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Um tributo a Sebastian Vettel PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 25 November 2022 22:14

Já sabiamos isto desde julho, quando se sentou à frente de uma câmara e o anunciou de maneira formal. Mas agora que o campeonato acabou e o vemos sair do carro pela última vez, depois de 300 participações, desde aquele distante ano de 2007, quando substitui Robert Kubica na BMW Sauber, após aquele acidente em Montreal, aí sentimos aquela sensação de “final de uma era”, como já sentimos muitas vezes ao longo das nossas vidas. Eu particularmente, que vejo Formula 1 há mais de 35 anos, e vi já algumas gerações a surgirem, crescerem, amadurecerem e reformarem-se. E pelo meio, alguns regressos.

 

Não nego que tenho simpatia pelo piloto alemão. Mas não foi por causa daquilo que faz agora. Foi desde sempre, desde os tempos em que era piloto de testes na BMW Sauber e se viu todo o potencial daquele garoto, então com 19 anos. É verdade que se estreou por causa de um acidente e ele cumpriu, levando o carro para um digno oitavo lugar, em Indianápolis. Mas mais do que um piloto veloz, tinha carácter. Sempre se deu bem com a vida, gozava o facto de estar na Formula 1. Afinal de contas, cumpria o seu sonho.

 

 

Desse periodo, lembro-me bem de um episódio de quando foi ao Top Gear, algures em 2011. Ele já era campeão do mundo, e ia andar num Suzuki Liana naquilo que chamavam de “Estrela num Carro Regular” para fazer uma volta no circuito de testes que eles lá tinham. Se forem ver a entrevista – anda por aí, no Youtube – ele tem tempo até para gozar com o Nigel Mansell!

 

Anos depois, entendeu-se o porquê: admirava o britânico, ao ponto de ter andado com um bigode e escolhido o numero 5 como seu número permanente.

 

Ando a fazer por estes dias uma série de tributos ao alemão no meu blog e ao visitar os momentos da sua longa carreira, só cresce a minha admiração. Primeiro, a fome de vencer e os recordes de precocidade, e como ele quase deu um campeonato a Felipe Massa no Brasil, em 2008. E depois, quando se tornou no primeiro vencedor quer na Toro Rosso, quer na Red Bull, em menos de seis meses, e em ambos os casos, à chuva. E depois, o título de 2010, que achei ser de génio.

 

 

Quem não se recorda, foi um dos títulos mais disputados de sempre, porque até quas ao fim, tivemos cinco candidatos: os McLaren, os Red Bull e a Ferrari de Fernando Alonso, que depois do episódio da Alemanha, conseguiu fazer com que a Scuderia escolhesse um candidato e trabalhasse nele. Quando os carros energéticos não terminaram a corrida da Coreia do Sul e viram Fernando Alonso a triunfar, pensou-se que o espanhol tinha uma auto-estrada para o título. E Vettel era o candidato que tinha menos chances, ao ponto de Mark Webber ter pedido a Helmut Marko e Christian Horner para que desse prioridade a ele na luta pelo ceptro. E todos estavam convencidos que era o favorito que em Abu Dhabi, Alonso marcou... o Red Bull errado. Porque pertante o “match point”, Vettel fez a unica coisa possivel: ganhar as corridas que faltavam e esperar que os outros ficassem bem atrás. Tudo correu certo, até o Vitely Petrov ficar na frente de Alonso até à bandeira de xadrez.

 

 

A sua transferência para a Ferrari explica-se por causa de uma coisa: sendo alemão, admirava Michael Schumacher. Nos seus tempos de karting, ele deu prémios a jovens talentos, porque sabia que ali poderia estar o seu sucessor. Se os garotos ficavam com uma fotografia para mais tarde recordar, para Vettel, correr ao lado do seu ídolo foi um sonho concretizado. Aconteceu com ele nos seus últimos dias na Mercedes, mas não interessava: um campeão era sempre um campeão. E nestes últimos tempos, o seu papel de protetor para com Mick Schumacher, filho de Michael, emulava aqueles temos de uma década antes.

 

Logo, quando foi para a Scuderia, em 2015, pensava que poderia fazer o mesmo caminho de sucesso. Só que ele se esqueceu de duas coisas: a Ferrari é uma devoradora de pilotos desde a sua fundação – embora a sua grande diferença é que antigamente, os pilotos pagavam com a vida – e segundo, ele não tinha a gente que ajudou Schumacher a ser multi-campeão. Gente como Ross Brawn, Rory Bryne, Jean Todt. Vettel teve gente como James Allison, Maurizio Arrivabene e Matia Binotto, e nenhum deles, por muito bons que sejam, não foram génios. E Luca de Montezemolo foi substituido, pelo menos nos primeiros tempos, por Sergio Marchionne, e depois, por Lapo Elkmann.

