Olá pessoal,

Eis-me aqui para mais uma temporada em que sou escalado (talvez o termo correto seja “intimado”) a assinar a coluna do nosso querido colunista Alexandre Bianchini enquanto ele vai descansar em algum lugar tranquilo (assim espero), sem arruaceiros pregando golpe de estado, derrubada do governo, intervenção militar e fazendo a depredação do patrimônio público ante a passividade dos orgãos de segurança pública (se fossem pessoas do MST, CUT, MTST, UNE e outros grupos de brasileiros, a “passividade” seria a mesma ou estaríamos vendo nuvens de gás lacrimogênio e espocar de armas contra os “desordeiros” – para dizer o mínimo – estando estes a protagonizar as coisas absurdas transmitidas ao vivo pela TV nesta tarde de domingo?).

Este site é de automobilismo e não de política e eu adoraria poder escrever esta semana sobre a assinatura de contrato de Pietro Fittipaldi para disputar a temporada do IMSA integralmente em 2023 e também sobre a primeira semana do Rally Dakar, novamente disputado no difícil deserto da Arábia Saudita – inclusive já havia tomado algumas notas para fazer um texto minimamente apresentável, afinal, estou substituindo um jornalista – mas toda nossa imprensa acabou sendo atingida pela notícia do falecimento do nosso querido Chico Rosa na noite do último sábado.

Desde que deixou o cargo na administração do Autódromo de Interlagos, ‘seu’ Chico – como eu o chamava – estava com 80 anos de idade (a ‘causa mortis’ não foi revelada pela família) e eventualmente conversávamos por telefone sobre assuntos diversos, mas quase sempre viajávamos pelas páginas douradas da história do nosso automobilismo e eu me transformava em um atento ouvinte.

Tratava a todos com uma polidez impecável. Um verdadeiro Lorde, muito bem educado em casa e em termos acadêmicos, era um poliglota e por uma dessas coisas do destino, depois de seu tempo como aluno no internato, quando a família veio morar na capital paulista eles tinham na vizinhança um dos maiores pilotos do final da década de 50, Ciro Cayres. Era o caminho que levaria Chico Rosa para o automobilismo e mesmo não tendo envergadura física para ser piloto ou habilidades manuais para a mecânica, seu intelecto e a capacidade de gerenciar e realizar coisas nos bastidores, além da diplomática postura que era um catalisador de retornos, para os pilotos, os donos das equipes, os promotores de eventos e isso fez de sua presença um caráter imprescindível.

Chico Trabalhou muito pelo nosso automobilismo por algumas décadas e em 1969, seguiu com Emerson Fittipaldi para Inglaterra, dando todo suporte eu podia para que nosso grande Campeão se estabelecesse e trilhasse o caminho da Fórmula 1. No ano seguinte, ainda mais conhecedor de como as coisas funcionavam no velho mundo, deu suporte para a chegada e a consolidação de José Carlos Pace. Já na segunda metade dos anos 70, apontou os caminhos para Nelson Piquet. Isso faz de Chico Rosa um Penta Campeão Mundial de Fórmula 1!

Em 2010, às vésperas do GP Brasil de Fórmula 1, ele e o engenheiro Octávio Guazzelli, em meio àquele formigueiro humano trabalhando para preparar o Autódromo de Interlagos como palco de mais uma etapa do campeonato mais importante do automobilismo mundial, ambos pararam por pouco mais de meia hora (e isso é muito tempo, acreditem) para me atender e falar sobre o que era administrar o autódromo mais importante do país e, naquele momento, do mundo. Ali se deu um estreitamento de laços e a cada vez que eu ia a Interlagos, fazia questão de ir até sua sala para cumprimentá-lo. Era mais que respeito: era admiração profunda! E ele sempre me recebeu.

Pode ter toda certeza do mundo ‘seu’ Chico, o senhor está e estará vivo em cada palmo de asfalto, zebra, grama, área de escape, prédio, box, tudo daquele milhão de metros quadrados e mais ainda nos corações e mentes de todos nós, amigos e fãs. Muito obrigado por tudo.

Grande Abraço,