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Como é difícil fazer automobilismo no Brasil PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 19 February 2020 20:26

Caros Amigos, neste final de semana pude vivenciar duas realidades distintas e louváveis. Toda pessoa ou grupo de pessoas que investem seus esforços para realizar alguma coisa – seja o que for – de bom, de positivo, de importante (mesmo que esta importância seja vista apenas por ela ou por poucas pessoas), merecem o respeito.

 

Para aqueles com mais saúde, mais coragem e mais vontade, as madrugadas do último final de semana foram repletas de momentos de muita velocidade, tanto no Brasil quanto do outro lado do mundo, na Malásia e Nova Zelândia. Aos mais atentos, observando o que aconteceu fora da pista além do que se viu entre as duas linhas brancas.

 

Deixarei de lado o campeonato asiático da F3, que percorre diversos países para focar no Toyota Racing Series, torneio de verão do automobilismo mundial que há décadas vem reunindo cada vez mais jovens pilotos na Nova Zelândia. Durante o inverno no hemisfério norte, de onde todos fogem do frio e da neve, essa pequena ilha no pacífico sul, neste ano em particular, reuniu pilotos de 17 nacionalidades (com dois excelentes brasileiros).

 

Naquele pequeno país da comunidade britânica um campeonato de monopostos, com quinze corridas em cinco finais de semana em cinco autódromos modestos, com menos condições com que Goiânia, Cascavel, Campo Grande, Santa Cruz do Sul, Tarumã ou Pinhais, alguns lembrando Guaporé ou Eusébio, com instalações simples e sem paddocks luxuosos, torres envidraçadas ou curvilíneas grid girls segurando guarda-sois para os pilotos. Na última corrida do final de semana, vimos o pai do piloto campeão sentado em uma “arquibancada natural”, um matinho desses onde devem pastar as ovelhas quando não acontecem as corridas. Como disse meu filho: automobilismo raiz.  

 

O que se viu ao longo de cinco finais de semana foi um campeonato bem organizado, com envolvimento da mídia, com transmissão para todo o mundo via internet, com o apoio de décadas de uma das maiores fabricantes de automóveis do mundo. Nestas horas é impossível não se perguntar: porque não podemos fazer ou ter algo parecido com o que se vê há anos na Nova Zelândia?

 

Tivemos o prazer de ver um jovem brasileiro, Igor Fraga, no melhor espírito brasileiro, com muito talento e pouco dinheiro, descobrir os caminhos dos autódromos locais, derrotar um excelente piloto local, Liam Lawson, e todo um grid de excelente nível, com pilotos pertencentes a alguns dos grandes programas de jovens pilotos que existem na Europa.

 

Como minha saúde não permite, vi as corridas da madrugada em um horário mais confortável, disponibilizadas em um canal de streaming. Também pude ver, com ajuda do meu filho, que gravou boa parte das 1000 Milhas do Brasil, disputada no nosso mais importante autódromo na última madrugada de sábado para domingo e que contou com a presença in loco de uma equipe do site dos Nobres do Grid, tive a honra de tomar ciência da existência de uma bravíssima senhora que, de hoje em diante, contará com meu mais profundo respeito.

 

Elione Queiroz, foi a pessoa que buscou a Federação de Automobilismo de São Paulo, buscou as empresas capazes de prover uma estrutura digna de uma corrida de altíssimo nível, com transmissão ao vivo pela internet e que por algumas horas de suas mais de onze horas de duração teve a transmissão por um canal de esportes por assinatura, enfrentou pessoas e pseudoentidades que se disseram “donas do evento” e não desistiu, mesmo diante de todas as dificuldades, fez acontecer.

 

Enquanto na Nova Zelândia os pilotos brigam para estar presentes no TRS, a corrida no Brasil, fora da época dos calendários dos campeonatos nacionais, com todos os pilotos do país “de folga”, reuniu apenas 12 carros, com 40 pilotos se revezando ao longo da duração da corrida. Faltou fé, faltou confiança, faltou o espírito automobilístico de um Brasil de meio século atrás, que nas provas noturnas de Interlagos levavam milhares de pessoas para o autódromo.

 

Aos 40 pilotos que se fizeram presentes com suas respectivas equipes de mecânicos, aos jornalistas que trabalharam no evento, transmitindo a corrida, por áudio e imagens na internet, aos trabalhadores anônimos, que mantiveram a limpeza, fizeram a segurança, sinalizaram a prova, aos comissários e diretor da corrida e principalmente a esta mulher de uma fibra admirável, em nome de todos que trabalham no Nobres do Grid, parabéns e muito obrigado.

 

Elione, espero que seu desejo e sua dedicação se fortaleçam com este desafio bravamente cumprido e que outros venham pela frente. Que as pessoas do meio reconheçam, aplaudam e abracem os próximos, pois certamente não é do desconhecimento de ninguém o quanto é difícil fazer automobilismo nesse país.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva