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Azares e sortes nas transmissões da Fórmula 1 no Brasil PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 15 October 2021 15:47

Tem muita gente que diz que a vida se repete em ciclos (ou é em círculos... sei lá. Alguma coisa assim). Eu penso que essa coisa de ficar andando em círculos é coisa pra cachorro que corre assim, tentando morder o próprio rabo (e eu conheço gente que faz a mesma coisa).

 

Mas eu acredito em raio que cai duas vezes no mesmo lugar e a coluna desse mês é justamente sobre um desses raios que – para nossa felicidade – caiu novamente no mesmo lugar e nos tem dado alegrias dominicais.

 

Atire a primeira pedra (ou controle remoto) aquele que não reclamava das corridas e das transmissões da antiga emissora de TV que detinha os direitos de transmissão da Fórmula 1. Alguém? Duvido! Além de burocráticas, cheias de erros, de narradores que “não eram do ramo”, o respeito com o telespectador era “abaixo de zero”, com pouca ou nenhuma informação, início da transmissão em cima da hora e seu corte abrupto praticamente após a bandeirada. Precisavam mostrar um campeonato de biriba, uma matéria do Xurupita F.C. dos anos 50, etc.

 

 Nos anos 70, transmissão da F1 na TV: o Brasil conquistavas vitórias como em Interlagos, 1975, com Pace de bandeira na mão.

 

Mas para quem não tinha idade (meu caso era ainda pior: eu nem tinha nascido), o desprezo da referida emissora pela Fórmula 1, emissora que meu camarada Shrek, o Ogro do Cerrado, colunista semanal aqui no site se refere como “canal globêstico” – reforçando que a segunda vogal do “globêstico” é outra – não é novidade. Essa não foi a primeira vez que eles desistiram de transmitir o campeonato mundial de Fórmula 1: a primeira vez foi no final de 1979.

 

Fui pesquisar o que teria levado essa desistência da emissora em transmitir as corridas e o motivo foi escancarado por um diretor da emissora já falecido. Armando Nogueira, disse naquela época que “o Brasil tinha perdido o interesse pela Fórmula 1 por não termos mais vencedores”. Com a aposta de Emerson Fittipaldi na equipe da família e com a morte de José Carlos Pace, as vitórias pararam de acontecer. Os pódios eram raros e em 1979, depois da esperança dada no ano anterior com os bons resultados de Emerson Fittipaldi com o F5A, na cor amarela, com um épico segundo lugar na estreia de Jacarepaguá e um campeonato onde marcou 17 pontos, mais do que a McLaren. Só que em 1979 deu tudo errado e as chacotas sobre o carro brasileiro aumentaram absurdamente.

 

 Em 1978, o "canto do cisne" da Equipe Copersucar-Fittipaldi com o F5A e o segundo lugar em Jacarepaguá.

 

A emissora abriu mão a categoria e quem abraçou foi a TV Bandeirantes, que deu uma sorte enorme ao transmitir uma grande temporada, apresentando para o Brasil seu primeiro tricampeão, Nelson Piquet, que depois de cinco anos sem vitórias brasileiras, o público assistiu o surgimento de um novo ídolo nacional. Nelson Piquet conquistou sua primeira vitória na etapa de Long Beach daquele ano, com Emerson Fittipaldi chegando em terceiro.

 Com as imagens transmitidas pela TV Bandeirantes, vimos as três primeiras vitórias de Nelson Piquet na Fórmula 1 em 1980.

 

Piquet ainda venceria os GPs da Holanda (onde subiu no pódio com a bandeira do Brasil nas mãos, citação para desmistificar a prozinha barata de que só um certo piloto falecido era patriota) e Itália. Ele foi na briga pelo campeonato até o final da temporada, sendo o líder do campeonato até a penúltima corrida da temporada.

 

Foi o momento de Galvão Bueno, que transmitiu as corridas ao lado do piloto José Maria (Giu) Ferreira nos comentários, com o multiuso Álvaro José nas reportagens. De “regra 3” na emissora anterior, ele ocupava o lugar que era de Luciano do Valle e teve o início de sua projeção profissional com uma temporada transmitida na íntegra pela mesma emissora e com um brasileiro andando na frente.

 

 A transmissão das corridas de Fórmula 1 alavancaram Galvão Bueno a outro platamar como narrador de eventos esportivos.

 

Isso foi o suficiente para o “canal globêstico” negociar os direitos a valores maiores (o Bom Velhinho do Bernie Ecclestone deve ter aproveitado bem o momento) e levar a Fórmula 1 de volta para sua programação, vivendo os melhores anos para o Brasil, com a apresentação de 5 títulos mundiais em um intervalo de 10 anos e mais algumas temporadas até o impacto daquele muro em 1994. Dali pra frente foi ladeira abaixo, muito por culpa da própria emissora que fabricou um “ídolo puro, infalível e invencível” e tentou fazer o mesmo com os “sucessores”, Rubens Barrichello e Felipe Massa. Sem sucesso.

 

Para deixar a coisa mais desinteressante para os “Tapuias” (termo usado pelo nosso colunista semanal, Alexandre Bianchini, vulgo Gargamel), começou a era dos domínios sem concorrência, com Michael Schumacher, Fernando Alonso, Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, o que somado a corridas sonolentas, com poucas ultrapassagens e muita previsibilidade foi fazendo a audiência cair, apesar do valor dos contratos irem subindo.

 

 Imagem de 1986: Bernie Ecclestone organiza a foto com os protagonistas da temporada - e da década - da categoria.

 

Mesmo fazendo as coisas erradas, a audiência no Brasil – por ser em TV aberta – ainda era a maior do mundo, mas a emissora criava problemas para a categoria, que criou um canal de streaming na internet, mas que não podia ser visto no Brasil. As corridas que conflitavam com eventos de futebol foram para os canais por assinatura e como se nada pudesse ficar pior, veio o novo governo no país, a redução de verbas de publicidade e o fim do contrato em vigor, com a necessidade de renegociar as novas cláusulas. O trem descarrilou!

 

E assim a então poderosa emissora largou a categoria, que voltou para a TV Bandeirantes em 2021, junto com alguns profissionais da emissora, uma forma de transmitir as corridas e bastidores com uma liberdade que não havia antes e para completar o cenário perfeito, uma disputa pelo título com dois pilotos de equipes diferentes, de gerações diferentes e com corridas – em sua grande parte – com emoções há anos não vistas. Deu tudo certo para a Bandeirantes, que tem contrato até o final da temporada de 2022... e que eu espero seja renovado por muito anos.

 

Com ex-integrantes da antiga emissora, mas com uma linha editorial mais solta e interativa, a Band conquistou fãs em 2021. 

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. 

  
Last Updated ( Friday, 29 October 2021 16:34 )