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O Jogo de Equipe na Fórmula 1 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 07 October 2010 08:22

 

 

O jogo de equipe na F1: os prós e contras. 

 

O jogo de equipe na F1 é um assunto que gera discussões infindáveis e que divide opiniões. Ou se é a favor ou contra. E o assunto se prolonga em mesas de bar, ou em rodinhas de bate papo nas segundas feiras pós GPs. Ainda mais agora na reta final de um campeonato tão disputado como esse.

 

 

 

Longe desse texto querer defender um lado ou outro dessa questão, ou apresentar uma solução para o caso. A intenção é apenas expor mais detalhadamente as motivações de quem defende uma tese ou outra. O que nos pode levar a uma reflexão sobre a ponto de vista contrário ao que defendemos. 

 

 

As linhas de raciocínio e suas incoerências. 

 

 

O Grande Prêmio da Alemanha em 2010 e a "ultrapassagem da discórdia" entre Fernando Alonso e Felipe Massa.

 

Há quem defenda que o jogo de equipe deve ser permitido porque na F1 sempre foi assim, e que como em outros esportes, equipes escolhem sempre um único esportista para vencer. Quem defende esse ponto de vista, ignora a questão esportiva. Quem é contrário ao jogo de equipe alega que vai contra os princípios do esporte. Entretanto, ao defender somente a causa esportiva, renega que a categoria F1 tem em sua história vários casos de jogos de equipe. Existe ainda quem defenda uma linha híbrida, que seria permitir o jogo de equipe em etapas decisivas. Essa linha de raciocínio, porém acaba sendo a mais incoerente de todas: defende que até determinado ponto a disputa seja puramente esportiva, mas após determinado momento, jogos de equipe são aceitáveis. Em resumo, todas as linhas de raciocínio possuem suas incoerências. 

 

Em 1978, A dupla Mario Andretti e Ronnie Peterson: O clássico exemplo do jogo de equipe. Por contrato, Peterson não podia passar!

 

Não há como negar, a F1 historicamente teve inúmeros casos de jogos de equipe. Desde os seus primórdios, quando Alfred Neubauer, o chefão da Mercedes mostrava bandeiras e placas para seus pilotos (a primeira vitória de Stirling Moss na F1 foi fruto de jogo de equipe por parte de Fangio e Neubauer), passando pelos dias de Jim Clark, a dupla Mario Andretti-Ronnie Peterson em 1978 e chegando as duplas da Ferrari Schumacher-Irvine, Schumacher-Barrichello e Alonso-Massa. 

 

Por outro lado, também não há como negar que as disputas de pilotos é o que atrai o espectador médio da F1. Grande parte do crescimento da popularidade da categoria nos anos 1980 surgiu exatamente nos períodos de conflito interno de equipes, como tivemos com as duplas explosivas Reutemann-Jones, Pironi-Villeneuve, Mansell-Piquet e Senna-Prost. 

 

 

Em 1989, o oposto: Senna e Prost foram as últimas consequências na disputa pela vitória - batendo - dentro da mesma equipe.

 

Quando os opostos se atraem. 

 

E aí chegamos num ponto onde ambas as linhas de raciocínio se juntam numa questão: até que ponto o campeonato é de pilotos e até que ponto o campeonato é uma disputa de equipes. Por mais incrível que possa aparecer, ordens de equipe valorizam a disputa de pilotos, embora não sejam do mesmo time. O público de um modo geral se importa muito mais com o campeonato de pilotos do que com o de construtores. O título de construtores é o que garante o dinheiro das cotas de televisão que os times ganham anualmente do chefão da F1, Bernie Ecclestone. Mas o dinheiro e a publicidade obtidos com um título de pilotos é muito maior do que o dinheiro e publicidade do título de construtores. E é isso o que os times e marcas querem. Não vamos muito longe: todos se lembram que Lewis Hamilton foi o campeão de 2008 numa disputa apertadíssima com Felipe Massa. Mas poucos se lembram que a Ferrari foi campeã de construtores daquele ano. 

 

Temos ainda o aspecto pilotos: como qualquer esportista, eles se sentem obviamente frustrados em abdicar de uma vitória para favorecer um companheiro de equipe. No caso da F1, essa situação se agrava, pois cada piloto possui uma alta dose de ego e, além disso, devemos nos lembrar que o primeiro rival que você tem é exatamente o seu companheiro de equipe. Mas mesmo com esse sentimento de frustração, muitos deles acabam cedendo as ordens da equipe. Motivações para isso não faltam. Apesar de a financeira ser a primeira que aparece à cabeça de todos, há também o aspecto troca de favores. Na Ferrari, por exemplo, Massa cedeu uma vitória certa a Kimi em 2007, e foi devidamente retribuído no ano seguinte. 

 

O rompimento do pacto com o espectador X Costumes tradicionais do automobilismo. 

 

 

Com as possíveis consequências das decisões da FIA, fica a pergunta: Como fica o espectador da Fórmula 1 com tudo isso?

 

Recentemente, Francisco Rosa, o administrador do autódromo de Interlagos e um dos desbravadores do nosso automobilismo, disse que os espectadores do GP da Alemanha foram lesados. Sua tese em certa parte faz sentido. A maioria dos espectadores da F1 espera assistirem disputas entre carros, equipes e, sobretudo pilotos. O jogo de equipe feito pela Ferrari rompe esse pacto da categoria com o espectador. 

