Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Torneio BUA de FFord - A corrida de Fortaleza-CE PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 21 March 2010 14:27

 

 

 

Era o final do ano de 1969 quando John Webb, que era diretor do Motor Circuit Developments, um grupo inglês que era proprietário de seis circuitos no país, chegava ao Brasil para que pudéssemos dar mais um passo na trajetória que levou nosso país a vir a ser um dos palcos da categoria máxima do automobilismo mundial: a Fórmula 1. 

 

Mister Webb não estava trazendo a maior de todas... mas estava trazendo para o Brasil o contrato que incluiria o Brasil no calendário internacional no torneio BUA (British United Airways, empresa de aviação que patrocinou o torneio) de Fórmula Ford. 

 

 

Os irmãos Fittipaldi - ao lado de Luiz Pereira Bueno - eram as grandes estrelas do torneio BUA de Fórmula Ford de 1970. 

 

As 5 etapas aconteceriam em 5 finais de semana consecutivos, entre 1º de fevereiro e 1º de março de 1970, iniciando e terminando em Interlagos, com etapas no Rio de Janeiro, Curitiba e Fortaleza.

 

 

E é sobre esta etapa no coração do nordeste brasileiro que iremos falar. Se hoje em dia, o pessoal da Stock Cars fala que é complicado fazer uma etapa mais ao norte por conta dos custos, transporte, logística, etc. Imaginem isso no início dos anos 70... para completar, a disposição do calendário ainda fazia com que a etapa cearense fosse realizada uma semana depois da etapa paranaense, fazendo com que a caravana tivesse que se deslocar por mais de 3.500Km em estradas que não eram propriamente um tapete. Um desafio... mais que isso, quase uma aventura! 

 

O Torneio BUA em 1970 trouxe para o Brasil alguns pilotos que em poucos anos chegaram a Fórmula 1, além de alguns pilotos que, mesmo dedicando seus esforços às categorias menores, foram duros adversários ao longo de sua permanência nas pistas. 

 

A esquadra brasileira contava com Emerson e Wilsinho Fittipaldi, que já estavam na Fórmula 3, Ricardo Achcar, Marivaldo Fernandes, Luiz Pereira Bueno, Fritz Jordan, Milton Amaral, Norman Casari... 

 

 

Correndo na mesma equipe, a Lotus , Emerson acabou sagrando-se o vencedor no final das 5 etapas do torneio. 

 

Entre os estrangeiros vieram Ian Ashley, Ray Allen, Tom Walkinshaw, Dave Walker, Reine Wisell, Ed Patrick, Tim Schenken, tony Lanfranchi, Clive Santo, Peter Hull, Tony Trimmer, Sid Fox, entre outros. Até duas mulheres, as alemãs Gabrielle Konig e Liane Engemann, veio para a disputa. 

 

A etapa de Fortaleza foi uma verdadeira epopéia. Com as muito bem conservadas estradas que tínhamos na época, na sexta-feira pela hora do almoço, antevéspera da prova, as duas carretas ainda não haviam chegado... e, pior: a notícia que chegava ao hotel onde estavam pilotos, dirigentes e jornalistas que cobriam o evento é que as carretas estavam quebradas, ainda no estado de Minas Gerais. 

 

 

 Wilson Fittipaldi Jr bem que tentou, mas não conseguiu acompanhar o ritmo do irmão, que voltou embalado pelos títulos na Europa.

 

A notícia foi dada pelo motorista da equipe de Marivaldo Fernandes. Ele dirigiu uma pickup com um reboque para um carro e, vendo a “cegonha” quebrada, conseguiu a retirada do carro do seu chefe e este era o único carro que havia chegado a capital cearense. 

 

Foi a iniciativa de Luiz Antônio Greco que tirou a todos do estado letárgico que havia no saguão do hotel. Ele pegou a pickup do Marivaldo com a carreta e foi atrás das carretas com os carros. Ele tinha como preocupação extra o fato de ter que trocar o motor do carro de Luiz Pereira Bueno antes da prova... se é que ia haver prova! 

 

A inércia dos organizadores, tanto da Motor Circuit Developments como dos integrantes da CBA foi uma coisa impressionante. Principalmente pelo fato de que, na quinta-feira, em um evento em Salvador, estas pessoas foram informadas que as carretas estavam quebradas no meio do sertão baiano, próximas a Feira de Santana... e nenhuma das “autoridades” fazia ou dizia alguma coisa. 

 

 

Antes da largada em Fortaleza, Emerson se concentra... mesmo naquele torneio, vendo fotos dele num F1, a expressão é a mesma. 

 

Greco voltou quase 24 horas depois com notícias: Uma das carretas, a maior, estava em Cabrobó, estado de Pernambuco, a cerca de 800 Km de Fortaleza e que, se tudo corresse bem, ela chegaria por volta das 5 horas da manhã do domingo... o dia da corrida! A outra carreta, a menor, ele nem chegou a ver. A última notícia é que ela estaria quebrada em Jiquié, na Bahia. 

 

Os ingleses da Motor Circuit Developments queriam simplesmente cancelar a etapa, enquanto os delegados da CBA sugeriam o adiamento da prova em uma semana, postergando assim a etapa final para o dia 8 de março. Com o forte rumor de que a polícia entraria no âmago do problema, e todos os dirigentes – brasileiros e estrangeiros – ficariam detidos na cidade, o clima era o pior possível. 

 

 

Antes da largada da confusa etapa cearense, entra na pista um "trio elétrico", bancado pelo patrocinador local da prova. 

 

A cidade, os pilotos, os torcedores... todos estavam relegados a um plano de descaso e desrespeito enorme. Foi uma falha generalizada, desde a primeira notícia sobre os problemas com as carretas até a nenhuma lógica em fazer um deslocamento tão grande... Tarumã seria uma opção muito mais viável. 

 

Para felicidade – e alívio – de todos, as duas carretas chegaram junto com o amanhecer do domingo. Agora era correr como loucos para fazer em algumas poucas horas o que teria que ser feito em dois dias (sexta-feira e sábado) para a corrida. 

 

Foi decidido que os treinos seriam realizados entre as 14:00 e 15:00 horas, tendo os preparadores a manhã para fazer o que tinha que ser feito. Claro que nem todos conseguiram colocar os carros na pista a ponto de treinar. Entre os brasileiros, o mais prejudicado foi o carioca Ricardo Achcar, que não conseguiu dar nenhuma volta de classificação e teve que largar no fundo do pelotão. Outros pilotos nem isso conseguiram, uma vez que apenas 17 carros largaram.  

 

 

As disputas foram intensas e a pista permitia bons pegas e muitas ultrapassagens. Acima, Luizinho e Ray Allen. 

 

Os treinos – relâmpago – definiram o grid que teria o formato 3-2-3-2, teve como pole position o brasileiro Emerson Fittipaldi, fechando a primeira fila, Luiz Pereira Bueno e Ray Allen.  

 

O método de disputa envolvia duas baterias de 25 voltas, sendo declarado o vencedor pela somatória dos tempos. 

 

Na largada de primeira bateria, Emerson larga mal, caindo para 4º lugar – e não para 5º por conta da rodada de Marivaldo Fernandes na curva da entrada da reta. Ray Allen era o líder no final da primeira volta, seguido Luiz Pereira Bueno e Ian Ashley.  

 

Na terceira volta Luizinho ultrapassa Allen e assume a ponta. Ian Ashley roda e Emerson pula para terceiro. A pista cearense era extremamente traiçoeira, com muita sujeira fora do pequeno trilho que foi criado nos treinos e na 8ª volta foi a vez de Luiz Pereira Bueno dar uma saída na curva de entrada da reta e perder as posições para Allen e Fittipaldi, caindo para terceiro lugar. 

 

 

A freada no final da reta, em descida e com um trilho estreito era uma armadilha. Muita gente derrapou ali, mas ninguém aliviava! 

 

Emerson forçava o ritmo e acabou induzindo Ray Allen a errar no final da reta do viaduto. O inglês caiu para 5º e o brasileiro seguiu célere para a vitória, com uma dobradinha com Luiz Pereira Bueno. O 3º lugar coube a Ian Ashley, com Wilsinho em 4º e Marivaldo em sexto. 

 

Para a segunda bateria, o grid sofreu mais algumas baixas: Tom Belso e Tom Walkinshaw (aquele mesmo que foi diretor da Benetton eque era apelidado de "Walkinshark") não alinharam e antes da largada a alemã Gabriele Konig teve o carro retirado do grid, sendo empurrado para os boxes. 

 

Na largada, mais uma vez Emerson foi mal, perdendo a liderança para Ian Ashley, mas a grande cena da largada foi a rodada de Marivaldo Fernandes, parado, quando deu potência para arrancar. A quantidade de sujeira e areia foi responsável pela perda de aderência e o brasileiro praticamente ficou na contramão, perdendo várias posições. 

 

No final da primeira volta os seis primeiros eram Ian Ashley, Ray Allen, Luiz Pereira Bueno, Emerson Fittipaldi, Wilson Fittipaldi e Peter Hull. Marivaldo que caíra para último já era o nono.

 

 

Na segunda prova, Marivaldo Fernandes deu um show de recuperação após uma largada desastrosa. A pista era triçoeira. 

 

Os brasileiros foram para cima e na quarta volta Luizinho já liderava e Emerson já era o terceiro. Na volta seguinte ele ultrapassava Ian Ashley e partia para cima do compatriota, tomando a liderança na curva do miolo na 7ª volta.  

 

A partir daí, não houve mais muita emoção, apenas na 20ª volta Ray Allen tomou a terceira posição de Ian Ashley e assim seguiram até o final. Emerson venceu também a segunda bateria, com Luizinho em segundo e, na somatória dos tempos a classificação final ficou com Emerson; Luizinho; Ashley; Allen; Wilsinho e Marivaldo nas seis posições que pontuavam. 

 

A distância acabou sendo usada como desculpa para que esta fosse a última prova internacional a ser realizada em Fortaleza.

 

 

Fontes: Revista Quatro Rodas, Revista Autoesporte, CDO.

 

CLIQUE AQUI E LEIA SOBRE OUTROS MOMENTOS HISTÓRICOS DO AUTOMOBILISMO.

Last Updated ( Sunday, 10 October 2010 10:00 )