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Polêmica(s) do GP do Bahrein (Sim, teve mais de uma) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 12 April 2021 18:47

Olá amigos, como não poderia deixar de ser, vamos falar da polêmica, ou melhor, das polêmicas que aconteceram no último GP do Bahrain em 28 de março de 2021.

 

Obviamente começaremos pela ultrapassagem do Max Verstappen sobre Lewis Hamilton e a devolução da posição na sequência, mas também falaremos sobre os “track limits”, a obrigatoriedade de devolver a posição (ou não) e a interferência do Diretor de Provas e dos Comissários Desportivos em todas essas ações.

 

A principal polêmica, acredito ser a devolução de posição feita por Verstappen logo após a ultrapassagem, faltando apenas 5 voltas para o final.

 

 Max Verstappen usando mais do que a pista para ultrapassar Lewis Hamilton na curva 4 do circuito do Bahrain. Foto reprodução FOM

 

Desportivamente (e legalmente) falando, a devolução, realmente deveria ser feita, já que o Max Verstappen utilizou uma área fora da pista para fazer a ultrapassagem. Uma pista de competições deve ser considerada apenas o espaço entre as duas faixas brancas laterais pintadas em todos os circuitos, então, tecnicamente falando, a ultrapassagem foi feita por fora da pista e, portanto, “ilegal”. Mas por que “penalizar” o Max e não “penalizar” o Hamilton que também passou várias vezes por fora das faixas brancas naquele mesmo ponto da curva 4 do Bahrain? Simples resposta: “Porque estava no “race note”, notas do Diretor e havia sido combinado em briefing todo o procedimento que seria adotado naquele ponto”.

 

 Artigo 21 das Race Notes do diretor de prova Michael Masi no GP do Bahrain — Foto: Reprodução/FIA

 

Vamos explicar melhor. Uma corrida, não é apenas o que acontece entre a largada e a bandeirada. Uma corrida é muito mais que isso, e começa bem antes do que todos imaginam. Começa pelo menos um dia antes da primeira atividade de pista, quando o Diretor de Provas faz a vistoria no circuito, observando pontos e locais que podem ser perigosos ou antidesportivos e, ao longo de todas as atividades do evento, vai adequando estes pontos, mas não de forma individual ou autoritária, ele escuta muito os Pilotos e Chefes de Equipe, ou seja, o objetivo e “entender” a pista e combinar com os Pilotos como serão tratados todos os pontos polêmicos do circuito, principalmente com relação à segurança e desportividade. E não foi diferente no Bahrain. Lá foi até melhor, já que os testes pré-temporada foram realizados naquele circuito, então deu para entender muito melhor sobre a pista e seus pontos “esquisitos”.

 

 Em Melbourne na Austrália, o diretor de corrida da Fórmula 1, Charlie Whiting, ao centro, caminha pela pista, fazendo sua vistoria com o piloto da Ferrari, Sebastian Vettel, à esquerda. Foto: David Caird – foto extraída do Jornal The Australian (poucos dias antes de sua morte)

 

Não existe autoritarismo, é tudo muito harmônico. Ao longo dos treinos, o Diretor de Provas vai conversando com os pilotos e decidindo em comum acordo sobre como estes pontos deverão ser tratados durante a corrida. Feito isto, todo o “combinado” é sacramentado no briefing entre Pilotos e Diretor de Provas e também através das “race notes” (notas do diretor), que são expedidas ao longo do evento. Tanto é verdade, que quando o Christian Horner, chefe de equipe do Max Verstappen, fala ao rádio para ele devolver a posição, o Max nem questiona sobre a devolução, ele apenas pergunta se não seria melhor continuar na frente do Hamilton e tentar abrir mais de 5 segundos de vantagem e ao final, quando fosse penalizado em 5 segundos, continuaria sendo o primeiro colocado na corrida? Vejam que em nenhum momento ele questiona sobre a ultrapassagem “ilegal”, porque isso havia sido combinado em briefing.

