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GP dos EUA 1970 - 40 anos PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 15 September 2010 04:32

 

 

Neste mês de outubro comemoramos 40 anos da primeira vitória de Emerson Fittipaldi na Fórmula 1, no Grande Prêmio dos Estados Unidos, de 1970. Uma vitória que, não apenas por ser a primeira de mais de uma centena de vitórias de pilotos brasileiros na categoria, mas que foi obtida naquela que era apenas a quarta corrida de um jovem brilhante, dono de uma carreira meteórica nas pistas fora do seu país natal. 

 

A história desta corrida começa bem antes mesmo da ida dos carros da mais importante categoria do planeta para o continente norte americano, onde seriam disputados os três últimos GPs da temporada. 

 

O Drama. 

 

No sábado, dia 5 de setembro, quando Jochen Rindt perdeu o controle do carro e sofreu o acidente que tirou-lhe a vida. Rindt tinha 45 pontos, fruto de 5 vitórias ao longo da temporada e seu mais próximo perseguidor, o belga Jacky Ickx, precisava vencer as três corridas restantes para ser campeão e superar o austríaco por um ponto. 

 

 

A tragédia que abateu-se sobre a equipe Lotus alçou o jovem Emerson Fittipaldi à condição de primeiro piloto da equipe. 

 

Aquela corrida na Itália seria a primeira prova de Emerson com o mesmo carro do principal piloto da equipe. A equipe retirou-se da prova, vencida pelo suíço Clay Regazzoni, em luto pelo piloto e também não disputou a primeira das provas no continente americano, o GP do Canadá, disputado em 20 de setembro, e que teve a vitória de Jacky Ickx. Agora faltavam duas provas para a Ferrari tomar o título da Lotus.  

 

Antes da corrida nos Estados Unidos, Colin Chapmann chamou Emerson no seu escritório e disparou: “quero que você seja o primeiro piloto da equipe na corrida em Watkins Glen”. Estava lançado sob os ombros daquele piloto com apenas 3 provas de Fórmula 1 na carreira a responsabilidade de liderar a equipe que ponteava o campeonato de construtores e que via este título também ameaçado pela Ferrari. 

 

Vinte e sete pilotos foram escritos pelas diversas equipes para o GP dos Estados Unidos, a ser disputado no dia 4 de outubro daquele ano. Apenas 24 largariam, ficando 3 deles fora por classificação em tomada de tempo. A Lotus, além de Emerson Fittipaldi, trazia um piloto novato, o Sueco Reine Wisell (foto ao lado, à direita), que fazia sua estréia na categoria em provas oficiais!!! O segundo piloto da equipe (Emerson corria com o 3º carro até a Italia), O inglês John Milles (foto acima, à esquerda), desistiu de correr, abandonando a categoria após a tragédia do companheiro de equipe. 

 

Além destas mudanças radicais na Lotus, a Surtees inscreveu 2 TS7, com o próprio Surtees e Derek Bell, grande especialista em provas de turismo e mais alguns outros em um tempo que se podia comprar um carro e alinhar no grid. Nas demais equipes, os times tinham a força máxima: a Ferrari com jacky Ickx, Clay Regazzoni e Ignazio Giunti. A Tyrrell com Jackie Stewart e François Cevert, A McLaren com Denny Hulme, Peter Gethin e Andrea De Adamich, a BRM com Pedro Rodrigues, Jackie Oliver e George Eaton, a Matra com Jean Pierre Beltoise e Henry Pescarolo, a March com Jo Siffert e Chris Amon além de outros pilotos promissores como Tim Schenken, Rolf Stommelen e Ronnie Peterson.  

 

Os Treinos. 

 

Na sexta-feira, o primeiro dia de treinos, Ickx voou baixo, marcando 1m03,07s, tempo que não foi mais batido e que rendeu ao belga a pole position. Quem conseguiu virar mais próximo foi o campeão Jackie Stewart, com 1m04,24s, mais de 1 segundo atrás. Depois vieram Chris Amon e Clay Regazzoni, Emerson Fittipaldi fez o 5º tempo, com 1m04,69s.  

 

A chuva veio com força no sábado, deixando praticamente todos nos boxes, em chances de melhorar seus tempos. Apenas no final do treino, depois que parou de chover, a pista começou a secar e todos acabaram indo para uma tentativa de melhora de seus tempos... e a maioria conseguiu, apesar da chuva ter lavado a borracha do dia anterior (naquela época os pneus não tinham o “efeito-chiclete” dos dias de hoje). 

 

 

Jacky Ickx marcou um tempo estupendo na sexta-feira, primeiro dia da qualificação. Na prova, o belga foi ainda mais rápido. 

