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Emerson 50 anos: GP da Grã Bretanha de 1972 - A 3ª vitória rumo ao título PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 12 July 2022 15:15

 

O GP da Grã Bretanha naquele ano de 1972 seria também o GP da Europa. Brands Hatch, palco da 7ª etapa do mundial daquele ano já havia sido palco de uma vitória de Emerson Fittipaldi, na Corrida dos Campeões, disputada no mês de março, onde o brasileiro não apenas venceu bem como estabeleceu um novo recorde para a pista, com 1min 23.8s.

 

Apesar da liderança no campeonato, Emerson e a Lotus chegavam à Inglaterra pressionados. Primeiro porque, após uma corrida ausente – o GP da Belgica – o bicampeão Jackie Stewart voltara com tudo para o GP da França, disputado em Clemont Ferrand e vencera com autoridade, deixando bem claro que não era um “adversário já batido”... muito pelo contrário.

 

A outra pressão vinha por parte da própria estrutura da equipe, a começar do ‘chefão’, Colin Chapman. A corrida seria patrocinada pela marca de cigarros John Player Special, a mesma que estampava seu nome nos carros de Emerson Fittipaldi e Dave Walker e cujo as cores dos maços era uma representação dos mesmos nos carros – o preto e dourado.

 

Os britânicos gostam mesmo de corrida: as arquibancadas(?) em torno da pista de Brands Hatch ficaram lotadas para corrida.  

 

O primeiro treino em Brands Hatch estava marcado para a quinta-feira, dia 13 de julho, contudo, no dia anterior, toda a equipe deslocou-se até Snetterton para testar o carro (dá pra imaginar isso nos dias de hoje?). O propósito do teste era avaliar um novo tipo de pneu, desenvolvido pela Firestone e um apêndice aerodinâmico para o aerofólio traseiro. Na verdade, alguns modelos foram levados para serem testados e ver qual deles daria um melhor resultado no circuito sinuoso e repleto de subidas e descidas de Brands Hatch.

 

Um ano antes, Emerson andara com este carro no mesmo circuito, virando 1m20.8s. Com a evolução do carro e dos pneus, Emerson andou 2.6s mais rápido que um ano antes! Os pneus eram 1 polegada mais largos, com 17 polegadas de circunferência para uma roda de 13, tornando-o muito aderente, apesar da vibração sentida na suspensão. Assim, a equipe chegou no local da disputa com um carro ainda melhor do que o que vencera a prova disputada 4 meses antes, apesar da equipe ter tido que trabalhar duro para revisar os carros.

 

Antes de chegar em Brands Hatch, a equipe Lotus foi para Snetterton fazer alguns testes de um novo "pacote aerodinâmico".

 

Além destas modificações, uma outra foi feita para evitar o problema ocorrido em Clemont Ferrand, quando Emerson encostou a perna no câmbio e acabou engatando errada a segunda marcha. Para evitar que isso voltasse a acontecer os mecânicos instalaram uma capa protetora para evitar que Emerson encostasse a perna no trambulador.

 

Depois de ver o esforço dos mecânicos em fazer tudo o que deveria ser feito e ainda ter entregue os carros prontos para uso um dia antes, para os testes em snetterton, Emerson – sabendo que havia um prêmio de 100 garrafas de champagne para quem fosse o mais rápido no 1º treino livre – tratou de acelerar e, no final, estabeleceu a melhor marca, com 1m22.9s, quatro décimos à frente da McLaren de Peter Revson. Prêmio para os mecas, que trabalharam duro.

 

Voltando da úlcera estourada e de uma vitória categórica na França, Stewart era um dos favoritos, mas nem tudo foi bem nos treinos. 

 

No segundo treino livre Jackie Stewart mostrou que a nova Tyrrell 005 deveria vir a ser um duro adversário. O escocês virou 1m22.4s. contudo, três voltas depois, Stewart escapou na curva Druids (que viria a ter capital importância no final de semana) e chocou-se contra o barranco. O choque foi forte o suficiente para entortar o monocoque. Por segurança, Ken Tyrrell decidiu que o Tyrrell 003 seria o carro a ser utilizado para a prova, uma vez que não haveria tempo hábil para recuperar o carro para a corrida.

 

 Na sexta-feira, enquanto Emerson seguia confiante para a primeira sessão de tomada de tempos oficiais, os outros brasileiros, Wilsinho Fittipaldi e José Carlos Pace viviam seus dramas. Enquanto o Brabham BT-34 andava menos que o BT 37, de Carlos Reutmann, o irmão mais velho de Emerson tentava fazer o que era possível. Já no caso de Moco, o velho March era um carro estável, mas o motor veio falhando desde o dia anterior.

 

Com o carro na mão, Emerson Fittipaldi andou forte em todas as sessões. Garantiu o champagne dos mecânicos e ficou na 1ª fila. 

 

Na briga pelas posições da frente, Jack Ickx usou um composto especial da Firestone, revestido de uma borracha mais macia e isso permitiu que ele conseguisse conquistar a pole position, com 1m22.2s. Emerson melhorou seu tempo, marcando 1m22.6s, o que lhe deu a 2ª posição no grid, que seria montado com dois carros em cada fila. Jackie Stewart viu-se muito prejudicado em ter que usar um carro sem as últimas evoluções. Largou apenas em 4º, com 1m22.9s, atrás da McLaren de Peter Revson, que encontrou um bom equilíbrio para o carro e marcou 1m22.7s. Pace ficou o 13º tempo, com 1m24.0s e Wilsinho marcou apenas o 23º tempo, com 1m25.5s.

 

O Brabham BT37 ainda estava longe de poder brigar por vitórias. Segurando o capacete de Reutmann, o dono da equipe, Mr. Ecclestone! 

 

O sábado amanheceu ensolarado e quente, como não é comum na Inglaterra (É... a corrida era aos sábados na Inglaterra). Segundo Colin Chapman, o verão inglês coincidira com a semana da corrida e o público tomou as dependências do circuito para, quem sabe, assistir a arrancada de Jackie Stewart rumo ao tricampeonato. O escocês estava 13 pontos atrás de Emerson Fittipaldi e com metade do campeonato pela frente, tirar a diferença era perfeitamente possível.

 

Entre as coisas, digamos, inusitadas daqueles tempos de Fórmula 1 ainda romântica, alguns eventos paralelos que aconteciam nos finais de semana da corrida eram, no mínimo, inusitados. Em Brands Hatch, naquele ano, a Ford Tratores, buscando mais visibilidade e mercado na Grã Bretanha, conseguiu encaixar na programação uma prosáica (para dizer o mínimo) corrida de tratores!

 

Ah... como eram bons os tempos da F1 Romântica. Seria possível vermos hoje os pilotos da F1 numa corrida de tratores?

 

A prova teria 10 voltas pelo traçado da corrida e 10 tratores participariam da disputa. Emerson Fittipaldi, Jackie Stewart, François Cevert, Jody Scheckter, José Carlos Pace, Denny Hulme, Chris Amon, Peter Revson, Dave Walker e Jean Pierre Beltoise alinharam para a prova. A vitória foi de Emerson Fittipaldi. Seria um prenúncio do que aconteceria na corrida principal?

 

No warm up e na volta de apresentação Emerson foi cauteloso. Fez alguns testes com o carro e viu que tudo funcionava perfeitamente. A questão era como seria a largada: ele e Ickx, na primeira fila, de Firestone e um esquadrão de carros com Goodyear atrás. Emerson optou por um composto mais macio, mas isso implicava em um maior cuidado com os pneus no calor que estava fazendo e com os problemas no asfalto, em especial na curva Druids, onde o mesmo estava esfarelando.

 

O pole, Jack Ickx, parecia calmo antes da largada. A Ferrari tinha conseguido uma ótima performance e o belga tinha como vencer.  

 

Na hora de alinhar e subir o giro do motor, um fato quase imperceptível, mas confessado pelo próprio Emerson, nos dias de hoje teria comprometido sua corrida: ele queimou a largada! O caso é que, na época, a largada era dada com o baixar de uma bandeira – muitas vezes uma bandeira nacional – por um convidado, que geralmente não sabia muito sobre corrida. O “starter” fez um movimento e foi o suficiente para o brasileiro soltar a cavalaria... acontece que Jack Ickx fez o mesmo e foi até mais rápido, tomando a ponta.

 

Quando o “Starter” viu os dois carros da primeira fila se movendo, baixou de vez a bandeira e a corrida começou. O bom foi que, desta vez, Emerson não perdeu posições como em outras corridas. Quem largou muito bem foi Jean Pierre Beltoise, saltando da sexta para a terceira posição. Assim, a primeira volta foi completada com Ickx na ponta, seguido por Emerson Fittipaldi, JP Beltoise, Peter Revson, Jackie Stewart e Jody Scheckter.

 

Na largada, Ickx manteve a ponta, seguido de Fittipaldi, Beltoise (que pulou de 6º pra 3º), Revson, Stewart e Scheckter. 

 

De início, Ickx e Emerson começaram a prova impondo um ritmo forte, abrindo dos demais perseguidores. Enquanto isso, Stewart iniciava seu avanço sobre os que estavam à sua frente e, na sétima volta já ocupava o terceiro lugar. Contudo, Ickx e Emerson já haviam aberto uma distância considerável: quase 5 segundos.