 

A partir desse momento da prova, mais duas polêmicas se iniciam. Uma delas é por que o Hamilton não foi penalizado em voltas anteriores que também passou com seu carro por fora das faixas brancas naquele mesmo ponto da curva 4? A outra: será que se houvesse uma penalização ao Max Verstappen, seria de apenas 5 segundos, caso ele continuasse na pista, sem devolver a posição?

 

As respostas:

O Hamilton não foi penalizado, porque havia sido combinado. Tanto no briefing quanto nas “notas do diretor”, havia um acordo entre todos, que naquele ponto da curva 4, o piloto seria observado e aquele que tivesse uma vantagem clara e duradoura sobre outro piloto seria penalizado, a menos que esta vantagem fosse “devolvida”. Então, o chefe de equipe do Max pediu para ele devolver a posição, simplesmente porque havia sido combinado.

 

A curva 4 está em destaque, porque era um ponto onde todos estavam “escapando”, então, houve um alerta, mas em qualquer curva, o procedimento será o mesmo da curva 4, escapou para não bater ou não rodar, tudo bem, mas se teve vantagem exagerada ou duradoura, poderá ser penalizado.

 

E sobre a possibilidade do Max continuar na pista e abrir mais de 5 segundos, por que será que não tentaram essa alternativa? Agora eu cheguei efetivamente no tema principal da minha coluna, a visão do alto da torre. E para responder esta pergunta, vou provocar você leitor a refletir comigo se colocando no lugar dos Comissários Desportivos. Se você fosse um dos comissários, após tudo que foi combinado e sacramentado em briefing, caso o Max abrisse mais de 5 segundos em relação ao Hamilton, você daria uma penalização de apenas 5 segundos ao final da prova, permitindo assim, que o piloto seja penalizado, mas que não perca nada com esta penalização? Seria uma penalização inócua.

 

Antes de responder, vamos lembrar qual é a real função de um Comissário Desportivo?

 

 Sala dos Comissários Desportivos com o Brasileiro Felipe Giaffone, primeiro a direita da imagem. Foto imagem/FOM

 

O Comissário Desportivo é a autoridade máxima da prova, são convocados em pelo menos 3 para agirem de forma colegiada e a função deles é fazer cumprir o regulamento (e acordos), e nos casos não previstos em regulamentos, INTERPRETAR, e JULGAR da melhor forma possível para trazer a justiça e desportividade nas provas. Como não existe nenhuma regra absoluta dizendo que “quem ultrapassa em local impróprio será penalizado em 5 segundos, fica a cargo dos Comissários Desportivos esta interpretação, ou seja, será que eles penalizariam em apenas 5 segundos ou será que a pena seria uma que devolvesse a vantagem ao piloto prejudicado? Então, na minha opinião, todos agiram corretamente, e os Comissários nem precisaram atuar sobre a ultrapassagem. O Christian Horner agiu certo ao pedir para o Max devolver a posição, o Max agiu certo ao devolver a posição e os comissários agiram certos ao não penalizarem o Hamilton por ultrapassar o track limit em voltas anteriores, já que para aquele ponto foi esse o combinado.

 

 Todos os anos Interlagos recebe nova pintura em suas faixas “track limits” – Foto de Sergio Barzarghi da Gazeta Esportiva

 

Só mais um esclarecimento, o diretor de provas, jamais manda o Piloto devolver a posição, no máximo ele orienta, pois esta é uma atitude voluntária do piloto, e quando acontece, se for reestabelecida a justiça, então não haverá nenhuma penalização por parte dos Comissários.

 

Não existe autoritarismo. Nenhum diretor de provas ou comissário desportivo chega para trabalhar com vontade de penalizar alguém. Muito pelo contrário, todos chegamos pela manhã, torcendo para que a corrida flua sem que tenhamos que fazer nenhuma interferência. O grande sonho de todos (todos que assistem, participam e gostam de corridas), é que o resultado oficial da prova seja o mesmo da bandeirada final. Este é o grande objetivo de todos ao envolvidos numa corrida, mas infelizmente, por vezes, existem questionamentos e ocorrências que só podem ser verificados e julgados após o término das provas. É uma pena, mas, é assim que é!

 

 Imagem da entrada de Box do Autódromo de Brasília – foto de Gustavo T.

 

Combinado é combinado!

Lembro-me de uma prova de Stock Car que dirigi em Brasília e lá, a faixa branca que determina o início da entrada de box iniciava antes da curva da vitória (lembrando que os pilotos não podem tocar a faixa branca quando estão entrando nos boxes). Ainda durante os treinos, alguns pilotos me procuraram e disseram que estava muito difícil não “queimar” a faixa branca naquele ponto, por conta da curva muito fechada, acabavam queimando. Muito simples de resolver. Combinamos e coloquei no briefing que naquela etapa, por conta do que haviam me explicado, os pilotos poderiam iniciar sua entrada de box após a curva da vitória, e não seriam penalizados ao cortarem a faixa branca de entrada de box. Combinado antes, mais seguro e justo para todos.

Outra polêmica...

 

 Curva “S” do Senna 2012, retirada da caixa de brita e aumento da área asfaltada. Foto: José Cordeiro/SPTuris

 

 Carro da Red Bull atolando numa caixa de brita...

 

Sobre os track limits. Por que ao invés de ficarem penalizando os pilotos que saem da pista, não colocam barreiras ou caixas de brita, para que a própria “pista penalize”?

 

Este é o grande trabalho que a FIA e a CBA vêm tentando fazer. O ideal seria realmente que a pista penalizasse, assim, não teria interferência dos Comissários em relação aos erros dos pilotos cometidos na pista. Mas não é tão simples assim, vocês se lembram das caixas de britas, muito usadas em tempos passados? Estas seriam uma forma de evitar acidentes e fazer com que a pista penalizasse, porém, quando um carro caía na caixa de brita alguns problemas começavam para muitos, o próprio piloto que ficava fora da disputa, o diretor de provas que tinha que neutralizar a prova para retirar este piloto da brita, perdendo tempo de corrida e muitas vezes para limpar a pista quando estas britas eram espalhadas pelo circuito.

 

Então, as britas foram retiradas e sempre que possível, foram aumentadas as áreas de escape, porém, na maioria das vezes os pilotos conseguem salvar o carro, passando pelas grandes áreas de escape, mas acabam cortando a curva e ganhando vantagens sobre outros concorrentes, aí, voltamos aos fatos citados inicialmente, ou o Piloto devolve a posição, ou será penalizado! Também já tivemos algumas obstruções que foram feitas com a melhor das intenções, para obrigar o piloto que escapasse da pista ter que passar sobre obstáculos ou desviar de barreiras para perder tempo, mas já observamos que alguns obstáculos podem gerar quebras de carros, então a busca é constante por alternativas, porém a solução, poderá vir apenas com o tempo.

 

E, para encerrar as polêmicas...

 

 Hamilton em 2016? Usando toda a pista e mais um pouco, mas ainda em contato com a faixa branca. Imagem extraída do site Motorsport.com

 

Nos Regulamentos FIA e CBA, é muito claro que a pista é apenas entre as faixas brancas, porém, não se especifica até quanto um carro pode sair da pista ultrapassando o “track limit”, então, convencionou-se e assim que é usado nas corridas, que, a faixa branca faz parte da pista e enquanto um carro estiver com alguma parte tocando na faixa branca, ele ainda é considerado como estando na pista, a menos que os regulamentos particulares da categoria ditem diferente. Na foto acima, de Hamilton com sua Mercedes em 2016, ele ainda está “dentro” da pista.

 

É isso!

 

Sergio Berti

 

PS: As caixas de brita, são fundamentais para corridas de motos, então, nos circuitos onde temos motociclismo, sempre encontraremos grandes áreas com brita.