 

 

Mas mesmo assim, deu luta. Acho que, aparte Nico Rosberg, Vettel foi o maior rival de Lewis Hamilton nos anos do dominio dos Flechas de Prata. Fê-lo suar, e eu estive convencido que em 2018, Vettel esteve muito perto do sonho. Só que os acidentes na Alemanha e Singapura estragaram tudo. E depois do incidente do Canadá, em 2019, deve ter quebrado algo dentro dele, afirmando que o seu “eu competitivo” estava arrumado. Acho que ali deve ter contemplado a retirada. E creio que, se fosse ele, teria pendurado o capacete e seguido em frente, sem olhar para trás, em arrependimento. Mas isso sou eu.

 

 

Vettel sai da Formula 1 admirado por tudo e todos. Os pilotos são animais competitivos, e mesmo quando aparece alguém como Kimi Raikkonen, que a partir de certa altura, estava ali pelo prazer da corrida e acumular dinheiro na sua conta bancária, eles não deixam de ter o “killer instinct” no momento da ultrapassagem e sentir a adrenalina de correr a 280 km/hora na saída de uma curva veloz em Silverstone, Monza ou Suzuka. Todos são rivais, nenhum deles é inimigo. Isso é algo que é criado pelos que vêm de fora, sejam jornalistas, sejam adeptos fanáticos que não querem ficar do lado do vencido.

 

E em 2020, quando tivemos a pandemia e os pilotos lutaram por causas fraturantes, Vettel foi dos poucos que fez coisas fora da pista, fazendo até mais que Lewis Hamilton. E não falo andar com as cores do arco-iris em países onde usar essa bandeira é um risco de vida. Um bom exemplo foi quando ele organizou um corrida de karting para mulheres na Arábia Saudita em 2021, nas vésperas do primeiro Grande Prémio naquele país. São pequenos gestos, é verdade, mas representam muito para muita gente que não está no lado dominante da vida e só desejam ser iguais.

 

 

Em suma, vimos ir embora um raro tipo de piloto. Vimos ir embora uma pessoa que, mesmo sendo campeão, não era exibicionista. Nunca vimos nada dele nas redes sociais – a excepção foi a conta no instagram, que foi aberta para anunciar a sua retirada, o que é ironico – não sabemos muito bem sobre a sua familia – sabemos que casou com a sua queridinha da juventude e aparentemente, tem três filhas – só vimos o seu pai muito de vez em quando e tirando, anos depois, o seu capacete branco com a faixa alemã vertical, ele parecia aproveitar o capacete que a Red Bull impõe aos seus pilotos. Só no final entendemos tudo: sempre adorou um capacete branco. Puro e simples, a discrição em pessoa que quando entrava no carro, se transformava num monstro sedento de vitória.

 

E fora dela, se transformava numa pessoa consciente do mundo à volta. Confesso que, nos meus anos que sigo a Formula 1, nunca vi um piloto de Formula 1 ir a um programa da BBC, o Question Talk”, falar sobre a atualidade, da politica, das causas ambientais e humanas, e dizer sinceramente que alguns dos seus gestos podem ser interpretados como hipócritas, por ser algo parecido com “slacktivism”, ou seja, causas dos quais fazes no teclado de um qualquer computador ou celular, em vez de ir à rua e segurar um cartaz. Esperava ver mais isso em Lewis Hamilton, que saiu à rua por mais que uma vez para defender o “Black Lives Matter”, por exemplo, mas foi o alemão o convidado para um programa como o “Question Talk”. Não acredito que seja só por uma questão de disponiblidade.

 

 

Quanto ao futuro? Adoraria vê-lo num carro nas 24 Horas de Le Mans, tentando triunfar e entrar num restrito grupo de pilotos que venceram na Formula 1 e na Endurance. Uma Porsche ou uma Audi devem tê-lo na sua mente e convidá-lo para participar. Até a Ferrari, no seu projeto de regresso à mítica prova de La Sarthe, não poderá deixar de pensar nele para saber se não queria correr mais uma vez pelo Cavalino Rampante.         

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.