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Autódromo de Interlagos, da Inauguração à Concessão PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 15 June 2021 02:59

Em 12 de maio de 1940, o Autódromo de Interlagos era inaugurado para trazer à São Paulo um dos maiores expoentes mundiais de pista de corridas de automóveis.

 

No início era apenas uma pista que atenderia a cidade para receber os “GPs Cidade de São Paulo”, que atraiam milhares de espectadores do mundo inteiro. Um autódromo seria ótimo para estes grandes eventos, porém o que realmente motivou sua construção, além do interesse financeiro da empresa Auto Estradas S/A, foi um grave acidente no GP Cidade de São Paulo em 1936, onde a piloto Hellé Nice, ao perder o controle de seu carro, vai de encontro ao público, deixando 34 feridos além de 6 mortos.  Então, em 1937 começam as obras daquele que seria o maior autódromo da América do Sul.

 

 Imagens extraídas do site São Paulo Antiga

 

Desde 1940, quando foi inaugurado, passou por várias reformas de manutenção e atualização, sendo que a maior delas aconteceu em 1989, quando a Fórmula 1 dos tempos modernos exigia circuitos mais seguros e curtos, então a pista passou a ter 4.309 metros dos 7.960 que possuía anteriormente.

 

 Foto: site autódromo de Interlagos

 

 Foto: fonte icg.sp.gov.br

 

 Imagem do site: autoentusiastasclassic.com.br

 

 Cartaz da corrida de inauguração do circuito em 1940.

  

Mas a principal mudança não foi na pista, foi na sua titularidade. Em 1949 o proprietário, Louis Romero Sanson, alega não ter mais interesse na pista e que iria construir no local, um grande condomínio residencial. Bastou para que os vereadores da época se sensibilizassem e criassem um projeto de lei (342/49), provocando o prefeito Lineu Prestes para a aquisição do autódromo de Interlagos.

 

 Pagina do projeto de lei 342/1949 para incorporação do autódromo ao patrimônio municipal.

 

Em 1950, o prefeito decreta o autódromo como utilidade pública e em 1953 a prefeitura adquire o autódromo através de uma “desapropriação amigável”. Desde então, o autódromo é oficialmente patrimônio da Cidade de São Paulo.

 

 Matéria publicada em 1964 sobre a concretização da compra (desapropriação amigável), do autódromo pela prefeitura de São Paulo, em 1953.

 

A partir de então, o autódromo passa a ser do município, administrado pelo município e o esporte a motor começa a se expandir em São Paulo e no Brasil.

 

Em 1956 tivemos a 1ª Mil Milhas Brasileiras, prova idealizada e organizada pelo “Barão” Wilson Fittipaldi, radialista e pai de Emerson e Wilsinho Fittipaldi e pelo Eloy Gogliano, presidente do Centauro Motor Club, clube realizador do evento. Ao longo dos anos, esta prova se tornou uma das mais tradicionais do Brasil, reunindo pilotos de todo território nacional e ainda alguns estrangeiros. Ficamos algum tempo sem tê-la, mas desde 2019 a Mil Milhas retorna ao calendário nacional.

 

Em 1968 o autódromo com o asfalto muito deteriorado e boxes obsoletos, recebe sua primeira grande reforma, talvez empolgados com a boa performance de pilotos brasileiros onde alguns deles começavam a fazer sucesso em corridas internacionais, a exemplo dos irmãos Fittipaldi, Luiz Pereira Bueno, Ricardo Achcar, entre outros. Então acontece esta reforma que faria de Interlagos um autódromo com condições de receber inclusive corridas de Fórmula 1, porém ainda em 1971 mais algumas adaptações foram realizadas para receber finalmente a Fórmula 1. Fato que ocorreu em 1972 com a corrida de “homologação”, sem valor para o campeonato mundial, mas que já mostrou aos pilotos da Fórmula 1, a maravilha de circuito, com 7.960 metros e que unia em uma só pista, curvas e retas de todas os tamanhos e ângulos, o que sempre fez de Interlagos uma pista técnica e prazerosa de se pilotar.

 

 GP Brasil 1974 imagem do site autoracing.com, Colaboração: Antônio Carlos Mello Cesar

 

 Os boxes de Interlagos em 1974, ainda com as muretas na frente das garagens (Imagens do site - Sutton-imagens.com)

 

Em 1978 outra reforma para atualização do circuito e reforma dos boxes, por conta desta reforma a Fórmula 1 vai correr no Rio de Janeiro, retornando à São Paulo em 1979 e 1980, para depois ir permanentemente para o moderno autódromo de Jacarepaguá no Rio de Janeiro, ficando por lá até 1989.

