos seus pais bilionários que “compraram” um lugar para eles em uma equipe ou mesmo um percentual acionário dessas equipes. Com Lance Stroll não foi diferente no aspecto financeiro e no suporte familiar, mas em seu caso, Lance fez uma carreira consideravelmente melhor nas categorias de base. Em 2014 venceu o campeonato italiano de Fórmula 4, derrotando Nicholas Latifi e depois o campeonato europeu de Fórmula 3, derrotando alguns pilotos que hoje estão na Fórmula 1 ou estiveram como Guanyu Zhou Marcus Ericsson.

 

Cada pessoa tem seu próprio ritmo de aprendizado e amadurecimento e não é salutar que etapas deste processo sejam deixadas de lado ou simplesmente “queimadas”. Apesar de ter ganho o campeonato da Fórmula 3 em 2016, talvez a melhor opção para Lance Stroll fosse fazer a temporada da (então) GP2, que foi substituída pela Fórmula 2, em 2017. Ao invés disso, Lance Stroll estava ao lado de Felipe Massa na equipe Williams, como piloto pagante. O pódio circunstancial na corrida de Baku não conseguiu mascarar o fato de que ele não tinha a mesma estrutura psicológica de Max Verstappen, terceiro colocado no campeonato europeu de Fórmula 3 em 2014 e colocado pela Red Bull na Fórmula 1 no ano seguinte.

 

 

Após um ano sem referência em 2018, Lawrence Stroll inicialmente associou-se à Force India, mas terminou a temporada como virtual proprietário da Racing Point, mas os resultados eventuais continuavam e as cobranças sobre ele ser um “filho de dono de equipe” só aumentaram quando a Aston Martin assumiu as operações e Lawrence Stroll um grande percentual da empresa. Ainda investindo no filho, contratou Sebastian Vettel para ser o primeiro piloto da equipe e uma referência para Lance, mas Sebastian vinha de um processo de perda de motivação, exatamente o caminho oposto de Fernando.

 

 

Exatamente sobre Fernando, o fato de ter um piloto de tão alto nível e tão motivado apenas expôs o fato de que apesar das seis temporadas completas e estar em seu sétimo ano na Fórmula 1 aumentou a pressão sobre Lance e ele assumiu que está pressionado, mas o que mais o incomoda é o rótulo de “piloto pagante”, de “filho do dono da equipe” e ele tem consciência que só vai conseguir afastar esta imagem quando conseguir andar em um ritmo próximo ao de Fernando Alonso.

 

 

Lance não poupou elogios ao experiente companheiro de equipe, que tem sido ao mesmo tempo um incentivador e um orientador para que ele cresça como piloto. Lance tem consciência que será difícil afastar uma imagem consolidada e meu trabalho começa por trabalharmos a questão da confiança e a busca para reencontrar o piloto campeão das categorias de acesso para tranquilizar e focar, assim, recuperar o sorriso que ele me deu ao final de nossa primeira sessão.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares