Amigos leitores, por várias vezes brinquei aqui nesta coluna, sobre algumas regras do automobilismo que são inexplicáveis: chamava-se “tentando explicar o inexplicável”, era uma brincadeira, para tentar dar sentido em algumas coisas difíceis de entender nas regras e procedimentos do automobilismo. Agora, realmente estamos numa situação inexplicável!!! No último dia 28 de abril, seria o dia de conhecermos o novo “dono” de Interlagos, na verdade, iríamos conhecer a empresa que seria a concessionária do autódromo pelos próximos 35 anos, já que esse seria o dia de abertura dos envelopes dos interessados na concessão. Porém, ao invés de anunciar o vencedor, a prefeitura, inexplicavelmente anuncia a suspensão do edital. Na página da Prefeitura de São Paulo na Internet era possível ver o conteúdo do projeto de concessão de Interlagos. Segundo a prefeitura, o TCM, Tribunal de Contas do Município, teria intervindo no edital de licitação, por conta de algumas irregularidades, mas a minha sensação e a de muitos automobilistas com quem conversei, na realidade, a prefeitura não deve ter recebido nenhum envelope de interessado, e ainda, com o problema desta pandemia que estamos vivendo, a prefeitura deve ter achado por bem, “suspender” a licitação e assim não ter que dar explicações sobre o por quê não houve interessados na concessão do autódromo. Já que a prefeitura não explica, então vamos tentar entender por nós mesmos, através dos fatos desde a publicação do edital de concessão até sua suspensão: Em 06 de novembro de 2019, a prefeitura de São Paulo, convida pessoas interessadas, tanto na utilização quanto na concessão do autódromo de Interlagos para uma audiência pública, onde apresentaria o formato da licitação de concessão que seria publicada no Diário Oficial do Município em 07/11/2020. Na Audiência Pública, ocorrida na sede da prefeitura em 06/11/2020, semana do GP Brasil de F1, o projeto foi apresentado. Quatro datas, quatro mudanças: No diário oficial, foi publicado que a data de apresentação e abertura dos envelopes dos interessados seria dia 08/01/2020. Como não houve a entrega de nenhum envelope, a prefeitura imaginou que o prazo havia sido muito curto, então mudou a data para 28/02/2020. Neste Intervalo, o TCM, teria identificado algumas irregularidades no formato da apresentação e mandou que a prefeitura fizesse as adequações. Imagino que foram feitas, já que no dia 19/02 a prefeitura publica no Diário Oficial, que fez as alterações e estipula uma nova data, a terceira, 27/03/2020. Um pouco antes do dia 27 de março, no dia 20/03, faz uma nova publicação no Diário Oficial, dizendo que por conta do Covid-19, a data seria adiada para dia 28/04. Chegamos em 28/04 e a prefeitura publica a “suspensão” da licitação, sem nenhuma nova data prevista, alega que esta suspensão é por conta de intervenção do TCM. Observando tudo isto, só posso chegar a uma conclusão; “não há interessados” e a prefeitura achou mais fácil publicar uma suspensão do que ter que explicar a falta de interesse na concessão. Já que a prefeitura não explica, então me sinto no direito de fazer a minha própria interpretação, baseado nos fatos que conheço e vivenciei desde a eleição do Dória prefeito, até o momento atual. Ao final explico o por quê acho que não houve interessados, mas já adianto que é por conta do alto valor de concessão. Segue abaixo um breve resumo de tudo que aconteceu neste período: - Após a eleição do Doria, nós automobilistas, fomos convidados pelo vereador Mario Covas, para uma reunião na Câmara Municipal, onde percebemos que a administração pública e os vereadores não sabiam exatamente sobre a realidade do autódromo de Interlagos (a maioria só conhecia a Fórmula 1, achavam que o autódromo não tinha outras atividades). Além disso, nós não estávamos com o discurso muito afinado sobre o que pretendíamos, principalmente em relação à proposta de privatização. Então, eu e o Orlando Sgarbi achamos que seria apropriado montar uma Comissão que pudesse representar o Automobilismo e o Esporte a Motor que são os verdadeiros usuários de Interlagos e principalmente subsidiar de informações todas as autoridades públicas que quisesse entender a utilização do autódromo em todas suas atividades. A Comissão Interlagos Hoje foi convidada a uma série ce reuniões, como esta na Câmara Municipal em São Paulo. Conversamos coma a CBA, a FASP, a CBM e a FPM, entidades oficiais do esporte a motor que representam o automobilismo, o kartismo e o motociclismo nacional e estadual (de São Paulo) e pedimos respaldo destas entidades para à comissão, convidamos para participar as Ligas e os Promotores de eventos, então no final de 2016 nasceu a COMISSÃO INTERLAGOS HOJE, formada prioritariamente por “usuários do autódromo de Interlagos”. Lembrando que no início de nossas ações, no começo de 2017, nós não tínhamos nada contra a proposta de privatização por venda do então prefeito João Dória, porém, ao longo de nossas visitas à prefeitura, nas várias secretarias, na câmara municipal, começamos a detectar que esta privatização poderia ser muito arriscada caso as empreiteiras e incorporadoras se interessassem pelos 1 milhão de metros quadrados para construir seus edifícios. Então percebemos que o formato ideal seria a privatização por concessão e jamais por venda, pois desta forma ficaria mais fácil preservar o Esporte a Motor em Interlagos. Mudamos nosso objetivo, mudamos o discurso, continuamos indo à Câmara Municipal (visitamos seguramente 51 gabinetes dos 55 existentes), inúmeras idas à Prefeitura e às secretarias (Urbanismo, Negócios e Parcerias, entre outras) e o enorme desafio de convencer políticos, técnicos e administradores públicos sobre a importância de concessionar o autódromo. Neste meio tempo o Prefeito apresenta o PL 705/17 (que autoriza a privatização), este PL era praticamente um cheque em branco onde quem comprasse o autódromo poderia fazer o que quisesse. Nós só ficamos sabendo deste PL no dia de sua apresentação/votação, quando o vereador Rodrigo Goulart nos liga dizendo que seria votado naquele dia e nos pergunta se gostaríamos de incluir algo nele? Então enviamos 3 itens simples que preservaria o autódromo dentro do seu objetivo original. Ele consegue colocar uma emenda incluindo estes itens. Na sequência, o Dória sai candidato a Governador, o Bruno Covas assume a prefeitura e nós continuamos com nossa labuta, participamos de várias assembleias públicas e conhecemos o Orlando Faria , chefe da Casa Civil à época, a seguir Secretário de Turismo e atual Chefe da Casa Civil novamente que nos deu acesso ao prefeito Bruno Covas, e que achou simpática a ideia de trocar a privatização por concessão. Continuamos batalhando, fomos a várias reuniões nas Secretarias de Desestatização, Planejamento, Casa Civil entre outras e com muito trabalho e estratégia, conquistamos uma VITÓRIA, o autódromo não será mais vendido e sim concessionado, conforme o aditivo ao PL 705/17 que foi aprovado em 2ª votação. Depois de João Dória ter sido eleito governador, a Comissão Interlagos Hoje reuniu-se com o prefeito Bruno Covas e assessores. É importante ressaltar que esta mudança foi consensual entre as Secretarias de Governo, Planejamento, Privatização, Turismo, Prefeitura, Governo Estadual e parte da Câmara Municipal. Após toda esta batalha, participei de algumas reuniões para estabelecer os critérios da licitação de concessão e a impressão que ficou para mim é que o valor era exageradamente alto e que não haveria interessados. Ao que parece, é isto que está ocorrendo, se fizermos um comparativo simples sobre valores, podemos observar que o autódromo de Paul Ricard, no sul da França, quando foi comprado pelo Bernie Eclestone, ele pagou 20 milhões de Euros (120 milhões de reais), enquanto a concessão de Interlagos está pelo valor de 375 milhões de reais (62,5 milhões de Euros), sendo 198 milhões de outorga fixa e 177 milhões de outorga variável (todos os valores são aproximados), lembrando ainda que Paul Ricard já tem em sua estrutura 2 hotéis e um aeroporto em atividade e em Interlagos o futuro concessionário deverá construir os equipamentos que quiser explorar, além do que, Paul Ricard é propriedade do Bernie e/ou seus herdeiros para o resto da vida, enquanto Interlagos deverá ser devolvido à prefeitura de São Paulo após 35 anos. No projeto descritivo, são apresentadas as possibilidades que o vencedor da concessão terá como possibilidades de negócios. A conta não fecha. Acredito que o autódromo permanecerá sob a custódia da prefeitura até que se faça um novo edital com valores menos “Dórianos” e mais realistas. É isso!!! Abraços, Sergio Berti |