 

De 1980 até 1988 o autódromo de Interlagos é muito usado e pouco cuidado pela prefeitura de São Paulo, até que em 1989, a prefeitura de São Paulo, sob o comando da prefeita Luiza Erundina, faz a grande reforma do autódromo de Interlagos, que trás de volta a Fórmula 1 em 1990 e que permanece até hoje em solo paulistano.

 

Sobre a reforma de 1989, a maior de todas que houve em Interlagos, há muitas controvérsias, principalmente sobre a diminuição do circuito de 7960m para 4.309m. Os puristas do automobilismo (inclusive eu), acham que foi uma “heresia” matar aquela pista maravilhosa de quase 8 quilómetros de extensão e com tantas características técnicas e prazerosas de pilotagem. Já os automobilistas mais modernos, acreditam que não havia outra opção para circuito senão a diminuição e adequação para as provas atuais, onde tudo fica mais próximo, por ser um circuito menor e também mais seguro, por não ter as grandes retas e curvas de alta velocidade. (Este é um tema para grandes discussões), porém, é fato: se tivessem feito a reforma e preservado os 2 traçados, seria o ideal.

 

De 1990 até hoje o autódromo continua da mesma forma, obviamente com reformas de atualizações de tempos em tempos e a grande mudança neste período não foi de traçado ou de asfalto, foi uma mudança política administrativa que gerou uma série de conflitos entre usuários do autódromo e administradores.

 

Em 2005, assume a prefeitura de São Paulo o prefeito José Serra e sem ter a menor noção do que significa o autódromo para os automobilistas e para os moradores do entorno, pensando que o autódromo só realizava a Fórmula 1 e que Fórmula 1 era muito cara para os cofres paulistanos. (ele não sabia que o autódromo era lucrativo através das locações realizadas para os eventos e corridas durante o ano). Por conta de sua desinformação, que não é exclusividade dele, já que até hoje são pouquíssimos os vereadores paulistanos que sabem a real importância de Interlagos para São Paulo, portanto, o prefeito José Serra, não sendo conhecedor destes valores, resolve outorgar a o autódromo em concessão à SP Turis, empresa privada cuja prefeitura de São Paulo é sócia, e que tem grandes interesses financeiros. Se a SP Turis, seguisse fielmente o acordado em contrato de concessão (vejam abaixo parte interessante do Decreto 45.902 de 18 de maio de 2005), não haveria problema, porém com a ânsia de obter lucros a qualquer custo, eleva muito o valor de aluguel da pista, o que muitas vezes inviabilizava alguns eventos e também agrava o relacionamento com a comunidade moradora do entorno ao acabar com todas as atividades gratuitas que o autódromo oferecia a população, tais como ginastica para terceira idade, esporte para jovens em quadras e campos de futebol e talvez a mais importante das atividades que era a Escola de Mecânica que formou honrosamente quase 3 mil jovens que moravam naquela região. Não posso deixar de prestigiar aqui o Professor Elibama, grande motivador da escola de mecânica e que era muito claro em dizer: “aqui nesta escola e preparo cidadãos com formação em mecânica”. Parabéns Prof. Elibama!!!

 

Sobre a Fórmula 1, sempre achei que deveria ser tratada como um evento a parte, um evento importante para a cidade de São Paulo onde todo o investimento feito neste evento, sempre gerou lucros e vantagens financeiras aos cofres públicos, através de circulação de dinheiro e impostos. São muitos turistas estrangeiros e nacionais vindo para São Paulo durante a Formula 1.

 

 Acima, parte do decreto que outorga o Autódromo à SP Turis.

 

O autódromo sobreviveu, e apesar da SP Turis, os eventos foram se ajustando e acontecendo e além dos lucrativos shows musicais realizados ali, o grande evento da SP Turis sempre foi a Formula 1 que gera muitos recursos a esta empresa. (mas isto é tema para outra história).

 

Há de se ser justo e reconhecer que durante a administração da SP Turis o autódromo ficou mais bem cuidado e bonito.

