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Uma questão de princípios PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 12 January 2022 20:24

Caros Amigos, O estimado leitor destas nossas conversas semanais das quintas-feiras talvez já tenha ouvido a expressão que usei como título da coluna desta semana.

 

O que juridicamente é definido como princípios são verdades ou juízos fundamentais que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de juízos, ordenados em um sistema de conceitos relativos à dada porção da realidade. Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos éticos e morais dos valores de um cidadão ou de uma sociedade.

 

Não pretendo me alongar no preâmbulo da coluna para podermos nos deter por mais tempo na essência da relação dos princípios do homem ou de uma sociedade. Após a corrida onde foi decidido o título mundial de Fórmula 1 do ano passado, envolta nas controversas decisões do diretor de provas, Michael Masi, que interferiu dramaticamente no resultado da corrida e – consequentemente – do campeonato, Lewis Hamilton isolou-se do contato com toda a mídia após deixar o paddock em Yas Marina.

 

Sua única aparição foi no Palácio de Buckingham onde recebeu o título de cavaleiro da coroa (Agora ele é Sir. Lewis Hamilton). Ele – assim como o diretor da Mercedes, Toto Wolff – não compareceram à festa de premiação dos campeões da temporada na sede da FIA em Paris, contrariando o agora ex-presidente, Jean Todt, o atual presidente, Mohammed bin Sulayem, que prometeu analisar o fato do não comparecimento e possíveis punições a este ato.

 

Apesar do silêncio, tanto de Hamilton quanto da Mercedes, as questões em torno dos fatos acontecidos, do silêncio voluntário e do enorme leque de possibilidades sobre o que poderá ou não acontecer, a FIA abriu uma investigação sobre os atos do diretor de prova naquele fatídico domingo e que a abertura deste inquérito foi fundamental para a Mercedes desistir do recurso à decisão inicial tomada sobre os protestos apresentados após a corrida e que foram negados pelos comissários desportivos. O passo seguinte seria a “corte de apelações” da própria FIA, em Paris.

 

Independente do resultado deste inquérito, o campeonato de 2021 está maculado para sempre na história. Falando horas depois que a Mercedes desistiu do apelo, Wolff disse que sua equipe espera responsabilizar a FIA por como a corrida decisiva se desenrolou, mas s especulações são livres e a equipe alemã precisou se pronunciar mais uma vez para negar ter feito um acordo com a FIA onde Michael Masi e Nikolas Tombazis, chefe de assuntos de monopostos da FIA, não estariam mais em cargos da entidade em 2022. A princípio este inquérito vai até o início de fevereiro.

 

O silêncio de Lewis Hamilton me remete ao passado. Em 1989, após o término da temporada onde aconteceu o primeiro dos “episódios de Suzuka” entre Ayrton Senna e Alain Prost. Sentindo-se não apenas esportivamente prejudicado (e o foi) como também politicamente coagido pelo então presidente Jean-Marie Ballestre, o piloto brasileiro recolheu-se a seu refúgio na baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e deixou no ar a possibilidade de não disputar o campeonato do ano seguinte (ele voltou a fazer isso em 1992, antes da temporada de 1993, após o veto de Alain Prost em uma possível ida para equipe Williams e a reedição da rivalidade interna que se estabeleceu na McLaren). Ayrton Senna voltou e na hora de uma decisão extrema, não hesitou em fazer o que fez na primeira curva da primeira volta do GP do Japão.

 

Toda esta situação está sendo um grande problema para a FIA e Sulayem acabou por “herdar” a necessidade de arcar com as consequências a que este inquérito em curso chegar. Diante do evidente erro de interpretação e decisão na torre de controle da corrida, tecnicamente, a solução mais simples seria o afastamento de Michael Masi da direção das corridas para a próxima temporada. Não consigo crer que a FIA não tenha em seus quadros diretores de corrida com capacidade para assumir esta função.

 

Aos críticos de Lewis Hamilton, é importante lembrarmos que nenhuma pessoa tem obrigação de ficar se manifestando em redes sociais, dando declarações à imprensa, convocando coletivas. A relação de Lewis Hamilton com a Mercedes nunca esteve tão forte como neste ano de 2021 e será natural, especialmente em função do que aconteceu, que esteja ainda mais forte para a temporada de 2022, não fazendo o menor sentido a possibilidade que tem sido especulada do piloto inglês fazer “um ano sabático”. Aos 38 anos (a se completarem em 2022) uma saída da categoria seria algo definitivo.

 

Sir Lewis tem se mostrado um homem de princípios, mesmo que muitos não sejam capazes de interpretar tal conceito ou mesmo enxergar tal obviedade.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva