Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Os mercadores de futuros PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 10 August 2022 21:00

Caros Amigos, A escravidão é uma prática que permeia a história mundial. Sua origem está relacionada às guerras e conquistas de territórios, onde os povos vencidos eram submetidos ao trabalho forçado pelos conquistadores.

 

Pelos historiadores e arqueólogos, pelas traduções e registros, muitas vezes em idiomas não mais falados, os primórdios da escravidão vêm do Oriente Médio (Antigo Oriente), mas povos nas Américas como os maias também se serviram de cativos. Tal atividade fez parte de todas as civilizações da antiguidade como os assírios, hebreus, babilônios, egípcios, gregos e romanos, variando as suas características dependendo do contexto de cada lugar.

 

Oficialmente no mundo foi a Mauritânia, o último lugar no mundo a abolir a escravidão, tornando a prática ilegal apenas em 1981. Entretanto, existem formas veladas de escravidão até hoje e mesmos países como o Brasil, onde – oficialmente – a escravidão acabou em 13 de maio de 1888, formas “legais” de se manter o controle sobre os destinos e a liberdade de um cidadão continuaram a existir.

 

Um bom exemplo era o controle que os clubes tinham sob seus atletas, mais visivelmente no meio do futebol, sob seu controle e domínio através do chamado “Passe”. O “Passe” era o valor que um jogador valia e que, quando começavam a jogar por um determinado clube, este clube estabelecia quanto o jogador valia e se outro clube quisesse o jogador em seu elenco, tinha que “comprar o jogador”, pagando ao clube o chamado “Passe”. A Lei 9.615, de 24 de março de 1998, trouxe mudanças significativas no ordenamento jurídico para o esporte brasileiro. A mais importante, sem dúvida, o "fim do passe", que passou a valer em 26 de março de 2001. O antigo passe foi substituído por cláusulas especiais, indenizatória e compensatória, que passaram a ser estipulada nos contratos entre clubes e atletas. A grande diferença é que essa exigência só pode ser cobrada com o contrato em vigor. Com o "passe", o clube mantinha esse direito mesmo com o fim do contrato de trabalho com o atleta.

 

Vindo para o meio do automobilismo, mais propriamente, o da Fórmula 1, um modelo de negócio criou um mecanismo onde os mercadores passaram a controlar o futuro dos jovens atletas – em alguns casos, não tão jovens – em que a carreira dos pilotos ficaram cada vez mais amarradas a contratos com empresários, programas de “jovens talentos” patrocinados pelas equipes da Fórmula 1 para seu “desenvolvimento” profissional.

 

É uma relação cruel, que não necessariamente valoriza o talento, a habilidade e a capacidade de pilotagem dos adolescentes – ou pré-adolescentes em alguns casos – mas a capacidade de verdadeiro mercadores, nomeadamente conhecidos como empresários, que usam de seu trânsito junto a fabricantes de veículos associadas às equipes ou a diretorias das mesmas, estabelecido nos escritórios, festas, jantares e, quando nos autódromos, em HCs e Motorhomes.

 

Esses jovens, que em quase sua totalidade deram seus primeiros passos no kartismo, alimentando o sonho de se tornarem pilotos profissionais, em particular chegando à Fórmula 1, quando passam para os monopostos e vão buscar o caminho na Europa – de forma mais evidente, mas também acontece nos EUA – não escapam da ação destes empresários e mesmo quando “bem negociados” com as equipes de Fórmula 1 e instalados em um “programa de jovens pilotos”, além de limitar seus passos e liberdade, muitas vezes ainda precisam levar recursos para as equipes onde correrão (os patrocínios), estando ainda sujeitos a ações políticas no processo. Um bom exemplo foi o do jovem Gianluca Petecof, que mesmo vencendo o campeonato europeu de Fórmula 3 e derrotando, dentro da equipe, Arthur Leclerc, irmão do piloto titular da Ferrari, Charles Leclerc, foi preterido no programa de jovens pilotos da Ferrari, que na mesma época também “descartou” Enzo Fittipaldi.

 

Ao melhor estilo da família Piquet, no final da temporada de 2020, Pedro Piquet, que disputava o campeonato de Fórmula 2 expôs de forma crua e direta como funcionava esse mercado de compra de vagas, que se estendeu até para as categorias de acesso onde o talento vale menos que o dinheiro. Exemplos não faltam, como Nikita Mazepin, Lance Stroll, Nicholas Latifi, além dos “pilotos de teste” como Roy Nissany.

 

Este processo também é cruel aos não subservientes, que resignadamente submetem-se os que lhes é determinado quando, anos antes, seu futuro foi “vendido” para que ele, caso conseguisse resultados em pista, tivesse que seguir os caminhos determinados pelos “donos do seu passe”. As questões em torno disso se tornam mais complexas quando o “empresário” entra em desacordo quem abriu as portas e apostou no futuro do jovem piloto.

 

O caso Oscar Piastri pode acabar sendo decidida em tribunais. Depois de vencer o campeonato europeu de Fórmula 3, tendo como seu empresário o ex-piloto Mark Webber, este negociou a entrada do jovem australiano no programa de jovens pilotos da Renault. Piastri foi ser piloto da Prema, uma das mais fortes equipes das categorias de base. Consecutivamente, venceu os campeonatos de Fórmula 3 em 2020 e da Fórmula 2 em 2021. Ele venceu em sequência os três principais campeonatos de monopostos da Europa e isso, no passado, o colocaria como titular em uma equipe de Fórmula 1, se não uma grande, uma média promissora. Ele ficou como “piloto de testes” e nada havia de garantia para vir a correr em 2023.

 

Se, legalmente, a atitude de Oscar Piastri não foi a mais adequada – ou a juridicamente correta – confrontando o então anúncio da Alpine de que ele seria piloto titular da equipe em 2023 depois que Fernando Alonso anunciou sua ida para a Aston Martin, negando ter um contrato assinado para correr pela equipe no próximo ano. Entretanto, há que se considerar a recente postura da McLaren que vem, como um investidor de perfil agressivo no mercado mobiliário, contratando pilotos e também seriamente envolvida nesse processo.

 

Eu poderia dizer que espero ver este imbróglio ter um desfecho que beneficie o piloto e que seja o primeiro passo para a quebra das correntes estabelecidas na relação atual em vigor, mesmo sendo como John Lennon em sua música, Imagine, um sonhador, mas certamente não sou o único.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva