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Uma estrela cadente chamada Guy Moll PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 25 May 2022 19:10

Sempre que Enzo Ferrari era entrevistado e questioado sobre os melhores pilotos que tinha visto, ele era um dos que sempre referia. Mesmo em idade avançada, e quando Gilles villeneue corria na sua equipa, não o comparava a Tazio Nuvolari, mas a outro piloto que surgiu nesse tempo, mas que teve uma carreira meteóricamente curta, quando como se fosse um “flash” de luz numa noite de absoluta escuridão. Isto porque ele teve apenas quatro anos para se mostrar ao mundo, até acabar tudo abruptamente numa corrida, como acontecera a muitos.

 

Ferrari teve-o como piloto e sempre o elogiou pela sua velocidade e ousadia. Mas hoje em dia, se falar em Guy Moll, já ninguém sabe, porque ninguém está vivo para poder falar dos seus feitos. Contudo, este francês, nascido na Argélia, foi um dos mais velozes e ousados do seu tempo.

 

Nascido a 28 de maio de 1910 em Argel, filho de pai espanhol e mãe francesa, começou a correr aos 20 anos, a bordo de um Lorraine-Dietrich, em provas na sua terra natal. Os seus resultados chamaram a atenção de outro piloto, Mercel Lehoux, que tinha uma companhia de importação e exportação, que lhe emprestou um Bugatti para correr em pro vas em Oran e Casablanca, onde acabou por dar nas vistas – liderou ambas as provas antes de se retirar. Estávamos em 1932 e Lahoux o convidou para uma terceira corrida, no GP de Marselha, no seu Bugatti. Ali, as coisas correram bem e acabou no lugar mais baixo do pódio, apenas batido por Nuvolari, o primeiro, e Raymond Sommer.

 

 

Convencido que tinha um tesouro por polir, Lehoux arranja um segundo carro para 1933 e no Grande Prémio de Pau, corrido nas sinuosas ruas daquela cidade francesa... e debaixo de uma tempestade de... neve, Moll é segundo atrás de Lehoux, e logo que nada conhecia da pista.

 

O ADORADO DE FERRARI

 

Estes resultados atrairam a atenção do diretor da Alfa Romeo e antigo piloto, Enzo Ferrari. Mas ainda iria demorar o seu tempo, porque ele tinha decidido comprar um Alfa Romeo 8C 2300 para participar nas provas francesas como Nimes ou o Grand Prix de Marne, em Reims. Ali, conseguiu pódios e um ritmo ao nível dos melhores, apesar de ter uma máquina inferior.

 

 

Com estes resultados no final de 1933, Ferrari quis-o e conseguiu contratá-lo, correndo ao lado de Nuvolari. Mas no final desse ano, a Alemanha decidiu meter em pista as suas equipas de fábrica da Mercedes e da Auto Union, não olhando a meios para construir as melhores máquinas de automobilismo e provar a superioridade tecnológica alemã. E claro, os melhores pilotos como Rudolf Caracciola, Hans Stuck e Bernd Rosemeyer, lá estavam a competir nessas máquinas.

 

Moll tinha nas suas mãos o Alfa P3, a máquina mais poderosa do seu tempo, mas ainda não tinham visto os alemães a correr. E não os veriam no Mónaco, onde os Alfas guiariam contra os Maserati 8CM e os Bugattis. Moll não foi mais do que sétimo na grelha, com a pole-position a cair nas mãos de Carlo Felice Troissi. Mas na corrida, Moll começou a subir posições e era segundo quando o local Louis Chiron cometeu um erro a duas voltas do fim, quando bateu com o seu carro contra as barreiras de proteção na Chicane do Porto. Aos 23 anos e 10 meses de idade, Moll era o piloto mais novo até então, um recorde que seria seu por mais 74 anos, até Lewis Hamilton o bater, em 2008.

 

 

Um mês depois, a Alfa Romeo estava em Tripoli para a corrida local onde Achille Varzi, seu companheiro de equipa, tudo fez para triunfar, incluindo bloquear Moll de forma ostensiva. Apesar de tudo, era uma dupla no qual a Alfa Romeo poderia comemorar, porque já sabiam o que poderia contar do lado alemão.

 

Na primeira demonstração entre máquinas italianas e alemãs, em Avus, o velocissimo circuito em Berlim, tudo indicava que seria uma vitória fácil para Hans Stuck e o seu Mercedes, ainda por cima, os seus modelos eram aerodinamicos. Contudo, uma falha na embraiagem fez com que Stuck desistisse e Moll herdasse a vitória, num Alfa P3 com elementos aerodinâmicos, montados para aquele circuito.

 

DESPISTE FATAL

 

Em Montlhéry, palco do GP de França, os Mercedes dominaram a grelha, mas na corrida sofreram diversos problemas, acabando por nenhum dos seus carros concluir a sua participação. Foi um passeio para os Alfa Romeo, com Chiron a ser o melhor, e Varzi o segundo, com Moll a ser o terceiro, no carro de Troissi.

 

 

A Alfa preparou-se depois para a Targa Florio, que naquele ano iriam correr no circuito “piccolo” Madione. Esse circuito “pequeno” tinha uns meros... 72 quilómetros, mas ali, os carros italianos não tinham concorrência à altura porque aos Mercedes e Auto Unions, aquela não era uma corrida interessante. Varzi triunfou, Moll foi o segundo. E a mesma coisa acontecera na Coppa Ciano, em Montenro, nos arredores de Livorno, outra vez atrás de Varzi.

 

Em agosto, a Alfa iria correr em mais uma prova, a Coppa Accerbo, em Pescara. O circuito era enorme – 25,5 quilómetros – e naquele ano, as más condições atmosféricas eram a norma. As coisas correram bem aos Alfas, e nesta corrida, Moll conseguira se livrar de Varzi e perseguia o Mercedes de Luigi Fagioli. Nessa perseguição, entre eles se encontrava outro Mercedes, o de Ernst Henne.

 

 

Moll passou Henne numa reta apertada e na manobra, perdeu o controlo do seu carro, acabando numa valeta e debaixo de uma ponte. Gravemente ferido, acabou por morrer mais tarde naquele dia. Tinha 24 anos e estávamos a 15 de agosto de 1934. Poucos dias mais tarde, ele era enterrado no cemitério Maison Carré, em Argel, encerrando assim de modo brusco aquilo que estava a ser o seu grande ano no automobilismo.

 

 

Até ao final da sua vida, Ferrari se convenceu que ele poderia estar a caminho de ser um dos melhores pilotos de sempre, a par de Nuvolari e Caracciola. Quando no final dos anos 70, já idoso, tinha contratado Gilles Villeneue e todos o comparavam ao italiano, Ferrari sempre se recorda do francês que apenas teve um ano para mostrar o seu talento.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.