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Malcom Campbell: o primeiro dos recordistas PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 29 December 2021 21:00

Começa a ser frequente as dinastias automobilísticas, quer nos Estados Unidos, quer na Europa. Pais, filhos e até netos já experimentam as sensações da velocidade, e este ano, como sabemos, tivemos em Max Verstappen o quarto filho de piloto de Formula 1 a ser campeão do mundo.

 

E há muitos mais noutras categorias, como os Unsers ou os Earnhardts na América, ou os Nakajimas no Japão. Mas muito antes disso, no Reino Unido, uma família apanhou o bicho da velocidade e marcou o seu nome na história do automobilismo. E nem antes, nem depois, nenhuma família se dedicou aos recordes de velocidade. Falo dos Campbell, e o primeiro da dinastia, Malcom Campbell.

 

Filho de alguém que fez fortuna a vender diamantes, Malcom Campbell nasceu a 11 de março de 1885 em Chislehurst, no Kent britânico. Foi educado para seguir os passos do pai, mas quando estudava o oficio na Alemanha, começou a interessar-se na velocidade, nomeadamente automóveis e motocicletas. No regresso a Londres, trabalhou na Lloyd's, e arranjou uma motocicleta para fazer corridas de resistência, como o London to Land's End. Entre 1906 e 1908, venceu a competição por três vezes, e em 1910, passa para os automóveis, correndo em Brooklands. E contrariando os British Racing Green, a cor escolhida para os carros britânicos nas provas internacionais, Campbell escolheu o azul, depois de ter visto - e ficado encantado - a peça de teatro "The Blue Bird".

 

 Malcom Campbell, antes de acelerar um carro até o limite, foi piloto da RAF na I Guerra Mundial.

 

Com o desencadear da I Guerra Mundial, Campbell, então com 29 anos, alista-se primeiro no 5th Battalion, Queen's Own (Royal West Kent Regiment), uma força territorial, como segundo tenente, antes de pedir transferência para o Royal Flying Corps, para pilotar aviões até à frente de combate, sem participar nela. No final da guerra, em 1919, foi condecorado com o Membro do Império Britânico, na divisão militar e é por esta altura que, casado pela segunda vez, vai ter os seus filhos: Donald, em 1921, e Jean, em 1923.

 

OS RECORDES EM TERRA

 

Malcom Campbell não deixou de estar interessado pelo automobilismo, mas embora os Grandes Prémios sejam algo que lhe interesse, os recordes de velocidade tem mais atração para ele. Trabalhando para a Sunbeam, em 1924, aos 39 anos, pede para que se faça num carro especial para bater o recorde de velocidade em terra. Com isso nasce o 350HP, que tem um motor V12 com esse número de cavalos. Pintado no azul que se tornara a sua cor da sorte, foi para a praia de Pendine Sands, no País de Gales, faz 235.22 km/hora, marcando o seu primeiro recorde mundial em terra.

 

 Trabalhando para a Sunbeam, Malcom Campbell foi empurrando para frente os limites da velocidade.

 

No ano seguinte, pilota um Chrysler Speed Six e torna-se no primeiro piloto a fazer Brooklands a uma velocidade média de 160 km/hora - cem milhas por hora - e voltou ao seu 350HP para fazer 242,8 km/hora, o primeiro a fazer as 150 milhas por hora. O recorde aguentou-se por sete meses, até ser batido por Henry Segrave, no primeiro dos seus recordes mundiais. 

 

Sabendo que o carro tinha os seus limites, começou a construir outro. Projetado por ele e com um motor Napier, tornou-se no primeiro dos Bluebird. Tinha um motor W12 de 23,2 litros, que tinha 502 cavalos, e em fevereiro de 1927, em Pendine Sands, tentou a sua sorte no recorde de velocidade. Apesar de andar perto dos 320 por hora - 200 milhas por hora - no final das suas passagens, conseguiu 281.45 km/hora, suficiente para que o recorde de velocidade voltasse para as suas mãos.

 

 

Mas menos de um mês depois, Henry Segrave conseguiu bater a barreira das 200 milhas por hora. Campbell não queria ver os carros passar, e decidiu modificar o seu carro, rebatizando-o de "Bluebird III". Pediu um motor Supermarine S.5, com 900 cavalos, vindo da aeronáutica, e adaptou-o ao seu carro. Melhorando-o aerodinamicamente nas instalações da Vickers, com uma cauda para efeitos aerodinâmicos, onde foram colocados os radiadores. Quando o carro foi mostrado, um jornal francês comparou-o... a uma baleia.

 

Em fevereiro de 1928, Campbell levou o seu carro para Daytona Beach, nos Estados Unidos, e depois de ter visto Henry Segrave a fazer a sua tentativa, a 19 do mesmo mês, conseguiu 333.063 km/hora, ou 206.956 milhas por hora, a primeira vez que passou a marca. Contudo, o recorde durou apenas dois meses na sua posse, porque o americano Ray Keech conseguiu melhorar para os 334,020 km/hora.

 

 Malcom Campbell cruzou o oceano e foi para Daytona, buscar novos recordes de velocidade.

 

No ano seguinte, voltou à carga, modificando fortemente o seu Blue Bird III, para ser mais potente e mais aerodinâmico, e foi à procura de um lugar mais previsivel para tentar a sua sorte. Encontrou na África do Sul, na Verneukpan, um lago seco salgado, no norte do país, a 720 quilómetros da Cidade do Cabo. Quando o carro chegou e tudo ficou pronto para a sua tentativa de recorde, o lugar, que não recebia chuvas desde há cinco anos... choveu. Para piorar as coisas, a 11 de março, o seu dia de anos, Segrave, seu rival, elevou o recorde de velocidade para 372.47 km/hora.

 

Apesar de tudo, conseguiu 341 km/hora na categoria de cinco milhas e dez milhas (16 quilómetros), recordes que se mantiveram por mais tempo. E para aquilo que queria, teve de construir um carro melhor: o Campbell-Napier-Railton Blue Bird.

 

 Os projetos "Bluebird" de Malcom Campbell eram a cada evolução mais e mais sofisticados... e rápidos.

 

Inspirado no Golden Arrow de Segrave, tinha um motor Napier Lion VIID supercomprimido, chegando aos 1450 cavalos, uma cauda estabilizadora e um chassis aerodinâmico, todo pintado de azul, a sua cor favorita. Enquanto o carro não ficava pronto, Campbell quis voltar a tentar o seu recorde na África do Sul, e lá estava a 13 de junho de 1930 quando soube do acidente mortal de Henry Segrave, que tentava bater um recorde mundial na água. O carro ficou pronto no final do ano e a 5 de fevereiro de 1931, em Daytona, fez a sua tentativa. 

 

Resultou. Conseguiu elevar o recorde para 396 quilómetros por hora, e no regresso, soube que o governo britânico tinha o condecorado como Cavaleiro do Império Britânico, passando a ser "Sir", como tinha sido Segrave, dois anos antes. No ano seguinte, a 24 de fevereiro, elevou o recorde para 402 km/hora, ultrapassando a marca imperial das 250 milhas por hora.

 

 

Campbell sabia dos limites daquele carro foi logo para construir outro BlueBird. Com motor V12 da Rolls-Royce de 36,7 litros, superalimantado e com um total de 2300 cavalos, num carro desenhado por Reid Railton, era um carro visualmente diferente do anterior, mas com alguns elementos que transitaram, como a cauda traseira, elemento de estabilidade.

 

A primeira tentativa foi de novo em Daytona, e a 22 de fevereiro de 1933, conseguiu 438,48 km/hora, mas mesmo com este pulo no recorde, ele descobriu que a tração não era a melhor, por causa da areia na zona, e no design do carro. Logo, começou a fazer duas coisas: modificar o Bluebird e procurar outro lugar. Isso demorou quase ano e meio, até tentar de novo a 7 de março de 1935.

  O "Bluebird V" era tão revolucionário que chamou a atenção desde a sua apresentação.

 

Na nova versão do Bluebird, havia coisas como travões refrigerados a ar, e uma placa que fechava a entrada de ar para os motores durante a aceleração para a tentativa de recorde. E quando tentou, conseguiu 445,50 km/hora, mas o carro não estava bem na superfície arenosa, e ele esperava que carro pudesse conseguir mais. Por essa altura, tinham falado de Bonneville, no estado do Utah, como um bom local para tentar bater recordes. Ele lá foi e trouxe o carro onde a 3 e setembro do mesmo ano, conseguiu 484.955 km/h, 301.337 milhas por hora, o primeiro carro a chegar a tal marco.

 

E entre os que assistiram a esse feito, estava um jovem rapaz de 14 anos, o seu filho Donald.

 

AS SUAS ÚLTIMAS TENTATIVAS NA ÁGUA

 

Por causa destes recordes, Campbell conseguiu triunfar por duas vezes no Prémio Segrave, em honra do seu rival competidor. Depois do Bluebird terrestre, virou atenção para a água, onde os recordes de velocidade nessa superfície eram muito mais arriscados. Aliás, foi ali que Segrave encontrou a sua morte, em 1930.

 

Naquela altura, o recorde pertencia ao americano Gar Wood, que tinha colocado nos 200.94 km/hora. Para tentar ficar com ele, pediu a Fred Cooper para o desenhar e a Fred Goatley, da Sauders-Roe, para o construir. Tinha motor Rolls-Royce, era construido com madeira laminada, e esperava-se que o barcho chegaria aos 130 milhas por hora, 210 km/hora.

 

O barco ficou pronto no verão de 1937 e tentou a sua sorte no Lago Maggiore, em Itália. A 2 de setembro, bateu o primeiro recorde, conseguindo 203,29 km/hora. No dia seguinte, subiu para 208,41, e mais uma vez, ele era recordista. Levou o barco no ano seguinte ao Lago Hallwil, na Suíça, onde melhorou o recorde, aumentando-o para 210.63 km/h. 

 

 Depois de superar todos os recordes possíveis em terra e sobre rodas, Malcom Campbell foi para a água.

 

Campbell sabia que tinha capacidade para fazer melhor, e desenhou o K4, que foi construído como se fosse um hidroplano, e com o mesmo motor, esperava que ele fosse veloz. Mas a maneira como foi desenhado o colocava nos limites aerodinâmicos e hirodinâmicos. Mas tudo correu bem a 19 de agosto de 1939 em Coninston Water, quando conseguiu fazer, nas voltas necessárias para marcar o recorde em 228.108 km/h. 

 

E não deu para mais. a 1 de setembro, Adolf Hitler mandou invadir a Polónia e dois dias depois, Grã-Bretanha e França declaravam guerra à Alemanha. Sem ele saber, Malcom Campbell, então com 54 anos, tinha encerrado a sua carreira como recordista e iria passar o bastão para o seu filho Donald.

 

Na II Guerra, voltou ao serviço ativo, tornando-se parte da policia militar encarregada de fazer evacuar a família real de Londres, em caso de invasão alemã e lá ficou até ao final da guerra, no posto de major. Tinha 60 anos e a idade começava a apanhá-lo. Casado por três vezes, acabou por morrer no último dia de 1948, vitima de um AVC. No final, foi um dos sortudos, por ter morrido na cama, de idade avançada, e não vitima de algum acidente, como aconteceu a alguns dos seus colegas. 

 

Mas o legado continua, graças aos feitos do filho Donald, e os seus carros continuam a ser exibidos em diversos museus um pouco por todo o mundo.  

 

Saufações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

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Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. 
Last Updated ( Friday, 24 December 2021 22:42 )