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O inferno astral de Sebastian Vettel PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 21 May 2020 23:43

Olá fãs do esporte a motor,

 

Antes de tudo, preciso dizer que o assunto desta coluna é bem delicado e o seu personagem pediu um tempo antes de permitir que eu pudesse escrever aqui no nosso site sobre os fatos divulgados há algumas semanas, mas que já vinham sendo tratados no meu consultório, mesmo com o “Divã virtual”.

 

Uma das questões que mais afeta a saúde mental de alguém é viver uma ameaça na identidade profissional. Lidar com a possibilidade real de uma demissão pode ser altamente desorientador e, caso o desfecho se dê por completo, ou seja, acabarmos efetivamente afastados, a sensação é sentir o chão se abrir sob os nossos pés. Como se não bastasse lidar com essa montanha-russa de sentimentos, vivemos em um momento no qual todos compartilham praticamente tudo nas redes sociais, o que gera ainda mais constrangimento e inibição, pois é praticamente impossível manter o ocorrido em privacidade.

 

As sessões com Sebastian ticaram tensas depois do acidente que tirou as duas Ferraris do GP Brasil no ano passado. O piloto de corridas talvez seja o ser humano mais competitivo do mundo e sofrer uma ultrapassagem, ainda mais sendo esta por parte do seu companheiro de equipe, tem o efeito de levar um tiro. É algo que, na sua cabeça, é inaceitável, apesar de cada pessoa agir de uma forma distinta. Acho que a disputa entre Lewis e Nico no Bahrein, antes das coisas ficarem “difíceis” na Mercedes é um bom exemplo: Disputa dura, mas limites respeitados.

 

  O anúncio de que não teria seu contrato renovado foi apenas o desfecho de uma série de fatos que ocorreram em sequência.

 

As pessoas de uma forma geral talvez não tenham percebido o tamanho do dano daquela batida entre Sebastian e Charles. Ao contrário do tempo em que ele gozava de todo o apoio da Red Bull, que nada fez contra ele depois de um acidente do mesmo gênero com Mark Webber, na Turquia. Era um outro tempo, uma outra condição e o tempo passou. Sebastian, em alguns aspectos, parece não ter percebido isso.

 

Aos 32 anos, com 53 vitórias, 120 vezes pódios e 57 pole positions, por mais que falem as más línguas, Sebastian é um piloto vencedor e capaz de fazer grandes corridas, como o GP do Canadá onde teve a vitória tirada por uma polêmica decisão dos comissários, mas que o fez protagonizar uma das melhores – talvez até a melhor – imagem da temporada, quando trocou as placas diante da Mercedes de Lewis Hamilton e tendo personalidade suficiente para não levar o carro para o cercado dos três primeiros.

 

  Certamente Sebastian sabia que Charles era o futuro na Ferrari, mas não contava com o futuro chegando tão cedo.

 

O anúncio da não renovação de seu contrato para 2021 veio amadurecendo durante o inverno e foi se solidificando durante o período entre os testes pré-temporada e a frustrada abertura do campeonato, que não aconteceu na Austrália. O carro da Ferrari apresentou fragilidades e menos velocidade do que o desejado e com as equipes praticamente congelando o desenvolvimento dos carros, que serão basicamente o que veremos caso a etapa de abertura do campeonato, de 3 a 5 de julho, na Áustria, aconteça, com a postergação dos planos de mudança para 2022, os carros deste ano, basicamente, serão os mesmo até o fim de 2021. As chances de Sebastian conseguir uma “volta por cima” praticamente sumiram com este cenário.

 

Quando recebemos a notícia de que “nossos serviços não serão mais necessários”, outro elemento que costuma ser afetado é nosso autoconceito. Para muitas pessoas, ser demitido equivale à remoção súbita do valor pessoal, pois esse “núcleo de valor”, digamos, não vai estruturar apenas a identidade profissional, mas também a imagem que sustentamos frente ao mundo em geral. Assim, ser compulsoriamente dispensado de um emprego também pode levar a um forte sentimento de fracasso e de culpa.

 

 Nesses últimos anos de Ferrari, Sebastian foi capaz de grandes feitos como no Canadá e de grandes erros como na Alemanha.

 

A primeira emoção que pode aparecer naqueles que são demitidos é a sensação de choque que acompanha, invariavelmente, uma profunda desorientação interna. O que faremos? Como daremos seguimento? Será que podemos criar outra oportunidade de voltarmos ao status que tínhamos? A melhor possibilidade para Sebastian seria, na teoria, a McLaren, mas esta, acompanhando o assédio que o seu colocou Daniel Ricciardo como opção e não o tetracampeão. Sebastian acaba vendo esta decisão como um sinal de que o ocorrido em Interlagos pode ter pesado para que não se visse algo do gênero pelos lados de Woking, que certamente não esquece da temporada de 2007.

 

Sebastian sabe que tem – em teoria – duas opções: caso surja um convite da Renault, aceitar, apenas por uma questão de orgulho próprio, para não ficar fora do grid, mesmo que para isso tenha que abrir mão de um valor substancial em seu contrato (o que não seria um problema para alguém que é milionário), mas até onde voltar a andar no meio do pelotão, como nos tempos da Toro Rosso, faria bem para sua cabeça?

 

  Apesar do passar do Tempo, Sebastian não desaprendeu a pilotar e é capaz de repetir feitos como de Monza em 2008. 

 

O tempo corre contra Sebastian e ele sabe disso. Ele também sabia do nível de cobrança que teria quando assinou com a Ferrari. Ninguém esperava menos do que um título (pelo menos) e ele não conseguiu entregar isso, mesmo sabendo que a equipe nem sempre entregou para ele um equipamento em condições de brigar pelo título ou estratégias que não o prejudicassem. Talvez, o melhor a fazer seja fazer o melhor possível e sair com dignidade. Mas esta é uma decisão que cabe apenas a ele.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares