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O tempo passou e somente Nelson não viu PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 07 July 2022 15:31

Caros Amigos, Os conceitos sociais são estruturas mutáveis ao longo da história da humanidade e estas mudanças se dão em todos os seguimentos que possamos assumir ou mencionar.

 

Exemplos não faltam e, citarei alguns, não muitos, para não estender o preâmbulo. Quem visitar um museu onde haja uma exposição renascentista, as mulheres nelas retratadas eram sempre servis e com volumetria considerável. Mesmo no figurativismo da arte moderna, esses volumes permaneceram, paradigma que só foi quebrado nos anos 60/70 quando, Twiggy, a modelo esguia e sem volumes povoou as capas das revistas, contraponto às mulheres da época que faziam sucesso no cinema como Brigitte Bardot e Sofia Loren.

 

O papel do negro na sociedade – que por séculos a igreja católica afirmou serem seres sem alma – passou por um processo similar ao longo de séculos e que, ainda hoje está repleto de questões traumáticas, visto o recente assassinato de um motorista de entregas que foi metralhado com mais de 60 tiros nos Estados Unidos esta semana em que se comemora a independência daquele país, passando por milhões de casos apenas no último século.

 

A visão sobre a diversidade sexual também sofreu enormes transformações, especialmente ao longo dos últimos anos. As crianças da minha geração riram muito das piadas do humorista Costinha – que fazia qualquer um rir apenas com suas expressões faciais – quando contava piadas sobre “as bichinhas”. Apesar de personagens famosos terem lugar de destaque e um aparente respeito, caso de Rogéria – que hoje seria chamada de transexual – que participava de programas de televisão com frequência e sem ser estigmatizada.

 

Há duas semanas estamos vendo a mídia questionando – e as redes sociais bombardeando – Nelson Piquet por ter, inicialmente, referido-se a Lewis Hamilton como “neguinho” eu uma entrevista gravada há vários meses e que veio à tona. Logo em seguida, outro trecho da entrevista foi divulgado onde além de repetir a expressão (neguinho), afirmou que o na época já piloto da Mercedes na Fórmula 1 perdera o título mundial de 2016 para Nico Rosberg por prática excessiva de sexo anal, imputando ao piloto um comportamento homosexual.

 

No ano de 2015, publicamos uma entrevista feita com o tricampeão do mundo onde ele, já naquela altura, referiu-se a Lewis Hamilton como “neguinho”. Apesar de todos os palavrões e outras coisas que normalmente jamais publicaríamos – mas por decisão majoritária do grupo de gestão foram mantidas – a exceção da tipificação do piloto, que por intervenção de um dos criadores do Projeto Nobres do Grid, Ciro Margoni, foi substituída pela expressão “carinha”.

 

Para as pessoas que acompanham o automobilismo há décadas, as “manifestações sem freio ou medidas” de Nelson Piquet passaram do humor ao prosaico. Da ofensa às consequências judiciais, como no caso do aventamento sobre o comportamento homosexual de Ayrton Senna nos anos 80. Mas entre dizer que alguém “não gosta de mulher” e dizer que alguém praticou sexo anal (em demasia para perder o campeonato mundial) vai uma distância enorme e, neste caso, Lewis Hamilton pode vir constituir um advogado e processar o tricampeão mundial por crime contra a honra com base no código penal brasileiro em seus artigos 139 e 140 (Difamação e Injúria). Inclusive, a sua resposta pode perfeitamente dar a entender isso: “É mais do que linguagem. É uma mentalidade arcaica que precisa mudar e que não tem lugar no nosso esporte. Estive cercado e fui alvo dessas atitudes por toda a vida. Já houve muito tempo para aprender. Chegou a hora de agir”. Vejamos se isso vai se tornar fato ou não.

 

As consequências das palavras de Nelson Piquet podem render outras questões além dos tribunais: o Grupo Liberty Media, como dona dos direitos da categoria pode passar a negar o acesso do tricampeão do mundo aos seus eventos. Algo que pode ser corroborado pela Federação Internacional de Automobilismo, que também condenou o ato e as palavras do piloto brasileiro.

 

Assim como mensurei no início desta coluna a forma como valores e conceitos mudaram com o passar dos tempos, cabe a ele – Nelson Piquet – refletir, caso queira, e compreender que o mundo mudou, algo que sinceramente não creio que vá acontecer. Ficará apenas uma paráfrase aos versos de Chico Buarque: “O tempo passou na janela e apenas Nelson não viu”.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva

 

p.s. Esta coluna deveria ter sido publicada na semana passada. Não o foi devido à minha hospitalização, da qual tive alta esta manhã.