 

Stewart conseguiu marcar 1m03,62s, mantendo-se na primeira fila, Emerson foi o outro piloto que conseguiu andar abaixo de 1m04s, fazendo 1m03,67, conquistando a terceira posição... só que, em Watkins Glen, as filas eram todas de 2 carros, ao contrário de alguns circuitos, que se fazia 3-2-3-2... Ao lado de Emerson, largaria o mexicano Pedro Rodriguez. Amon e Regazzoni na terceira fila, Oliver e Surtees na Quarta, Wisell e Graham Hill, com uma Lotus privada, na quinta. 

 

No sábado, após os treinos, Colin Chapmann chamou Emerson para uma conversa e falou que tinha a intenção de trocar o motor usado nos treinos pelo motor que Emerson usara no Lotus 49 nas suas 3 corridas na equipe. Durante os dois dias em Watkins Glen, o motor do Lotus 72C andou com a pressão de óleo quase a zero. Chapmann não mostrava confiança naquela situação e perguntou ao piloto brasileiro o que ele achava... humilde, Emerson disse que não seria ele, com tão pouca rodagem de F1 que iria questionar a decisão do experiente chefe de equipe. 

 

A Corrida. 

 

 

A chuva e a lama fizeram a organização da prova ordenar 6 voltas de apresentação para "limpar a pista", permitindo o reabastecimento. 

 

O domingo amanheceu com uma “cara de poucos amigos”, com o céu encoberto e todos os indícios de que teríamos um cenário como o do dia anterior: pista molhada. Todas as equipes prepararam seus carros com pneus de chuva – que poderia se constituir em mais uma vantagem para Ickx, que além da pole era um dos melhores pilotos com pista molhada daquela geração do final dos anos 60 / início dos anos 70. 

 

Não bastasse a chuva e o engarrafamento para se chegar ao autódromo, o que levou Emerson e outros pilotos a terem que ir de helicóptero para o local da competição, o acesso do público passava, em diversos pontos, por dentro do autódromo. Isso deixou a pista bastante enlameada, uma coisa inimaginável nos dias de hoje. 

 

 

Na largada, Emerson (carro mais à esquerda abaixo da placa da Dunlop), perde terreno... no final da primeira volta era o 8º. 

 

Com o correr do dia, o tempo melhorou, o sol apareceu e a pista começou a secar... e aquela lama foi virando um “barro”, que certamente iria levantar nuvens de poeira, comprometendo a visibilidade dos pilotos. As equipes correram para trocar os pneus de chuva pelos de pista seca e isso levou os organizadores a determinar que fossem feitas 6 voltas de apresentação para dar uma “limpada na pista” e, após estas, as equipes poderiam reabastecer os carros. Isto provocou um atraso de 20 minutos na largada daquela prova, que teria 108 voltas e umas duas horas de duração, se fosse feita em pista seca. 

 

A responsabilidade pesava sobre os ombros do piloto brasileiro e ele, largando exatamente atrás do maior adversário para aquela prova, teria que fazer tudo certo... mas as coisas nem sempre saem como planejado em corridas de carro, especialmente nas do passado e a largada foi um desastre. Ickx patinou com as rodas e largou mal, permitindo que Jackie Stewart e mesmo Pedro Rodriguez o superassem. A patinada levantou muita poeira e Emerson teve ainda mais cautela do que costumava ter... e isso o fez cair para a oitava  posição. Os 8 primeiros eram: Stewart; Rodriguez; Ickx; Regazzoni; Amon; Surtees; Oliver e Fittipaldi. 

 

 

Pedro Rodriguez andou sempre entre os primeiros, mas acabou tendo que parar nos boxes para reabastecer na 100ª volta. 

 

A pista, empoeirada e escorregadia, era um risco extra para os pilotos. Mesmo assim, algumas ultrapassagens aconteceram, entre elas, Emerson passou Johnny Surtees, na 5ª volta, subindo uma posição. O campeão de 64 abandonaria na volta seguinte. Emerson parecia manter aquele que veio a ficar famoso “ritmo de espera” das primeiras voltas. Enquanto isso, lá na frente, Stewart voava, abrindo mais de 1s por volta em relação à Pedro Rodriguez, que começava a ser ameaçado por Jacky Ickx. 

 

Na 15ª volta, era Jackie Oliver quem abandonava a prova... e Emerson subia para o 6º posto. Em seguida, Ickx consegue a ultrapassagem por Pedro Rodriguez, e logo em seguida, Regazzoni também consegue superar o mexicano, que cai para o quarto posto, à frente de Chris Amon. 

 

 

A partir da 20ª volta, Emerson começa a apertar seu ritmo de corrida. Era a hora do gênio tirar do Lotus 72C tudo o que podia. 