 

Logo após o GP, o ex piloto David Coulthard e o apresentador da BBC Jake Humpfrey tiveram um diálogo interessante. Humpfrey argumentou que a atitude da Ferrari foi vergonhosa, especialmente para os fãs da categoria. David por seu lado, argumentou que não condenava a atitude da Ferrari pois o jogo de equipe é algo que existe no automobilismo desde os seus primórdios. Jake então fez a seguinte pergunta a David: 

 

- O mundo mudou muito desde então, não concorda? 

 

A pergunta de Humpfrey em princípio pode parecer leiga e até inocente, mas que faz muito sentido, especialmente se entendermos as origens de cada um. Coulthard é uma pessoa que há pelo menos 25 anos lida diariamente com automobilismo, já trabalhou dentro de grandes equipes, e para ele, ordens de troca de posição soam tão corriqueiras como para nós mortais é o nosso superior nos ordenando a fazer aquela atividade que mesmo que não gostemos, temos de fazer. A visão de Jake está alinhada com a visão dos espectadores médios de F1. Esse espectador, acima de tudo, quer ver disputas. 

 

E também por essa razão, fica difícil comparar os jogos de equipe que ocorreram em eras anteriores com os que ocorrem atualmente. Especialmente os que ocorriam nos anos 1950/1960. A aceitação do público a essas atitudes era maior porque o público da F1 era consideravelmente menor. Não havia transmissões via satélite para o mundo todo, ou freqüências de rádio sendo divulgadas quase em tempo real. 

 

E, de um modo geral, o mundo mudou mesmo. Nos anos 1950, fumar era um hábito envolto em glamour, era normal ver filmes ou histórias em quadrinhos onde só existiam heróis de cor branca, entre outras coisas que hoje se tornaram politicamente incorretas. Mas, ao mesmo tempo, desenvolvemos uma tolerância maior a hábitos que em eras priscas eram passíveis de execração quase perpétua. Hoje aceitamos com muito mais passividade escândalos de corrupção. De certo modo, ficamos ainda mais incoerentes. 

 

O julgamento da FIA: veredicto injusto. Ou não? 

 

 

Jean Todt - Presidente da FIA - chegando ao tribunal para o julgamento que teve, em sua decisão, a causa da controvérsia.

 

Eis então que chegamos ao ponto do julgamento da FIA sobre o caso de Hockenheim. Seu veredicto foi certo ou não? Ao pé da letra, a Ferrari violou o regulamento, que proíbe o jogo de equipe, e seus pilotos deveriam ser desclassificados da prova. Mesmo para questões dúbias, como por exemplo, a punição dada para Michael Schumacher em Mônaco por ultrapassar Alonso mesmo com bandeiras verdes liberando a pista, a FIA decidiu punir pilotos e equipes. Porque nesse caso deveria ser diferente? 

 

Só que a coisa não é tão simples assim: A FIA julgou a Ferrari inocente, apesar de esta ter claramente violado o regulamento porque caso a Ferrari fosse punida por isso, se abriria o caminho para protestos e mais protestos após cada GP. 

 

Ordens de equipe não são apenas instruções monossilábicas como “Fer-nan-do es-tá ma-is rá-pi-do que vo-cê. Vo-cê con-fir-ma que en-ten-deu a men-sa-gem?!?” Também são ordens de equipe frases como “Economize combustível” ou “Tragam as crianças pra casa” que geralmente escutamos quando vemos uma dois carros da mesma equipe andando juntos um do outro. Punir somente a primeira instrução é uma clara incoerência com as próprias regras. E se olharmos em retrospecto, tivemos vários casos assim durante essa temporada. 

 

O que pode ser questionado no veredito da FIA é que, diferentemente do caso de Michael Schumacher ou de outros casos, a entidade primeiro aplicou a punição para depois rever suas regras. Nesse caso, a regra foi revista e não houve punições. Por mais incrível que possa parecer, a atitude da FIA tem alguma lógica: caso aplicasse alguma punição aos italianos por isso, a regra jamais poderia ser revertida esse ano. E pior do que isso, caso outro time fizesse isso nas etapas finais do campeonato (McLaren ou Red Bull poderão eventualmente fazer, caso um de seus pilotos saia da disputa antes do final da temporada), a FIA teria de punir esse outro time infrator. 

 

Alternativas para o jogo de equipe. 

 

 

A equipe Hendrick Motorsports, na NASCAR: Dois carros, dois pilotos, patrocinadores diferentes em cada um deles.

 

Durante todo o caso Ferrari, jornalistas, torcedores e membros da categoria propuseram algumas alternativas: a liberação ampla total e irrestrita do jogo de equipe, a liberação do jogo de equipe a partir de ¾ da temporada, a liberação do jogo de equipe quando o segundo piloto não tivesse mais condições matemáticas de título ou a manutenção da proibição do jogo de equipe. 

 

Outra alternativa: a proposta do automobilismo americano, que acaba coibindo o jogo de equipe. Na terra do tio Sam, as equipes até possuem mais carros do que na F1, entretanto, a maior parte delas patrocinadores diferentes para cada carro. Um patrocinador como a Gatorade não ficaria satisfeito em saber que o piloto que patrocina abriu mão de vencer pra favorecer um piloto que defende as cores da Nike, só pra ficar num exemplo comum. 

 

É óbvio que isso jamais ocorrerá na F1. Os carros correm com patrocínios iguais. E também é óbvio que as alternativas propostas sempre esbarrarão em alguns pontos de falta de coerência. 

 

Até a próxima, 

 

Arlindo Silva 

 

Last Updated ( Thursday, 07 October 2010 09:03 )