 

Quando as coisas estavam se ajeitando, apesar de muitas demandas entre automobilistas e SP Turis, surge em 2016 o candidato e vencedor à prefeitura de São Paulo, Sr. João Dória, que trazia como uma proposta de campanha a venda do Autódromo de Interlagos, mas não simplesmente uma venda, segundo ele, o comprador deveria se comprometer a manter nesta área de quase 1 milhão de metros quadrados, a pista para atividades de esporte a motor e então, lhe sobrariam quase 300 mil metros quadrados para exploração comercial, já que o circuito toma quase 700 mil metros quadrados. Todos acreditamos. Paulistas e paulistanos acharam realmente que seria muito bom um administrador privado cuidando do autódromo.

 

 Prefeito João Dória e Eng. Luiz Ernesto da Comissão de Autódromos da CBA e FIA em uma visita ao circuito de Interlagos.

 

Passada a empolgação da nova gestão, foi “caindo a ficha” para todos os usuários do autódromo e ficando claro que a constituição brasileira, garante ao proprietário de qualquer área, fazer o que bem entender com ela, desde que obedecendo a legislação local, então, avaliando o quesito financeiro, nenhum investidor iria aplicar seu dinheiro em 1 milhão de metros quadrados e usar apenas 300 mil metros, para agradar ao prefeito ou a população. Por conta disso, nós, automobilistas e motociclistas, usuários do autódromo, decidimos criar em janeiro de 2017,  a “COMISSÃO INTERLAGOS HOJE”, pura e simplesmente para defender este espaço para o esporte a motor. A associação foi criada e com o respaldo oficial da CBA – Confederação Brasileira de Automobilismo, FASP – Federação de Automobilismo de São Paulo, CBM – Confederação Brasileira de Motociclismo, FPM – Federação Paulista de Motociclismo, além de outras entidades do esporte a motor. Desde então, nossa associação vem trabalhando para que o autódromo de Interlagos seja preservado e respeitado.

 

Ao longo de 2017 até os dias de hoje, participamos de inúmeras reuniões, assembleias, audiências públicas para subsidiar e municiar nossos políticos e administradores sobre a real importância e o real valor de Interlagos.

 

Nossa comissão foi muito bem aceita por todas as secretarias de governo e quase todos os políticos da gestão Dória/Bruno Covas. Apenas o próprio prefeito, João Dória não aceitava nos receber e os motivos começaram a aparecer em novembro de 2017, quando, quase que na “calada da noite”, o prefeito apresenta um projeto, do executivo, para votação na câmara municipal, PL705/2017, que permitia a venda do autódromo, sem nenhuma garantia da permanência do esporte a motor. Além disso, pretendia aprovar em segunda votação sem realizar nenhuma audiência pública, para que nós e os moradores do entorno pudéssemos opinar sobre esta “transferência de propriedade”. Foi então que nossa comissão começou a fazer bastante “barulho”, novas reuniões e mobilização de automobilistas e motociclistas, além da população moradora da região para que o Dória respeitasse a legislação e a população com relação as votações dos projetos de lei. É obrigado que haja audiência pública antes de qualquer votação com tamanha expressão.

 

 Sergio Berti e Orlando Sgarbi, além de outros participantes, na reunião de líderes da Câmara Municipal de São Paulo em 2017.

 

 Reunião com Associações representativas de Interlagos

 

 Reunião com moradores do entorno do Autódromo

 

 Audiência Pública no CEU Cidade Dutra em marco de 2018

 

 Audiência Pública em Santo Amaro, em janeiro de 2019, com a presença de Sergio Berti, nosso saudoso Ramaciotti, Paulo Gomes entre outros.

 

 Comissão Interlagos Hoje em reunião no Autódromo de Interlagos.

 

Após muito trabalho e muitas reuniões, conseguimos travar a o PL705/2017. Continuamos acompanhando tudo que acontecia na Câmara Municipal e na Prefeitura, permanecemos atentos até que o prefeito João Dória renunciou à prefeitura para sair candidato ao governo do estado de São Paulo. Neste momento, nosso pleito era bem claro, não queríamos que o autódromo fosse vendido, porém sabíamos que a ideia de venda já estava muito forte na população paulistana e principalmente junto aos políticos, então percebemos que o melhor e mais saudável seria fazer com que todos mudassem o entendimento e  aceitassem a PRIVATIZAÇÃO através de CONCESSÃO e não mais a PRIVATIZAÇÃO através de VENDA.