 

José Carlos Pace também vinha conseguindo fazer uma boa corrida. Em duas voltas ela já saltara da 13ª para a 11ª posição e iniciava uma boa disputa com o argentino Carlos Reutmann, que manteve a 10ª posição da largada. Enquanto isso, Wilsinho Fittipaldi procurava minimizar, no braço, as deficiências do seu Brabham. Ainda assim, o brasileiro ganhou várias posições nas 5 primeiras voltas. Quando Stewart chegou ao 3º posto, Wilsinho era o 15º!

 

Enquanto esteve na pista (abandonou antes do final) José Carlos Pace travou um grande duelo com Carlos Reutmann. 

 

Voltando a batalha pela liderança, apesar de seguir colado na Ferrari de Ickx, Emerson não conseguia um ponto para fazer a ultrapassagem. O motor 12 cilindros falava alto nas retomadas e abria distância suficiente nos trechos de reta. Emerson só conseguia se aproximar nas curvas, apesar de, na sua opinião, poder andar mais rápido do que vinha andando atrás do belga. Um detalhe que dificilmente apareceria na transmissão da televisão por conta da definição de imagens daquela época foi notada – e sentida – por Emerson Fittipaldi. Uma fumacinha saindo do lado esquerdo do motor da Ferrari.

 

A briga começou a esquentar quando, na 8ª passagem, tanto Emerson quanto Ickx receberam placas de seus boxes avisando que Stewart estava em terceiro e tirando a diferença. Nas voltas seguintes o escocês voou baixo e tirou cerca de meio segundo por volta. Na 15ª volta os três passaram colados um no outro e andando no limite. Como tentar uma ultrapassagem naquelas condições seria difícil – em condições normais – a questão era esperar que alguém viesse a cometer um erro... ou fosse induzido a um.

 

No primeiro terço de prova, Ickx conseguiu manter atrás dele Fittipaldi e Stewart, que não encontravam um meio de passar. 

 

Quando os líderes começaram a encontrar retardatários, mais um fator complicador e foi justamente um destes retardatários que provocou a primeira alteração na ordem dos três que lideravam a prova.

 

Dave Walker não atrapalhou a passagem dos líderes quando estes lhe aplicaram uma volta de atraso, contudo, a curva seguinte era a Druids, que já criara problemas durante os treinos com o asfalto esfarelando. Após 24 voltas, o asfalto estava mais esfarelado ainda, havia até alguns buracos, o que deixava um “trilho” por onde passar. Fora dele, pedriscos, sujeira, pedaços de borracha e, saindo da pista, o barranco onde Stewart ‘perdeu’ o Tyrrell 005 na quinta-feira.

 

Ickx não freou onde deveria e deu uma atravessada. Emerson, que vinha freando depois do belga foi forçado a frear mais forte e atravessou também. Ickx colocou uma roda – a traseira esquerda – fora do trilho... Emerson foi por inteiro! O brasileiro teve que tirar o pé, controlar a derrapagem e evitar sair da pista. Conseguiu, mas isso foi o suficiente para que ele perdesse a 2ª posição para Jackie Stewart.

 

Um erro de Ickx induziu Fittipaldi a um ainda maior. Stewart aproveitou e ganhou a segunda posição. E o "colega" de equipe "ajudou". 

 

O australiano Dave Walker, que vinha perto, também passou e aí surgiu um problema inesperado e inusitado: o australiano resolveu “mostrar serviço”. Retardatário, mas com um carro igual ao de Emerson, resolveu andar forte (o mais que podia) e não abria passagem para o brasileiro. Como era mais lento que os ponteiros, permitiu a Ickx e Stewart abrir vantagem na disputa pela liderança e levou a loucura o dono da equipe – Colin Chapman – e os mecânicos. Emerson só conseguiu passar depois de duas voltas, quando Dave Walker cometeu um erro mais grosseiro em uma das curvas e não teve mais como fechar o caminho do brasileiro.

 

Depois de livrar-se de Dave Walker, Emerson foi à caça de Stewart e Ickx, que haviam aberto pouco mais de 3s de diferença. Foi nessa hora que o Lotus 72-D mostrou estar muito bem acertado. Não se passaram sequer 5 voltas para que Emerson Fittipaldi chegasse nos líderes e embutisse na caixa de câmbio da Tyrrell do escocês. Nesta altura da prova, José Carlos Pace era o 9º colocado e continuava perseguindo Carlos Reutemann, enquanto Wilsinho Fittipaldi conseguira progredir um pouco mais, chegando a 13ª posição.

 

Wilsinho Fittipaldi brigou todo o final de semana contra o carro, mas chegou a andar entre os 10. Ele teve um papel crucial na prova. 