 

Emerson aperta seu ritmo e começa a virar muito rápido, aproximando-se de Amon, mas a ultrapassagem só se dá na volta 47. o neozelandês precisou ir aos boxes na volta seguinte. Antes disso, Clay Regazzoni precisou parar nos boxes, na volta 37, e assim, no meio da corrida Emerson já era o 4º colocado. Naquela altura, a distância que o separava de Pedro Rodriguez era de pouco mais de 9s. 

 

Stewart continuava voando e apenas os 4 primeiros estavam na mesma volta... por enquanto. Na volta 56, o escocês chegava para colocar uma volta em Emerson Fittipaldi e, na mesma volta, Ickx para nos boxes com problemas no sistema de injeção. Emerson já estava no podo, mas a distância para Pedro Rodriguez aumentava lentamente. Apenas os dois primeiros estavam na mesma volta agora. 

 

 

Jackie Stewart, que dominou a prova com extrema superioridade, acabou a prova no gramado ao lado da pista com o motor quebrado. 

 

No terço final da prova, mais problemas surgiam nos não tão resistentes F1 da época... e a “vítima da vez” era o líder da corrida. O motor Ford de Jackie Stewart começava a soltar aquela fumaça esbranquiçada nas trocas de marcha, denunciando que algo estava errado. Stewart diminuiu seu ritmo de prova, à ponto de Emerson conseguir tirar a volta de desvantagem. Contudo, na 82ª volta o motor lança de vez e Stewart acaba a prova em uma área de escape. Pedro Rodriguez assume a liderança, com Emerson em segundo. Reine Wisell vem fazendo uma corrida extremamente consistente e já aparece na terceira posição, seguido de Chris Amon e Derek Bell. Ickx, que voltara na 12ª posição, voava baixo em busca do tempo e do terreno perdido, ele já era o 7º. O belga sabia que precisava vencer e, naquele momento, era o piloto que virava mais rápido na pista. 

 

 

Após a parada de Pedro Rodriguez, Emerson assumia a ponta. "As 8 voltas mais longas de sua vida", segundo o campeão. 

 

A corrida encaminhava-se para o seu final, com Pedro Rodriguez administrando uma confortável vantagem de 17s para Emerson Fittipaldi quando, na centésima volta (faltando 8 para o final), o mexicano entra nos boxes. Ele não tinha combustível suficiente para chegar ao final da prova! Emerson rasga na reta e recebe a placa “P1”... a “ficha demora a cair” e, na volta seguinte, nova placa “P1. Rodriguez P2”. Nosso campeão não se contem e manda um “Nossa Senhora... estou ganhando o GP dos Estados Unidos!”, dentro do capacete... na época não havia rádio, isso ele contou depois. Emerson confessou depois que aquelas foram as oito voltas mais longas da sua vida. O estilo cerebral se fez valer mais uma vez ele tratou de levar o carro até o final, chegando, inclusive, a tirar o pé antes de completar a última volta para não se aproximar de um retardatário (é bom lembrar que, paradas nos boxes nos anos 70 não eram como as de hoje em dia e nem como as dos anos 80, questão de segundos). 

 

 

No pódio, a consagração do jovem brasileiro, que menos de dois anos antes, chegava na Europa para pilotar um Fórmula Ford. 

 

Entrando pela reta atrás do retardatário, Emerson conseguiu ver Colin Chapmann saltar para dentro da pista, posicionar-se logo após o diretor de prova e lançar para o alto o boné – na época, branco – para o alto, como tantas vezes fizera com Jim Clark, Graham Hill e Jochen Rindt. 

 

A vitória de Emerson garantia o título do campeonato mundial de pilotos para o austríaco (na verdade, alemão de nascimento) Jochen Rindt, uma vez que impossibilitava Jacky Ickx de alcançá-lo na pontuação. O belga terminou a prova na quarta posição, atrás de Pedro Rodriguez e Reine Wisell, mesmo tendo feito a volta mais rápida da corrida, com 1m02,74s. 

 

 

Na manchete do jornal americano, o valor do prêmio pela vitória. Os americanos não era capazes de traduzir o que ela significava.

 

Na revista Autosport, a capa era um troféu... não apenas para Emerson Fittipaldi, mas para toda uma geração de pilotos e as seguintes! 

 

A festa da equipe pela conquista, a homenagem a Rindt e a celebração ao feito não apenas do brasileiro, mas do piloto sueco também comoveu a todos. Foram muitos abraços e muito choro, mas ali, naquele dia 4 de outubro de 1970, o mundo era apresentado a um dos mais perfeitos, mais completo e mais genial dos pilotos de sua história... e o Brasil inseria-se de uma vez para sempre no universo da elite do automobilismo mundial. 

 

Parabéns, Emerson. Parabéns, Campeão!

 

Fontes: Revista Autoesporte; Revista Quatro Rodas; Jornal Folha de São Paulo; CDO.

 

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Last Updated ( Monday, 11 October 2010 02:26 )