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O fio do bigode não existe mais PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 02 September 2020 21:12

Caros Amigos, eu tenho por hábito fazer preâmbulos no início das minhas colunas. Alguns, por vezes, longos demais. Uma das razões é que busco conectar o nosso propósito – falar de automobilismo e correlações – com outros assuntos que considero interessante, como filosofia, engenharia, história, etc.

 

Um outro motivo é o de colocar algumas linhas para encaixar minha foto aqui ao lado antes de entrar no tema da coluna em si. Isso permite que a introdução de fotos – que não é o caso desta coluna – não fique muito próxima da foto do colunista, que nosso site sempre deu um grande destaque a todos.

 

Muitas vezes ouvi meu avô usar a expressão “fechar um negócio no fio do bigode” (ele tinha um enorme). Apesar do seu respeitoso bigode, Chase Carey não e o mundo dos negócios de hoje já não permite essa prática. A confiança e o compromisso de honra foram substituídos por enormes contratos – muitas vezes com centenas de páginas, e verdadeiros exércitos de advogados de cada uma das partes envolvidas.

 

Há mais de um ano venho falando em minhas colunas que alguém que tivesse uma verdadeira interlocução e trânsito no meio, deveria alertar os dirigentes do esporte a motor mundial sobre o empresário brasileiro José Antonio Soares Pereira Jr., ou JR Pereira, CEO da Rio Motorpark, que também já teve o nome de Rio Motorsports, à frente do “projeto” (com aspas propositais) de construir um autódromo capaz de receber a F1 e a MotoGP no Rio de Janeiro, com a construção do autódromo orçada em 700 milhões de reais, oriundos da iniciativa privada.

 

Com muita habilidade no tratar – isso é algo que todos precisam reconhecer – e contando com o apoio do presidente do país (a quem me pouparei de tecer comentários), JR Pereira teve reuniões com os CEO das duas das maiores categorias do esporte a motor mundial. Chase Carey e Carmelo Ezpeleta, e conseguiu um anúncio da DORNA no sentido de que o Brasil retornaria ao calendário da MotoGP em 2022.

 

Além do pantanoso terreno no qual caminha a Rio Motorpark, cujo o CEO – de acordo com matéria da Folha de São Paulo em 2019 – JR Pereira que presidia outra empresa, a Crown Telecon, com mais de 20 processos trabalhistas e uma dívida de 25 milhões de reais, além de não ter apresentado as garantias bancárias necessárias para dar início ao projeto do seu autódromo – onde o Ministério Público apontou irregularidades no projeto, no processo licitatório e no uso de uma reserva ambiental – teve seu nome exporto, nesta semana, em uma embaraçosa (para dizer o mínimo) situação envolvendo a DORNA e o canal de TV por assinatura que atualmente transmite os campeonatos da promotora de duas rodas.

 

Depois que a emissora responsável pela transmissão do evento no Brasil não renovou seu contrato com a DORNA, a empresa de JR Pereira adquiriu os direitos de transmissão para a temporada de 2020, entretanto, não estaria honrando os compromissos financeiros (pagamentos das parcelas junto ao promotor da categoria) e com isso podemos ter mesmo a interrupção da exibição das corridas da Moto-E, Moto 3, Moto 2 e MotoGP para o Brasil pelo canal que está transmitindo a temporada, emissora esta que a empresa de JR Pereira chegou a se apresentar como uma opção para compra dos dois canais de eventos esportivos, que podem ser obrigados a serem vendidos ou encerrar as transmissões devido a uma fusão das empresas destas emissoras nos Estados Unidos. A empresa proprietária dos canais quitou o débito do empresário brasileiro junto à DORNA no final de agosto para evitar a interrupção das transmissões, algo que resvalaria na credibilidade da emissora.

 

Agora o alvo é o Grupo Liberty Media. A decisão da atual detentora dos direitos de transmissão da Fórmula 1 para o Brasil comunicou aos patrocinadores – e esta informação foi divulgada em toda a mídia especializada – do seu não acordo com a FOM para a renovação do contrato para exibir a Fórmula 1 a partir de 2021 era algo que já se especulava, mas a confirmação por meios da própria emissora definiu algo que pode ser uma mudança, o encerramento de um ciclo da história da categoria com o Brasil. Presente na TV aberta desde os anos 1970, a competição agora vive um impasse sobre como e onde será transmitida para o público brasileiro a partir de 2021. Com uma média de 10 pontos no IBOPE – medido na grande São Paulo – a transmissão no Brasil é uma das poucas em TV de sinal aberto. A China é outro país que transmite a F1 em TV aberta, mas a própria FOM divulgou nos últimos anos que é no Brasil que a categoria tem seu maior público televisivo.

 

Com todos os fatores que interferiram e interferem em uma negociação como esta, passando por questões econômicas, de falta de liquidez da contratante que está abrindo mão de eventos prime como alguns dos principais torneiros de futebol e o pedido para a extensão do prazo do pagamento a ser feito para a FIFA pelos direitos da Copa do Mundo. A isso poderia se juntar o fato de estarmos sem um piloto brasileiro no grid, algo que países como Itália, Alemanha e França já passaram, mas apesar de ter a maior assistência em TV no mundo, há também o incômodo por parte da FOM pelo tratamento dado à categoria na transmissão, com a corrida engessada na programação geral da emissora. Como os contratos internacionais são feitos em dólar e este encontra-se na cotação que está, as dívidas e qualquer projeto no exterior para a emissora ficou quase proibitivo.

 

 E eis que Rio Motorpark de JR Pereira está vendo isso como uma oportunidade de negócio para reunir patrocinadores de peso, adquirir os direitos de transmissão junto à FOM e de posse de um produto, negociar o espaço para a transmissão da categoria em qualquer rede que queira se associar, até mesmo com a abertura de ganhos, podendo inclusive pagar pelo espaço nesta TV caso tenha suporte dos seus patrocinadores.

 

Depois de tudo exposto sobre Deodoro e seu fantasioso autódromo, do não cumprimento de pagamentos à DORNA e do socorro que a emissora que hoje transmite a MotoGP precisou fazer, das não garantias financeiras, das dívidas, quem teria coragem, hoje, de entrar em um projeto de tamanha envergadura com o Sr. JR Pereira? Mais uma vez, alguém com acesso e interlocução deveria alertar Mr. Carey.

 

Talvez estejamos fadados a ter que buscar o canal de streaming da F1 para acompanhar as temporadas, ao menos por algum tempo.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva 
Last Updated ( Wednesday, 02 September 2020 21:24 )