 

Mas foi justamente o piloto da Brabham o protagonista do evento seguinte na já famigerada curva Druids. Jack Ickx alcançou o brasileiro para colocar uma volta sobre ele. Wilsinho errou o ponto de freada e atravessou. Ickx foi rápido: apontou, colocou por dentro e passou. Wilsinho corrigiu e voltou para o trilho... justamente na frente de Stewart, que precisou frear forte para não bater e atravessou também, abrindo um espaço suficiente para que Emerson Fittipaldi colocasse a Lotus por dentro e os dois saíram da Druids lado a lado. Como a curva seguinte era também para a direita, o escocês teve que aliviar e permitir que o brasileiro recuperasse o 2º lugar. Assim, na 36ª volta, estava reestabelecida a ordem anterior ao primeiro incidente.

 

Diante do cenário que já durava metade da prova, tudo apontava para uma vitória de Jack Ickx e sua Ferrari... a menos que ele cometesse um erro ou o carro quebrasse. Para Emerson Fittipaldi, o segundo lugar não era um mau resultado. Ickx estava longe na briga pelo título e ele, naquela condição, abriria dois pontos mais em relação a Jackie Stewart. Mas aquele ano parecia estar mesmo predestinado a ser nosso...

 

François Cevert foi outro que fez uma grande corrida. Largou em 12º, chegou a estar em 4º, mas o Tyrrell não resistiu. 

 

Na volta 49 a Ferrari “abre o bico”! Aquela fumacinha que saía do carro do belga era na verdade um pequeno problema no radiador de óleo, que foi se agravando com o passar das voltas e acabou não resistindo até o final. Emerson Fittipaldi assumia a liderança para o terço final da prova, mas Jackie Stewart estava em seu encalço, cerca de 4 segundos de distância. Peter Revson, que vinha fazendo uma corrida burocrática subia de 4º para 3º, seguido de François Cevert, que largara em apenas em 12º e que escalara o pelotão com um excelente ritmo de Corrida. Moco abandonara 10 voltas antes, quando ocupava a 8ª posição e Wilsinho, mesmo com uma volta a menos, assumia o 9º lugar com o abandono de Ickx.

 

Ao contrário das vitórias anteriores, quando conseguiu estabelecer uma vantagem confortável, desta vez Emerson teve que andar no limite até o fim. Stewart não se deu por vencido e começou a tirar a diferença, que chegou a ser de 0.8 segundos a 10 voltas do final da prova. Contudo, a partir de então Emerson conseguiu abrir um pouco, impondo uma frente de 2 segundos. Stewart parecia ter desistido... ou não? Estaria o escocês armando um ataque para as 5 ou 6 voltas finais? 

 

Mesmo depois de tomar a ponta, Emerson não teve trégua por parte de Stewart. Esta foi, talvez, sua vitória mais difícil na F1. 

 

Foi aí que a “sorte de campeão” sorriu novamente para o brasileiro. Eles chegaram para colocar mais uma volta sobre Wilsinho Fittipaldi. Emerson passou Wilsinho na reta que dava acesso a já amaldiçoada curva Druids e deixou a encrenca para Stewart na “curva problema”. Desta vez Wilsinho não errou, mas não tinha como abrir passagem para o escocês nas duas curvas seguintes por conta da quantidade de sujeira fora do trilho. Seria derrapagem na certa e o 8º lugar em uma prova tão disputada poderia, quem sabe, se tornar um resultado nos pontos ao final das 76 voltas.

 

Stewart reclamou muito. Tanto quando passou, sinalizando para o piloto da Brabham, quanto depois, em entrevistas, dizendo que aquela manobra custou a ele algo em torno de 2 segundos. A diferença subiu para 4 segundos e, ao final das 76 voltas, Colin Chapman invadia a pista para lançar deu boné para o alto pela terceira vez na temporada.

 

No final, o sorriso do campeão (E para quem pensava ou achava que tinha sido o Senna o primeiro a levar a bandeira p/ o pódio...) 

 

Emerson Fittipaldi disparava na liderança do campeonato, “dava o troco” em Jackie Stewart pela vitória na França e impunha 14 pontos ante o bicampeão do mundo. Peter Revson completava o pódio, com Chris Amon chegando em 4º, Denny Hulme – numa corrida apagada – em 5º e o estreante, Arturo Merzario, ao volante da segunda Ferrari, fazendo 1 ponto com o 6º lugar. Wilsinho acabou abandonando a 6 voltas do final.

 

 

Fontes: Revista quatro Rodas, Revista Autoesporte, Revista Fatos e Fotos, Agência Estado. 

 

Last Updated ( Saturday, 16 July 2022 13:50 )