 

E assim foi feito, novas visitas à Câmara Municipal, novas visitas à prefeitura e secretarias municipais, houve um trabalho de convencimento muito árduo realizado pela nossa Comissão Interlagos Hoje, e após todo este trabalho, a vitória chegou.

 

A Vitória (ou parte dela)

Após tudo que foi exposto acima e outras tantas reuniões, em maio de 2019 foi apresentado um novo projeto, ou melhor um adendo ao projeto original onde haveria a mudança da palavra ALIENAÇÃO para a palavra CONCESSÃO ou seja, ao invés de venda, a concessão do autódromo de Interlagos. Tudo estava dando certo, porém ainda faltava acontecer a votação na Câmara Municipal e, tínhamos dúvidas sobre a aceitação de João Dória (não era mais prefeito, porém exercia grande influência nas decisões do governo) e do Vereador Milton Leite (presidente da Câmara Municipal) sobre estas mudanças, pois os dois eram os mais resistentes a elas. No dia da votação, tudo deu certo e o Autódromo de Interlagos, a partir daquele resultado estava salvo. Ou, praticamente salvo, pois ainda faltava acontecer o Edital de Concessão e saber se este edital contemplaria nossas reivindicações?

 

Em todo este processo, tivemos muita ajuda de vários políticos e automobilistas, mas não posso deixar de citar e agradecer o Secretário Adjunto da Casa Civil, Orlando Faria, que à época foi peça fundamental no entendimento de nossas reivindicações e apresentação (e convencimento) do atual prefeito àquela época Bruno Covas.

 

 Reunião com o prefeito Bruno Covas e à sua direita Orlando Faria e Ver. Rodrigo Goulart, além de Sergio Berti, Orlando Sgarbi e vários outros representantes do esporte a motor.

 

Edital de Concessão (agora sim, o autódromo salvo de verdade)

Novembro de 2019, é apresentado à população de São Paulo e a quem interessar o Edital de Concessão do Autódromo de Interlagos e para grata surpresa, este edital contemplava quase todas as reivindicações que nossa Comissão havia feito. Algo muito raro de acontecer, mas um significativo reconhecimento de que nosso trabalho não foi em vão e principalmente que nossas solicitações e reivindicações eram sensatas e fundamentadas, agora sim, podemos dizer claramente que por força de lei o Autódromo de Interlagos e o Esporte a Motor está preservado. Agora sim, uma grande vitória e o reconhecimento de que nosso trabalho valeu a pena.

 

 Vejam acima as solicitações que foram contempladas no edital:

 

 Apresentação do Edital de Concessão do Autódromo de Interlagos em novembro de 2019, na Secretaria. 

 

Em janeiro de 2020, o edital foi publicado, porém não houve interessados. Foi publicado por mais duas vezes e ainda assim também não houve interessados. Em conversa com alguns empresários, a falta de interesse é por conta do elevado valor dessa concessão, próximo dos 400 milhões de reais (R$199 milhões de outorga fixa e R$ 177 milhões de outorga variável que serão pagos pela futura Concessionária em favor do Município durante toda a vigência da Concessão), por uma exploração de 35 anos, algo que não encaixaria no orçamento de nenhum investidor.

 

Enfim, por enquanto estamos seguros, mas nossa comissão continua atenta e preocupada, pois esta falta de interesse deverá gerar uma revisão no edital de concessão e obviamente o valor deverá ser revisto. Nossa preocupação é que tentem modificar alguma das regras que protege o Esporte a Motor, então, por conta de tudo isso, continuamos ativos e fazendo nossas visitas políticas em todos os órgãos municipais, Câmara, Prefeitura e Secretarias.

 

O autódromo de Interlagos já sofreu todo tipo de interferência, sejam elas políticas ou físicas, e vem ao longo de seus mais de 80 anos se atualizando para ser o autódromo idoso mais moderno do Brasil.

 

Hoje, além da Fórmula 1, grandes eventos acontecem neste parque, trazendo valores sociais e financeiros aos paulistanos e brasileiros.

 

 Uma largada de Fórmula 1 (foto) Peter J Fox/Getty Images/VEJA

 

Um patrimônio da Cidade de São Paulo 

Em 1985, em homenagem ao piloto José Carlos Pace, o Moco, ou nosso “Campeão Sem Título”, o autódromo passa a se chamar “Autódromo José Carlos Pace – Interlagos”.

 

É isso!

 

Sergio Berti - Automobilista desde 1975 e Diretor de Provas CBA/FIA

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.